Ao vivo - Hangover / Kaos / Hemptylogic / Blasphemy / Spinal Trip
11.07.03 - Vila do Nordeste
Em época alta do ano, no que ao fluxo de concertos e festividades diz respeito, muitos dos amantes do Metal que nestes "calhaus" atlânticos habitam poderão dar por si às voltas a pesquisar numa qualquer agenda cultural sobre os nomes a constarem dos eventos musicais de Verão, quando, infelizmente, já sem causar grande espanto, se percebe que os concertos de Metal organizados nos Açores continuam a ser em número pequeno, apesar dos esforços das próprias bandas em contrariar essa tendência. São mesmo em número quase insignificante quando falamos de concertos que reúnem as condições logísticas mais adequadas e dignas para os próprios músicos. No entanto, este foi um dos poucos casos que fugiu a essa regra, para o bem de todos, principalmente das próprias bandas que nesta rara oportunidade puderam brilhar em todo o seu esplendor. Não fosse a concorrência desleal, mais em jeito de picardia autárquica do que outra coisa qualquer, provocada por uma suposta "super-festa" realizada na mesma altura a cerca de meia centena de quilómetros a oeste dali, onde a crescente mediocridade dos seus cartazes parece ainda suficiente para levar multidões de pessoas para o seu redor, e teríamos assistido a uma afluência de público muito mais consentânea com a dimensão que o espectáculo merecia. Se bem que desta forma pudemos ficar com a ideia de quem são os verdadeiros metalheads, pois esses estiveram lá para presenciar aquele que, na minha opinião, acabou por ser o melhor concerto de Metal realizado em S. Miguel durante este Verão que tão fugazmente passou.
Em época alta do ano, no que ao fluxo de concertos e festividades diz respeito, muitos dos amantes do Metal que nestes "calhaus" atlânticos habitam poderão dar por si às voltas a pesquisar numa qualquer agenda cultural sobre os nomes a constarem dos eventos musicais de Verão, quando, infelizmente, já sem causar grande espanto, se percebe que os concertos de Metal organizados nos Açores continuam a ser em número pequeno, apesar dos esforços das próprias bandas em contrariar essa tendência. São mesmo em número quase insignificante quando falamos de concertos que reúnem as condições logísticas mais adequadas e dignas para os próprios músicos. No entanto, este foi um dos poucos casos que fugiu a essa regra, para o bem de todos, principalmente das próprias bandas que nesta rara oportunidade puderam brilhar em todo o seu esplendor. Não fosse a concorrência desleal, mais em jeito de picardia autárquica do que outra coisa qualquer, provocada por uma suposta "super-festa" realizada na mesma altura a cerca de meia centena de quilómetros a oeste dali, onde a crescente mediocridade dos seus cartazes parece ainda suficiente para levar multidões de pessoas para o seu redor, e teríamos assistido a uma afluência de público muito mais consentânea com a dimensão que o espectáculo merecia. Se bem que desta forma pudemos ficar com a ideia de quem são os verdadeiros metalheads, pois esses estiveram lá para presenciar aquele que, na minha opinião, acabou por ser o melhor concerto de Metal realizado em S. Miguel durante este Verão que tão fugazmente passou.
Sem querer prolongar-me mais, vou então começar por "pintar" um pequeno quadro daquilo que foi essa noite de sexta-feira na Vila do Nordeste. Caminhávamos já para as dez horas da noite quando os Spinal Trip fizeram as "honras da casa" e abriram a primeira página daquela que se deseja ser uma longa e bem sucedida carreira. Nesta sua estreia ao vivo, os Spinal Trip mostraram-se mais nervosos do que se esperava. Talvez para isso tenha contribuído o peso do cartaz e o facto de serem todos ainda muito jovens nessas andanças. Contudo, o facto é que a banda acabou por deixar boa impressão em todos aqueles que a ouviram. Sem ser um assombro de originalidade, o metal moderno deste colectivo conseguiu mostrar garra e energia, embora se adivinhe ainda muito trabalho pela frente até conseguirem mostrar aquilo que parecem ser capazes de fazer na realidade.
Logo de seguida, entraram em cena os Blasphemy. A experiência de palco que este colectivo tem vindo a ganhar nos últimos tempos e a dose extra de confiança que a vitória no concurso Bandas de Garagem parece lhes ter trazido, serviram para nos mostrar uns Blasph3my um tanto ou quanto mais sóbrios. Na minha opinião, uma postura muito mais positiva do que aquela excessivamente show off a que tinha assistido há uns meses atrás. Após uma segunda audição, intercalada por apenas três meses, ainda não seria de esperar um progresso muito grande por parte deste septeto. As suas influências musicais continuam bastante vincadas, mas a verdade é que quando se tem Slipknot, System Of A Down ou Disturbed como referência, é quase certo que podemos esperar algo minimamente potente. E de facto, assim foi a sua actuação. Com o seu frontman a deixar mais uma vez a ideia de que é ele o "sumo-blasfemo" deste colectivo, com uns registos vocais bastante versáteis e poderosos e uma presença em palco bastante descontraída.
De seguida, Hemptylogic. Para quem, eventualmente, ainda duvidasse que esta era uma das ordens mais devastadoras e interessantes do metal açoriano, ficou então nesta noite plenamente provado todo o poderio desta força blindada comandada por Steven Medeiros e, também agora, por André Viveiros. Uma entrada sem dó nem piedade com a turbulência rítmica de “Shame On You” a contrastar, logo de seguida, com uma vibração folk, a meter desde logo em sentido todos os elementos do público. Ao longo de meia hora de espectáculo a fúria destilada por Steven e André nas vozes, Tiago Câmara na guitarra, Paulo Amaral no baixo e Isidro Paixão na bateria, mostrou-se capaz de deixar inveja a muitos outros colectivos de Metal mais pesado por esse país fora. Um teor lírico bastante ofensivo e libidinoso como se pode reparar em “Whores” pela passagem “Put my dick in your mouth and I will never stop”, tema este com uma dinâmica bem thrashada, marcou toda a actuação da banda que apresentou também um tema com Honório Aguiar, dos Hangover. Ainda neste tema, o baterista Isidro aproveitou uma parte da música em que estava com uma das mãos livres para segurar e ingerir, num só gole, uma refrescante garrafa de cerveja, naquilo a que eu chamaria um "beer solo". Temas verdadeiramente brutais e outros numa toada mais hardcore mas sempre muito musculados, definem o metal desse colectivo que merece condignamente a atenção de todos os que gostam deste tipo de abordagem, aqui e nos arredores. A fechar, uma versão de um tema popular português aqui tocado em modo ultra-rápido e agressivo, naquele que foi um momento deveras hilariante.
A seguir os Kaos, um colectivo que ao longo dos anos se veio afirmando como um dos mais respeitados nomes da nova geração do metal açoriano. Hoje em dia muito mais melódicos do que na fase inicial da sua carreira, os Kaos continuam, no entanto, a mostrar momentos de grande intensidade e criatividade através das suas músicas. Desde momentos mais serenos como “Raging Blossom” a outros mais directos e poderosos como “From Son To Father”, “Survivor” e mesmo o novo e cativante “Two Sides Too”, a sonoridade dos Kaos continua a mostrar acima de tudo uma sensibilidade muito grande e um sentido muito apurado na forma como doseiam agressividade e melodia. Sérgio na guitarra, já completamente integrado, e Brian cada vez mais solto e expressivo para transmitir com bastante aura todos os seus sentimentos e suas mensagens, mostram que os Kaos têm tudo para continuar a progredir na sua sonoridade.
A fechar essa grande noite de metal e a dispensar quaisquer apresentações, os Hangover. A glória deste colectivo já não deixa ninguém indiferente, nem mesmo os mais cépticos e preconceituosos. Embora o seu talento fosse reconhecido por muita gente desde sempre, foi no Verão de 2003 e após um ano de muito trabalho e dedicação, fase em que o tempo mínimo dispensado para ensaios chegava aos cinco dias semanais, segundo a própria banda, que se revelou o persistente trabalho efectuado de Inverno na sala de ensaios. Pudemos conferir uma banda extremamente amadurecida, criativa, poderosa, explosiva... enfim, muito mais profissional. Por isso mesmo, a banda considera este momento o mais apropriado nos últimos oito anos de existência para gravar um álbum oficial que, para felicidade não só da própria banda como de todos os seus fãs, se apresta a acontecer já no próximo dia 20 de Setembro.
Quanto à actuação propriamente dita, aquilo de bom que os Hangover normalmente mostram em palco foi mais uma vez reconstituído e multiplicado. Pouco há a dizer senão profissional e irrepreensível. Temas com estruturas extremamente bem conseguidas, técnica e compassos deliciosos, introspecção pessoal e social numa mistura que promete dar muitos e bons frutos num futuro próximo. “Two Minutes Of Hate”, “Weapon Of Choice” “Deadline”, “Sideshow” , “Everyday Meal”, “”Enemy In Me”, entre mais alguns temas num espectáculo apoteoticamente encerrado com “Party”, uma comunhão arrepiante entre a banda, os extravagantes convidados Steven Medeiros e Luís Aguiar, e ainda o público em êxtase cantando “Who do you love? You, you!”.
Nuno Costa