Ao vivo - Roquefest/Dia 2
ROQUEFEST/Dia 2
10. 05. 05 - Poço Velho, S. Roque, S. Miguel
10. 05. 05 - Poço Velho, S. Roque, S. Miguel
Após um primeiro dia “morno” e marcado pelo mau tempo, o dia dois do Roquefest 2005 pude contar com um clima muito mais ameno e propício à realização dos espectáculos, em que a afluência do público se fez notar em muito maior número e onde era visível a melhor disposição com que as pessoas encaravam este segundo dia. Talvez como que a reflectir o céu bastante mais claro que se fazia sentir. Tal como no dia anterior, a abertura do espectáculo coube a uma banda de sonoridade mais “moderna” como a que apresenta os micaelenses Blasph3my. Não tão “nu” como anteriormente e muito menos “cliché” que nos primeiros tempos [o desuso das máscaras e das pinturas, bem como de determinados instrumentos que mais não queriam parecer que uma perseguição de uma moda, para além de que congestionava imenso o seu som], os Blasph3my de hoje respiram outra saúde, outra alma, proveniente de uma profunda remodelação de line-up, a qual trouxe para o seu interior “sangue” com uma outra experiência, capaz de remodelar e catapultar o som dos Blasph3my para novos patamares, mais altos. Falamos de Dinamite [conhecido entre outras coisas por ter passado há muitos anos pelos Blackmass e Luciferian Dementia] e Rodas, um jovem músico que, no entanto, já conta com o estatuto de tocar numa das bandas mais promissoras e técnicas dos Açores, os Massive Sound Of Disorder. E de facto, o som dos Blasph3my ganhou em técnica, coesão e personalidade.
Eliminaram-se as percussões e os samplers e assim ganhou-se outra clareza de som. O atabalhoamento que marcava a época em que usavam esse tipo de instrumentos deu lugar uma outra clareza musical e estrutural, sendo que agora se nota uma imensa melhoria a nível de composição. Estruturas muito mais bem tratadas, com solos e riffs muito bem entrosados [por vezes a fazerem lembrar aquele típico death metal sueco na veia de uns In Flames ou Soilwork], e refrões, por vezes, com capacidade de nos ficar no ouvido. Não obstante, continuamos a achar que Filipe Vale desempenha um papel muito melhor a berrar do que a cantar – aí as coisas parecem não favorecê-lo muito. Contudo, estes são apenas pequenos reparos. A verdade é que os Blasph3my marcam a entrada numa nova etapa da sua vida, deveras muito mais interessante. De seguida os Septic Miracle, uma banda que tem vindo a demonstrar uma curiosa dinâmica a nível de número de presenças ao vivo nos últimos tempos, mas que na minha opinião de pouco lhes tem servido para angariar alguma maturidade e postura em palco. Infelizmente, não tivemos possibilidade de presenciar o concerto na íntegra, mas chegou para provar que não se operaram nenhumas melhorias a nível de desempenho e sonoridade. Sinceramente, não consigo comungar de algumas opiniões mais optimistas em relação a este colectivo, pois as limitações técnicas do grupo parecem-me mais que óbvias. Vocalmente, tanto no masculino como no feminino, a banda tem muito que melhorar, bem como na generalidade dos instrumentos.
Um autêntico descalabro foi a versão de “My Immortal”, dos Evanescence, em que a voz e o piano, quase ameaçaram deixar o tema a meio, tal era a descoordenação… Ressalvando um ou outro tema de refrão mais intenso e contagiante, a banda precisa na minha opinião de rever muita coisa a seu respeito. Reborn – terceira banda do cartaz. Apresentados como os novos Dark Emotions, os Reborn cilindraram autenticamente os nossos ouvidos com um trash metal old school [na veia de Metallica antigo, Testament ou Pantera] deveras potente e devastador, daqueles capazes de nos meter a ranger os dentes de raiva! Absolutamente energético, o concerto dos Reborn foi, sem dúvida, uma das surpresas maiores da noite e um dos momentos mais altos do festival. Sendo ultrapassados apenas pelos Sick Souls, mas por razões muito diferentes. Tirando estas razões, a que já lá vamos, os Reborn bem que podiam ter sido um dos cabeças-de-cartaz do festival! Valor não lhes falta. E que razões serão essas para que os Sick Souls tenham ultrapassado os Reborn a nível de performance? A vertente ao vivo, meus amigos! Neste aspecto, os Sick Souls, de Cascais, vieram dar um autêntico “show de bola”. Uma lição de postura e de como se entretém o público, transformando o palco e o espaço num autêntico asilo de loucura! Maravilhoso assistir a tanta entrega por parte dos músicos, que pulavam para o público, faziam mosh junto dele, trepavam o PA, os postes da ornamentação da festa… Enfim, uma autêntica “paderada”!;p Pelo meio assistiu-se à pequena Daniela, uma miúda de cerca de 5/6 anos, a subir ao palco e a mostrar aos mais graúdos como é que se faz, num destemido, valente e estiloso headbanging :). Para além da interacção com o público, a interacção com os músicos, com o vocalista dos Zymosis a executar um tema, em jeito de improviso, com os Sick Souls.
E mais à frente já parecia que toda a gente subia para o palco e cantava! Um autêntico festim em que os Sick Souls apresentaram o seu primeiro EP – “Mind’s Edge” -, uma mistura death metal old school, simples e directo, com uma atitude mais punk [ao jeito de uns Napalm Death por altura de “Scum”] que propriamente aquela “carniceira” e sanguinária. Atentem a títulos como “Magnetic Fields Provokes Ass Itch” ou “Masturbation In Church” para que percebam a atitude muito mais descontraída, ressaqueira e sarcástica que os distingue de muitas bandas dentro do género. Longe de serem brilhantes a nível musical ou instrumental, fica a nota de que tudo isso conseguiu ser esquecido, tal o ambiente que se viveu e que deixou “lavados” todos os demónios e tensões que podiam estar dentro de quem presenciou o espectáculo. That’s fuckin’ attitude!! Fica, para finalizar, os parabéns a quem teve a coragem de organizar um festival de metal como esse aqui na ilha, por mais underground que seja, e ainda com dois dias [coisa rara por cá]. E que para o ano fique a promessa de que se retomará e elevará o nível do Roquefest.
Nuno Costa