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Review

CATTLE DECAPITATION
“Humanure”

[CD – Metal Blade/Recital]

De São Diego, Califórnia, chegam-nos os “sanguinários” Cattle Decapitation com mais um álbum de pura carnificina musical. “Humanure” é o segundo álbum destes norte-americanos para a poderosa Metal Blade que, em 2002, aproveitou a curiosa ascensão da banda para lhes oferecer um contracto e lhes assegurar um futuro compatível com as expectativas que o público já criava em seu torno. De facto, a banda cresceu muito em termos de popularidade desde a altura em que lançou o seu primeiro trabalho – “Human Jerky” –, mas depois as coisas foram abrandando, inesperadamente, já que a ida para a Metal Blade prometia muito mais e os álbuns seguintes foram mostrando uma banda que nunca conseguiu verdadeiramente corresponder às expectativas depois de um primeiro trabalho bastante interessante. O último “To Serve Man” é sintoma disso. Mas atenção que estamos a falar de uma banda com bastante potencial técnico, embora isso se torne insuficiente para disfarçar a falta de inspiração que reina em termos de composição.

Para quem ainda não conhece, os Cattle Decapitation pode dizer-se que bebem directamente das matrizes criativas dos Cannibal Corpse e dos lendários Carcass. As mensagens visuais e líricas dos Cattle Decapitation sempre tiveram muita importância no conceito geral da banda que, ao contrário do que se pensa, preocupa-se bastante com questões sociais e ecológicas. Basta que reparemos bem na capa, extremamente ofensiva e hilariante ao mesmo tempo, do álbum e nas letras dos temas para repararmos que a banda não está, efectivamente, apenas a querer provocar vómitos, mas sim a alertar para a violência que os seres humanos infligem no reino animal. E fazem até questão de sentirmos o ambiente gélido e sinistro de um matadouro, através de uma captação feita directamente numa sessão de abate de gado [os grunhos e os guinchos dos porcos poderão mesmo tornar a experiência verdadeiramente perturbadora] e que serve de forma para que as pessoas tentem perceber um pouco dos actos violentos que se praticam todos os dias aos animais, para nosso mero prazer e/ou deleite gastronómico. A fazer com que deixemos de comer carne? Muito provávelmente, pois os próprios não a comem, são vegetarianos, meus senhores! Coisa boa, pois assim talvez se libertem muitos preconceitos sobre as bandas de grind/gore. Os pioneiros Carcass também o eram, daí que se estabeleça mais esta comparação à banda inglesa.

De resto, a nível musical é que as coisas se tornam menos interessantes, pelo menos não tão originais como a forma como abordam, conceptualmente, o death/grind/gore. Tudo muito mais previsível neste campo, a fazer com que, mais uma vez, as expectativas saiam goradas a seu respeito. Muito bons tecnicamente, rápidos e brutais a maior parte do tempo, vozes de “despejar” as entranhas e uma melodia que, por vezes, serve para dar a sensação de que se esforçaram por fazer algo minimamente diferente do que haviam feito antes.

Embora este álbum tenda facilmente em cair no aborrecimento, salvam-se, na minha opinião, a faixa “Bukkake Tsunami” [confiram o seu significado na Internet e aposto que não se vão arrepender] pela sua complexidade rítmica a meio do tema [com uma cativante passagem num 7/8] e um “Applied Human Defragmentation” com balanço rítmico quase thrash, oscilações de escalas e um solo bem retrincado a fazer deste um dos melhores temas de todo o disco. Mas apesar de tudo, acaba por saber a pouco para uma banda de quem se espera sempre muito mas da qual se continua à espera da verdadeira revelação.

[7/10] N.C.
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