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Jornalismo do futuro

Falar de crise é um autêntico mal necessário. Apesar da sensação de “lavagem cerebral” que já nos provoca, pela exaustiva rodagem que o tema tem nos meios de comunicação ou em qualquer conversa quotidiana, a verdade é que a razão assim o justifica e o problema é deveras complexo. Este “termo-papão” não é apenas mera propaganda numa tentativa qualquer de intimidar e condicionar as pessoas. O drama existe! Claro que nestas coisas há sempre uma exploração mediática do assunto, o que leva as pessoas a criarem temores maiores do que os reais. Mas o drama existe, repito. Não pretendo focar o impacto geral da crise, mas sim analisar a indústria jornalística no meio deste cenário económico.

Se a 3 de Fevereiro me chocou a notícia de que as “irmãs” Metal Maniacs e Metal Edge iam editar apenas mais um número até entrarem no seu “sono eterno”, as notícias que dão por extintos vários títulos, alguns centenários, do jornalismo norte-americano elevam o nosso constrangimento a novos superlativos. Rocky Mountain News, diário com 150 anos editado nos estados do Colorado e Denver, fecha as portas depois de ter registado um prejuízo de cerca de 16 milhões de dólares só no primeiro quarto de 2008. A tentativa de vender a marca também saiu frustrada e o seu destino revelou-se fatal. Saber que mais de uma dezena dos mais importantes jornais norte-americanos está nesta situação deixa-nos sem grande optimismo. Para alguns é apenas uma questão de dias, já que as percas são de milhões e avultam-se a cada dia que passa. Para outros, mesmo que o destino pareça traçado, é uma questão crucial desfazerem-se de património para tentar sobreviver mesmo que o negócio seja mau – o New York Times acabou de vender a sua sede a um terço do seu valor.

Neste momento, até já foi criado um site onde certos analistas fazem “apostas” sobre as próximas vítimas desta crise - www.newspaperdeathwatch.com. O autor é o ex-jornalista Paul Gillin que, embora apaixonado pela imprensa, diz que a culpa está também na maneira, ou na falta dela, como os jornais adaptaram as suas práticas aos dias de hoje. Para ele, os futuros jornais terão os seus conteúdos assinados pelos próprios leitores.

Com um fortíssimo concorrente como é a internet, e até para o que veio incentivar – os free lancers – é, de certa forma, visionária e credível esta análise. Entretanto, nunca quis crer que, pelo menos a curto prazo, os jornais desaparecessem. É um momento de crise a ditar as regras e a comprometer conceitos. Esperemos que seja passageiro…

De qualquer forma, falar em matéria assinada pelos leitores só pode gerar um risco – a qualidade do serviço já que não há convénio nenhum que o crive. Por outro lado, se se tratam de escribas “independentes” e/ou não-remunerados podemos estar a livrar-nos de muitos lobbies e a pôr em prática recorrente um dos valores “sagrados” do jornalismo – a isenção.

Todavia, a facilidade de acesso a mecanismos de comunicação tem a desvantagem de aumentar de tal forma a concorrência ao ponto de comprometermos a eficácia das mensagens que realmente interessam. O "mercado" acabará, supostamente, por ficar asfixiado e se não houver uma hierarquia ou catalogação, tal como acontece com a música [por mais que isso pareça abominável], poderão passar despercebidos alguns talentos. Esperar ter um público instruído que se voluntarie a absorver a mensagem que realmente interessa, é algo utópico. Qualquer rebanho sempre precisou do seu pastor…

Nuno Costa

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