"Inocência" demagógica
Aquele que será, provavelmente, o maior evento do ano em S. Miguel em termos de Heavy Metal decorreu no passado fim-de-semana; o Live Summer Fest que de um pequeno festival de bar, sem qualquer desmérito, passou a principal cartaz de música de 2009 na maior ilha dos Açores, tendo como pano de fundo a imponente Alameda do Mar naquela que é a maior obra do Governo local nos últimos anos em Ponta Delgada – as Portas do Mar.
Há muito que um cabeça-de-cartaz de um evento de peso em S. Miguel não possuía tanto currículo e estatuto, ou talvez nunca o tivesse como os Paradise Lost. Por isso, o momento era único e as [habituais] contemplações mal se fizeram sentir em relação às escolhas da organização. O facto de se ter discutido o contingente açoriano neste evento não passou de insignificantes apupos isolados.
Para uns a ansiedade de ver os ícones do metal gótico ali tão perto, para outros, isso… mas também o deslindar dos resultados de mais um autêntico teste à capacidade da região receber e suportar um evento desses, apesar desta análise ser meramente retórica ou subjectiva já que este foi um concerto gratuito, à borlix, imagine-se… Ainda assim, interessava imaginar ou simular muitas coisas.
A política dos concertos de borla é inconcebível, para não dizer demagógica. O tipo de facilitismo que representa só sustenta a ideia de que a música não traz qualquer retorno a quem a tenta usar, por estas instâncias atlânticas, como seu ganha-pão. Por mais que entendamos que somos todos contribuintes, não podemos aceitar este tipo de ofertas. São largos milhares de euros dos dinheiros públicos que estão em causa para benefício de um [pouco] público interessado, mas, neste caso, e sobretudo, com o interesse de levantar um pouco o “ânimo” da carteira aos 22 comerciantes daquela moderna área. Qualquer pessoa com o pensamento no agora, no já, agradecia profundamente a oferta, mas pensando no mais além percebemos que o caminho não é o mais correcto.
Isto não mancha, contudo, a excelente organização do evento e a forma como este decorreu. Os artistas entregaram-se, ou pelo menos quase todos. No caso dos Paradise Lost fica no ar a dúvida se o que gera hoje em dia a sua indolência em palco é feitio, desanimo, “excesso” de profissionalismo ou então o pesar da idade. A verdade é que há dez ou quinze anos atrás, a cor era outra em palco. Felizmente, os temas valem por si. As supostas polémicas palavras de Nick Holmes é que não passam de meras falhas de interpretação. Apesar das evidentes deficiências sonoras no recinto, já tão faladas, a verdade é que deu para perceber que o que o sr. Nick tentou dizer aos açorianos não tinha nada de provocador ou promíscuo.
Posto isto, o que acabou por correr menos bem foi mesmo a afluência do público. Satisfatória para um evento de Metal local? Muito! Se corresponde ao investimento feito e o que seria preciso para o tornar viável? Não, muito longe disso. As cerca de 700/800 pessoas [uma muito falível estimativa] teriam quase toda a certeza que pagar 30 ou 40 euros para tornarem este evento viável. E da parte dos comerciantes das redondezas não será uma noite como esta que lhes salvará a “renda”. Enquanto as mentalidades forem somíticas e egoistas podem ter a certeza que o caminho nunca será ascendente. Quanto muito de estagnação. Isto, se porventura, a meia-dúzia de aventureiros e devotos deste movimento ainda continuarem a comprometer as suas vidas para saciar a “fome” de outra meia-dúzia.
Nuno Costa
Há muito que um cabeça-de-cartaz de um evento de peso em S. Miguel não possuía tanto currículo e estatuto, ou talvez nunca o tivesse como os Paradise Lost. Por isso, o momento era único e as [habituais] contemplações mal se fizeram sentir em relação às escolhas da organização. O facto de se ter discutido o contingente açoriano neste evento não passou de insignificantes apupos isolados.
Para uns a ansiedade de ver os ícones do metal gótico ali tão perto, para outros, isso… mas também o deslindar dos resultados de mais um autêntico teste à capacidade da região receber e suportar um evento desses, apesar desta análise ser meramente retórica ou subjectiva já que este foi um concerto gratuito, à borlix, imagine-se… Ainda assim, interessava imaginar ou simular muitas coisas.
A política dos concertos de borla é inconcebível, para não dizer demagógica. O tipo de facilitismo que representa só sustenta a ideia de que a música não traz qualquer retorno a quem a tenta usar, por estas instâncias atlânticas, como seu ganha-pão. Por mais que entendamos que somos todos contribuintes, não podemos aceitar este tipo de ofertas. São largos milhares de euros dos dinheiros públicos que estão em causa para benefício de um [pouco] público interessado, mas, neste caso, e sobretudo, com o interesse de levantar um pouco o “ânimo” da carteira aos 22 comerciantes daquela moderna área. Qualquer pessoa com o pensamento no agora, no já, agradecia profundamente a oferta, mas pensando no mais além percebemos que o caminho não é o mais correcto.
Isto não mancha, contudo, a excelente organização do evento e a forma como este decorreu. Os artistas entregaram-se, ou pelo menos quase todos. No caso dos Paradise Lost fica no ar a dúvida se o que gera hoje em dia a sua indolência em palco é feitio, desanimo, “excesso” de profissionalismo ou então o pesar da idade. A verdade é que há dez ou quinze anos atrás, a cor era outra em palco. Felizmente, os temas valem por si. As supostas polémicas palavras de Nick Holmes é que não passam de meras falhas de interpretação. Apesar das evidentes deficiências sonoras no recinto, já tão faladas, a verdade é que deu para perceber que o que o sr. Nick tentou dizer aos açorianos não tinha nada de provocador ou promíscuo.
Posto isto, o que acabou por correr menos bem foi mesmo a afluência do público. Satisfatória para um evento de Metal local? Muito! Se corresponde ao investimento feito e o que seria preciso para o tornar viável? Não, muito longe disso. As cerca de 700/800 pessoas [uma muito falível estimativa] teriam quase toda a certeza que pagar 30 ou 40 euros para tornarem este evento viável. E da parte dos comerciantes das redondezas não será uma noite como esta que lhes salvará a “renda”. Enquanto as mentalidades forem somíticas e egoistas podem ter a certeza que o caminho nunca será ascendente. Quanto muito de estagnação. Isto, se porventura, a meia-dúzia de aventureiros e devotos deste movimento ainda continuarem a comprometer as suas vidas para saciar a “fome” de outra meia-dúzia.
Nuno Costa