Entrevista Aborted
VENENO EM SÉRIE
Uma das mais influentes forças do death metal mundial actual, os belgas Aborted, estão de regresso para mais um demonstração gratuita de violência visual e musical. Ao seu sexto longa-duração, o quinteto sedeado na Bélgica, mas contando com membros da França e Reino Unido, já pouco tem a provar para além daquilo que a sua vincada personalidade lhes fez alcançar ao fim de 18 anos de carreira. Aqui temos mais uma prova, já que a banda envereda, em “Strychnine.213”, por uma produção mais crua mas mantendo a receita equilibrada de peso, balanço e melodia que tem caracterizado os seus últimos trabalhos. Se a qualidade já é indissociável de tudo o que os Aborted façam, também no regresso “Strychnine.213” o sangue, a tortura e as atrocidades “gore” fazem-se sentir no ar na plenitude de uma força trituradora como há poucas hoje em dia. Sebastien Tuvi [guitarrista], em directo da “Summer Slaugther Tour” com Vader, Kataklysm, The Black Dahlia Murder, Cryptopsy, só para mencionar alguns, dos Estados Unidos .
Para uma banda com uma carreira longa e extrema como a dos Aborted, será que a melhor maneira de evoluir é tentar algo mais melódico e “leve”?
Bem, se ouvires bem todos os álbuns dos Aborted vais aperceber-te de que a melodia sempre foi um elemento presente no nosso género desde o “Goremageddon: The Saw And The Done”. Penso que, neste momento, apenas desenvolvemos o que, efectivamente, já estava lá. Eu não diria que nos tornámos mais melódicos, diria sim que estendemos o nosso leque de influências trazendo mais diversidade para a mistura brutalidade, groove e melodia.
Em primeira análise, podemos dizer que “Strychnine.213” é a continuação natural de “Of Slaughter & Apparatus: A Methodical Overture”?
Podemos dizer que sim, a partir do momento em que “Slaughter & Apparatus…” foi uma espécie de álbum de transição já que tínhamos acabado de operar uma grande mudança de line-up, mais precisamente em 2005. Este álbum pretendia manter a banda viva e mostrar às pessoas que nós continuamos a mesma banda de death metal, apesar de tudo. Agora, com “Strychnine.213” tentamos dar um passo em frente e adicionar mais personalidade ao nosso som ainda que tenhamos feito um esforço para manter a identidade que é reconhecida aos Aborted.
Sentem algum “medo” de enervar os vossos fãs de longa data com isso, embora seja indubitável que os Aborted continuam uma banda extrema?
Qualquer disco que lançamos recebe muitas “queixas” dos fãs mais hardcore do “verdadeiro” underground. Não consegues contentar toda a gente. Se gravássemos outro “Goremageddon”, por exemplo, haveriam pessoas descontentes na mesma e seria ainda menos honesto da nossa parte se o fizéssemos, pois evoluímos como músicos e queremos experimentar e criar coisas novas, não enganar os nossos fãs oferecendo-lhes sempre o mesmo álbum! Por isso, escolhemos ignorar a crítica porque sentimos que continuamos a criar música que se encaixa no universo dos Aborted. Se as pessoas preferem os álbuns antigos, ninguém as proíbe de os escutar, certo?
Será que o facto de terem passado a fazer parte de uma grande estrutura como a Century Media afectou, de alguma forma, a vossa forma de composição?
A nossa forma de composição não, de maneira nenhuma! Apenas mudaram os planos de “negócio” que tínhamos, o que nos obrigou a fazer mais digressões, mais sacrifícios pessoais para tornar a banda maior. Em termos artísticos, eles deixam-nos completamente libertos, o que é muito importante para nós!
Como é que é possível que, por exemplo, uma etiqueta discográfica peça um single a uma banda extrema? Como é que se visualiza um conceito desses?
Bem, não sei. Nós nunca tivemos um “hit single”, mas a editora sempre pega em um ou dois temas que prefere para servir de "sampler" promocional, embora não os considere assim.
Hoje em dia ouvem bandas muito diferentes das que ouviam no início das vossas carreiras? Assimilam, actualmente, influências muito diferentes?
Pessoalmente, não. Sou um metaleiro “old-school”. Cresci ouvindo Slayer, Metallica, Sepultura e tendo a ficar preso aos sons dos anos 80. Contudo, confesso que, actualmente, descobri bandas muito boas como os The Dillinger Escape Plan, Deathspell Omega, Stolen Babies, mas continuo muito agarrado aos clássicos.
Se actualmente os Aborted tentassem desprender-se das suas origens, será que os poderíamos ver a escrever sobre outra coisa qualquer que não violência, sangue e entranhas?
Para ser sincero, não sei. Penso que as nossas letras “gore” e violentas, bem como a nossa imagem, são algo que define a nossa identidade, daí que sintamos que seja natural invocar esses tópicos quando escrevemos. Continuamos a ser uma banda de death metal e não pretendemos abordar assuntos românticos, políticos ou outro tipo de treta nas nossas letras. Simplesmente, não iria encaixar com o feeling da banda, na minha opinião.
O novo “Strychnine.213” aborda a história de um assassino, certo? Será que se trata de uma espécie de recriação de um assassino em série ao estilo “Saw”?
“Strychnine” é uma espécie de veneno e “213” é o número do apartamento do assassino Jeffrey Dahmer. O conceito geral das letras do álbum é baseado em investigações policiais e assassinos em série reais. O Sven [Caluwé – vocalista] foi, inclusive, consultar reportagens e documentação do FBI para se inspirar em crimes verídicos para escrever.
Que mais me pode dizer das vossas influências “gore”? Imagino que tenham que ler e estudar bastante para saberem, com fundamento, sobre o que estão a escrever…
Sim, o Sven estuda muitos casos criminais, ele é apaixonado por assassinos em série. Inclusive, ele já trabalhou numa morgue, portanto, tem uma certa "sabedoria" sobre morte que, certamente, o inspira bastante na altura de escrever letras.
Será que filmes tão violentos como o “Saw” vos inspiram? Já agora, é um grande filme ou não?
[Risos] Simplesmente, digo que todos os meus colegas na banda gostam deste filme, excepto eu! Penso que é uma má cópia do “Seven”, que o velhote vilão não tem credibilidade nenhuma e que o rumo da história é muito infantil. Contudo, admito que num nível puramente visual este filme transporta grandes ideias. Apenas desgosto da forma como foi escrito. Mas mais uma vez, esta é apenas a minha opinião. Eu sou muito “miudinho” quando se trata de avaliar cinema.
Aos poucos começam a abolir dos vossos discos aqueles samples arrepiantes tão comuns nos vossos primeiros trabalhos. Há alguma razão especial para isto?
Na verdade, existem alguns samples assustadores no nosso novo álbum. Acontece apenas que em vez de serem retirados de filmes de terror são extraídos de entrevistas com pessoas como o Jeffrey Dahmer e Charles Manson. Os samples e as faixas atmosféricas fazem parte do nosso universo musical e nunca os vamos abolir. Aliás, vamos mesmo usá-los cada vez mais ao vivo!
Deixemo-nos agora viajar um pouco na “mayonnese“: alguma vez pensaram em fazer uma espécie de disco de death metal com uma orquestra que gerasse um ambiente bem "horror movie"?
Só se conseguissemos a participação da Jenna Jameson! [risos] Agora falando a sério, a ideia atrai-me, mas precisaríamos de suportar um orçamento bastante grande para que um projecto como esse não soasse leviano e feito sem grande profissionalismo. Mas para isso precisamos de nos tornar uma banda muito maior do que a que somos hoje em dia.
Em relação ao vosso line-up, sentem-se mais descansados por o terem assegurado novamente neste disco? Sentem-no a respirar melhor que nunca após tantos anos de constantes mudanças?
Bem, sentimos o mesmo que sempre: na realidade odiamo-nos todos e parece um inferno estarmos mais do que um mês fechados numa carrinha juntos. Na verdade, estou realmente a considerar matar-me depois de matar todos os meus restantes colegas. Estou a brincar! [risos] Na verdade, está a correr bem e sente-se um espírito de equipa genuíno na banda neste momento. Toda a gente está no mesmo “barco”, pelas mesmas razões, e vive-se a melhor atmosfera que a banda alguma vez viveu!
Como é que a banda trabalha hoje em dia?
Na realidade, não é muito fácil trabalharmos em grupo, porque durante o processo de composição todos nós gravamos demos em casa, partilhamo-las via internet, trocamos ideias através do nosso fórum interno e só quando tudo está praticamente pronto juntamo-nos e ensaiamos para procedermos aos últimos arranjos. Também ensaiamos antes da maioria dos concertos. Encontramo-nos na nossa sala de ensaios na Bélgica e passamos alguns dias juntos antes de voar para uma digressão ou para uma série de espectáculos.
Como acha que se sente o Sven [único membro fundador ainda presente na banda] quando faz uma retrospectiva de todos esses anos? Será que estranha relembrar os seus antigos colegas e sentir que, aparentemente, eles não acreditavam tanto no sonho de chegar longe com a banda como ele?
Eu posso responder por ele porque temos a mesma visão sobre esse assunto. Penso que todos os que abandonaram a banda ao longo desses anos não se sentiam, simplesmente, suficientemente motivados para fazer os sacrifícios que exigem levar uma banda extrema a um nível superior. Nós somos todos pessoas muito trabalhadoras, disciplinadas e com vontade de fazer uma banda como essa funcionar. Nós quase nem fazemos dinheiro suficiente para pagar as nossas contas quando regressamos de uma tournée e temos que nos ausentar muitos dias dos nossos empregos. Por isso, não é mesmo nada fácil sustentar essa situação. Eu não posso culpar algumas pessoas por desistirem devido a essas dificuldades. Mas outras estavam na banda por razões erradas, por procurarem fama – o que é rídiculo -, ou para fazerem muito dinheiro, o que é ainda mais ridículo.
Em relação ao vosso novo disco encontramos ainda mais algumas mudanças. Por exemplo, a produção parece menos elaborada…
O “Strychnine.213” parece menos cheio porque não está tão produzido como costumávamos fazer no passado. Este soa mais como uma banda a tocar efectivamente: duas guitarras, um baixo e uma bateria acústica. Este é o verdadeiro som dos Aborted. Não há edições nem truques. Pode soar diferente da maior parte das bandas actualmente, mas soa a nós próprios e não a qualquer outra banda. Sinceramente, prefiro ouvir produções mais naturais.
Fazendo um pequeno balanço dos vossos últimos anos de carreira, creio que se pode dizer que a legião de fãs dos Aborted tem realmente crescido e se solidificado. Uma das maiores provas será a formação do “Aborted Army”, um grupo de fãs que se faz apresentar em todos os vossos concertos vestidos a rigor, mais propriamente com roupas de cirurgião aludindo à capa de “Goremageddon”. Sentem-nos como vossos discípulos?
É muito agradável constatar como algumas pessoas são mesmo fãs dos Aborted. Nós sempre tivemos uma relação muito próxima com os nossos admiradores e tentamos envolvê-los com a banda. Por exemplo, com o “Archaic Abattoir” solicitamos-lhes o envio de cabelos e unhas para fazer uma espécie de “saco de provas” e para este último trabalho demos-lhes a hipótese de darem um nome a um tema.
Por fim, como vos está a correr a tournée pelos Estados Unidos?
Esta tournée tem sido, simplesmente, espectacular! Estamos a passar uma temporada muito boa nos Estados Unidos, tocando frente a muitos putos, todas as noites, divertindo-nos imenso. Tem sido uma experiência muito fixe e uma das coisas muito boas dessa tournée é que temos levado a nossa música a muitos fãs novos que nunca tinham ouvido falar de nós ainda. Tem sido um ambiente puro “rock’n’roll”!
www.goremageddon.be
Uma das mais influentes forças do death metal mundial actual, os belgas Aborted, estão de regresso para mais um demonstração gratuita de violência visual e musical. Ao seu sexto longa-duração, o quinteto sedeado na Bélgica, mas contando com membros da França e Reino Unido, já pouco tem a provar para além daquilo que a sua vincada personalidade lhes fez alcançar ao fim de 18 anos de carreira. Aqui temos mais uma prova, já que a banda envereda, em “Strychnine.213”, por uma produção mais crua mas mantendo a receita equilibrada de peso, balanço e melodia que tem caracterizado os seus últimos trabalhos. Se a qualidade já é indissociável de tudo o que os Aborted façam, também no regresso “Strychnine.213” o sangue, a tortura e as atrocidades “gore” fazem-se sentir no ar na plenitude de uma força trituradora como há poucas hoje em dia. Sebastien Tuvi [guitarrista], em directo da “Summer Slaugther Tour” com Vader, Kataklysm, The Black Dahlia Murder, Cryptopsy, só para mencionar alguns, dos Estados Unidos .
Para uma banda com uma carreira longa e extrema como a dos Aborted, será que a melhor maneira de evoluir é tentar algo mais melódico e “leve”?
Bem, se ouvires bem todos os álbuns dos Aborted vais aperceber-te de que a melodia sempre foi um elemento presente no nosso género desde o “Goremageddon: The Saw And The Done”. Penso que, neste momento, apenas desenvolvemos o que, efectivamente, já estava lá. Eu não diria que nos tornámos mais melódicos, diria sim que estendemos o nosso leque de influências trazendo mais diversidade para a mistura brutalidade, groove e melodia.
Em primeira análise, podemos dizer que “Strychnine.213” é a continuação natural de “Of Slaughter & Apparatus: A Methodical Overture”?
Podemos dizer que sim, a partir do momento em que “Slaughter & Apparatus…” foi uma espécie de álbum de transição já que tínhamos acabado de operar uma grande mudança de line-up, mais precisamente em 2005. Este álbum pretendia manter a banda viva e mostrar às pessoas que nós continuamos a mesma banda de death metal, apesar de tudo. Agora, com “Strychnine.213” tentamos dar um passo em frente e adicionar mais personalidade ao nosso som ainda que tenhamos feito um esforço para manter a identidade que é reconhecida aos Aborted.
Sentem algum “medo” de enervar os vossos fãs de longa data com isso, embora seja indubitável que os Aborted continuam uma banda extrema?
Qualquer disco que lançamos recebe muitas “queixas” dos fãs mais hardcore do “verdadeiro” underground. Não consegues contentar toda a gente. Se gravássemos outro “Goremageddon”, por exemplo, haveriam pessoas descontentes na mesma e seria ainda menos honesto da nossa parte se o fizéssemos, pois evoluímos como músicos e queremos experimentar e criar coisas novas, não enganar os nossos fãs oferecendo-lhes sempre o mesmo álbum! Por isso, escolhemos ignorar a crítica porque sentimos que continuamos a criar música que se encaixa no universo dos Aborted. Se as pessoas preferem os álbuns antigos, ninguém as proíbe de os escutar, certo?
Será que o facto de terem passado a fazer parte de uma grande estrutura como a Century Media afectou, de alguma forma, a vossa forma de composição?
A nossa forma de composição não, de maneira nenhuma! Apenas mudaram os planos de “negócio” que tínhamos, o que nos obrigou a fazer mais digressões, mais sacrifícios pessoais para tornar a banda maior. Em termos artísticos, eles deixam-nos completamente libertos, o que é muito importante para nós!
Como é que é possível que, por exemplo, uma etiqueta discográfica peça um single a uma banda extrema? Como é que se visualiza um conceito desses?
Bem, não sei. Nós nunca tivemos um “hit single”, mas a editora sempre pega em um ou dois temas que prefere para servir de "sampler" promocional, embora não os considere assim.
Hoje em dia ouvem bandas muito diferentes das que ouviam no início das vossas carreiras? Assimilam, actualmente, influências muito diferentes?
Pessoalmente, não. Sou um metaleiro “old-school”. Cresci ouvindo Slayer, Metallica, Sepultura e tendo a ficar preso aos sons dos anos 80. Contudo, confesso que, actualmente, descobri bandas muito boas como os The Dillinger Escape Plan, Deathspell Omega, Stolen Babies, mas continuo muito agarrado aos clássicos.
Se actualmente os Aborted tentassem desprender-se das suas origens, será que os poderíamos ver a escrever sobre outra coisa qualquer que não violência, sangue e entranhas?
Para ser sincero, não sei. Penso que as nossas letras “gore” e violentas, bem como a nossa imagem, são algo que define a nossa identidade, daí que sintamos que seja natural invocar esses tópicos quando escrevemos. Continuamos a ser uma banda de death metal e não pretendemos abordar assuntos românticos, políticos ou outro tipo de treta nas nossas letras. Simplesmente, não iria encaixar com o feeling da banda, na minha opinião.
O novo “Strychnine.213” aborda a história de um assassino, certo? Será que se trata de uma espécie de recriação de um assassino em série ao estilo “Saw”?
“Strychnine” é uma espécie de veneno e “213” é o número do apartamento do assassino Jeffrey Dahmer. O conceito geral das letras do álbum é baseado em investigações policiais e assassinos em série reais. O Sven [Caluwé – vocalista] foi, inclusive, consultar reportagens e documentação do FBI para se inspirar em crimes verídicos para escrever.
Que mais me pode dizer das vossas influências “gore”? Imagino que tenham que ler e estudar bastante para saberem, com fundamento, sobre o que estão a escrever…
Sim, o Sven estuda muitos casos criminais, ele é apaixonado por assassinos em série. Inclusive, ele já trabalhou numa morgue, portanto, tem uma certa "sabedoria" sobre morte que, certamente, o inspira bastante na altura de escrever letras.
Será que filmes tão violentos como o “Saw” vos inspiram? Já agora, é um grande filme ou não?
[Risos] Simplesmente, digo que todos os meus colegas na banda gostam deste filme, excepto eu! Penso que é uma má cópia do “Seven”, que o velhote vilão não tem credibilidade nenhuma e que o rumo da história é muito infantil. Contudo, admito que num nível puramente visual este filme transporta grandes ideias. Apenas desgosto da forma como foi escrito. Mas mais uma vez, esta é apenas a minha opinião. Eu sou muito “miudinho” quando se trata de avaliar cinema.
Aos poucos começam a abolir dos vossos discos aqueles samples arrepiantes tão comuns nos vossos primeiros trabalhos. Há alguma razão especial para isto?
Na verdade, existem alguns samples assustadores no nosso novo álbum. Acontece apenas que em vez de serem retirados de filmes de terror são extraídos de entrevistas com pessoas como o Jeffrey Dahmer e Charles Manson. Os samples e as faixas atmosféricas fazem parte do nosso universo musical e nunca os vamos abolir. Aliás, vamos mesmo usá-los cada vez mais ao vivo!
Deixemo-nos agora viajar um pouco na “mayonnese“: alguma vez pensaram em fazer uma espécie de disco de death metal com uma orquestra que gerasse um ambiente bem "horror movie"?
Só se conseguissemos a participação da Jenna Jameson! [risos] Agora falando a sério, a ideia atrai-me, mas precisaríamos de suportar um orçamento bastante grande para que um projecto como esse não soasse leviano e feito sem grande profissionalismo. Mas para isso precisamos de nos tornar uma banda muito maior do que a que somos hoje em dia.
Em relação ao vosso line-up, sentem-se mais descansados por o terem assegurado novamente neste disco? Sentem-no a respirar melhor que nunca após tantos anos de constantes mudanças?
Bem, sentimos o mesmo que sempre: na realidade odiamo-nos todos e parece um inferno estarmos mais do que um mês fechados numa carrinha juntos. Na verdade, estou realmente a considerar matar-me depois de matar todos os meus restantes colegas. Estou a brincar! [risos] Na verdade, está a correr bem e sente-se um espírito de equipa genuíno na banda neste momento. Toda a gente está no mesmo “barco”, pelas mesmas razões, e vive-se a melhor atmosfera que a banda alguma vez viveu!
Como é que a banda trabalha hoje em dia?
Na realidade, não é muito fácil trabalharmos em grupo, porque durante o processo de composição todos nós gravamos demos em casa, partilhamo-las via internet, trocamos ideias através do nosso fórum interno e só quando tudo está praticamente pronto juntamo-nos e ensaiamos para procedermos aos últimos arranjos. Também ensaiamos antes da maioria dos concertos. Encontramo-nos na nossa sala de ensaios na Bélgica e passamos alguns dias juntos antes de voar para uma digressão ou para uma série de espectáculos.
Como acha que se sente o Sven [único membro fundador ainda presente na banda] quando faz uma retrospectiva de todos esses anos? Será que estranha relembrar os seus antigos colegas e sentir que, aparentemente, eles não acreditavam tanto no sonho de chegar longe com a banda como ele?
Eu posso responder por ele porque temos a mesma visão sobre esse assunto. Penso que todos os que abandonaram a banda ao longo desses anos não se sentiam, simplesmente, suficientemente motivados para fazer os sacrifícios que exigem levar uma banda extrema a um nível superior. Nós somos todos pessoas muito trabalhadoras, disciplinadas e com vontade de fazer uma banda como essa funcionar. Nós quase nem fazemos dinheiro suficiente para pagar as nossas contas quando regressamos de uma tournée e temos que nos ausentar muitos dias dos nossos empregos. Por isso, não é mesmo nada fácil sustentar essa situação. Eu não posso culpar algumas pessoas por desistirem devido a essas dificuldades. Mas outras estavam na banda por razões erradas, por procurarem fama – o que é rídiculo -, ou para fazerem muito dinheiro, o que é ainda mais ridículo.
Em relação ao vosso novo disco encontramos ainda mais algumas mudanças. Por exemplo, a produção parece menos elaborada…
O “Strychnine.213” parece menos cheio porque não está tão produzido como costumávamos fazer no passado. Este soa mais como uma banda a tocar efectivamente: duas guitarras, um baixo e uma bateria acústica. Este é o verdadeiro som dos Aborted. Não há edições nem truques. Pode soar diferente da maior parte das bandas actualmente, mas soa a nós próprios e não a qualquer outra banda. Sinceramente, prefiro ouvir produções mais naturais.
Fazendo um pequeno balanço dos vossos últimos anos de carreira, creio que se pode dizer que a legião de fãs dos Aborted tem realmente crescido e se solidificado. Uma das maiores provas será a formação do “Aborted Army”, um grupo de fãs que se faz apresentar em todos os vossos concertos vestidos a rigor, mais propriamente com roupas de cirurgião aludindo à capa de “Goremageddon”. Sentem-nos como vossos discípulos?
É muito agradável constatar como algumas pessoas são mesmo fãs dos Aborted. Nós sempre tivemos uma relação muito próxima com os nossos admiradores e tentamos envolvê-los com a banda. Por exemplo, com o “Archaic Abattoir” solicitamos-lhes o envio de cabelos e unhas para fazer uma espécie de “saco de provas” e para este último trabalho demos-lhes a hipótese de darem um nome a um tema.
Por fim, como vos está a correr a tournée pelos Estados Unidos?
Esta tournée tem sido, simplesmente, espectacular! Estamos a passar uma temporada muito boa nos Estados Unidos, tocando frente a muitos putos, todas as noites, divertindo-nos imenso. Tem sido uma experiência muito fixe e uma das coisas muito boas dessa tournée é que temos levado a nossa música a muitos fãs novos que nunca tinham ouvido falar de nós ainda. Tem sido um ambiente puro “rock’n’roll”!
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Nuno Costa