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Entrevista Civic

A CIVILIZAÇÃO IDEAL

São uma das grandes sensações do ano em Portugal. Ou pelo menos ameaçam tornar-se após a sua participação no mega evento musical que é o festival Rock In Rio a realizar-se este mês em Lisboa. Seleccionados de entre mais de 500 bandas que concorreram a um ambicionado lugar no festival, os Civic são os afortunados que vão poder brilhar diante de milhares de pessoas naquele que poderá ser um passo importantíssimo no desenrolar da sua carreira. Agressivos, melódicos, contagiantes, os Civic buscam ingredientes em várias prateleiras para uma fusão que se quer moderna, pessoal e inovadora. Sobre a banda e sobre este momento grandioso que atravessam, o vocalista Sérgio falou para a SounD(/)ZonE.

À primeira vista até chegamos a pensar que Civic se refere a uma marca de automóveis! Obviamente que assim não o é...
Obviamente... Civic advém da palavra civismo, como muitas das nossas letras falam de questões da sociedade e de nós próprios. Existe muita falta de civismo no mundo em que vivemos hoje e isso transparece-se em guerras, corrupções de organismos criados para servir o público geral, ou seja, uma falta de transparência nas intenções de muita gente e gente com poder muitas das vezes. Apenas um pequeno gesto de buzinar ou ofender uma pessoa na estrada é espelho disso mesmo. Muitos dos nossos temas abordam essas questões seja a nível social ou a nível emocional e em ambos tentamos sempre ser honestos connosco próprios.

Até que ponto a música dos Civic poderá contribuir para a resolução da falta de civismo que nos rodeia hoje em dia? Acredito que grande das pessoas vos vê como fomentadores da confusão e da desordem ao invés do contrário, aliás como acontece com o metal em geral...
Não, nem por isso. Felizmente hoje em dia a visão das coisas nesse aspecto já está bastante mudada, pois existe um mercado mais vasto e mais abertura nas mentes das pessoas (mas não o suficiente), nos quais, por exemplo, a internet e os DVD’s vieram mostrar isso mesmo. As pessoas vêem que por detrás de um guedelhudo ou de um calças largas está uma pessoa normal, independentemente do estilo. No nosso ver, não existem bandas fomentadoras de confusão e desordem, apenas indivíduos que às vezes não sabem estar nos sítios, como em tudo na vida. Acho que podemos contribuir para isso não acontecer hoje em dia porque em espectáculos nossos, reina sempre a boa disposição e a honestidade para com o público, e geralmente o público adere sempre bem. É bastante importante a comunicação com o público e o apelo para o civismo nos concertos. Se conseguirmos marcar uma pessoa com a nossa música, que é aquilo que sempre esperamos, é sempre algo positivo.

Como surgiu a ideia de te juntares ao Chikko para formares uma banda? Vocês já se conheciam?
Sim, já há algum tempo que nos conhecíamos. Tínhamos tido os dois projectos no passado, portanto, tínhamos referências um do outro e tínhamos e temos muitos gostos musicais em comum, o que facilitou bastante o processo. Começámos por umas ideias de guitarra e umas linhas de voz. Gravámos as ideias em casa no computador com uns beats feitos no mesmo. Começámos a procura de outros elementos, então o Chikko conhecia o Quim, mostrou lhe o projecto, ele gostou e logo começou a fazer parte da família. Depois juntou-se o Gonçalo (Gnomo) para tocar baixo mas após um ano abandonou a banda por motivos de saúde, mas no entretanto, em Outubro de 2003 gravámos um promo CD com 3 temas produzido pelo Dikk e pela própria banda. Ficámos uns tempos à procura de baixista e foi-nos recomendado o Pedro Martinho que fez uma audição com a banda e ficou.

O problema do Gonçalo tornou mesmo a sua saída inevitável?
Tínhamos o Gonçalo na banda mas um dia foi lhe diagnosticado uma leucemia. Durante uns 6 meses ainda continuamos com ele, com bastantes interrupções em termos de ensaios, ideias e chegou a uma altura em que os caminhos tiveram que se separar porque a disponibilidade dele era incompatível com a da banda. Foi tudo um processo amigável e ele ainda faz parte da nossa “família” e somos todos grandes amigos. Tivemos e estamos sempre ao lado dele nesta fase difícil da sua vida mas que a certa altura já se estava a tornar a nossa.

Para além disso, tiveram ainda um DJ e agora pensam recrutar um novamente...
Tivemos o Brito, também conhecido por Dj Poison, e que agora é conhecido por Dj Bright, nas turntables para fazer scratch. Dava outra dinâmica ao som, pois preenchia mais espaços vazios deixados nas músicas e dava uma versão mais moderna do rock dos dias de hoje. Pelo menos que a gente saiba, cá em Portugal não há nada ou muito pouco do género. Tivemos também há pouco tempo, por intermédio do maravilhoso instrumento da internet, uma versão de uma das nossas músicas, a participação do Dj Pitchscratch, um português a viver em França, a quem mostrámos as músicas e como gostou fez uma brincadeira que até resultou muito bem. Muito provavelmente se ele estivesse em Portugal não estaríamos à procura de DJ. Ele demonstrou sempre muito interesse no projecto e tem talento. É pena... Mas por enquanto procuramos um DJ para retomarmos aquele feeling e preenchimento que sentíamos quando o Brito estava connosco. Infelizmente em Portugal não dá para viver da música e ele, como todos, precisa de sobreviver nesta sociedade de portas fechadas.

Como definirias o som dos Civic? Quais são as vossas maiores influências?
Basicamente tocamos rock. Não o rock no sentido amplo da palavra mas um rock mais moderno, mais adaptado ao que se passa hoje um pouco por todo o mundo. Tentamos sempre acompanhar a mudança desde que, claro, se encaixe nos nossos gostos e nos parâmetros do que fazemos. Não dizemos que somos cépticos a outros tipos de som mas acho que estamos a crescer no sentido da criação de um estilo próprio e independente, o som Civic. Segundo a imprensa, tocamos um rock musculado, e até hoje estamos para descobrir o que é isso (risos). Acho que o que eles querem dizer é que a nossa sonoridade é pesada, com bastantes graves a preencher, daí a palavra “musculado”. Pode ser que demos origem a um novo movimento e um novo estilo, quem sabe! (risos) Em termos de influências, não há uma concretamente definida em que se possa dizer que é a principal da banda. Todos nós temos as nossas influências e os nossos estados de humor para a receptividade dos vários sons que nos inundam em casa. Eu por exemplo, oiço de tudo um pouco que vai desde Incubus, Faith No More, Primitive Reason, Mr Bungle, Ben Harper, Pantera, Deftones, Bjork, Sigur Rós e até Justin Timberlake! Depende muito do estado de espirito. O Chikko é mais ou menos como eu, ouve desde Incubus, A Perfect Circle, Pantera, Deftones, Filter, etc... O Martinho o mesmo mas tem mais afeição a Red Hot Chilli Peppers e Tool, O Quim é o mais velho de nós e tem uma escola mais antiga e venera completamente Iron Maiden, mas é uma pessoa que sabe ouvir música e aprecia muito do que se faz hoje em dia, que vai desde Incubus a Linkin Park e por aí fora. Acho que influências é uma coisa que todos nós temos e que inevitavelmente vão influenciar as nossas obras musicais. Vejo as nossas influências como um quadro na parede. Temos vários traços de várias cores mas todos juntos formam algo belo e íntegro.

No entanto, vocês assumem-se mais como uma banda de peso ou de momentos mais serenos? No vosso CD promo gravado em Outubro do ano passado podemos ouvir dois temas mais rockeiros e um último mais calmo... Em qual dos dois lados vocês se sentem melhor?
Ambos, porque se formos pegar num álbum duma banda de rock dos anos 80, que foi aí que tudo começou a mudar e o rock cresceu de semente a árvore desenvolvendo vários ramos, existe por isso uma diversidade de emoções e estados de espírito nas várias músicas que esse álbum apresenta. Acho que faz parte da pessoa, enquanto ser social e pensador, exteriorizar o que sente, seja isso de uma maneira mais agressiva ou mais pausada e serena. Acho que isso é que demonstra a integridade dos artistas, é a capacidade de exteriorizar as suas emoções, seja de uma maneira calma ou agressiva, porque só assim estamos a ser verdadeiros com quem nos ouve e verdadeiros connosco próprios. Sentimo-nos bem com ambas as visões porque vem tudo do nosso interior e é incrível o resultado que converge por entre os quatro elementos e se apresenta perante as pessoas. A música é realmente algo mágico.

Falando agora do vosso actual momento, a banda prepara-se para actuar no Rock In Rio Lisboa! Como se sentiram quando receberam a notícia de que tinham sido seleccionados de entre mais de 500 bandas?!
Wow! Foi incrível o sentimento com que recebemos a notícia porque estávamos num período em que nada surgia. Tínhamos uma maqueta de muito boa qualidade na bagagem e o feedback simplesmente não surgia quer em concursos, quer em rádios, quer até mesmo em concertos. Sentimos mesmo uma enorme satisfação em ver o nosso trabalho escolhido por entre cerca de outros 500 projectos. O facto de participarmos neste concurso até agora tem-nos ajudado bastante na medida em que tivemos uma grande exposição do nosso trabalho tanto na TV como na rádio Está a ser muito bom para nós mesmo.

A projecção que resultará desta experiência irá com certeza trazer um mundo novo aos Civic. Já há interesse de editoras grandes no vosso trabalho ou algo do género?
Sem dúvida alguma que trouxe. Destrancou-nos algumas portas as quais tivemos apenas de as empurrar. Temos tido principalmente mais pessoas a conhecer o projecto e a gostar do que fazemos. Temos tido mais concertos e mais feedback no geral. De editoras até agora não tivemos qualquer abordagem, apenas tivemos uma divulgação maior perante as pessoas que realmente gostam de música e isso é que realmente interessa para nós. Claro que se tivéssemos uma editora que financiasse o nosso trabalho seria óptimo, mas até agora foi coisa que não aconteceu, mas isso para nós já começa a passar ao lado porque chegámos à conclusão que sozinhos e com investimento nosso poderemos fazer as coisas à nossa maneira.

E projectos para o futuro?
Projectos para o futuro é trabalhar bastante, tentar a nossa sorte com editoras fora de Portugal, fundamentalmente, e com o dinheiro dos concertos ir juntando os meios para gravarmos mais músicas e lançar qualquer coisa no mercado comercial, seja um EP ou até mesmo, quem sabe, um álbum. Apenas depende do nosso trabalho e esforço para o alcançar, porque os Civic já passaram por momentos mais difíceis na sua curta existência, alguns deles em que não cabia a nós mudar o rumo das coisas, exemplificando com o caso do Gonçalo. Acho até que essa má fase nos deu força para dar mais valor a nós próprios e à vida que as vezes não aproveitamos como deve ser.

Dois anos de existência... Que balanço fazes da vossa ainda curta carreira?
Atingimos muitos objectivos que muitas bandas com 2 anos de existência não atingiram, o que nos deixa realmente satisfeitos. Notamos isso de projectos anteriores que todos tivemos e que se calhar com mais tempo de vida, não chegaram nem a metade do caminho que Civic chegou. Acho que isso se deve fundamentalmente ao facto de hoje em dia existir menos barreiras no mundo da música, quer nas pessoas que a consomem, quer nos próprios músicos que a fazem. Mas com isso não quer dizer que essas barreiras não existam. Elas existem e em Portugal não são tão poucas quanto isso. Isso vê-se na quantidade de projectos bons que existem e que não passam do circuito medíocre de bares e não têm exposição no estrangeiro. Nestes dois anos em que estamos juntos passámos por momentos muito bons e alguns também muito maus, tudo o que faz parte da vida de uma pessoa. Acho que com isso tudo aprendermos e crescemos como pessoas e músicos. Tivemos bastantes experiências quer em palco, quer em estúdio, quer interpessoais no mundo da música. Até agora tem sido positivo e daqui para a frente esperamos que seja cada vez melhor.

Nuno Costa
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