Entrevista Forgotten Suns
SONHO PROGRESSIVO
Os Forgotten Suns fazem parte de uma restrita mas honrosa facção do metal. Tal como acontece no mundo inteiro, o rock progressivo vive em expansão e atinge se calhar hoje o maior pico da sua popularidade, muito graças aos nova-iorquinos Dream Theater. Entretanto, em Portugal, tal como na generalidade dos géneros dentro do rock/metal, as coisas são sempre muito difíceis de se porem cá para fora e se afirmarem. No entanto, se “Fiction Edge I” – o primeiro álbum dos lisboetas Forgotten Suns - passou de certa forma despercebido ao público, já o duplo-álbum de 2004 “Snooze” promete afirmar-se como uma das maiores obras jamais feitas dentro do universo progressivo em Portugal e elevar os Forgotten Suns a um patamar de reconhecimento que lhe é devido. A SounD(/)Zone conversou por isso com o guitarrista Ricardo Falcão.
Antes de mais, parabéns pelo vosso trabalho em “Snooze” e pela vossa carreira. De facto, é difícil ser-se uma banda prog num universo tão restrito como o português… Fala-nos um pouco da vossa história.
Obrigado eu em nome dos Suns pela entrevista. Os Forgotten Suns nasceram da amizade de duas pessoas (Linx e eu) aquando dos tempos de liceu em 92. Tínhamos na altura 17 anos e uma vontade enorme de fazer música “diferente”... Pelo caminho fomos juntando ao grupo o baixista “Johnny”, o teclista Miguel Valadares e, mais tarde, em 1997, o baterista Nuno Sénica. Com esta formação gravámos o primeiro álbum – “Fiction Edge” – e pusémos Portugal no mapa do rock progressivo outra vez. Criou-se uma mailing list portuguesa (prog.pt – agora prog-luso) à volta do entusiasmo deste álbum e o concerto de apresentação teve o apoio de gente de vários cantos do país... Foi muito especial para nós! Infelizmente, algumas pessoas dessa mailing list parecem ter esquecido esses momentos mágicos... Claro que o percurso teve os altos e baixos inerentes ao género de música que fazemos, especialmente por estarmos em Portugal onde não se dá muita atenção à música em geral, quanto mais a um género tão específico. Esses altos e baixos têm a ver com a constante entrada e saída de elementos no que toca a bateristas e teclistas. Essas saídas deveram-se a outras prioridades profissionais ou compromissos de ordem pessoal, creio que sempre soubémos ultrapassar as adversidades da melhor maneira possível e estamos neste momento com 30 anos, fortes, mais maduros e seguros. A entrada do baterista J.C Samora trouxe grande equilíbrio ao conjunto e a próxima relação musical que ele tem com o baixista Johnny moldou bastante a sonoridade FS. Entre factos, abrimos a nossa própria editora (http://www.magicropemusic.com/), temos o nosso próprio estúdio de gravação em Lisboa (http://www.fxestudio.com/) e temos uma equipa técnica dedicadíssima, mais agenciamento a trabalhar connosco que compreende as empresas Luzisom e Fora D’agua Produções. Pessoas como Paulo Simões, Ricardo Nel e José Manuel são incansáveis profissionais e são como se fossem membros dos Suns. Todas estas entidades levaram muito tempo, muito sacrifício e alguma sorte para serem realizadas. Tudo gira à volta de uma vontade única de levar a nossa música às pessoas e de nos realizarmos, por isso é que é tão dificil haver mais projectos em Portugal... No entanto, esta é a mensagem do álbum “Snooze” – nunca desistir... Em 2003 entrámos de novo em estúdio para gravar o álbum “Snooze” que arrebatou excelentes críticas em todo o mundo progressivo e não só. O álbum realmente agradou a muita gente, o que nos surpreendeu de certa maneira. Neste momento decorre a Meet X Tour por vários auditórios na Zona de Lisboa onde promovemos o nosso último álbum – “Snooze”.
Fiquei curioso ao saber que vocês despoletaram de certa forma um movimento no rock progressivo em Portugal. Ouvi-te falar de uma Associação do Progressivo e de uns Marillionados numa entrevista. Explica-nos melhor o que é isto.
A Portugal Progressivo Associação Cultural (http://www.progcds.com/ppac/) é a responsável pelo Festival Gouveia Art Rock (http://www.gaudela.net/gar/) e pela vinda de algumas bandas progressivas a Portugal nos últimos anos (ex: Flower Kings, Arena, Isildurs Bane, etc). É uma Associação sem fins lucrativos e que tem um “amor à camisola” de louvar. Na minha humilde opinião, falta um pouco mais de abertura e compreensão do fenómeno progressivo de massas para que este Festival possa vir a ter lotação esgotada. Passo a citar o facto de o sub-género prog-metal ser mais abraçado neste evento para levar pelo menos o dobro das pessoas ao fim-de-semana do G.A.R. Aproveito a entrevista para explicar que a ausência dos Forgotten Suns no DVD 2004 do Festival se deve, única e exclusivamente, ao facto de a banda não ter ficado 100% satisfeita com a sua performance o que nos levou, com muita pena, a não autorizar a inclusão de parte do nosso concerto no DVD. Todos os esforços da PP-AC foram feitos para que lá estivéssemos. Acredito que numa próxima oportunidade a banda estará pronta para aceitar o desafio e entrar no DVD do Festival. Os marillionados (http://marillionados.cjb.net/) são um grupo de pessoas que adoram a banda Marillion, sendo muitos deles também fãs de Forgotten Suns. Foi através dos marillionados que conhecemos pessoas como o Vasco Leiria (o nosso moderador dos Burning Suns – clube de fãs dos Forgotten Suns) e a Mónica. Gente como J.Carlos, J.Blanch, Patrícia ou M.Batista fazem a diferença e qualquer clube de fãs no mundo os gostaria de ter.
Passando agora para o vosso novo álbum… Antes de mais, acho que é incontornável falarmos do seu conceito e da ligação que este tem com o anterior “Fiction Edge I”.
“Snooze” retrata a história de ‘X’ em 80 minutos de puro rock/metal progressivo.
‘X’ é uma personagem que poderia ser qualquer pessoa que vive para realizar os seus sonhos, no nosso caso, é o de sermos músicos (entenda-se criadores de música), mas o que ele faz na vida nada tem a ver com os seus ideais. No início do álbum, ‘X’ acorda ao som do seu despertador e sente uma incrível inércia para ir uma vez mais para o seu trabalho das 9h-17h que ele tanto detesta... Soa-vos familiar? Quando ele pára o despertador de tocar, em vez de o desligar, ele prime o “Snooze” e o álbum são os 9 minutos do sonho em que ‘X’ mergulha de novo... A ligação conceptual a “Fiction Edge” é musical, pela repetição de alguns temas e também ao nível da própria história. “FE” é uma história que fala sobre assuntos universais como a criação do mundo, o aparecimento da natureza e do homem, as guerras e acaba com uma viagem no tempo até ao presente. Em “Snooze” esse presente é relatado na vida de ‘X’.
Os Forgotten Suns fazem parte de uma restrita mas honrosa facção do metal. Tal como acontece no mundo inteiro, o rock progressivo vive em expansão e atinge se calhar hoje o maior pico da sua popularidade, muito graças aos nova-iorquinos Dream Theater. Entretanto, em Portugal, tal como na generalidade dos géneros dentro do rock/metal, as coisas são sempre muito difíceis de se porem cá para fora e se afirmarem. No entanto, se “Fiction Edge I” – o primeiro álbum dos lisboetas Forgotten Suns - passou de certa forma despercebido ao público, já o duplo-álbum de 2004 “Snooze” promete afirmar-se como uma das maiores obras jamais feitas dentro do universo progressivo em Portugal e elevar os Forgotten Suns a um patamar de reconhecimento que lhe é devido. A SounD(/)Zone conversou por isso com o guitarrista Ricardo Falcão.
Antes de mais, parabéns pelo vosso trabalho em “Snooze” e pela vossa carreira. De facto, é difícil ser-se uma banda prog num universo tão restrito como o português… Fala-nos um pouco da vossa história.
Obrigado eu em nome dos Suns pela entrevista. Os Forgotten Suns nasceram da amizade de duas pessoas (Linx e eu) aquando dos tempos de liceu em 92. Tínhamos na altura 17 anos e uma vontade enorme de fazer música “diferente”... Pelo caminho fomos juntando ao grupo o baixista “Johnny”, o teclista Miguel Valadares e, mais tarde, em 1997, o baterista Nuno Sénica. Com esta formação gravámos o primeiro álbum – “Fiction Edge” – e pusémos Portugal no mapa do rock progressivo outra vez. Criou-se uma mailing list portuguesa (prog.pt – agora prog-luso) à volta do entusiasmo deste álbum e o concerto de apresentação teve o apoio de gente de vários cantos do país... Foi muito especial para nós! Infelizmente, algumas pessoas dessa mailing list parecem ter esquecido esses momentos mágicos... Claro que o percurso teve os altos e baixos inerentes ao género de música que fazemos, especialmente por estarmos em Portugal onde não se dá muita atenção à música em geral, quanto mais a um género tão específico. Esses altos e baixos têm a ver com a constante entrada e saída de elementos no que toca a bateristas e teclistas. Essas saídas deveram-se a outras prioridades profissionais ou compromissos de ordem pessoal, creio que sempre soubémos ultrapassar as adversidades da melhor maneira possível e estamos neste momento com 30 anos, fortes, mais maduros e seguros. A entrada do baterista J.C Samora trouxe grande equilíbrio ao conjunto e a próxima relação musical que ele tem com o baixista Johnny moldou bastante a sonoridade FS. Entre factos, abrimos a nossa própria editora (http://www.magicropemusic.com/), temos o nosso próprio estúdio de gravação em Lisboa (http://www.fxestudio.com/) e temos uma equipa técnica dedicadíssima, mais agenciamento a trabalhar connosco que compreende as empresas Luzisom e Fora D’agua Produções. Pessoas como Paulo Simões, Ricardo Nel e José Manuel são incansáveis profissionais e são como se fossem membros dos Suns. Todas estas entidades levaram muito tempo, muito sacrifício e alguma sorte para serem realizadas. Tudo gira à volta de uma vontade única de levar a nossa música às pessoas e de nos realizarmos, por isso é que é tão dificil haver mais projectos em Portugal... No entanto, esta é a mensagem do álbum “Snooze” – nunca desistir... Em 2003 entrámos de novo em estúdio para gravar o álbum “Snooze” que arrebatou excelentes críticas em todo o mundo progressivo e não só. O álbum realmente agradou a muita gente, o que nos surpreendeu de certa maneira. Neste momento decorre a Meet X Tour por vários auditórios na Zona de Lisboa onde promovemos o nosso último álbum – “Snooze”.
Fiquei curioso ao saber que vocês despoletaram de certa forma um movimento no rock progressivo em Portugal. Ouvi-te falar de uma Associação do Progressivo e de uns Marillionados numa entrevista. Explica-nos melhor o que é isto.
A Portugal Progressivo Associação Cultural (http://www.progcds.com/ppac/) é a responsável pelo Festival Gouveia Art Rock (http://www.gaudela.net/gar/) e pela vinda de algumas bandas progressivas a Portugal nos últimos anos (ex: Flower Kings, Arena, Isildurs Bane, etc). É uma Associação sem fins lucrativos e que tem um “amor à camisola” de louvar. Na minha humilde opinião, falta um pouco mais de abertura e compreensão do fenómeno progressivo de massas para que este Festival possa vir a ter lotação esgotada. Passo a citar o facto de o sub-género prog-metal ser mais abraçado neste evento para levar pelo menos o dobro das pessoas ao fim-de-semana do G.A.R. Aproveito a entrevista para explicar que a ausência dos Forgotten Suns no DVD 2004 do Festival se deve, única e exclusivamente, ao facto de a banda não ter ficado 100% satisfeita com a sua performance o que nos levou, com muita pena, a não autorizar a inclusão de parte do nosso concerto no DVD. Todos os esforços da PP-AC foram feitos para que lá estivéssemos. Acredito que numa próxima oportunidade a banda estará pronta para aceitar o desafio e entrar no DVD do Festival. Os marillionados (http://marillionados.cjb.net/) são um grupo de pessoas que adoram a banda Marillion, sendo muitos deles também fãs de Forgotten Suns. Foi através dos marillionados que conhecemos pessoas como o Vasco Leiria (o nosso moderador dos Burning Suns – clube de fãs dos Forgotten Suns) e a Mónica. Gente como J.Carlos, J.Blanch, Patrícia ou M.Batista fazem a diferença e qualquer clube de fãs no mundo os gostaria de ter.
Passando agora para o vosso novo álbum… Antes de mais, acho que é incontornável falarmos do seu conceito e da ligação que este tem com o anterior “Fiction Edge I”.
“Snooze” retrata a história de ‘X’ em 80 minutos de puro rock/metal progressivo.
‘X’ é uma personagem que poderia ser qualquer pessoa que vive para realizar os seus sonhos, no nosso caso, é o de sermos músicos (entenda-se criadores de música), mas o que ele faz na vida nada tem a ver com os seus ideais. No início do álbum, ‘X’ acorda ao som do seu despertador e sente uma incrível inércia para ir uma vez mais para o seu trabalho das 9h-17h que ele tanto detesta... Soa-vos familiar? Quando ele pára o despertador de tocar, em vez de o desligar, ele prime o “Snooze” e o álbum são os 9 minutos do sonho em que ‘X’ mergulha de novo... A ligação conceptual a “Fiction Edge” é musical, pela repetição de alguns temas e também ao nível da própria história. “FE” é uma história que fala sobre assuntos universais como a criação do mundo, o aparecimento da natureza e do homem, as guerras e acaba com uma viagem no tempo até ao presente. Em “Snooze” esse presente é relatado na vida de ‘X’.
Quanto a tudo o que rodeou a composição e gravação do vosso novo álbum, fiquei com uma sensação muito “espiritual” quanto ao que significa este álbum para vocês. Especialmente pelos vossos textos na faixa multimédia que acompanha o disco, muito sentidos… Eu por acaso também já estive em Portalegre a estudar e também concordo no sentido em que aquele é um cenário realmente especial e sereno para se compor um álbum…
É verdade, uma paisagem lindíssima e inspiradora... Mesmo debaixo de um sol de verão escaldante! Poucos dias depois, a Serra que víamos todos os dias de manhã ao acordar foi devastada pelas chamas que assolaram o país inteiro. Ficarão para sempre verdes nas nossas memórias… Este álbum é especial porque é muito autobiográfico e exorciza os nossos fantasmas. É também um album que será sempre actual em termos de conceito/história, embora não aplicado a nós directamente mas a quem o ouvir e estiver numa altura de decidir o rumo certo a dar à sua vida.
Como tem decorrido o período pós-lançamento de “Snooze”? Agora decorridos alguns meses, que balanço fazes dos seus resultados? Boas críticas, muitos concertos, como tem sido?
Temos tido óptimo feedback da imprensa internacional e também nacional. Creio que com este álbum somos uma banda que subiu mais um degrau musical e subiremos ainda mais com o terceiro álbum. Foi também o ano em que tocámos mais e conseguimos que, em termos de promoção/distribuição/agenciamento, tudo corresse bem e com um bom timing. De momento decorre a Meet X Tour com concertos em auditórios e 3 bares de renome. Tem sido uma experiência muito interessante e conhecer novos fãs ao vivo é realmente gratificante.
O rock progressivo encontra-se de saúde em Portugal?
O rock progressivo nunca teve saúde em Portugal até hoje, tal como outros géneros. Os anos de ouro foram os anos 70, mas que foram abafados com a revolução punk. Creio que o fenómeno global “Dream Theater”, pelas suas características, fez renascer muitas bandas e muitos músicos e que agora a música progressiva encontra-se em expansão. Basta olharmos para o número de novas bandas nos Estados Unidos, Suécia, Alemanha, Holanda, Itália e França... Em Portugal também se verifica um pouco esse fenómeno mas são poucos os projectos que conseguem ver a luz do dia... É preciso muita força de vontade, sacrificio e... sorte!
Para o futuro, já têm planeadas novas metas?
Sim, temos tudo planeado para uma grande surpresa em breve mas que será anunciada na devida altura. Em relação a álbuns temos planeada a composição do terceiro disco e a re-gravação do “Fiction Edge”. Vamos continuar a tocar ao vivo, provavelmente uma segunda leg da Meet X Tour em Setembro.
Nuno Costa
PLAYLIST RICARDO FALCÃO [guitarrista]
- Elements of Persuasion ( James Labrie)
- Out To Every Nation (Jorn Lande)
- Live at Budokan (Dream Theater)
- Aeronautics (Masterplan)
- Live on the Edge of Forever (Symphony X)