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Entrevista Hate Profile

PERFIL CAÓTICO

De Itália chega-nos, pela Cruz Del Sur Music e distribuido pela Nemesis, o primeiro capítulo do one-man-project intitulado Hate Profile. Talhado à imagem do multi-instrumentista Fabio (a.k.a. Amon 418) “Opus I: The Khaos Hatefile” é a primeira parte de uma trilogia assente num conceito bem intricado de destruição e ruína da raça humana versus a procura e a exploração do lado espiritual. Tudo isto vem embrulhado num black metal frio e tenebroso, carregado de um negativismo bem à altura do conceito aqui inerente. Amon 418 apresentou-nos o seu projecto muito pessoal e deu-nos a conhecer o valor metafórico, esotérico e espiritual de “The Khaos Hatefile”.

Os Hate Profile existem desde 1998, embora tenha demorado algum tempo até que tomasses uma decisão definitiva sobre o caminho que querias tomar com a banda...Inclusive, chegaste a fazer algumas sessões com outros músicos, mas tudo isso parece que não te satisfez...Explica-nos a história por trás da formação dos Hate Profile.
Sim, os Hate Profile existem desde 1998, mas demorou algum tempo até que achasse o som certo. Cheguei a ensaiar com alguns amigos de bandas locais com os quais aliás ainda colaboro, mas cheguei à conclusão que este era o meu próprio caminho, a minha própria expressão. Por isso, simplesmente decidi prosseguir por minha conta, não porque estivesse insatisfeito com os músicos, mas sim porque achei que este era um projecto particular.

E como classificas a particularidade dos Hate Profile?
É um projecto particular porque, acima de tudo, é uma banda conceptual. Eu escrevo todas as letras e quero que a música encaixe na atmosfera invocada sem ter que discutir com alguém acerca do som ou de outra coisa qualquer. Não menos importante, é o facto dele estar intimamente ligado à minha evolução, como que uma espécie de “crescimento alquímico”... É impossível partilhares tudo isso.

Uma vez que a maior particularidade dos Hate Profile é o seu conceito, fala-nos dele...
Sim, este é realmente o ponto mais importante dos Hate Profile. Tanto que as letras de toda a trilogia já estão completas desde 2004. O conceito em questão foca mais que um tema, uma vez que quis que as letras fossem “multi-níveladas”, também quis que elas tivessem vários significados consoante a maneira que o lesses. Nele podes encontrar verdadeiro ódio, amargura, visões apocalípticas...Mas também podes encontrar um patamar espiritual, incluindo todas as coisas que servem para construir um campo desses: procura interior, dor, referências esotéricas, metáforas as quais podem ser definidas de várias formas consoante a forma como olhas para elas. Espero que alguém penetre profundamente nesse conceito para encontrar a sua própria interpretação.

Já agora, onde foste buscar o pseudónimo Amon 418?
Escolhi esse nome porque encaixa comigo. Sou um europeu que tenta seguir o seu caminho solar, mas que também sente o chamamento da noite, do mistério, a cor negra da nossa Era chamada Kali Yuga. Daí o nome Amon (Sol Negro): trata-se da terceira manifestação do Sol segundo o antigo Egipto, o Sol durante a sua jornada negra através da noite antes de imergir na Luz do Novo Dia. O significado de 418 daria um livro inteiro!! Digamos que me representa de diferentes formas: está relacionado com o Fogo, com o número 13, com a iniciação, o 1 significa unidade, espírito; 8 representa a força resgatável de Mercúrio. O universo (4) está unido (1) pelo poder do espírito (8). 418 significa meditação, unidade, vácuo, o filho de Horus, a visão e a voz, a linha central do mundo.

Como processas o encaixe da música neste conceito lírico?
Simplesmente deixo-o fluir. Às vezes crio um riff e, imediatamente, sinto que foi concebido para encaixar em certa parte da letra. Às vezes simplesmente leio uma letra e sinto-me inspirado para criar um riff. Eu não tenho nenhum método para além da intuição. Obviamente, este não é um processo totalmente livre, eu ajo dentro de uma escala: a música tem que reflectir o modo das palavras. Mas, como disse, eu não imponho regras. Por exemplo, o tema “17 Empty Rooms” teve um processo realmente mágico. As letras foram escritas em 5 minutos, comigo sentado no chão, como se tivesse recebido uma “visão”. Quanto toquei o seu riff pela primeira vez soube imediatamente que tinha sido feito para aquela canção.

Faz-nos uma pequena introdução aos dois capítulos que faltam desta trilogia.
Bem, eles intitulam-se “The Soule Proceeds...Amongst The Dead” e “Spirit Breed Era Vulgaris”. Todos os três álbuns são muito parecidos do ponto de vista existencial: eles representam a revolta, a raiva, uma visão negra da decadência. Mas eles diferem fortemente na sua essência. A viagem esotérica fortalece-se, a consciência própria cresce dia-após-dia, a procura interna continua e não pode parar. O segundo capítulo vai ser mais directo, abordando as manifestações degeneradas do mundo moderno, as suas pessoas e religiões degeneradas. O terceiro capítulo traz individualização – sabemos o que somos. Sabemos o que devemos ser. É uma marcha, um orgulho...Infelizmente, é também falta de esperança, uma batalha já perdida que tens que combater de qualquer maneira. Não existe regresso para o “guerreiro espiritual”.

Musicalmente, o que podemos esperar dos próximos dois discos?
O segundo vai ser mais agressivo, caótico e rápido. Tenho uma série de riffs de black metal desarmónicos, será menos melódico do que o “The Khaos Hatefile”. No entanto, irá ter provavelmente mais uso de sintetizadores, mas sempre sendo algo violento, doentio e caótico. Estarão também presentes no segundo disco um par de temas escritos em 2002... Quanto ao terceiro capítulo, ainda é muito cedo para dizer como ele vai soar. Provavelmente, mais atmosférico...

O Grom é um músico com quem já partilhaste velhos projectos, certo? Foi por isso que o escolheste para integrar este projecto?
Eu toco com o Grom nos Hortus Animae, uma banda em que colaboro desde 2003 tocando um tipo de música extrema muito diferente: uma mistura gótica, progressiva, “dark” e melódica. Obviamente, conheci-o por ser o baterista dos Ancient. Andava à procura de um baterista convidado e foi com naturalidade que escolhi o Grom para tocar nos temas, uma vez que conheço as suas capacidades. Ele é capaz de se sentar, ouvir rapidamente um riff e, simplesmente, acompanhá-lo, fazendo preenchimentos de improviso que ele só vai fazer uma vez na vida. Eu achei isso muito enquadrado com o “The Khaos Hatefile”, por isso, eu só tive que dizer o que queria para os diferentes temas e depois deixá-lo tocar livremente e instintivamente.

Uma vez que és o único compositor do projecto, como é que suportas todas essas tarefas sozinho?
Sim, sou o único compositor do projecto. E também quero continuar a produzir o projecto. Já tive demasiadas más experiências no passado e, desta vez, quero que os Hate Profile soem exactamente como eu quero. Não é muito difícil aguentar tudo isto sozinho, é sim difícil arranjar tempo para produzir algo diferente como o projecto electro/ambiental que estou a planear há já um par de anos. De qualquer maneira, esta é a única maneira de fazer os Hate Profile funcionar, esta é uma viagem pessoal. É suposto ela ser entendida e filtrada pela sensibilidade das pessoas, mas vai continuar a ser uma expressão da minha própria alma. Uma alma lacerada, antiga e em luta, deixando o seu legado oculto para os tempos que hão de vir.

Em relação à imprensa e ao público em geral, já nos consegues apontar tipos de reacções?
Já tivemos algum feedback, mas ainda é muito cedo para dizer alguma coisa. Amigos, músicos, distribuidoras e zines parecem ter gostado, mas não consigo relatar nada acerca do público. Fico feliz por ver que as pessoas percebem e tentam dar um sentido pessoal ao disco.

Tendo em conta que Hate Profile é um projecto de uma pessoa só, como planeias a sua vertente ao vivo?
Não sei se alguma vez vou tocar ao vivo com Hate Profile...Ás vezes penso que gostaria. De qualquer maneira, isso exige certas coisas: um bom equipamento, um bom sítio, músicos de respeito com quem partilhar o palco... Lamento, mas após 15 anos de sangue e suor – muitas vezes – perdido, eu nem gosto de ouvir a palavra “compromisso”...

Existem muitas bandas de black metal na Itália? Como está a cena nacional?
Eu penso que a Itália tem uma cena verdadeiramente forte e cheia de vitalidade. Infelizmente, os italianos parecem só estar interessados no produto estrangeiro. Mas temos, efectivamente, muitas boas bandas, tanto na área do old school como na avant-garde, por isso tenho a ideia de que isto ainda vai mudar. Eu aprecio verdadeiramente, e apoio, bandas como os Aborym, Ensoph, Spite Extreme Wing, Thee Maldoror Kollective, Impure Domain, Hiems, Grimness e muitas mais. Eu irei muito provavelmente colaborar com algumas delas no futuro, e com músicos do resto da Europa...O tempo o dirá...

E a nível de influências, que bandas te inspiram?
Eu tive muitas influências ao longo do tempo. Eu oiço Thrash, Death e Black Metal desde os finais dos anos 80. Toquei numa banda de Thrash/Death de 1990 a 2000 e continuo a gostar de todo este tipo de música, embora o Black Metal me assente melhor. Eu continuo a tocar Death Metal técnico com os Opposite Sides, mas encontrei a minha própria dimensão noutro sítio. Não me sinto muito inspirado por bandas...Mas realmente aprecio e respeito o lado artístico de um grande leque de músicos. Considerando Hate Profile, eu sinto-o perto de Satyricon, Thorns, Darkthrone, Dissection, Disiplin, bem como com as bandas italianas que misturam Black Metal com electrónica e elementos industriais que mencionei atrás. Oiço ainda EBM, música electrónica, Noise, Industrial, musica ambiental...

Um último comentário para os açorianos e para os leitores da SounD(/)ZonE em particular.
Primeiro que tudo, obrigado a ti pelo interesse nos Hate Profile e pela agradável e interessante entrevista. Para o público: sejam vocês próprios, mantenham-se fortes e, orgulhosamente, caminhem sobre as Ruínas.

PLAYLIST AMON 418

Aborym - “With No Human Intervention”
Satyricon - “Rebel Extravaganza”
Thee Maldoror Kollective - “New Era Viral Order”
Thorns - “Thorns”
Ulver - “Blood Inside”

www.cruzdelsurmusic.com/H_P_MP3/prev_hateprofile.htm

Nuno Costa
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