Entrevista Hatesphere
O QUE NÃO NOS MATA…
E se ao fim de 14 anos de carreira uma banda perdesse quase todos os seus elementos de uma assentada e numa altura em que até tinha acabado de lançar um disco? Foi o que aconteceu aos Hatesphere pouco depois de “The Serpent Smiles And Killer Eyes” ter chegado aos escaparates, em 2007. O mundo “desabou” sobre a cabeça de Peter Hansen quando viu sair três colegas de longa data e um quarto, já numa fase em que estavam a começar a sua reestruturação. Momentos muito difíceis que o grupo dinamarquês, com uma dedicação inexorável na pessoa do seu fundador e guitarrista, ultrapassa estoicamente passando uma borracha no passado com o novo “To The Nines”. Este é a busca da perfeição que sara todas as cicatrizes e promete catapultar o grupo de novo para a forma habitual. Assim o garante o mais conhecido por “Pepe”.
Deve estar cansadíssimo de falar nesse assunto, mas muita gente aqui em Portugal continua sem perceber porque se deu uma tão profunda remodelação na vossa formação nos últimos dois anos. Dá-nos uma nova oportunidade de perceber?
Sim, estou incrivelmente cansado de falar nesse assunto… temos explicado as razões em inúmeras entrevistas, blogues e newsletters, mas pelo amor de Deus, do país e do Rei, eu vou fazê-lo novamente! [risos] O nosso antigo guitarrista, baixista e baterista decidiram abandonar a banda logo após as gravações do nosso anterior trabalho. Eles queriam passar mais tempo em casa a tomar conta das suas famílias e do seu emprego e não queriam perder muito tempo na estrada. Eu compreendo-os perfeitamente. Eles tinham outras prioridades e temos que respeitá-las. À medida que vamos ficando mais velhos temos que questionar-nos e decidir: será isso que quero fazer ou é outra coisa qualquer? Eles escolheram a segunda hipótese e isso é fixe. Eles continuam a adorar tocar mas deixaram de ter muito tempo para o fazer. Quanto ao nosso antigo vocalista, eles apenas abandonou a banda porque estava cansado…
Será que foi isso ou também a desilusão de ver os seus colegas saírem? Digo isso porque lendo alguns textos antigos, ele parecia extremamente motivado!
Sim, ele parecia muito motivado e foi por isso que achei muito estranho quando ele deixou a banda. Nós acordámos sobre o que o futuro nos reservaria. Ele estava totalmente contra a ideia dos seus colegas abandonarem e estava disposto a recrutar “sangue novo” para a banda de forma a podermos continuar com o projecto… mas, subitamente, ele desistiu! Foi muito estranho, especialmente porque estávamos a ir de vento em popa nessa altura. Tínhamos encontrado novos membros muito bons e as pessoas tinham gostado do nosso novo álbum. O Jacob não estava desiludido pela saída dos seus colegas, muito pelo contrário, para dizer a verdade. Ele não aceitava o facto de eles não quererem fazer tantas digressões, portanto achou melhor trazermos novas pessoas para a banda. Na verdade, nós todos concordámos com isso, até os nossos antigos membros. Dessa maneira, não havia nada de dramático…
Apesar de todos estes períodos difíceis, nunca pensou em desistir da banda, certo? Ela é como o seu filho!
Exactamente! Posso ter tido dois segundos de dúvida quando o Jacob disse-me que ia sair, mas logo após a banda reuniu-se e decidiu empenhar-se para arranjar um novo vocalista e provar a todos que estávamos mais fortes do que nunca. E como disseste, essa banda é como o meu filho. Estou nessas andanças há tanto tempo que nem sei precisar e continuo a sentir que a banda e eu temos muito boa música cá dentro para mostrar. Portanto, acho que seria uma pena parar agora. Em todo esse processo aprendemos muito sobre música e como manter os níveis elevados. Se tivéssemos pensado que a música não era a melhor coisa que fazíamos, teríamos parado imediatamente! Portanto, o facto de ainda estarmos aqui demonstra que acreditamos em nós próprios… mais do que nunca!
Agora “sozinho” com os seus novos colegas, como se sente? O “patrão”?
[risos] Na verdade, não! Estamos juntos há dois anos [esta frase até soou a “casamento”], daí que não represente nada de novo para mim ou para eles. Durante esse tempo fizemos muitas digressões, tocámos em muitos festivais, compusemos, gravámos e lançámos um novo álbum. Por isso, já passámos por muito juntos e conhecemo-nos muito bem. A atmosfera na banda é muito melhor do que a de antes e é um prazer tocar com uma banda que quer fazer isso a 100% e é realmente boa no que faz. Volto a dizer que nos sentimos mais fortes do que nunca!
Os seus novos companheiros estavam completamente integrados quando compuseram “To The Nines” ou este álbum é, acima de tudo, um esforço seu?
Foi um esforço conjunto! Nunca tínhamos ensaiado tanto antes de gravar um álbum e nunca tínhamos ensaiado com a banda toda… incluindo o vocalista – embora tendo estado lá fisicamente acho que nunca esteve presente, efectivamente! Nos velhos tempos era muito raro termos a experiência de ensaiar com o nosso vocalista. Hoje em dia o Joller, o nosso novo vocalista, ensaia sempre connosco e nos ensaios para a gravação do “To The Nines” ele ajudou bastante. Assim que tínhamos um tema pronto, o Mixen [baixista] e o Joller escreviam as letras para o próximo ensaio e este último ficava muito tempo a praticar. Tivemos muita oportunidade de ouvir como os temas soavam com voz e de mudar algumas coisas caso não estivéssemos satisfeitos. Anteriormente isso acontecia em estúdio e às vezes havia certas coisas que não podíamos mudar. Portanto, nesse aspecto melhorámos muito. Eu escrevi quase toda a música de “To The Nines”, como aconteceu no passado, mas os restantes membros estiveram comigo a fazer arranjos e contribuíram muito na composição. O Jakob, nosso novo guitarrista, escreveu um tema e mais alguns riffs também. Portanto, foi mesmo toda a banda a trabalhar dessa vez!
E depois de algumas digressões com eles, o quão malucos os consideraria?
Eles são muito malucos, realmente, em particular os “gémeos” Mixen e Joller que estão a fazer o seu melhor para manter a nossa reputação de bêbedos e festivos! [risos] No geral divertimo-nos muito… é uma diversão profissional! [risos] No palco estamos mais demolidores do que nunca. Os meus novos colegas ficam malucos quando estão a tocar e torna-se um prazer tocar com eles. Os fãs têm reagido também de forma muito positiva e isso é muito importante para nós.
Mantiveram-se apenas dois álbuns na SPV. O que aconteceu?
A SPV mudou o seu comportamento drasticamente no último ano da nossa relação. Depois de nos terem apoiado bastante no início chegámos ao ponto de eles nem nos responderem aos e-mails e telefonemas. Raramente tínhamos notícias deles e não pareciam interessados em nós, mesmo que os alimentássemos com grandes novidades. Parecia que não se importavam com isso. Por isso, sentimos que tínhamos que rescindir contrato, mas mesmo em relação a esse assunto eles não respondiam aos nossos e-mails e telefonemas. Era como se se tivessem desinteressado totalmente. De qualquer maneira, no final eles mandaram-nos um e-mail dizendo que estávamos livres do contrato e começámos imediatamente a procurar uma nova editora. Quando falámos com a Napalm eles mostraram-se muito interessados. A dedicação que manifestaram foi mesmo o factor que nos fez assinar com eles. A editora é extremamente profissional e possui uma grande rede de distribuição e um grande departamento de promoção. Mas para nós o facto de nos apoiarem tanto foi simplesmente a coisa mais importante para nós! Estamos super contentes por trabalhar com eles. Eles trabalham arduamente por nós e agora só precisamos de beber umas cervejas com eles… aí o círculo estará fechado! [risos]
“To The Nines” parece-me um disco com um sentido de peso e agressividade mais acentuado, mais até do que o do seu antecessor. Ao mesmo tempo, acho-o o álbum mais catchy que alguma vez fizeram…
Antes de mais, obrigado e, segundo, deixa-me dizer-te que sinto o mesmo em relação a este novo álbum. Estamos muito mais brutais neste momento mas, ao mesmo tempo, o “To The Nines” é muito acessível. Em relação à agressividade, esta revela as frustrações dos nossos últimos dois anos. Sentimos uma grande pressão que nos levou a concentrar bastante para mostrar a toda a gente que estamos melhor do que nunca. Daí as coisas terem resultado num som bastante brutal… mas, felizmente, bastante orelhudo.
Tentei encontrar o sentido para o título do vosso novo disco, mas em vão... Trata-se de alguma expressão inglesa?
[risos] No princípio eu próprio não sabia o que significava, mas agora, que sei, parece-me bastante óbvio. Uma vez que o número nove é o maior número singular, “To The Nines” significa alcançar a perfeição, fazer mira ao melhor, estabelecer os mais elevados padrões; tudo isso acreditando simplesmente em nós próprios. Este título reflecte bem o nosso sentimento actual como banda.
A imagem do vosso novo trabalho lembra-me a máfia americana dos anos 20. Fale-nos do vosso novo visual.
A capa de “To The Nines” mostra um homem vestido “à nove”; um homem no topo do mundo, da perfeição. Contudo, a sua confiança em si fá-lo não ouvir a opinião dos outros, uma vez que, mentalmente, ele continua a achar-se capaz de fazer tudo o que quer… e da melhor maneira. Portanto, a capa do nosso novo álbum significa que, embora, aos olhos dos outros, pareças mais fraco, continuas capaz de fazer o quiseres, tão bem ou melhor que antes. Novamente, há aqui uma relação próxima com a banda, como no seu título.
Qual é a sua visão sobre a música actualmente, na posição de uma pessoa que já está nessas andanças há tanto tempo? Pensava que pudesse ser tão difícil chegar onde chegaram quando começou com a banda?
Certamente, nunca pensei que pudesse ser tão excitante! Nunca esperei que chegássemos tão longe ao ponto de viajar para outros países e ser pagos para tocar. É, simplesmente, fantástico! Mas tudo isso implica trabalho árduo e é muito complicado fazer vida disso. Aos meus olhos o mais importante é fazer algo que adoramos – e neste momento faço-o! Entretanto, o negócio da música é muito injusto. Não são necessariamente as melhores bandas que recebem a devida atenção. É triste, mas é a verdade! Apesar disso, o nosso objectivo é, sem dúvida, fazermo-nos ouvir, fazer as pessoas lembrarem-se dos Hatesphere.
Qual é o maior desafio para manter um banda hoje em dia? Como já indiciou, estão longe de se sustentarem da música e isto agrava-se pelo facto dos discos já não venderem como antes…
Exactamente. Tens que tocar muito, não só para as pessoas te notarem mas também para fazeres dinheiro, uma vez que, como dizes, não se faz dinheiro da venda de discos. Portanto, os concertos e o merchandise são muito importantes nos dias que correm.
A cena dinamarquesa apoia as bandas de Metal como devia?
Bom, o governo do nosso país não está desperto para apoiar o Metal. Está mais interessado em apoiar géneros mais “aceitáveis” e “culturais” como a música clássica, a ópera e o jazz, sem pensar que a Dinamarca tem uma cena metálica muito fixe e saudável com bandas que têm levado o nome do país para fora-de-portas. Portanto, investir neste tipo de bandas não era nada mal pensado e dar-lhes-ia melhores hipóteses de viver da música. Outros países têm sistemas de apoio para bandas, incluindo as de Metal, mas a Dinamarca falha nesse aspecto. De qualquer maneira, a cena é boa. Não temos assim tantas bandas, mas temo-las em qualidade!
Para além de tocar, o que faz na sua vida?
Tenho uma namorada e um filho, portanto, passo todo o tempo que posso em casa. Para além disso, trabalho como professor numa escola para crianças especiais; crianças hiperactivas e com autismo. Quando não estou a trabalhar passo também muito tempo a ver e a jogar futebol.
Vão manter-se na estrada por mais algum tempo. Portugal está na vossa lista de paragens. Que expectativas têm para esse concerto?
Vamos tocar em festivais esse verão e Portugal está pelo meio, a 29 de Agosto, no Festival Ilha do Ermal. É um concerto que aguardamos com especial expectativa, uma vez que tocámos aí o ano passado e foi fantástico! Além disso, o clima atrai-nos bastante, mas, basicamente, abordamos qualquer concerto como se tivesse que ser o nosso melhor de sempre. Portanto, esperem muita diversão. Quando acabar os nossos compromissos com festivais temos agendado uma longa digressão na Dinamarca antes de voltarmos à Turquia, entre outros países. Estamos a trabalhar já noutra digressão europeia e logo após queremos mesmo muito tocar pela primeira vez nos Estados Unidos. Estamos a trabalhar afincadamente nisso. Esperamos também voltar a tocar em Portugal ainda este ano… mas mais notícias sobre isso chegarão mais tarde.
www.hatesphere.com
www.myspace.com/hatesphere
E se ao fim de 14 anos de carreira uma banda perdesse quase todos os seus elementos de uma assentada e numa altura em que até tinha acabado de lançar um disco? Foi o que aconteceu aos Hatesphere pouco depois de “The Serpent Smiles And Killer Eyes” ter chegado aos escaparates, em 2007. O mundo “desabou” sobre a cabeça de Peter Hansen quando viu sair três colegas de longa data e um quarto, já numa fase em que estavam a começar a sua reestruturação. Momentos muito difíceis que o grupo dinamarquês, com uma dedicação inexorável na pessoa do seu fundador e guitarrista, ultrapassa estoicamente passando uma borracha no passado com o novo “To The Nines”. Este é a busca da perfeição que sara todas as cicatrizes e promete catapultar o grupo de novo para a forma habitual. Assim o garante o mais conhecido por “Pepe”.
Deve estar cansadíssimo de falar nesse assunto, mas muita gente aqui em Portugal continua sem perceber porque se deu uma tão profunda remodelação na vossa formação nos últimos dois anos. Dá-nos uma nova oportunidade de perceber?
Sim, estou incrivelmente cansado de falar nesse assunto… temos explicado as razões em inúmeras entrevistas, blogues e newsletters, mas pelo amor de Deus, do país e do Rei, eu vou fazê-lo novamente! [risos] O nosso antigo guitarrista, baixista e baterista decidiram abandonar a banda logo após as gravações do nosso anterior trabalho. Eles queriam passar mais tempo em casa a tomar conta das suas famílias e do seu emprego e não queriam perder muito tempo na estrada. Eu compreendo-os perfeitamente. Eles tinham outras prioridades e temos que respeitá-las. À medida que vamos ficando mais velhos temos que questionar-nos e decidir: será isso que quero fazer ou é outra coisa qualquer? Eles escolheram a segunda hipótese e isso é fixe. Eles continuam a adorar tocar mas deixaram de ter muito tempo para o fazer. Quanto ao nosso antigo vocalista, eles apenas abandonou a banda porque estava cansado…
Será que foi isso ou também a desilusão de ver os seus colegas saírem? Digo isso porque lendo alguns textos antigos, ele parecia extremamente motivado!
Sim, ele parecia muito motivado e foi por isso que achei muito estranho quando ele deixou a banda. Nós acordámos sobre o que o futuro nos reservaria. Ele estava totalmente contra a ideia dos seus colegas abandonarem e estava disposto a recrutar “sangue novo” para a banda de forma a podermos continuar com o projecto… mas, subitamente, ele desistiu! Foi muito estranho, especialmente porque estávamos a ir de vento em popa nessa altura. Tínhamos encontrado novos membros muito bons e as pessoas tinham gostado do nosso novo álbum. O Jacob não estava desiludido pela saída dos seus colegas, muito pelo contrário, para dizer a verdade. Ele não aceitava o facto de eles não quererem fazer tantas digressões, portanto achou melhor trazermos novas pessoas para a banda. Na verdade, nós todos concordámos com isso, até os nossos antigos membros. Dessa maneira, não havia nada de dramático…
Apesar de todos estes períodos difíceis, nunca pensou em desistir da banda, certo? Ela é como o seu filho!
Exactamente! Posso ter tido dois segundos de dúvida quando o Jacob disse-me que ia sair, mas logo após a banda reuniu-se e decidiu empenhar-se para arranjar um novo vocalista e provar a todos que estávamos mais fortes do que nunca. E como disseste, essa banda é como o meu filho. Estou nessas andanças há tanto tempo que nem sei precisar e continuo a sentir que a banda e eu temos muito boa música cá dentro para mostrar. Portanto, acho que seria uma pena parar agora. Em todo esse processo aprendemos muito sobre música e como manter os níveis elevados. Se tivéssemos pensado que a música não era a melhor coisa que fazíamos, teríamos parado imediatamente! Portanto, o facto de ainda estarmos aqui demonstra que acreditamos em nós próprios… mais do que nunca!
Agora “sozinho” com os seus novos colegas, como se sente? O “patrão”?
[risos] Na verdade, não! Estamos juntos há dois anos [esta frase até soou a “casamento”], daí que não represente nada de novo para mim ou para eles. Durante esse tempo fizemos muitas digressões, tocámos em muitos festivais, compusemos, gravámos e lançámos um novo álbum. Por isso, já passámos por muito juntos e conhecemo-nos muito bem. A atmosfera na banda é muito melhor do que a de antes e é um prazer tocar com uma banda que quer fazer isso a 100% e é realmente boa no que faz. Volto a dizer que nos sentimos mais fortes do que nunca!
Os seus novos companheiros estavam completamente integrados quando compuseram “To The Nines” ou este álbum é, acima de tudo, um esforço seu?
Foi um esforço conjunto! Nunca tínhamos ensaiado tanto antes de gravar um álbum e nunca tínhamos ensaiado com a banda toda… incluindo o vocalista – embora tendo estado lá fisicamente acho que nunca esteve presente, efectivamente! Nos velhos tempos era muito raro termos a experiência de ensaiar com o nosso vocalista. Hoje em dia o Joller, o nosso novo vocalista, ensaia sempre connosco e nos ensaios para a gravação do “To The Nines” ele ajudou bastante. Assim que tínhamos um tema pronto, o Mixen [baixista] e o Joller escreviam as letras para o próximo ensaio e este último ficava muito tempo a praticar. Tivemos muita oportunidade de ouvir como os temas soavam com voz e de mudar algumas coisas caso não estivéssemos satisfeitos. Anteriormente isso acontecia em estúdio e às vezes havia certas coisas que não podíamos mudar. Portanto, nesse aspecto melhorámos muito. Eu escrevi quase toda a música de “To The Nines”, como aconteceu no passado, mas os restantes membros estiveram comigo a fazer arranjos e contribuíram muito na composição. O Jakob, nosso novo guitarrista, escreveu um tema e mais alguns riffs também. Portanto, foi mesmo toda a banda a trabalhar dessa vez!
E depois de algumas digressões com eles, o quão malucos os consideraria?
Eles são muito malucos, realmente, em particular os “gémeos” Mixen e Joller que estão a fazer o seu melhor para manter a nossa reputação de bêbedos e festivos! [risos] No geral divertimo-nos muito… é uma diversão profissional! [risos] No palco estamos mais demolidores do que nunca. Os meus novos colegas ficam malucos quando estão a tocar e torna-se um prazer tocar com eles. Os fãs têm reagido também de forma muito positiva e isso é muito importante para nós.
Mantiveram-se apenas dois álbuns na SPV. O que aconteceu?
A SPV mudou o seu comportamento drasticamente no último ano da nossa relação. Depois de nos terem apoiado bastante no início chegámos ao ponto de eles nem nos responderem aos e-mails e telefonemas. Raramente tínhamos notícias deles e não pareciam interessados em nós, mesmo que os alimentássemos com grandes novidades. Parecia que não se importavam com isso. Por isso, sentimos que tínhamos que rescindir contrato, mas mesmo em relação a esse assunto eles não respondiam aos nossos e-mails e telefonemas. Era como se se tivessem desinteressado totalmente. De qualquer maneira, no final eles mandaram-nos um e-mail dizendo que estávamos livres do contrato e começámos imediatamente a procurar uma nova editora. Quando falámos com a Napalm eles mostraram-se muito interessados. A dedicação que manifestaram foi mesmo o factor que nos fez assinar com eles. A editora é extremamente profissional e possui uma grande rede de distribuição e um grande departamento de promoção. Mas para nós o facto de nos apoiarem tanto foi simplesmente a coisa mais importante para nós! Estamos super contentes por trabalhar com eles. Eles trabalham arduamente por nós e agora só precisamos de beber umas cervejas com eles… aí o círculo estará fechado! [risos]
“To The Nines” parece-me um disco com um sentido de peso e agressividade mais acentuado, mais até do que o do seu antecessor. Ao mesmo tempo, acho-o o álbum mais catchy que alguma vez fizeram…
Antes de mais, obrigado e, segundo, deixa-me dizer-te que sinto o mesmo em relação a este novo álbum. Estamos muito mais brutais neste momento mas, ao mesmo tempo, o “To The Nines” é muito acessível. Em relação à agressividade, esta revela as frustrações dos nossos últimos dois anos. Sentimos uma grande pressão que nos levou a concentrar bastante para mostrar a toda a gente que estamos melhor do que nunca. Daí as coisas terem resultado num som bastante brutal… mas, felizmente, bastante orelhudo.
Tentei encontrar o sentido para o título do vosso novo disco, mas em vão... Trata-se de alguma expressão inglesa?
[risos] No princípio eu próprio não sabia o que significava, mas agora, que sei, parece-me bastante óbvio. Uma vez que o número nove é o maior número singular, “To The Nines” significa alcançar a perfeição, fazer mira ao melhor, estabelecer os mais elevados padrões; tudo isso acreditando simplesmente em nós próprios. Este título reflecte bem o nosso sentimento actual como banda.
A imagem do vosso novo trabalho lembra-me a máfia americana dos anos 20. Fale-nos do vosso novo visual.
A capa de “To The Nines” mostra um homem vestido “à nove”; um homem no topo do mundo, da perfeição. Contudo, a sua confiança em si fá-lo não ouvir a opinião dos outros, uma vez que, mentalmente, ele continua a achar-se capaz de fazer tudo o que quer… e da melhor maneira. Portanto, a capa do nosso novo álbum significa que, embora, aos olhos dos outros, pareças mais fraco, continuas capaz de fazer o quiseres, tão bem ou melhor que antes. Novamente, há aqui uma relação próxima com a banda, como no seu título.
Qual é a sua visão sobre a música actualmente, na posição de uma pessoa que já está nessas andanças há tanto tempo? Pensava que pudesse ser tão difícil chegar onde chegaram quando começou com a banda?
Certamente, nunca pensei que pudesse ser tão excitante! Nunca esperei que chegássemos tão longe ao ponto de viajar para outros países e ser pagos para tocar. É, simplesmente, fantástico! Mas tudo isso implica trabalho árduo e é muito complicado fazer vida disso. Aos meus olhos o mais importante é fazer algo que adoramos – e neste momento faço-o! Entretanto, o negócio da música é muito injusto. Não são necessariamente as melhores bandas que recebem a devida atenção. É triste, mas é a verdade! Apesar disso, o nosso objectivo é, sem dúvida, fazermo-nos ouvir, fazer as pessoas lembrarem-se dos Hatesphere.
Qual é o maior desafio para manter um banda hoje em dia? Como já indiciou, estão longe de se sustentarem da música e isto agrava-se pelo facto dos discos já não venderem como antes…
Exactamente. Tens que tocar muito, não só para as pessoas te notarem mas também para fazeres dinheiro, uma vez que, como dizes, não se faz dinheiro da venda de discos. Portanto, os concertos e o merchandise são muito importantes nos dias que correm.
A cena dinamarquesa apoia as bandas de Metal como devia?
Bom, o governo do nosso país não está desperto para apoiar o Metal. Está mais interessado em apoiar géneros mais “aceitáveis” e “culturais” como a música clássica, a ópera e o jazz, sem pensar que a Dinamarca tem uma cena metálica muito fixe e saudável com bandas que têm levado o nome do país para fora-de-portas. Portanto, investir neste tipo de bandas não era nada mal pensado e dar-lhes-ia melhores hipóteses de viver da música. Outros países têm sistemas de apoio para bandas, incluindo as de Metal, mas a Dinamarca falha nesse aspecto. De qualquer maneira, a cena é boa. Não temos assim tantas bandas, mas temo-las em qualidade!
Para além de tocar, o que faz na sua vida?
Tenho uma namorada e um filho, portanto, passo todo o tempo que posso em casa. Para além disso, trabalho como professor numa escola para crianças especiais; crianças hiperactivas e com autismo. Quando não estou a trabalhar passo também muito tempo a ver e a jogar futebol.
Vão manter-se na estrada por mais algum tempo. Portugal está na vossa lista de paragens. Que expectativas têm para esse concerto?
Vamos tocar em festivais esse verão e Portugal está pelo meio, a 29 de Agosto, no Festival Ilha do Ermal. É um concerto que aguardamos com especial expectativa, uma vez que tocámos aí o ano passado e foi fantástico! Além disso, o clima atrai-nos bastante, mas, basicamente, abordamos qualquer concerto como se tivesse que ser o nosso melhor de sempre. Portanto, esperem muita diversão. Quando acabar os nossos compromissos com festivais temos agendado uma longa digressão na Dinamarca antes de voltarmos à Turquia, entre outros países. Estamos a trabalhar já noutra digressão europeia e logo após queremos mesmo muito tocar pela primeira vez nos Estados Unidos. Estamos a trabalhar afincadamente nisso. Esperamos também voltar a tocar em Portugal ainda este ano… mas mais notícias sobre isso chegarão mais tarde.
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Nuno Costa