Entrevista Mademoiselle
DELICADEZA ARTÍSTICA
Estavamos a meio da década de 90 quando implodiu o grunge no mundo e os Achen' Hole Sinners faziam sucesso em S. Miguel. Samuel Cabral era o seu responsável e o seu irmão Daniel seguia-lhe as pisadas com os Sedment Seeders. Entretanto, em 1998 partiram para os Estados Unidos em busca de mais oportunidades e fundaram os Ghost 24, com os quais gravaram um álbum. Quatro anos volvidos, a dulpa de irmãos continua com uma química muito especial e decidiu fundar os Mademoiselle. Este projecto leva avante as suas características musicais, com o inevitável grunge em destaque e influências de A Perfect Circle, Nine Inch Nails e Cocteau Twins. A aproveitar as recentes férias de Daniel em S. Miguel, a SounD(/)ZonE conversou com o baterista da banda.
Daniel, para quem não se lembra, tu eras membro de uma banda açoriana chamada Sedment Seeders, certo?
Exacto. Depois disso fui para os Back River e, mais tarde, toquei num projecto que era para ser lançado no Rock de Garagem, no ano em que participaram os Ramp, e que se chamava Disgrace, onde participavam também a Helena Carreiro, o Marco Medeiros e o Pedro. Mas, de facto, eu comecei a minha carreira musical com os Sedment Seeders, mais precisamente, num concurso na Casa Velha.
Por outro lado, o teu irmão também era vocalista de uma banda regional muito conhecida – os Achen’ Hole Sinners. Queres falar-nos um pouco dessa época?
Eu acho que essa época representa um bocado a “explosão” do grunge, tanto aqui como no mundo, e que nos levou a querer enveredar pela vida de músicos. Tocávamos todos juntos mas, no entanto, muitos dos nossos amigos já não estão no mundo da música como, por exemplo, o Miguelito (grande guitarrista, ex-Morbid Death) que ainda hoje gostava de saber do seu paradeiro, mas toda a gente me diz que ele “desapareceu”! (risos) Da minha parte e da do Samuel, nós sempre quisemos prosseguir e mantivemos vários projectos paralelos, mas sempre tocamos juntos. Depois de chegarmos aos Estados Unidos as coisas mudaram, começámos novos projectos, o primeiro deles os Ghost 24. O projecto ainda perdurou 4 anos mas estávamos numa fase inicial de adaptação e ele acabou por dissolver-se. Actualmente, temos os Mademoiselle, que outrora teve três elementos, mas neste momento o projecto está a cargo só de mim e do Samuel, porque acabámos por perder o nosso baixista.
Quando visitei o vosso site, fiquei com a impressão de que a banda era autoria só do Samuel, mas com certeza que assim não o é...
Bem, a vida lá é um bocado complicada e os músicos são muito diferentes na maneira de ver as coisas e comunicar. Uma vez que achamos que temos uma interpretação musical, de certa forma, própria, decidimos começar a tocar juntos. Para ser sincero, acho que sempre vamos tocar juntos porque, para além de sermos irmãos, temos uma forma de comunicação quase “muda”, digamos assim, e que reflecte a nossa enorme sintonia de ideias. Uma vez que as pessoas lá são um bocado diferentes, torna-se mais difícil encontrar músicos que se enquadrem com a nossa maneira de trabalhar e tocar. Daí que o Samuel e eu tenhamos decidido dirigir este projecto.
Descreve-nos a filosofia e sonoridade dos Mademoiselle.
Bem, sinto que continuamos agarrados à época em que começamos com isso tudo... As pessoas mudam e as sonoridades também e, actualmente, ouve-se muito um rock na onda de Staind, por exemplo. Mas nós tentamos fazer um pouco de tudo. Incidimos no acústico, na melodia, mas não no sentido de fazer baladas românticas nem nada que se pareça. Queremos sim contar histórias que sejam bonitas e creio que o próprio nome da banda transmite um sentido muito artístico. Queremos evitar o mainstream, acima de tudo, e evitar modas, pois olhas para centenas de bandas e soam todas iguais. Admiro o pessoal do grunge porque na altura estavam a fazer uma coisa verdadeiramente original e até penso que pode vir a “explodir” outra vez.
Poderá então dizer-se que vocês se inserem numa onda revivalista... O grunge é, de facto, o género que vocês admiram.
Sim, gostamos muito de grunge, mas gostamos também muito de bandas como, por exemplo, os Nine Inch Nails pela sua originalidade. Mas para além dessa, gostamos muito de bandas como os A Perfect Circle, Adorable, Cocteau Twins, Pearl Jam... Vamos rebuscar influências tanto a bandas passadas como a outras mais recentes. Mas de qualquer forma, a nossa música é suficientemente diversificada para se ouvir, por exemplo, em rádios. Temos um lado pesado, outro rock, blues, acústico...Fazemos por simplificar e não densificar demasiado o nosso som. Creio que eu e o Samuel já conseguimos um som muito próprio. Ele próprio fez questão de que fosse eu o baterista porque, segundo ele, tenho um toque muito próprio e entendemo-nos muito bem. Com o passar do tempo melhoramos a nossa maneira de tocar, de compor e nunca esquecemos as nossas raízes musicais e esperaremos o que for preciso para alcançar os nossos objectivos.
Esclarece-me: vocês já têm algum lançamento?
Não. O que estamos a fazer é gravar algumas demos caseiras com software que adquirimos. No entanto, ainda não somos muito experientes a fazer masterização, mas o nosso irmão Nuno está a estudar engenharia e, provavelmente daqui um ano, poderá nos dar uma ajuda. Agora quando for para lá vou ter acesso aos estúdios e pode ser que consigamos fazer qualquer coisa mais aperfeiçoada, nomeadamente a nível bateria. O processo agora é tentar pôr músicas no site e no My Space para as pessoas começarem a conhecer o nosso som. Entretanto, pode vir a acontecer algo muito bom em Nova Iorque porque temos um amigo que trabalha para um membro da Atlantic Records. Claro que não sabemos se vai resultar, estamos apenas numa fase de conversações, mas pode vir a ser uma oportunidade.
Com a Atlantic Records? Isto é uma notícia muito boa!
Sim, mas ainda não sabemos nada ao certo. Queremos agora acabar as nossas demos para entregá-las a várias editoras. Estamos a gravar cerca de nove temas e depois ainda nos falta decidir quantas músicas vamos entregar às editoras. Há sítios em que só aceitam três músicas, por isso, era bom que fosse através de amigos de pessoal de editoras para que os convencessem a ouvir o trabalho com mais atenção. Para além disso, temos que ter uma certa preocupação com o layout da demo, pois não convém entregar um CD de qualquer maneira, só com o “plástico”. Já estou a tratar de fotos, inclusive, já tirei algumas para uma banda de uns amigos nossos da Califórnia, os Comes With The Fall (banda cujo vocalista faz parte do projecto a solo de Jerry Cantrel, ex-Alice In Chains) e que serão publicadas no seu CD. Eles são muito bons e era bom que fossem dados a conhecer cá também.
Tem sido feita alguma promoção aos Mademoiselle nos Açores?
Não, até agora não. Também o projecto está numa fase muito inicial, começamos com a banda no início do ano passado e devido ao emprego e às audições que fizemos, tornaram as coisas mais demoradas. Entretanto, tivemos connosco um baixista, que era sobrinho do Nuno Bettencourt, mas as coisas acabaram por não funcionar e ele acabou por sair. No entanto, isto não impede que continuemos.
Quais são as dificuldades que encontras para um músico cá e outro nos Estados Unidos, uma vez que já tiveste a oportunidade de estar dos dois lados?
Bem, a vida de músico é muito difícil. Por aquilo que me tem sido dado a saber, cá existem muitas bandas. É preciso é que apresentem boas propostas e invistam numa boa campanha de promoção.
Não basta, portanto, mandar uns mails...
Sim, as pessoas têm que se movimentar bem dentro do meio musical e, no caso dos Açores, as pessoas têm que sair de cá para verem se conseguem algo verdadeiramente relevante. Os Tolerance 0 tentaram a sua sorte, estiveram no Canadá mas, no entanto, já estão de novo cá... O que acontece é que lá também não é nada fácil, pois a concorrência é muita. Mas também é uma questão de sonoridade. Há bandas que não arriscam, jogam pelo seguro, fazendo algo que já centenas de bandas fazem mas, no entanto, conseguem se safar. Costumávamos a discutir muito sobre Creed, por exemplo... Achamos que aquilo era muito cópia de Pearl Jam e nesses casos duram pouco... Tanto que já não existem. Acho que o que interessa é ser realmente original, e isso o pessoal de cá consegue ser. Há muito boas ideias cá mas o pessoal não se pode deixar ficar só pelos Açores... Nós realmente, falamos todos dias dos Açores e de como sonhamos fazer qualquer coisa grande aqui. De facto, dá para trazeres bandas como Pearl Jam e outras aos Açores, elas não custam tanto como se pensa...
Sim, efectivamente, acho que o que se passa é que continua a haver más apostas por parte dos promotores. Passou a haver concertos maiores e a haver mais dinheiro para investir, mas depois as contratações são mal feitas. Um exemplo disso foi o Júlio Iglesias...
Exacto. Estamos numa altura em que não se ouve falar muito dele... Se fosse do filho talvez fosse outra história! (risos) Mas sim, tem tudo a ver com a questão da escolha. Hoje em dia as pessoas mudaram, os gostos são outros e realmente acho que outro tipo de bandas podia realmente ser trazido cá com sucesso. Podem-se perfeitamente apostar em bandas mais pequenas mas com muita qualidade, bastando para isso que começasse a haver uma boa promoção cá, nomeadamente, nas rádios. Realmente isso é muito importante, porque vejo que as coisas estão muito atrasadas a esse nível cá. Não encontro nenhuma rádio que consiga ouvir quando estou a conduzir por exemplo. Lembro-me que a primeira música que ouvi quando vim de férias foi a “We Are The Word”! (risos)
Portanto, continua a haver um mau serviço a nível de media nos Açores...
Exacto. Para além disso, os tempos vão mudando e é preciso avançar. Há muitas bandas por aí muito boas e que são pouco conhecidas. É preciso ir pesquisar e dá-las a conhecer. Por exemplo, só em Boston existem cerca de 5 000 bandas... É preciso, portanto, saber escolher, nomeadamente, por parte dos promotores e fazer uma análise de mercado correcta para saber quantas pessoas vão estar lá. O que noto é que falta isto cá e gasta-se, escusadamente, muito dinheiro em palcos, som, luz e cachets. É tudo uma questão de publicidade e marketing.
Para terminar, uma última palavra para os açorianos...
Os açoreanos têm realmente noção do que é a arte... Vocês que a desenvolvam e sigam sempre aquilo em que acreditam, pois chegam lá. Há muita coisa difícil na vida e há muitas que nos vão puxar para baixo, mas quando a vontade é muita consegue-se!
www.mademoiselleband.com
www.myspace.com/mademoiselle
Nuno Costa
Estavamos a meio da década de 90 quando implodiu o grunge no mundo e os Achen' Hole Sinners faziam sucesso em S. Miguel. Samuel Cabral era o seu responsável e o seu irmão Daniel seguia-lhe as pisadas com os Sedment Seeders. Entretanto, em 1998 partiram para os Estados Unidos em busca de mais oportunidades e fundaram os Ghost 24, com os quais gravaram um álbum. Quatro anos volvidos, a dulpa de irmãos continua com uma química muito especial e decidiu fundar os Mademoiselle. Este projecto leva avante as suas características musicais, com o inevitável grunge em destaque e influências de A Perfect Circle, Nine Inch Nails e Cocteau Twins. A aproveitar as recentes férias de Daniel em S. Miguel, a SounD(/)ZonE conversou com o baterista da banda.
Daniel, para quem não se lembra, tu eras membro de uma banda açoriana chamada Sedment Seeders, certo?
Exacto. Depois disso fui para os Back River e, mais tarde, toquei num projecto que era para ser lançado no Rock de Garagem, no ano em que participaram os Ramp, e que se chamava Disgrace, onde participavam também a Helena Carreiro, o Marco Medeiros e o Pedro. Mas, de facto, eu comecei a minha carreira musical com os Sedment Seeders, mais precisamente, num concurso na Casa Velha.
Por outro lado, o teu irmão também era vocalista de uma banda regional muito conhecida – os Achen’ Hole Sinners. Queres falar-nos um pouco dessa época?
Eu acho que essa época representa um bocado a “explosão” do grunge, tanto aqui como no mundo, e que nos levou a querer enveredar pela vida de músicos. Tocávamos todos juntos mas, no entanto, muitos dos nossos amigos já não estão no mundo da música como, por exemplo, o Miguelito (grande guitarrista, ex-Morbid Death) que ainda hoje gostava de saber do seu paradeiro, mas toda a gente me diz que ele “desapareceu”! (risos) Da minha parte e da do Samuel, nós sempre quisemos prosseguir e mantivemos vários projectos paralelos, mas sempre tocamos juntos. Depois de chegarmos aos Estados Unidos as coisas mudaram, começámos novos projectos, o primeiro deles os Ghost 24. O projecto ainda perdurou 4 anos mas estávamos numa fase inicial de adaptação e ele acabou por dissolver-se. Actualmente, temos os Mademoiselle, que outrora teve três elementos, mas neste momento o projecto está a cargo só de mim e do Samuel, porque acabámos por perder o nosso baixista.
Quando visitei o vosso site, fiquei com a impressão de que a banda era autoria só do Samuel, mas com certeza que assim não o é...
Bem, a vida lá é um bocado complicada e os músicos são muito diferentes na maneira de ver as coisas e comunicar. Uma vez que achamos que temos uma interpretação musical, de certa forma, própria, decidimos começar a tocar juntos. Para ser sincero, acho que sempre vamos tocar juntos porque, para além de sermos irmãos, temos uma forma de comunicação quase “muda”, digamos assim, e que reflecte a nossa enorme sintonia de ideias. Uma vez que as pessoas lá são um bocado diferentes, torna-se mais difícil encontrar músicos que se enquadrem com a nossa maneira de trabalhar e tocar. Daí que o Samuel e eu tenhamos decidido dirigir este projecto.
Descreve-nos a filosofia e sonoridade dos Mademoiselle.
Bem, sinto que continuamos agarrados à época em que começamos com isso tudo... As pessoas mudam e as sonoridades também e, actualmente, ouve-se muito um rock na onda de Staind, por exemplo. Mas nós tentamos fazer um pouco de tudo. Incidimos no acústico, na melodia, mas não no sentido de fazer baladas românticas nem nada que se pareça. Queremos sim contar histórias que sejam bonitas e creio que o próprio nome da banda transmite um sentido muito artístico. Queremos evitar o mainstream, acima de tudo, e evitar modas, pois olhas para centenas de bandas e soam todas iguais. Admiro o pessoal do grunge porque na altura estavam a fazer uma coisa verdadeiramente original e até penso que pode vir a “explodir” outra vez.
Poderá então dizer-se que vocês se inserem numa onda revivalista... O grunge é, de facto, o género que vocês admiram.
Sim, gostamos muito de grunge, mas gostamos também muito de bandas como, por exemplo, os Nine Inch Nails pela sua originalidade. Mas para além dessa, gostamos muito de bandas como os A Perfect Circle, Adorable, Cocteau Twins, Pearl Jam... Vamos rebuscar influências tanto a bandas passadas como a outras mais recentes. Mas de qualquer forma, a nossa música é suficientemente diversificada para se ouvir, por exemplo, em rádios. Temos um lado pesado, outro rock, blues, acústico...Fazemos por simplificar e não densificar demasiado o nosso som. Creio que eu e o Samuel já conseguimos um som muito próprio. Ele próprio fez questão de que fosse eu o baterista porque, segundo ele, tenho um toque muito próprio e entendemo-nos muito bem. Com o passar do tempo melhoramos a nossa maneira de tocar, de compor e nunca esquecemos as nossas raízes musicais e esperaremos o que for preciso para alcançar os nossos objectivos.
Esclarece-me: vocês já têm algum lançamento?
Não. O que estamos a fazer é gravar algumas demos caseiras com software que adquirimos. No entanto, ainda não somos muito experientes a fazer masterização, mas o nosso irmão Nuno está a estudar engenharia e, provavelmente daqui um ano, poderá nos dar uma ajuda. Agora quando for para lá vou ter acesso aos estúdios e pode ser que consigamos fazer qualquer coisa mais aperfeiçoada, nomeadamente a nível bateria. O processo agora é tentar pôr músicas no site e no My Space para as pessoas começarem a conhecer o nosso som. Entretanto, pode vir a acontecer algo muito bom em Nova Iorque porque temos um amigo que trabalha para um membro da Atlantic Records. Claro que não sabemos se vai resultar, estamos apenas numa fase de conversações, mas pode vir a ser uma oportunidade.
Com a Atlantic Records? Isto é uma notícia muito boa!
Sim, mas ainda não sabemos nada ao certo. Queremos agora acabar as nossas demos para entregá-las a várias editoras. Estamos a gravar cerca de nove temas e depois ainda nos falta decidir quantas músicas vamos entregar às editoras. Há sítios em que só aceitam três músicas, por isso, era bom que fosse através de amigos de pessoal de editoras para que os convencessem a ouvir o trabalho com mais atenção. Para além disso, temos que ter uma certa preocupação com o layout da demo, pois não convém entregar um CD de qualquer maneira, só com o “plástico”. Já estou a tratar de fotos, inclusive, já tirei algumas para uma banda de uns amigos nossos da Califórnia, os Comes With The Fall (banda cujo vocalista faz parte do projecto a solo de Jerry Cantrel, ex-Alice In Chains) e que serão publicadas no seu CD. Eles são muito bons e era bom que fossem dados a conhecer cá também.
Tem sido feita alguma promoção aos Mademoiselle nos Açores?
Não, até agora não. Também o projecto está numa fase muito inicial, começamos com a banda no início do ano passado e devido ao emprego e às audições que fizemos, tornaram as coisas mais demoradas. Entretanto, tivemos connosco um baixista, que era sobrinho do Nuno Bettencourt, mas as coisas acabaram por não funcionar e ele acabou por sair. No entanto, isto não impede que continuemos.
Quais são as dificuldades que encontras para um músico cá e outro nos Estados Unidos, uma vez que já tiveste a oportunidade de estar dos dois lados?
Bem, a vida de músico é muito difícil. Por aquilo que me tem sido dado a saber, cá existem muitas bandas. É preciso é que apresentem boas propostas e invistam numa boa campanha de promoção.
Não basta, portanto, mandar uns mails...
Sim, as pessoas têm que se movimentar bem dentro do meio musical e, no caso dos Açores, as pessoas têm que sair de cá para verem se conseguem algo verdadeiramente relevante. Os Tolerance 0 tentaram a sua sorte, estiveram no Canadá mas, no entanto, já estão de novo cá... O que acontece é que lá também não é nada fácil, pois a concorrência é muita. Mas também é uma questão de sonoridade. Há bandas que não arriscam, jogam pelo seguro, fazendo algo que já centenas de bandas fazem mas, no entanto, conseguem se safar. Costumávamos a discutir muito sobre Creed, por exemplo... Achamos que aquilo era muito cópia de Pearl Jam e nesses casos duram pouco... Tanto que já não existem. Acho que o que interessa é ser realmente original, e isso o pessoal de cá consegue ser. Há muito boas ideias cá mas o pessoal não se pode deixar ficar só pelos Açores... Nós realmente, falamos todos dias dos Açores e de como sonhamos fazer qualquer coisa grande aqui. De facto, dá para trazeres bandas como Pearl Jam e outras aos Açores, elas não custam tanto como se pensa...
Sim, efectivamente, acho que o que se passa é que continua a haver más apostas por parte dos promotores. Passou a haver concertos maiores e a haver mais dinheiro para investir, mas depois as contratações são mal feitas. Um exemplo disso foi o Júlio Iglesias...
Exacto. Estamos numa altura em que não se ouve falar muito dele... Se fosse do filho talvez fosse outra história! (risos) Mas sim, tem tudo a ver com a questão da escolha. Hoje em dia as pessoas mudaram, os gostos são outros e realmente acho que outro tipo de bandas podia realmente ser trazido cá com sucesso. Podem-se perfeitamente apostar em bandas mais pequenas mas com muita qualidade, bastando para isso que começasse a haver uma boa promoção cá, nomeadamente, nas rádios. Realmente isso é muito importante, porque vejo que as coisas estão muito atrasadas a esse nível cá. Não encontro nenhuma rádio que consiga ouvir quando estou a conduzir por exemplo. Lembro-me que a primeira música que ouvi quando vim de férias foi a “We Are The Word”! (risos)
Portanto, continua a haver um mau serviço a nível de media nos Açores...
Exacto. Para além disso, os tempos vão mudando e é preciso avançar. Há muitas bandas por aí muito boas e que são pouco conhecidas. É preciso ir pesquisar e dá-las a conhecer. Por exemplo, só em Boston existem cerca de 5 000 bandas... É preciso, portanto, saber escolher, nomeadamente, por parte dos promotores e fazer uma análise de mercado correcta para saber quantas pessoas vão estar lá. O que noto é que falta isto cá e gasta-se, escusadamente, muito dinheiro em palcos, som, luz e cachets. É tudo uma questão de publicidade e marketing.
Para terminar, uma última palavra para os açorianos...
Os açoreanos têm realmente noção do que é a arte... Vocês que a desenvolvam e sigam sempre aquilo em que acreditam, pois chegam lá. Há muita coisa difícil na vida e há muitas que nos vão puxar para baixo, mas quando a vontade é muita consegue-se!
www.mademoiselleband.com
www.myspace.com/mademoiselle
Nuno Costa