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Entrevista Men Eater

PEDRA INCANDESCENTE

Ultimamente assumem o papel de projecto nacional que mais eficazmente conseguiu reunir o consenso do público e crítica. Um som atípico em Portugal – stoner/sludge/doom repleto de paisagens áridas/ambientais envolventes – mas com um vigor ao nível da composição que consegue convencer o mais inerte e indiferente dos fãs de música pesada. Se há conversas, aparentemente, banais que se devam, por vezes, ter, uma delas foi a que colocou em discussão a criação de uma nova banda por parte de elementos dos Blacksunrise, For The Glory, Riding Panico e Mushin, numa qualquer viagem de regresso de um concerto em Espanha. Uma parada de “estrelas” que em jeito de “brincadeira” lança no início deste ano o primeiro álbum dos Men Eater - “Hellstone” - que é já, nada mais nada menos, um dos sérios candidatos a disco do ano em Portugal. Dirigimo-nos a Carlos [guitarrista] para saber como foi criar esta banda que parece destinada ao sucesso.

Que tipo de conversas se podem ter na parte traseira de uma tourbus que resulte na decisão de se formar uma nova banda?
Já vi que a história dessa viagem onde se “iniciou” a banda já é ouvida por muitos lados. Vínhamos eu, o Sérgio – vocalista que actualmente já não se encontra na banda -, o Miguel [guitarrista] e o outro Carlos [baterista] de Espanha e estávamos a falar que era até interessante fazer uma banda de crust! Tudo começou muito simplesmente como uma espécie de brincadeira do género “vamos fazer uma banda”! Combinámos logo colocar o João no baixo e após alguns ensaios a verdade é que de crust a banda tinha muito pouco... Concluímos em poucos ensaios as músicas da demo e depois fomos tocar ao vivo!

Será que daí também se tirou algum lema para os Men Eater?
Nós sempre dissemos que esta banda seria para curtir e aproveitar ao máximo sem grandes stresses. Acho que até hoje é essa a mentalidade que reina na banda. Se se tirou algum lema pode-se dizer que foi se calhar esse mesmo: levar tudo com calma e, acima de tudo, tocar aquilo que gostamos sem receios de como irá ser recebido.

Pelo que parece vocês já se conheciam bem de outras ocasiões... São amigos!
Sim, sem dúvida! Somos todos muito amigos até porque, afinal, é para isso que uma banda também serve, não é para se estar com os amigos... Conhecia o Carlos porque ele é dono do estúdio onde ensaiava com outras bandas que tinha e fomo-nos conhecendo cada vez melhor a partir daí. O Miguel já é amigo de longa data do Carlos e como tal também foi fácil a ligação. O João já conhecia de concertos e de outras bandas com que toquei muitas vezes em muitos concertos.

Formar uma banda de stoner/sludge nunca vos pareceu uma ideia talvez ligeiramente arrojada para aquilo que é a tradição metaleira nacional?
Hum... Talvez, mas só na perspectiva em que não é um género muito praticado em Portugal. No entanto, acho que, como já disse, a música para nós [ainda] é um hobbie e como tal temos apenas que fazer aquilo que gostamos. Este era um género que tanto eu como os outros elementos da banda já há algum tempo queríamos experimentar e então, como logo no primeiro ensaio a sonoridade da banda se virou um pouco mais para esses lados, decidimos avançar e continuar a escrever mais músicas, cada vez com influências mais variadas.

Certamente a aposta foi ganha, os Men Eater estão a tornar-se um verdadeiro caso de sucesso em Portugal. Sentem-se surpreendidos de alguma forma?
Temos tido muito boas reviews ao álbum, bem como às actuações ao vivo e isso é, sem dúvida, algo de muito gratificante para nós! Ver assim o nosso esforço e a nossa música reconhecidos é o que nos faz de alguma maneira continuar em frente e querer tocar e compor cada vez mais. Quanto à surpresa, como é obvio, é sempre algo que existe… Acho que não há nenhuma banda que não tenha aquele pequeno receio em saber se as coisas vão todas correr bem.

Vindo de vocês, músicos com backgrounds bem diferentes, como se explica que tenham decidido criar um projecto deste género?
É uma pergunta interessante até e nem sei se te sei responder como deve ser... Acho que tem a ver como o facto de termos todos gostos muito variados. O Carlos ouve muito mais música ambiental, o Miguel coisas mais rockeiras, o João um pouco de vários géneros e eu, se calhar, sou o mais “metaleiro” da banda. Então acho que foi um pouco combinar todas essas influencias em algo que gostamos e deixar andar a carruagem.

São por essas e por outras que Portugal tem vindo a crescer no que diz respeito aos sons pesados e se tornado uma realidade mais versátil. Agrada-te o estado em que o nosso panorama se encontra?
Sabendo o que sei de como era há muitos anos atrás, quando ainda nem tinha bandas, é óbvio que está muito melhor. As bandas têm mais sítios para tocar, têm a possibilidade de gravar álbuns em estúdios bons, etc. Mas sinceramente acho que podia estar melhor. Ainda continua a haver pouco apoio ou um apoio limitado, em termos de rádios, divulgação, etc, a este género mais minoritário. Mas acho que a tendência é tudo melhorar e acho que pouco a pouco as bandas deste género vão começando a ganhar mais adeptos e cada vez mais se vai querer ouvir música mais alternativa.

Tendo todos vocês outros projectos uma das perguntas que se impõe é: como pensam conciliar ambas as vossas bandas? Ainda por cima os Men Eater tem vos dado muito “trabalho”...
Isso é verdade, trabalho não tem faltado e ainda bem! Acho que se consegue conciliar perfeitamente todas as bandas desde que haja um planeamento prévio. Quanto à marcação de concertos, quando não planeados, funciona à base de “quem marcar primeiro azar para os outros”. Até agora Blacksunrise e Riding Panico têm coexistido muito bem com Men Eater.

Já agora, como têm sido estes últimos meses em cima dos palcos?
Até agora cada concerto é um concerto melhor que o último! A banda está cada vez mais coesa e estamos cada vez mais habituados a estar juntos em cima do palco. Têm sido experiências muito boas mesmo! É claro que há sempre concertos que correm melhor e uns que correm pior, mas é mesmo assim e temos é que continuar a tocar que é para isso que cá estamos.

Os concertos com Cult Of Luna, em Coimbra e Corroios, e Pelican, no Porto, foram, com certeza, o despontar do início de uma época que já se pode considerar áurea para os Men Eater...
Os concertos com Cult of Luna e Pelican foram dos melhores concertos que já tivemos de sempre! O ambiente entre as bandas, o som, o “feeling” em palco… Foi tudo muito bom! O primeiro concerto com Cult of Luna , em Coimbra, foi dentro de umas ruínas duma igreja gigante com uma espécie de convento também em ruínas à volta - um sítio que, de certeza, qualquer banda gostaria de tocar. Tudo com muito boas condições - só a acústica da sala é que, por vezes, não se revela a melhor. Claro que nos sentimos honrados são bandas que todos nós adoramos e adorávamos antes de termos sequer iniciado a banda e não imaginávamos poder vir a tocar com eles algum dia. A verdade é que aconteceu e agora que venham mais concertos destes!

No estrangeiro como está o balanço à receptividade de “Hellstone”?
Até agora temos recebido muitos mails de incentivo e com opiniões sobre as músicas de pessoas do mundo inteiro que nos conhecem através do My Space e que, posteriormente, encomendam o CD. Já existem contactos com editoras europeias para possível edição/distribuição do CD que apenas aguardam para ver como correm as coisas.

Tentando agora perceber melhor a máquina que ajudou a impulsionar os Men Eater para uma estreia auspiciosa, eu perguntaria até que ponto podemos considerar o Daniel Makosch e a Raging Planet como “arguidos” neste processo? Ele costuma ser muito influente nos trabalhos e bandas que lança, certo?
O Daniel Makosch foi, sem dúvida, alguém que nos ajudou bastante na medida em que se propôs prontamente a editar o álbum após uma tentativa falhada de edição por outro selo. Ele é muito metódico no trabalho que faz [já o faz há muitos anos], sabe exactamente o que procurar, quem contactar... É alguém em quem nós depositamos a nossa inteira confiança e temos a certeza que ao fazermos isso estamos a garantir de certa maneira um futuro estável e promissor para a banda.

Normalmente, estes são também gravados, misturados ou masterizados no estrangeiro. Podemos entender isso como uma estratégia indispensável da parte da Raging Planet para preservar a eficácia e a qualidade do seu catálogo ou, no vosso caso, a ideia partiu de vocês?
Neste caso a ideia partiu da banda uma vez que já tínhamos feito uns contactos como o Red Room Studios através do Miguel. Pensou-se nisso, fez-se o orçamento e foi só seguir em frente! Estamos mais do que satisfeitos com o resultado final. Há que dar também muito mérito ao Makoto Yagiu que captou o álbum nos BlackSheep Studios e também o co-produziu com a banda.

Estiveram juntos com o Chris Common ou o Ed Brooks aquando da mistura e masterização, respectivamente, de “Hellstone”?

Não nos foi possível ir a Seattle por falta de tempo e também por falta de dinheiro. Então funcionámos um bocado à base da internet. Ele ia mandando as misturas e nós íamos dizendo o que achávamos.

Gostaria também de ouvir a tua opinião quanto ao som que apresenta “Hellstone” já que se fala num número dilatado de influências...
As influências que existem no álbum vêm das influências pessoais que cada membro da banda transporta para a sala de ensaios. Já li muitas reviews que apontam referências como Led Zeppelin, Black Sabbath, Iron Monkeys, Kyuss, Converge, Isis, Neurosis ou até Mastodon, mas não passam disso mesmo. Acho que o que está em Hellstone é Men Eater e aquele é o som dos Men Eater que penso ter já uma grande identidade e está feito à nossa própria maneira. Temos sempre as nossas influências mas tentamos sempre ao máximo empregar aquela nossa essência que é isso ao fim ao cabo que diferencia as bandas!

Existe alguma mensagem em “Hellstone”?
Essa seria uma pergunta muito boa para fazer ao Miguel uma vez que foi ele que escreveu praticamente todas as letras. Mas o próprio nome Hellstone surgiu de uma ideia de tenta relatar o caminho árduo que é a vida e tenta dizer, de certa maneira, que temos é que ultrapassar os obstáculos que a vida nos coloca.

O tema “Lisboa” será sempre um dos mais peculiares, quer pela sua apresentação na nossa língua, quer pela presença, como convidado, de André Henriques, vocalista dos Linda Martini. Porquê “solta os cães atrás de mim” e “Lisboa” como pano de fundo?
A ideia de incluir o André nessa música foi algo muito natural. Somos todos amigos dos membros de Linda Martini e achámos que ele seria a pessoa indicada para dar algo mais aquela música que na altura só tinha o nome de “instrumental 2”… Falámos com ele, ele aceitou prontamente e decidiu-se que ele ficaria de fazer a letra. Foi precisamente da letra que surgiu o nome da música. A frase “soltam os cães atrás de mim” tem um significado que só o André poderia explicar realmente uma vez que ele é que idealizou o seu contexto. Qualquer coisa que dissesse poderia estar a deturpar o significado que ele lhe deu e então prefiro não “estragar”, por assim dizer… [risos]

Qual podes considerar o grande trunfo de “Hellstone”? A sua cadência, a maneira como o disco corre harmoniosamente, com momentos repartidos de calmaria hipnotizante e outros de fúria etílica? Serão esses alguns dos argumentos que justificam a sua eficácia?
Acho que o que, para mim, faz de “Hellstone” o álbum que é para nós, é precisamente a maneira como reflecte tudo aquilo que gostamos e como reproduz na perfeição tudo aquilo que foi criado nos ensaios. Penso que esses argumentos possam sim reflectir bem a essência do álbum!

Com “Engulf The World In Frozen Flames”, o novo álbum dos Blacksunrise, já no mercado, sentes-te num período de grande esforço para ter que corresponder a dois projectos?
Como já disse mais atrás, as coisas para funcionarem entre as bandas têm que ser planeadas. Foi por este motivo que planeámos para alturas diferentes o lançamentos dos dois álbuns uma vez que estou nas duas bandas e seria difícil conjugar a promoção inicial dos dois álbuns. São as duas bandas igualmente importantes para mim, cada uma no seu género bem diferenciado, o que só torna tudo mais fácil até na fase de composição, por exemplo. A ideia agora é ir promovendo os dois álbuns o mais possível! Consegue-se sempre conciliar tudo.

Já agora dá-me a tua opinião em relação a “Engulf The World In Frozen Flames”.
Relativamente ao novo álbum de Blacksunrise, acho que é, sem dúvida, uma evolução para nós em relação ao “The Azrael”. Tem muita mais melodia dita sueca ou do “norte de Europa” mas, por outro lado, está também muito mais diversificado tendo músicas que vão desde o thrash ao death, passando pelo doom e, claro, sem esquecer a tal “suecada” que penso já ser algo bem demarcado em Blacksunrise. É um disco que, a meu ver, reflecte o que de melhor há actualmente na banda e ficámos todos muito satisfeitos com o resultado final a nível sonoro [gravação no Generator Music Studios com Miguel Marques e mistura e masterização com Ricardo Espinha]. Saiu também pela Raging Planet e como acontece com Men Eater, até agora estamos extremamente satisfeitos com o trabalho desenvolvido pelo Daniel.

Para terminar, até onde irão pelos Men Eater?
Muitos sucintamente: até onde nos deixarem! Nunca se sabe…

www.myspace.com/meneaterdoom

Nuno Costa
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