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Entrevista Moonspell

QUANDO A LUA NUNCA SE PÕE

Terminada a primeira fase daquela que já vai sendo uma longa e intensa digressão, mais de 80 concertos em todo o mundo desde Novembro passado, os Moonspell regressaram em Abril ao nosso país para recarregar baterias. No entanto, o tempo não sobra para grandes paragens e já no mês de Maio percorreram seis datas pela América latina regressando mais tarde para a presença no Rock In Rio Lisboa. Para além disso, a banda aproveitou a fugaz passagem por Portugal para começar a preparar o seu novo DVD. E foi durante este período que a SounD(/)ZonE solicitou a Fernando Ribeiro um ponto da situação e uma retrospectiva sobre o seu último trabalho “The Antidote”.

“The Antidote” não segue propriamente a mesma linha do seu antecessor, Darkness and Hope (2001). A que se deveu essa mudança?
A mudança acaba por ser, a meu ver, um assunto debatido em demasia, já que ela é mais que um acidente, é uma característica própria de Moonspell e das bandas que são da nossa geração e, finalmente, das bandas que nos servem de referência. Nesse debate, muitas vezes encarniçado, esquece-se um pouco o impulso natural de colocar o que se aprende, o que se quer dizer, todas as novas visões que irão fazer parte de um disco futuro. Em conclusão, a mudança deve-se a causas humanas ou erros humanos para alguns pois viver é algo mais que repetir e na Arte temos uma oportunidade de ouro para o provarmos.

Neste álbum nota-se também uma maior relevância da bateria tal como se nota um vasto leque de inovadoras influências, nomeadamente a presença de ritmos tribais um pouco por todo o álbum. Essa nova forma de expressão do Mike foi algo premeditado ou espontâneo?
Todo o “THe Antidote”, em todos os seus elementos, contém uma osmose entre a intencionalidade e a liberdade de movimentos. Na questão da bateria pretendia-se, logo de início, algo menos convencional e que sublinhasse as características narrativas e de poder que se adivinhavam no disco. A partir daí o Mike foi evoluindo e tentando abordagens que se revelaram exactamente representativas de um estilo mais próprio e que veio alargar as perspectivas de tudo o que se seguiria e fundaria ao ritmo. Algo tribal, ritualístico e, essencialmente, poderoso e espiritual.

Como tem sido a reacção do público (em geral) ao Antídoto apresentado pelos Moonspell?
Muito boa. As pessoas nada esperavam, tal como nós, e tiveram uma agradável surpresa pois este disco é um disco luminoso, de grande vitalidade. Estou muito satisfeito com a reacção e lança grandes expectativas para um futuro disco recolocando Moonspell como uma força do Metal Europeu. Para nós, Moonspell, é um disco que ouvimos e respiramos ainda com orgulho, passados longos meses.

Qual o saldo da experiência do lançamento do vosso último álbum, “The Antidote”, em conjunto com o livro do José Luís Peixoto, Antídoto, visto que é algo inédito em Portugal?
Não sabemos se é inédito ou não em Portugal, mas, sem dúvida, que nestes moldes e com estas intenções é único. O JLP veio conferir uma riqueza narrativa maior a Moonspell e ele foi para nós a confirmação superior de toda a nossa propensão literária nos outros discos que, pelo talento enorme do JLP, se consubstanciou neste duplo antídoto. Há que dizer ainda que existe uma grande verdade neste projecto e uma influência mútua que radica numa amizade profunda e numa partilha de gostos alinhados na perfeição na feitura deste projecto. Daí ele ter sido tão bem conseguido e recebido.

Como vês actualmente a cena do metal em Portugal?
À semelhança de muitas outras cenas por todo o mundo tem as suas mais-valias e interesses mas também os seus espaços vazios. O que sinto é que ainda se continua a perder muito tempo com assuntos absolutamente dispensáveis e que se fala muito de estruturas, vendas, managements, e afins secundários relegando-se a música e a substância da mesma para planos tão irrelevantes que as bandas que assim o fazem não conseguem colocar a sua música com uma visibilidade pura e artística, que acho ser o que mais interessa a músicos e audiências. Estou muito contente que os Heavenwood estejam de regresso, pois são uma excelente banda e um símbolo do Metal portuense que faz falta à nossa cena. Ouvi o novo disco de Ironsword que está fantástico, épico como poucos. O “Diesel Dog Sound” de The Temple será um dos discos mais memoráveis de sempre da cena portuguesa, não me restam dúvidas e existem bandas como Thragedium, por exemplo, que encontrarão o seu reconhecimento devido em breve pois já trilham um caminho pessoal. Os Filli Nigrantium Infernalium que ainda não vi ao vivo serão sempre uma banda em destaque pela sua satânica irreverência. Muitos outros. Os que não perdem tempo ou palavras.

Moonspell a nível lírico marcam definitivamente a diferença. Como autor das letras, podes referir-nos algumas das tuas influências?
Gosto de interioridade e muitas vezes viajo para dentro de mim próprio e regresso sob a forma de palavras. Este é o caminho que tomo para muitas letras de Moonspell e dentro de mim coabitam forças que advém de tudo o que li, ouvi, vivi, senti, ignorei ou sonhei. Forças que lutam entre si ou se harmonizam mas que me levam a escrever como uma forma de aliviar o que carrego, como forma de comunicar e sobretudo de documentar, com movimento, aquilo que sinto sair ou escapar dessa interioridade. Se a pudesse descrever teria de utilizar palavras tão ambíguas como amor, morte, vida, escuridão, desconforto, necessidade de luz, cerco, entre outras. Mas se são nomes que procuras devo dizer que na poesia (falando só de Moonspell) me influenciam nas letras nomes como Justo Jorge Padrón, Baudelaire, Pessoa, Torga, entre tantos outros e na literatura nomes como Goethe, H.Hesse, Oscar Wilde, Lovecraft, entre inúmeros outros, bem como letristas como Jim Morrisson, Johan Edlund, Quorthon, etc.

Em relação à tua costela literária, para quando o sucessor de "Como escavar um abismo"?
Para muito em breve. Está acabado há algum tempo já e irá sair provavelmente nas primeiras semanas de Junho. Chama-se As Feridas Essenciais, é um livro de poemas e terá a chancela da Quasi Edições, que publica nomes como o José Luís Peixoto, José Régio, Cruzeiro Seixas,Ferreira Gullar, entre outros. Anunciarei no site de Moonspell a data exacta nas próximas semanas.

Vocês gravaram recentemente um espectáculo na Polónia no prestigiado MetalMania Festival em Katowice com vista à preparação do vosso DVD. Como será o seu formato? Para quando o seu lançamento?
Confirmo. Aliás recebemos há cerca de duas semanas a primeira cópia de visionamento e ficámos muito contentes com o resultado. Teremos que fazer ainda alguns ajustes mas o concerto foi muito bem captado pela equipa do festival. Esta foi a melhor altura para gravar um concerto, pois já fizemos mais de 80 concertos com este disco por todo o mundo e encontramo-nos numa forma bem especial. Sabíamos que isso seria importante para a naturalidade e entrega com que iríamos entrar num concerto gravado para edição. Temos muitas ideias para o DVD e já começámos a fazer contactos e avanços para elas se concretizarem. Sem revelar muito (porque ainda estamos apenas ao nível da mera planificação) o DVD será composto por este concerto com o look e alinhamento da tour do “The Antidote” mas a ele será adicionado um número a definir de outros temas captados ao longo da história de Moonspell ao vivo. Poderão aparecer coisas de 2004 ou de 1994, tudo integrado num todo. Depois haverá lugar a uma biografia de Moonspell que pretendemos apresentar de um modo invulgar, bem como todos os videoclips e talvez alguma surpresa a este nível. O cuidado ao nível gráfico e conceptual não será esquecido e pretendemos que este seja o melhor DVD até agora lançado na nossa editora.

Sei que os Moonspell participaram na banda sonora da primeira curta-metragem gore portuguesa, "I'll See You In My Dreams", do Filipe Melo. Como surgiu essa oportunidade?
O Filipe Melo pensou em nós pois queria uma banda capaz de representar a tensão da curta numa versão do tema jazz que lhe deu nome e que tão importante é no enredo e no feeling do filme. Assim convidou-nos e nós aceitámos, orgulhosos de participar num projecto tão ambicioso e que nos diz tanto enquanto apreciadores de filmes do fantástico. A curta é excelente e espero que chegue a toda a gente o mais rapidamente possível.

A primeira fase da digressão a “The Antidote” terminou há pouco tempo. Conta-nos como correu os espectáculos pelos Estados Unidos e Canadá. Notaste que o público se mostrou mais interessado do que o normal em redor da banda?
Todas estas semanas que andámos pela América do Norte saldam-se positivas. Permitiram ao menos dar a conhecer Moonspell a um público maior e mais significativo e fidelizar mais aquele que já nos seguia. Nem sempre foi fácil porque o público norte-americano pode ser um pesadelo (especialmente na tour com Opeth) mas aprendemos muito e saímos de lá uma banda muito mais forte que, tenho a certeza, nunca mais dará um espectáculo mediano. Deixámos, como disse, bons indicativos mas muito trabalho há ainda pela frente, pelo que gostaríamos de voltar ainda este ano se possível.

O tempo é de grande trabalho e já se avizinham mais datas em Maio, desta vez pela América Latina com Satyricon e Anathema e em Junho em Portugal no Rock In Rio Lisboa! Como te sentes? A actividade da banda nunca tinha sido tão intensa...
Ainda bem que assim o é, não estamos nada habituados ao conformismo e à inactividade. Mesmo nesses períodos menos intensos de concertos há muito que fazer. Eu estou envolvido numa data de coisas e Moonspell também mas sem dúvida que o mais importante é preparar o DVD, compor novos temas e claro está tocar ao vivo. Por isso vemos com agrado o regresso à América Latina e a participação no Rock in Rio Lisboa, porque já não tocamos em Portugal desde Novembro. Estamos também a tentar marcar outras datas em Portugal e alguns festivais para intensificar a actividade ao vivo. Na minha opinião gostava ainda de fazer mais e melhor.

Como classificas as passagens dos Moonspell pelos Açores?
Gostei muito do concerto em S. Miguel e também do de Angra, se bem que neste último tenha achado o público mais desatento e um pouco disperso. Mas os Açores sempre serão um local onde queremos apresentar-nos ao vivo muitas vezes, pelo menos uma vez por disco, porque sabemos a importância do Metal nos Açores e porque Moonspell foi sempre um nome muito querido dos nossos fãs que aí vivem. Temos mesmo muita vontade de tocar em todo o lado com este disco para mostrar Moonspell na melhor forma dos últimos anos!

Alguma mensagem para o público açoriano e para os leitores da SounD(/)ZonE?
Contamos anunciar em breve uma ou duas datas para os Açores, por isso estejam atentos ao nosso site moonspell.com. À SounD(/)ZonE, um grande abraço lunar estendido a todos os nossos fãs e esperamos, com ansiedade, trazer-vos a todos o antídoto muito em breve.

Nuno Costa
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