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Entrevista Morbid Death - Especial Roquefest 2007

DO PARAÍSO NEGRO... PARA A ETERNIDADE

Em 1990 poucos seriam os que acreditavam que residisse tamanha persistência num projecto de Heavy Metal açoriano que o mantivesse vivo durante tantos anos. A sinuosidade do seu relevo – leia-se mercado - e sua nebulosa atmosfera que, normalmente, turva qualquer talento com prospectos de maior projecção, não foram suficientes para que os Morbid Death, quais dinossauros, fossem impedidos de cravar, quase heroicamente, o seu nome no “maciço basáltico” açoriano e lançar um exemplo de força e talento a seguir por toda uma geração vindoura. Duas demos, três álbuns de originais e um DVD a lançar muito brevemente são os registos de uma carreira a atingir os 17 anos e que goza do respeito de uma nação ilhéu. Ricardo Santos, vocalista-baixista e membro fundador da banda, conversou com a SounD(/)ZonE para fazer um balanço da sua carreira, falar de futuros lançamentos, a presença no Roquefest, entre muitos outros assuntos.

17 anos de carreira já atingidos... Como se consegue uma proeza destas num terreno tão, musicalmente, estéril como o dos Açores?
Ainda não estão atingidos os 17 anos, mas sim em Setembro próximo! Simplesmente compondo música da qual gostamos. Sabe mesmo bem, após um longo dia chato e exaustivo no trabalho, libertar na sala de ensaio as energias negativas. Pura adrenalina!

Embora aparentemente a banda se deva sentir de consciência tranquila e satisfeita pelo seu percurso, há ainda assim algum aspecto que a deixe com um sabor amargo?
Penso que não porque fazemos aquilo que gostamos. Não existe qualquer tipo de pressão.

Acho que a opinião é unânime quando se diz que os Morbid Death tinham condições para chegar mais longe. No entanto, isto passaria por um êxodo para outras paragens que não os Açores. Nunca chegaram a pensar arriscar nesse sentido?
Qualquer banda pensa nisso… Mas com o passar dos anos, nós apercebemo-nos da realidade musical. Quando éramos mais novos, víamos as coisas de outra perspectiva. Tudo parecia fácil ou quase fácil. Admiro a coragem que tiveram os Tolerance 0 quando tentaram a sua sorte no Canadá. Mas, a dura realidade veio ao de cima. 18 meses depois, 4 dos 5 membros, regressaram aos Açores. Eles são a prova viva de que não é assim tão fácil. Mas, cada caso é um caso…

Como está a predisposição da banda hoje em dia para tocar e continuar viva? Existe, eventualmente, algum “cansaço”?
Nos Morbid Death não existe qualquer “cansaço”, até porque estamos a compor material novo para o 4º álbum.

E a que soará? Qual a sua orientação musical?
Soará… a Morbid Death! [risos]

Já têm ideia de quando poderá chegar aos escaparates?
Ainda não temos certezas... O que é certo é que temos temas novos e estes terão nova produção. Chegou o momento das mudanças!

Outro lançamento por que esperam os vossos fãs com grande expectativa já há dois anos é o vosso primeiro DVD. Consta que o seu lançamento está para breve. Consegues já apontar alguma data?
Em Agosto, faz dois anos que foi gravado. O lançamento está para breve mas não podemos adiantar qualquer data porque até nem sabemos. Está tudo numa fase mais burocrática.

O que podes adiantar em relação ao seu conteúdo?
É composto por uma actuação [13 temas] no Coliseu Micaelense aquando da comemoração do nosso 15º aniversário, mais entrevistas com os quatro membros dos Morbid Death e imagens de bastidores.

O vosso DVD será lançado por uma editora nacional. Como surgiu o contacto?
Foi através da PJ Prod´s. A proposta da Radical Records foi a melhor que recebemos visto que enviamos para cerca de 50 editoras (nacionais e internacionais). Também será editado no mercado brasileiro através da Anaides ZDP.

Até que ponto este será promovido? O estrangeiro será certamente um alvo forte a ter em conta...
É claro que para uma editora, quanto mais promoção, maior projecção em termos comerciais.

O contracto com a Radical Records inclui, eventualmente, a edição de próximos discos?
Tudo depende da aceitação do DVD. Se correr bem, o álbum de estúdio está garantido.

Ter um coliseu praticamente cheio para a gravação do vosso DVD foi, sem dúvida, um sinal do respeito que o público açoriano tem por vocês. Arrisco até a dizer que foi um momento comovente da vossa carreira... Que recordações guardam desta noite?
De facto, foi dos melhores concertos que demos até hoje. Todos os ingredientes estavam reunidos para uma excelente noite. O nosso sincero obrigada a todos aqueles que nos têm apoiado ao longo destes anos.

Hoje em dia a banda tem uma política muito mais rígida no que diz respeito a contractos para actuações. Não acham que, numa realidade como a dos Açores, isso vos pode afectar ao nível de aparições e consequente promoção ao vivo? Por exemplo, o ano passado, se não estou em erro, a banda apenas actuou uma vez...
O ano passado actuamos apenas uma vez… Tínhamos mais três datas agendadas, porém, numa delas um dos membros da banda adoeceu, noutra a organização cancelou a nossa participação por falta de verbas e, por último, um dos nossos membros ausentou-se não sendo possível actuar. Foi um ano para esquecer…

Por onde passam, efectivamente, os objectivos dos Morbid Death hoje em dia, atendendo a que a promoção nos Açores pode já, neste momento, ser irrelevante? Isto porque toda a gente já vos conhece! Será também por isso que os Morbid Death já não facilitam a quem vos quer contratar para tocar?
Nós já tocamos diversas vezes de borla e até com cachets mais reduzidos. Acontece que, também já passamos por situações menos dignas. Quando uma banda é paga a organização olha-a de outra forma e tem mais respeito por ela. Não é uma questão de ‘armarmo-nos em bons’ ou ‘esquisitos’ mas como se costuma a dizer ‘paga o justo pelo pecador’. Além disto, como podemos concretizar a gravação de novos temas sem dinheiro? Acredito que, se todas as bandas fossem pagas haveriam mais CDs de bandas regionais. Os estúdios e produtores não trabalham para aquecer. E mais digo, acho absolutamente injusto para as bandas locais tocarem de borla quando as que vêm de fora são pagas. Mesmo que não sejam cachets existem sempre as estadias, transportes, etc. Também existe outras formas de negócio mas cada um sabe de si!

Tornar-se-á isso depois numa “bola de neve”? Ou seja, uma vez que tocam pouco por imporem mais condições às organizações poderão também acabar por ter menos meios de financiar próximos discos... Porém, tocar gratuitamente também não pode ser opção...
Sem qualquer dúvida! Nos dias de hoje, o dinheiro não é tudo mas é quase tudo. Como poderá uma pessoa ir ao médico se não tem dinheiro para pagar a consulta? Infelizmente, quase tudo gira à volta do dinheiro! Shit! [risos]

Em suma, os objectivos dos Morbid Death continuam a ser os mesmos de outrora...
Nem mais nem menos! Diversão, nua e crua sem nunca fugirmos às nossas responsabilidades. O resto, vem por acréscimo.

Quanto a presenças no continente, imagino que muita gente se questione porque os Morbid Death não dão mais vezes “pulos” ao lado continental do nosso país... Trata-se mesmo de falta de oportunidades, de convites?
Cá está… Para quem não sabe, na última vez que fomos ao continente gastamos cerca de 3.500 euros! É muito dinheiro para uma banda amadora. Não tivemos qualquer apoio monetário! Tivemos sim, apoio da parte dos Desire, Daniel Makosch e da Metal Bus Tour. Sem eles, não seria possível a nossa ida! Por estas e por outras é que pedimos cachet! Não para comprar roupas novas, não para comprar um computador novo, etc. Investimos no nosso futuro e esta é a política que adoptámos. Espero que a respeitem!

E quanto às bandas de hoje em dia, o que encontram que não encontravam os Morbid Death quando se formaram? Hoje em dia os músicos açorianos podem ter outras aspirações?
Por exemplo, na aquisição de instrumentos musicais o leque de escolha é muito maior. Quando se acredita no nosso próprio valor, tudo é possível. Não podemos ficar à espera que algo de bom nos aconteça. Há que ir à luta!

Este ano estreiam-se no Roquefest. Este acontecimento tem algum sabor especial tratando-se de um festival tão underground erguido a muito custo por pessoas locais que têm tentado fazer muito pelo panorama regional?
Na maior parte dos casos, as pessoas que estão por detrás de tamanhas obras, são esquecidas. As bandas tocam, graças a estas pessoas. É de louvar o seu esforço.

Ao longo de todos estes anos como acham que tem evoluído a nata metálica na nossa região? Os fãs estão ainda mais despertos para a causa metaleira, nomeadamente para os Morbid Death?
Apesar de os tempos serem outros noto que existe uma maior preocupação em fazer as coisas de uma forma organizada. Leva-se tudo muito mais a sério, o que é muito benéfico para o meio musical.

E particularmente falando das bandas que têm surgido no arquipélago, nomeadamente as que fazem parte do cartaz do Roquefest?
Todas têm o seu valor e merecem ser respeitadas, independentemente se se gosta ou não. Estou certo, que vão dar o máximo no palco e mostrar o seu valor. Heavy Metal acima de tudo nestas duas noites de peso!

Já têm mais datas agendadas para este Verão?
Algumas aguardam confirmação.

Que apelo gostariam de deixar, na condição de embaixadores do Heavy Metal açoriano, ao público afecto a este género musical, especialmente para os potenciais presentes no festival?
Apareçam e divirtam-se porque é o que vamos fazer também!

E, já agora, para os jovens músicos que começam a dar os seus primeiros passos com bandas...
Acreditem no vosso valor e não desistam à primeira, porque este mundo não é um mar de rosas…

www.morbid-death.com
www.myspace.com/morbiddeathband

Nuno Costa
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