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Entrevista Oblique Rain

ALVORADA DOS SENTIDOS
"Tenho saudades dos tempos em que criávamos música sem complexos"

Dois anos volvidos e do norte é arremessado a “sequela” muito esperada de “Isohyet” que arrebatou os sentidos de muito amante de música obscura, sensível e progressiva pelo país e não só. E se aos Oblique Rain podia faltar apenas um segundo álbum para confirmar todo o seu potencial, então com “October Dawn” podem finalmente apertar o cinto, instalar-se confortavelmente pois o voo promete ser alto. Este novo trabalho acaba por ser a sequência lógica, ou pelo menos esperada, do seu antecessor, onde algumas arestas foram limadas e a banda atinge assim uma identidade muito mais independente. Foi numa fase de manifesta afirmação que abordámos o vocalista e guitarrista Flávio Silva.

Com “October Dawn” deixaram de ser uma promessa para ser uma certeza. Concorda?
Partindo do princípio que um segundo álbum é sempre como que um marco de afirmação para uma banda, penso que sim. A expectativa era grande depois do lançamento do “Isohyet”, por isso o “October Dawn” era vital para a nossa afirmação, sem dúvida!

Compô-lo rodeado de uma plateia ansiosa acabou por condicionar-vos de alguma forma?
Não penso que nos tenha condicionado. Sentimos foi antes um enorme orgulho pelo que o “Isohyet” atingiu enquanto álbum de estreia. Mas vejamos a coisa por outro prisma: quando criámos e editámos o “Isohyet” não fazíamos a mínima ideia de que iríamos ter tamanha adesão por parte do público. Fizemo-lo porque adoramos música, porque temos uma amizade muito forte entre nós e queríamos tentar fazer música que nós próprios gostássemos de ouvir. No início éramos apenas dois, mas depois a dimensão do projecto foi aumentando, de tal forma que logo após termos criado o nosso Myspace e postado algumas das nossas demos fomos quase “obrigados” a formar uma banda. No fundo tenho saudades desses tempos em que criávamos música sem complexos, naturalmente e penso que esse será o caminho a seguir sempre pelos Oblique Rain, agora com a particularidade de sermos cinco e não apenas dois.

Passaram-se já dois anos desde a edição de “Isohyet”. Este foi um período essencialmente passado a tocar ou sobretudo a compor e a gravar “October Dawn”?
Nós tínhamos consciência do que o “Isohyet” tinha atingido. Éramos apenas uma banda como as outras mas que realmente não estava preparada para a atenção que teve. Devido a este facto e ao tocarmos ao vivo o “Isohyet” percebemos que o nosso set era demasiado curto para que pudessemos ser headliners em qualquer evento de maior dimensão. Senão repare-se: o “Isohyet” tem apenas seis temas executavéis e nós não tendo temas de “20 minutos” não poderíamos oferecer mais do que aquilo que tínhamos. Atendendo a isto, dedicámo-nos à composição, não que fosse uma obrigação, muito pelo contrário, porque a energia gerada durante as gravações do primeiro álbum resultaram em mais demos do que aquilo que talvez tínhamos planeado. Depois foi trabalhá-las e adicionar-lhes mais e novos elementos para que pudéssemos ter um conjunto de temas bem homogéneo a que pudéssemos chamar de álbum.

Então conclui-se que não tocaram tanto quanto desejavam no pós-lançamento de “Isohyet”…
Acho que qualquer banda nunca acha que toca o suficiente. No entanto, penso que todos os objectivos do “Isohyet” foram alcançados. Estou certo de que um dia mais tarde se irá fazer ainda mais justiça ao álbum especial que ele é!

Agora sob o selo de uma editora que se está a afirmar e possui uma equipa experiente, quais são as vossas expectativas ao nível da promoção?
A MLI era indiscutivelmente o nosso objectivo enquanto parceira preferida a alcançar e a promover o nosso trabalho. Foi curioso e deixou-nos muito contentes o facto de eles quererem assinar connosco. Foi mais um objectivo alcançado pelo “Isohyet”! Até agora a promoção tem sido muito maior do que aquela que alguma vez poderíamos fazer pelos nossos próprios meio, basta ver a intensa internacionalização e as reacções muito positivas que o álbum tem tido. Claro que criámos a música mas os “louros” para esse trabalho são praticamente todos da MLI.

A música dos Oblique Rain pressupõe muito planeamento ou é mais um exercício espontâneo de composição?
Sem sombra de dúvida que é um exercício espontâneo de composição. Pelo menos até aqui!

O vosso background como professores de música e engenheiros de som, no caso do Daniel que entretanto saiu, é razão para terem mais facilidade em explorar e registar as vossas ideias?
Talvez… ao nível da composição tentamos não usar os nossos conhecimentos teóricos para tornar o nosso som o mais genuíno possível; enquanto engenheiros de som, todos nós temos mini-estúdios em casa nos quais podemos registar possíveis ideias e todo o material que consideramos bom para Oblique Rain.

Em termos de gravação e produção, imaginam para próxima recorrer a alguém exterior à banda? Trabalhar no estrangeiro seria interessante?
Sem dúvida! O grande objectivo deste álbum é a definitiva internacionalização da banda e queremos um dia poder trabalhar com alguém conceituado para fazer crescer ainda mais o projecto. Pode não ser já no próximo álbum mas é mesmo esse um dos objectivos a atingir!

A entrada do Marcelo deu-se já depois de “October Dawn” estar gravado? Que critérios estiveram na base do seu recrutamento?
Depois da saída do Daniel tivemos a preocupação de colmatar a sua ausência com alguém que tivesse as mesmas capacidades técnicas e fosse de fácil integração na banda. No caso, o Marcelo é um autêntico prodígio como baterista. Penso que um dia será um dos melhores portugueses de sempre!

Então deduz-se que não houve dificuldades de adaptação…
De modo algum! Quem em apenas três ensaios executa na perfeição todos os temas dos nossos dois discos não se lhe poderá imputar qualquer dificuldade de adaptação!

Como encararam a decisão do Daniel abandonar a banda? Parece-me um sinal claro de que, infelizmente, a música alternativa em Portugal dá poucas garantias de subsistência…
O Daniel é alguém que considero muito dotado e com uma capacidade de percepção musical muito grande, mas com o aumento do seu trabalho e da popularidade com os Ultra Sound Studios, nos quais nos incluímos, foi-se tornando cada vez mais difícil dedicar-se à banda. Penso que ele está numa fase de construção de imagem que não pressupõe mais disponibilidade para além daquela que tem actualmente fora do seu âmbito como produtor. Ensaiar tornou-se bastante difícil e chegámos à conclusão de que seria melhor partir para outra opção favorável a todos. Felizmente que o Marcelo é um autêntico prodígio e a única conclusão que tirámos até ao momento é a de que estamos felizes por ter alguém como ele a tocar connosco. Quanto ao Daniel, penso que a imagem dele no futuro irá fazer justiça à sua qualidade enquanto músico e produtor.

O que vos ia na alma para escrever “October Dawn”? Uma melancolia acrescida?
Não penso que o “October Dawn” seja mais melancólico do que o “Isohyet”. O que poderá ter acontecido é a sua temática ser mais intensa por ser mais pessoal do que a contida em “Isohyet”. Quando escreves algo mais pessoal penso que todos irão identificá-lo como mais melancólico mas em termos sonoros não penso que seja mais melancólico. Será sim mais alternativo nalguns aspectos.

Na génese dos Oblique Rain estará a ingenuidade habitual das bandas em início de carreira ou pela vossa maturidade já sabiam até certo ponto que iriam vingar?
Penso que a única certeza que uma banda tem em início de carreira é a sua música e é nesta em que confia de forma quase cega… até ao momento em que se começa a ser criticado em reviews! Acho engraçado e não tenho a certeza de que o mesmo se passa com todas as bandas, mas à medida que vais crescendo na popularidade vais mantendo a confiança mas passa a ser mais difícil definir se aquilo que escreves é o ideal para o projecto, ou seja, se continuas a escrever mas não te queres repetir, continuas a compôr mas acabas por seleccionar muito mais do que se fosse há algum tempo atrás. Daí a dificuldade de manter uma banda no seu máximo rendimento! Na génese de Oblique Rain está a maturidade por saber apreciar e comparar a nossa música com outros mas sem dúvida que éramos muito ingénuos... Mas o que é a vida de uma banda sem ingenuidade?!

Já nos disse que o feedback a este novo álbum tem sido muito positivo.
Até ao momento bastante positivo, não temos qualquer tipo de razão de queixa. As reviews internacionais têm feito justiça ao trabalho e dedicação que tivemos com o processo deste album.

Há uma atenção diferente da de Portugal vinda de países estrangeiros em relação à banda? Fará sentido aplicar-vos o ditado: “Santos da casa não fazem milagres”?
Sabe, nós portugueses temos a mania de não saber apreciar e tendemos a desprestigiar aquilo que se cria em território nacional. Basta compararmo-nos com o nosso vizinho espanhol para perceber que o orgulho nacional não é tão intenso como noutros países, exceptuando talvez em relação ao futebol e à gastronomia [da qual sou grande apreciador] em que pensamos que somos os melhores do mundo. No caso da música é uma pena ainda não se dar o devido valor ao que se faz por cá. As bandas têm de construir reconhecimento nacional à custa da afirmação vinda de fora para depois serem vistas de outra forma cá. Mas penso que lentamente a figura começa a mudar, começando pela imprensa que, sem dúvida, dá um enorme apoio nesse aspecto!

Há algum mercado em que tivessem particular interesse em se expandir? Será que no fundo sentem que o vosso som não é talhado para o público nacional ou ainda é muito cedo para esse tipo de “queixas”?
Sim, existem dois mercados onde penso que iríamos funcionar bastante bem: no inglês, por termos algo de prog britânico nos nossos genes, e no americano, por o nosso tipo de gravação ser algo “in you face” muito ao gosto da captação local. O inglês penso ser um objectivo nosso a curto-médio prazo.

Para já têm apenas duas datas agendadas. O que se antevê para os próximos tempos a esse nível?
Para já estamos a acabar a gravação daquele que será o nosso primeiro videoclip que tentaremos promover tanto a nível nacional como internacional. A nível de concertos a intenção será promover o mais que pudermos o novo álbum passando por festivais e tentar a internacionalização da banda, o que acho ser um factor vital para o nosso desenvolvimento e afirmação.

www.myspace.com/obliquerain

Nuno Costa

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