Entrevista Quetzal's Feather
Bastante jovem mas já com propensão para grandes voos, este sexteto do Porto formado em 2002, vem mostrar com o seu primeiro EP “…From The Ashes” o porquê de ser considerado um dos projectos mais interessantes da geração mais nova do panorama nacional. Os Quetzal’s Feather vêm com as “asas” bem abertas mostrar todo o potencial do seu rock alternativo, bem ao jeito de uns The Gathering em fase inicial, mas fazendo questão de vincar a sua personalidade com um conceito e uma atitude própria de quem sabe muito bem o que quer. Sob inspiração “divina”, a vocalista Raquel Peleias falou para a SounD(/)ZonE.
Em 2002, vocês juntam-se para tocar. De quem é que partiu a ideia, como foi que tudo surgiu?
Basicamente, já tínhamos tido experiências/projectos de vários tipos uns com os outros (mas não todos juntos como os Quetzal’s Feather), daí nós dizermos sempre que “os Quetzal’s Feather nasceram da iniciativa de um grupo de amigos”, pois já nos conhecíamos bem, e todos queríamos criar algo sólido e diferente. Em 2002 juntamo-nos e começamos a criar...
Vocês inspiram-se na mística Azteca e na história do deus QuetzalCoatl para criar o vosso conceito. Fala-nos dele?
Reza a lenda que o pássaro Quetzal nasceu das cinzas do deus QuetzalCoatl, e que assim se tornou um símbolo da liberdade! Essa liberdade está presente em todo o conceito dos Quetzal’s Feather: no momento da criação musical, lírico e visual. Para além disso, sentimos uma enorme ligação com todo o misticismo caracterizador deste mito Azteca, pois nos nossos concertos tentamos transmitir uma envolvência misteriosa, recorrendo a cenários e pinturas. Há ainda uma ligação tribal presente na nossa música e imagem...
A nível instrumental, apraz-me imenso ver que vocês são audazes e tentam inovar ao fazer música. Gosto muito da vossa tendência alternativa, aliada a um toque progressivo e ainda às ambiências tribais. Dá-me a tua opinião sobre o vosso som, fala-me dele, das vossas motivações, inspirações...
Como disse antes, para nós, na fase de criação não existem limites (de estruturas, formas, letras...). Tentamos acima de tudo fazer música que diga algo a cada um de nós. Todos temos motivações e inspirações diferentes e cada dá um bocado de si à música dos Quetzal’s Feather. Sendo assim, para além de um qualquer rótulo, pretendemos apenas sentir o que fazemos, tentando sempre criar algo moderno e diferente.
No fim de “...From The Ashes”, no tema “Morgaine”, assistimos a um momento de psicadelismo esquizofrénico, diria eu, e logo de seguida a um término delicado e ambiental. Sei que às vezes é típico as bandas aproveitarem o fim dos álbuns para devaneios desse tipo, mas gosto sempre de saber mais sobre esses pormenores... Neste caso, existe algum significado especial?
Já tínhamos em mente colocar aquela música no CD como faixa escondida e queríamos também preencher o espaço entre o final da “Morgaine” e o inicio desse tema (“The Fall”), com algo que criasse uma certa tensão para depois haver a queda, mas ainda não sabíamos muito bem o quê... Num momento de espontaneidade, quando o nosso guitarrista, o Hugo, estava a gravar com o Rodolfo Cardoso, surgiu aquilo que está no CD e nos pareceu ideal para o que queríamos transmitir. Como curiosidade, aquele som que percorre o fim dum tema e o inicio do outro, foi exclusivamente gravado com uma guitarra e um pedal de delay!
Neste momento, o que andam os Quetzal’s Feather a fazer? Têm tocado muito, as reacções ao EP e aos concertos têm sido boas?
Temos ensaiado bastante (ensaiamos todos os dias!) e dado alguns concertos... O último foi com Moonspell em Carcavelos e correu-nos bastante bem. As reacções aos concertos não poderiam ser melhores, pois temos recebido bastantes e-mails a dar os parabéns e a pedir CD’s, tal como no fim dos concertos quando as pessoas nos abordam. Algo que nos enche de maior motivação para continuar a trabalhar e criar! Relativamente ao EP, as críticas também têm sido muito boas. Para além de gostarem das músicas e dizerem muito bem da qualidade do próprio som, as pessoas têm elogiado o trabalho visual do EP, o que era um objectivo nosso: fazer algo que fosse agradável à “vista” e chama-se a atenção pela positiva.
E álbum? Para quando um álbum dos Quetzal’s Feather?
Uma ideia/ideal que sempre nos acompanhou, foi o facto de querermos dar o máximo de concertos possíveis, para assim podermos dar a conhecer a nossa música ao maior número de pessoas e, com tudo isto, criarmos uma base de sustentação para o álbum. Ou seja, para nós não nos interessa lançar um álbum, se não temos público nos nossos concertos; não nos interessa lançar um álbum se não temos pessoas que gostam da nossa música e, que por consequência, o álbum não se vai vender! Tal como as bandas antigas de rock’n’roll, o que queremos mesmo é dar concertos e criar um público... Temos o sonho de um dia lançar um álbum, mas com calma, pois ainda andamos aqui à pouco tempo!
O Rodolfo Cardoso fez, na minha opinião, um belíssimo trabalho de produção no vosso EP. Ficaram satisfeitos? Gostariam de voltar a trabalhar com ele, agora talvez para um longa-duração?
Adoramos trabalhar com o Rodolfo e queremos, sem dúvida alguma, voltar a trabalhar com ele. Para além do excelente trabalho de produção que fez, é uma excelente pessoa e ensinou-nos imenso, pois tem imensa experiência. Aliás, estamos já a trabalhar com ele para um novo projecto que temos em mente... Vamos nos próximos meses lançar um single com uma versão de Madredeus que temos tocado nos nossos concertos, e que tem recebido excelentes feedbacks por parte dos diferentes públicos.
Quais são os objectivos dos Quetzal’s Feather? Vocês são todos estudantes, trabalham, como é que é? Pensam um dia dedicar-se a 100% à música?
O nosso objectivo principal é fazer música. Se podermos faze-la e ganhar dinheiro com isso, fantástico! Contudo, o que queremos mesmo é fazer música que nos diga algo e que também represente algo para variadas pessoas. Dedicarmo-nos a 100% à música é uma realidade muito difícil de atingir, mas também não é uma necessidade, nem um objectivo principal pelo qual vivemos obcecados. Alguns de nós estudam, outros trabalham, aliás, para ser mais exacta, metade de nós estuda e a outra metade trabalha.
A música nacional está de boa saúde ou não? O que achas das bandas actuais?
Considero que a música nacional está de boa saúde, mas somente porque conheço excelentes projectos, que actuam muitas vezes connosco, ou que vou conhecendo em concertos/rádios muito undergrounds e que são totalmente desconhecidos da maioria das pessoas. Quanto às bandas que têm muito airplay nas rádios (apraz-me saber que há bandas nacionais com grande rodagem em variadíssimas rádios) não posso tecer muitos comentários, pois ou não fazem o meu estilo musical ou então são cópias exactas de bandas que já existem (salvo raras e excelentes excepções). Mas obviamente, não me cabe a mim criticar as escolhas/motivações que levam as rádios a escolher essas bandas para a sua playlist, pois apenas desejo fazer aquilo que mais gosto, música!
Nuno Costa