Entrevista Resposta Simples
GRITO DE REVOLUÇÃO
Formados no ano de 2003, os Resposta Simples são mais um manifesto de que o punk/hardcore vive na Terceira, e com saúde. Após lançarem uma maqueta - “Resposta Simples” – e um EP – “Teatro da Vida”, eis que nos chega em finais de 2005 mais um trabalho, o EP “Revolução Pessoal”. Muito dinâmicos na forma como se movimentam dentro do meio musical, os Resposta Simples souberam sempre lutar pela sua projecção, bem como procurar as oportunidades certas e disso valeu-lhes três trabalhos gravados no continente e várias concertos por terras continentais. Neste momento, a banda encontra-se sediada em Lisboa e prepara-se para começar a gravar o seu primeiro álbum em Fevereiro próximo. Sobre estes e muitos outros pormenores, a SounD(/)ZonE falou com o guitarrista e vocalista Paulo Lemos.
Conta-nos como foi que se conheceram e formaram os Resposta Simples?
Somos três amigos de longa data, conhecemo-nos a todos desde há largos anos e a ideia de criar um projecto musical foi algo que sempre nos suscitou interesse e que passou assim de uma simples conversa para o real. Formámo-nos deste modo em inícios de 2003. Embora tenhamos sofrido algumas mudanças desde a nossa formação, de momento encontro-me na voz e guitarra, o João Pedro no baixo e coros e o Tiago na bateria e também nos coros.
Quer-me parecer que a nível de punk rock, a Terceira é realmente o foco por excelência de bandas do género nos Açores...Creio até que se pode falar num movimento, certo?
Bem, posso dizer-te desde já que essa questão é um pouco ambígua. Realmente, é um facto que a Terceira reúne grande número de bandas do género, mas o dito cujo "movimento" acaba por se entrelaçar, inevitavelmente, na íntegra com o movimento musical terceirense, entendes? Ou seja, não existe, por enquanto, uma actividade coesa e um público específico para este estilo, sendo que os concertos do género ocorrem sempre com misturas de diferentes bandas de diferentes estilos musicais.
Mas de facto, a Terceira preservou esta face musical até aos dias de hoje...Pelo contrário, em S. Miguel as coisas mudaram muito ao longo dos anos e houve uma certa actualização do rock e do metal. A Terceira parece-me ter uma personalidade musical muito própria. Não se vê, por exemplo, por lá bandas de nu-metal, nem black, nem thrash metal... Como analisas essa situação?
Infelizmente, essa situação não está apenas circunscrita às bandas de metal, mas sim à sua grande generalidade, independentemente do estilo musical. Existe presentemente um atenuamento (e alguma falta de vontade, na minha opinião) na Ilha por parte dos antigos e novos projectos. Existem no activo ainda algumas bandas de metal e posso dizer-te que, em comparação, subsiste um maior público mais virado para o metal do que para o punk e hardcore. O problema é inevitavelmente o desinteresse das pessoas pelo rock, o que se traduz num decréscimo de músicos e, consequentemente, na falta de surgimento de novas bandas. Se fores a ver ao pormenor, à excepção de um ou outro caso, as poucas bandas terceirenses que em 2006 estão no activo são praticamente as mesmas que existiam quando nos formámos, há cerca de 3 anos atrás, não existindo assim sangue novo a renovar o movimento musical.
Entretanto, desde essa altura, muita coisa boa vos tem acontecido... Uma participação no concurso Angra Rock, uma maqueta e dois EP’s, vários concertos ao vivo, inclusive, alguns no continente!! Que balanço fazes de todo esse tempo?
Mesmo com pouco tempo de formação, estamos bastante satisfeitos com o decorrer dos acontecimentos. Temos já alguns registos a circular e as actuações ao vivo vão surgindo e o reconhecimento a nível nacional também. Pretendemos continuar com a mesma, ou mais, força de vontade que até agora e demonstrar o nosso trabalho ao maior número de pessoas.
Os Respostas Simples, actualmente, estão sediados no continente, certo?
Sim, de momento estamos os três a viver no continente português. Embora a insularidade não seja mais uma barreira a combater, infelizmente a distância ainda continua a dificultar-nos a vida: vivo em Lisboa, o João Pedro na Covilhã e o Tiago em Vila Real. Contudo, após viver largos anos no arquipélago, esta distância não nós é assim tão significativa e, felizmente, conseguimos sempre até agora arranjar tempo e forma de ensaiarmos, gravarmos e actuarmos ao vivo.
Como tem sido a experiência no continente a nível de concertos? Sentes que o público é mais fervoroso, adere mais?
Sim, sem dúvida alguma. Nos Açores, mais propriamente na Terceira, existe ainda de certa forma desconhecimento e não à vontade das pessoas em relação aos mosh pits, slam dancing, stage diving e afins, o que acaba por empobrecer os concertos do género. Aqui, no continente português, sentes que o público está mais liberto e reage mais à música havendo por regra mosh, as pessoas a cantarem, a divertirem-se e, inclusive, vêm falar contigo no fim dos concertos. São gestos como estes a que todos nós damos grande valor.
Vocês sempre manteram uma relação muito própria e proveitosa com o continente desde o início. Já a vossa primeira maqueta foi gravada no continente...
É irónico que, para demonstrarmos o nosso trabalho no arquipélago, tivemos que nos deslocar ao continente, já que os estúdios locais cobravam (e cobram) imenso e a qualidade em relação ao preço deixa algo a desejar. Estando os Resposta Simples inseridos no meio punk hardcore, tivemos conhecimento de alguns estúdios da "cena" que cobravam preços acessíveis com produtores que sabiam que som queríamos produzir e que, além disso, eram impecáveis enquanto pessoas. Acabámos assim por produzir a nossa maqueta nos estúdios “Burning Desire”, em Bombarral, e os dois EPs em Coimbra, nos estúdios “SoundChemistry”.
O que achas que falta realmente às bandas de cá para terem verdadeira projecção e se conseguirem lançar? No vosso caso, digamos que vocês se “desenrascaram” muito bem, imbuídos pelo verdadeiro espírito DIY (Do It Yourself), coisa que talvez falte a muitas bandas de cá... Talvez a insularidade não seja assim um problema tão grave quanto isso, mas sim a falta de empenho e espírito de sacrifício...
Sim, creio que por muitas vezes as oportunidades estão lá, só que não são aproveitadas por uma ou outra razão, talvez maioritariamente por falta de empenho das pessoas. Além do talento, é preciso também muito trabalho de fundo e sacrifício (que não é por muitas vezes reconhecido) e, por vezes, as bandas não estão dispostas a isso. O espírito DIY foi algo que certamente nos impulsionou, inspirou e fez acreditar em nós enquanto banda.
Vocês já contam com três registos... No entanto, só conheço dois! Por isso te pedia que nos traçasses um perfil destes três trabalhos.
Contamos com um total de três registos, tendo lançado cada um em cada ano da nossa existência. Sendo assim, em 2003 lançámos a nossa maqueta que é um registo punk rock cru, rápido e sem “papas na língua”. Em 2004, editámos o EP "Teatro da Vida" que devido à entrada de um guitarrista solo, o som acabou por sofrer algumas modificações, tendo comportado algumas influências metal, com solos conjuntos e um pouco mais melodioso de certa forma. Por fim, em 2005, lançámos pela nossa editora - Impulso Produções - o EP "Revolução Pessoal" que, na minha opinião, é o nosso melhor registo, tanto a nível de masterização como a nível temático. Pode-se verificar neste EP um maior crescimento musical, uma outra maturidade, estando sempre presente uma velocidade acelerada.
Uma das diferenças que noto entre “Revolução Pessoal” e a vossa maqueta de estreia, é a ausência dos solos... De facto, PP abandonou a banda e é uma pena... Têm ideia de trazer mais um guitarrista para a banda no futuro?
Em princípio, isso não deverá acontecer. Como entendes, os Resposta Simples são um grupo muito restrito e a questão da disponibilidade de horários e tempo obriga-nos de certa forma a perdurar num trio de modo a continuarmos com o projecto com a mesma energia. Temos actuado nestes últimos tempos com uma certa regularidade no arquipélago e no continente português e a inclusão de uma quarta pessoa que não fosse compatível em termos de tempo, iria com certeza acabar por reduzir o nosso ritmo de trabalho, o que certamente não desejamos.
Pelo que li, uma das maiores críticas ao vosso último trabalho foi a questão da produção. De qualquer maneira optaram por gravar de novo no mesmo estúdio...
Realmente, no nosso primeiro EP, tivemos alguns dificuldades quanto à produção do trabalho, mas isso deveu-se à reduzida disponibilidade económica que possuíamos na altura, o que nos obrigou a gravar e masterizar os temas de forma muito rápida e isso acabou por reflectir-se no "Teatro da Vida". Contudo, decidimos gravar o EP “Revolução Pessoal” novamente nos estúdios SoundChemistry pois sabíamos que, com mais tempo de estúdio, os erros de produção do primeiro single seriam sanados e sairíamos de lá com um bom trabalho, o que felizmente acabou por acontecer.
Lírica e conceptualmente, como achas que a banda tem evoluído nestes três anos? Que temas continuam a demover os Resposta Simples a expressar a sua revolta e raiva contra a sociedade?
A banda tem evoluído, certamente, de ambas as formas. Se antes encontravas na maqueta temas mais ásperos e crus como “Capitalismo é merda” ou "Caos total", acabas por te deparar no segundo EP com músicas como "Memória Desvanecida" e "Dor e Agonia". São temas mais maduros e virados agora para o introspectivo, estando sempre a questão social presente, talvez agora mais dissolvida na própria letra do que precisamente nos títulos das canções.
O EP já saiu esse Verão... A partir daí como têm sido as reacções? Estão satisfeitos?
Felizmente tem existido um bom feedback por parte da crítica, o que nos tem surpreendido de uma forma positiva. Reviews com boas observações em blogs como "Metal Incandescente" e "A Trompa", que se referem a nós como “um novo nome a reter” no meio punk hardcore, comentário que nos encorajou ainda mais com o nosso trabalho. Temos de momento já poucos exemplares em mão, estando este segundo EP dentro de pouco a esgotar-se, tal como aconteceu com a maqueta e o "Teatro da Vida".
Por falar nisso, o vosso novo EP está a circular em que sítios mais propriamente? Estrangeiro também?
O EP encontra-se disponível em quase todas as distros portuguesas do meio punk e hardcore. Podes encomendá-lo através da Ataque Sonoro, Dirty House, Rastilho, Invasion Rock Distro, Some Farwest Noizes, Hard to Break Recs, entre outros. Além das distribuidoras, está também disponível em algumas lojas no continente português como a Jurassic Shop ou na própria Ilha Terceira, como na Xamarrita. Quanto ao estrangeiro, estamos agora em conversações para distribuição do EP na Turquia, através da distro Attack To Society, que outrora lançou lá a nossa maqueta.
Como tem decorrido a promoção de “Revolução Pessoal”, nomeadamente a nível de concertos?
A nível de concertos tem corrido de forma muito positiva. Fomos já convidados várias vezes para actuar no continente português como, por exemplo, no Lotús Bar em Cascais e agora no HardClub em Gaia, no qual vamos partilhar novamente o palco com os Freedoom. Temos já mais algumas datas que iremos dar a conhecer mais à frente.
Vocês possuem uma editora própria, certo? Foi criada só com o intuito de promover a banda ou vocês também estão a assinar outras?
Sim, como deves saber possuimos a Impulso Produções. Esta foi criada com o propósito de lançar bandas locais, o que acabou por acontecer primeiramente com os Manifesto, depois com o nosso EP e futuramente com a banda punk angrense Fora de Mão. A Impulso está também de momento a tratar de uma compilação punk hardcore nacional dupla chamada “Ataque Frontal”, que contará com um total de 50 bandas.
Também li que vocês, em princípios de 2006, vão finalmente gravar o vosso primeiro álbum! O que nos podes adiantar sobre isso?
A gravação deste nosso primeiro álbum é algo bastante significativo e que nos entusiasma verdadeiramente. Posso antecipar que iremos entrar nos estúdios Restart em princípios de Fevereiro, para gravar um total de 11 temas e também um videoclip. Em princípio, o CD será editado pela Impulso Produções e distribuído pela Musica Activa, o que garantirá uma boa distribuição por todo o país. Temos mais umas surpresas reservadas, mas quanto a estas será o próprio tempo a pô-las a descoberto. (risos)
Para terminar, desejos para 2006 e uma mensagem para os leitores da SounD(/)ZonE...
Da nossa parte desejamos a todos um 2006 repleto de muita música, imensas oportunidades e que as iniciativas não deixem de surgir (não se deixem abater apesar das contrariedades pois, acreditem ou não, estas irão estar sempre presentes). Por fim, queremos agradecer a tua atenção nos Resposta Simples e desejar-te os parabéns pelo bom trabalho aqui desenvolvido!
PLAYLIST PAULO LEMOS
Hatebreed - "Perseverance"
For The Glory – "For The Glory"
Ratos de Porão – "Onisciente Colectivo"
Sin Dios – "Ódio al Imperio"
The Parkinsons – "Down With The Old World"
www.respostasimples.net
Nuno Costa
Formados no ano de 2003, os Resposta Simples são mais um manifesto de que o punk/hardcore vive na Terceira, e com saúde. Após lançarem uma maqueta - “Resposta Simples” – e um EP – “Teatro da Vida”, eis que nos chega em finais de 2005 mais um trabalho, o EP “Revolução Pessoal”. Muito dinâmicos na forma como se movimentam dentro do meio musical, os Resposta Simples souberam sempre lutar pela sua projecção, bem como procurar as oportunidades certas e disso valeu-lhes três trabalhos gravados no continente e várias concertos por terras continentais. Neste momento, a banda encontra-se sediada em Lisboa e prepara-se para começar a gravar o seu primeiro álbum em Fevereiro próximo. Sobre estes e muitos outros pormenores, a SounD(/)ZonE falou com o guitarrista e vocalista Paulo Lemos.
Conta-nos como foi que se conheceram e formaram os Resposta Simples?
Somos três amigos de longa data, conhecemo-nos a todos desde há largos anos e a ideia de criar um projecto musical foi algo que sempre nos suscitou interesse e que passou assim de uma simples conversa para o real. Formámo-nos deste modo em inícios de 2003. Embora tenhamos sofrido algumas mudanças desde a nossa formação, de momento encontro-me na voz e guitarra, o João Pedro no baixo e coros e o Tiago na bateria e também nos coros.
Quer-me parecer que a nível de punk rock, a Terceira é realmente o foco por excelência de bandas do género nos Açores...Creio até que se pode falar num movimento, certo?
Bem, posso dizer-te desde já que essa questão é um pouco ambígua. Realmente, é um facto que a Terceira reúne grande número de bandas do género, mas o dito cujo "movimento" acaba por se entrelaçar, inevitavelmente, na íntegra com o movimento musical terceirense, entendes? Ou seja, não existe, por enquanto, uma actividade coesa e um público específico para este estilo, sendo que os concertos do género ocorrem sempre com misturas de diferentes bandas de diferentes estilos musicais.
Mas de facto, a Terceira preservou esta face musical até aos dias de hoje...Pelo contrário, em S. Miguel as coisas mudaram muito ao longo dos anos e houve uma certa actualização do rock e do metal. A Terceira parece-me ter uma personalidade musical muito própria. Não se vê, por exemplo, por lá bandas de nu-metal, nem black, nem thrash metal... Como analisas essa situação?
Infelizmente, essa situação não está apenas circunscrita às bandas de metal, mas sim à sua grande generalidade, independentemente do estilo musical. Existe presentemente um atenuamento (e alguma falta de vontade, na minha opinião) na Ilha por parte dos antigos e novos projectos. Existem no activo ainda algumas bandas de metal e posso dizer-te que, em comparação, subsiste um maior público mais virado para o metal do que para o punk e hardcore. O problema é inevitavelmente o desinteresse das pessoas pelo rock, o que se traduz num decréscimo de músicos e, consequentemente, na falta de surgimento de novas bandas. Se fores a ver ao pormenor, à excepção de um ou outro caso, as poucas bandas terceirenses que em 2006 estão no activo são praticamente as mesmas que existiam quando nos formámos, há cerca de 3 anos atrás, não existindo assim sangue novo a renovar o movimento musical.
Entretanto, desde essa altura, muita coisa boa vos tem acontecido... Uma participação no concurso Angra Rock, uma maqueta e dois EP’s, vários concertos ao vivo, inclusive, alguns no continente!! Que balanço fazes de todo esse tempo?
Mesmo com pouco tempo de formação, estamos bastante satisfeitos com o decorrer dos acontecimentos. Temos já alguns registos a circular e as actuações ao vivo vão surgindo e o reconhecimento a nível nacional também. Pretendemos continuar com a mesma, ou mais, força de vontade que até agora e demonstrar o nosso trabalho ao maior número de pessoas.
Os Respostas Simples, actualmente, estão sediados no continente, certo?
Sim, de momento estamos os três a viver no continente português. Embora a insularidade não seja mais uma barreira a combater, infelizmente a distância ainda continua a dificultar-nos a vida: vivo em Lisboa, o João Pedro na Covilhã e o Tiago em Vila Real. Contudo, após viver largos anos no arquipélago, esta distância não nós é assim tão significativa e, felizmente, conseguimos sempre até agora arranjar tempo e forma de ensaiarmos, gravarmos e actuarmos ao vivo.
Como tem sido a experiência no continente a nível de concertos? Sentes que o público é mais fervoroso, adere mais?
Sim, sem dúvida alguma. Nos Açores, mais propriamente na Terceira, existe ainda de certa forma desconhecimento e não à vontade das pessoas em relação aos mosh pits, slam dancing, stage diving e afins, o que acaba por empobrecer os concertos do género. Aqui, no continente português, sentes que o público está mais liberto e reage mais à música havendo por regra mosh, as pessoas a cantarem, a divertirem-se e, inclusive, vêm falar contigo no fim dos concertos. São gestos como estes a que todos nós damos grande valor.
Vocês sempre manteram uma relação muito própria e proveitosa com o continente desde o início. Já a vossa primeira maqueta foi gravada no continente...
É irónico que, para demonstrarmos o nosso trabalho no arquipélago, tivemos que nos deslocar ao continente, já que os estúdios locais cobravam (e cobram) imenso e a qualidade em relação ao preço deixa algo a desejar. Estando os Resposta Simples inseridos no meio punk hardcore, tivemos conhecimento de alguns estúdios da "cena" que cobravam preços acessíveis com produtores que sabiam que som queríamos produzir e que, além disso, eram impecáveis enquanto pessoas. Acabámos assim por produzir a nossa maqueta nos estúdios “Burning Desire”, em Bombarral, e os dois EPs em Coimbra, nos estúdios “SoundChemistry”.
O que achas que falta realmente às bandas de cá para terem verdadeira projecção e se conseguirem lançar? No vosso caso, digamos que vocês se “desenrascaram” muito bem, imbuídos pelo verdadeiro espírito DIY (Do It Yourself), coisa que talvez falte a muitas bandas de cá... Talvez a insularidade não seja assim um problema tão grave quanto isso, mas sim a falta de empenho e espírito de sacrifício...
Sim, creio que por muitas vezes as oportunidades estão lá, só que não são aproveitadas por uma ou outra razão, talvez maioritariamente por falta de empenho das pessoas. Além do talento, é preciso também muito trabalho de fundo e sacrifício (que não é por muitas vezes reconhecido) e, por vezes, as bandas não estão dispostas a isso. O espírito DIY foi algo que certamente nos impulsionou, inspirou e fez acreditar em nós enquanto banda.
Vocês já contam com três registos... No entanto, só conheço dois! Por isso te pedia que nos traçasses um perfil destes três trabalhos.
Contamos com um total de três registos, tendo lançado cada um em cada ano da nossa existência. Sendo assim, em 2003 lançámos a nossa maqueta que é um registo punk rock cru, rápido e sem “papas na língua”. Em 2004, editámos o EP "Teatro da Vida" que devido à entrada de um guitarrista solo, o som acabou por sofrer algumas modificações, tendo comportado algumas influências metal, com solos conjuntos e um pouco mais melodioso de certa forma. Por fim, em 2005, lançámos pela nossa editora - Impulso Produções - o EP "Revolução Pessoal" que, na minha opinião, é o nosso melhor registo, tanto a nível de masterização como a nível temático. Pode-se verificar neste EP um maior crescimento musical, uma outra maturidade, estando sempre presente uma velocidade acelerada.
Uma das diferenças que noto entre “Revolução Pessoal” e a vossa maqueta de estreia, é a ausência dos solos... De facto, PP abandonou a banda e é uma pena... Têm ideia de trazer mais um guitarrista para a banda no futuro?
Em princípio, isso não deverá acontecer. Como entendes, os Resposta Simples são um grupo muito restrito e a questão da disponibilidade de horários e tempo obriga-nos de certa forma a perdurar num trio de modo a continuarmos com o projecto com a mesma energia. Temos actuado nestes últimos tempos com uma certa regularidade no arquipélago e no continente português e a inclusão de uma quarta pessoa que não fosse compatível em termos de tempo, iria com certeza acabar por reduzir o nosso ritmo de trabalho, o que certamente não desejamos.
Pelo que li, uma das maiores críticas ao vosso último trabalho foi a questão da produção. De qualquer maneira optaram por gravar de novo no mesmo estúdio...
Realmente, no nosso primeiro EP, tivemos alguns dificuldades quanto à produção do trabalho, mas isso deveu-se à reduzida disponibilidade económica que possuíamos na altura, o que nos obrigou a gravar e masterizar os temas de forma muito rápida e isso acabou por reflectir-se no "Teatro da Vida". Contudo, decidimos gravar o EP “Revolução Pessoal” novamente nos estúdios SoundChemistry pois sabíamos que, com mais tempo de estúdio, os erros de produção do primeiro single seriam sanados e sairíamos de lá com um bom trabalho, o que felizmente acabou por acontecer.
Lírica e conceptualmente, como achas que a banda tem evoluído nestes três anos? Que temas continuam a demover os Resposta Simples a expressar a sua revolta e raiva contra a sociedade?
A banda tem evoluído, certamente, de ambas as formas. Se antes encontravas na maqueta temas mais ásperos e crus como “Capitalismo é merda” ou "Caos total", acabas por te deparar no segundo EP com músicas como "Memória Desvanecida" e "Dor e Agonia". São temas mais maduros e virados agora para o introspectivo, estando sempre a questão social presente, talvez agora mais dissolvida na própria letra do que precisamente nos títulos das canções.
O EP já saiu esse Verão... A partir daí como têm sido as reacções? Estão satisfeitos?
Felizmente tem existido um bom feedback por parte da crítica, o que nos tem surpreendido de uma forma positiva. Reviews com boas observações em blogs como "Metal Incandescente" e "A Trompa", que se referem a nós como “um novo nome a reter” no meio punk hardcore, comentário que nos encorajou ainda mais com o nosso trabalho. Temos de momento já poucos exemplares em mão, estando este segundo EP dentro de pouco a esgotar-se, tal como aconteceu com a maqueta e o "Teatro da Vida".
Por falar nisso, o vosso novo EP está a circular em que sítios mais propriamente? Estrangeiro também?
O EP encontra-se disponível em quase todas as distros portuguesas do meio punk e hardcore. Podes encomendá-lo através da Ataque Sonoro, Dirty House, Rastilho, Invasion Rock Distro, Some Farwest Noizes, Hard to Break Recs, entre outros. Além das distribuidoras, está também disponível em algumas lojas no continente português como a Jurassic Shop ou na própria Ilha Terceira, como na Xamarrita. Quanto ao estrangeiro, estamos agora em conversações para distribuição do EP na Turquia, através da distro Attack To Society, que outrora lançou lá a nossa maqueta.
Como tem decorrido a promoção de “Revolução Pessoal”, nomeadamente a nível de concertos?
A nível de concertos tem corrido de forma muito positiva. Fomos já convidados várias vezes para actuar no continente português como, por exemplo, no Lotús Bar em Cascais e agora no HardClub em Gaia, no qual vamos partilhar novamente o palco com os Freedoom. Temos já mais algumas datas que iremos dar a conhecer mais à frente.
Vocês possuem uma editora própria, certo? Foi criada só com o intuito de promover a banda ou vocês também estão a assinar outras?
Sim, como deves saber possuimos a Impulso Produções. Esta foi criada com o propósito de lançar bandas locais, o que acabou por acontecer primeiramente com os Manifesto, depois com o nosso EP e futuramente com a banda punk angrense Fora de Mão. A Impulso está também de momento a tratar de uma compilação punk hardcore nacional dupla chamada “Ataque Frontal”, que contará com um total de 50 bandas.
Também li que vocês, em princípios de 2006, vão finalmente gravar o vosso primeiro álbum! O que nos podes adiantar sobre isso?
A gravação deste nosso primeiro álbum é algo bastante significativo e que nos entusiasma verdadeiramente. Posso antecipar que iremos entrar nos estúdios Restart em princípios de Fevereiro, para gravar um total de 11 temas e também um videoclip. Em princípio, o CD será editado pela Impulso Produções e distribuído pela Musica Activa, o que garantirá uma boa distribuição por todo o país. Temos mais umas surpresas reservadas, mas quanto a estas será o próprio tempo a pô-las a descoberto. (risos)
Para terminar, desejos para 2006 e uma mensagem para os leitores da SounD(/)ZonE...
Da nossa parte desejamos a todos um 2006 repleto de muita música, imensas oportunidades e que as iniciativas não deixem de surgir (não se deixem abater apesar das contrariedades pois, acreditem ou não, estas irão estar sempre presentes). Por fim, queremos agradecer a tua atenção nos Resposta Simples e desejar-te os parabéns pelo bom trabalho aqui desenvolvido!
PLAYLIST PAULO LEMOS
Hatebreed - "Perseverance"
For The Glory – "For The Glory"
Ratos de Porão – "Onisciente Colectivo"
Sin Dios – "Ódio al Imperio"
The Parkinsons – "Down With The Old World"
www.respostasimples.net
Nuno Costa