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Entrevista Thomas Jensen/Nick Hüper - Wacken Open Air

A CAMINHO DE “MECA”...

A pequena e pacata vila de Wacken, com cerca de 1 750 habitantes, longe estaria alguma vez de pensar que haveria de ficar sobejamente popular graças a um festival de Metal. A verdade é que a partir de 1990, inadvertidamente, algo de grande começou a ser semeado por um grupo de jovens locais e que facilmente começou a suplantar o símbolo da vida campestre que prevalecia nesta localidade do norte da Alemanha. No fundo, o arrojo da sua mentalidade começou a fertilizar uma ideia que se iniciou com um pequeno festival de dois dias e com seis bandas, em 1990, crescendo depois para um formato e números que se traduzem actualmente em cerca de 80 bandas e assistências superiores a 60 mil pessoas por ano. A filosofia underground do festival é um dos aspectos que realça a sua mística única, mas será muito redutor classificar o Wacken Open Air apenas por este prisma. É um verdadeiro festival, com verdadeiro espírito e magia, grandes bandas e um sem número de actividades que deliciam todos quantos visitam este local anualmente. É caso para dizer que o WOA é já a autêntica Meca do Metal mundial e que, para gáudio de muitos, estará já de portais abertos para receber muitos milhares de “fiéis” já nos próximos dias 2, 3 e 4 de Agosto, onde alguns dos mestres de cerimónia serão os Iced Heart, Blind Guardian, Immortal, In Flames, Saxon, Dimmu Borgir e Type O Negative. Para conhecermos melhor a história deste mítico festival tivemos a honra de trocar algumas palavras com duas das pessoas envolvidas na produção e organização do festival – Thomas Jensen e Nick Hüper.

Quais são propriamente os vossos cargos na organização do WOA?
Nick Hüper:
O Thomas é um dos três chefes organizadores para além da Sheree e o Holger. Eu trabalho no departamento de imprensa e promoção do evento.

Inicialmente o que vos passou pela cabeça para criarem o festival? Será que podemos supor que na origem deste está uma ideia lançada ao ar, descomprometidamente, no meio de uma conversa de bar sobre metal entre um grupo de amigos de longa data? Aliás, como acontece com tantos momentos a que chamamos “abençoados”...
Thomas Jensen:
[risos] Nem por isso, foi um momento totalmente ingénuo. No primeiro ano nós não fazíamos a mínima ideia do trabalho e dos problemas que um festival podia dar. Pensamentos como “nunca nos renderemos” ou “vamos provar isso ao mundo” só surgiram mais tarde quando começámos a perder muito dinheiro, nomeadamente em 1992/93, e quando toda gente nos tentava convencer a promovermos um festival convencional com cartazes variados para agradar ao público em geral. Já que falas em momentos mágicos ou “abençoados”, digo-te que nesta altura os fãs começaram a ligar-nos a perguntar quando decorria a próxima edição do festival porque queriam marcar as suas férias. Para além disso, os nossos amigos começaram a pressionar-nos para que anunciássemos a próxima edição do festival e foi nesta altura que começámos a perceber que algo de bom se estava a passar. Mas até atingirmos sucesso foram precisos quatro ou cinco anos...

Já agora Nick, a partir de quando passaste a fazer parte da equipa do WOA?
NH:
Fiz um estágio enquanto estudava na equipa do WOA no início de 2004. Por alguma razão continuo por cá e ainda não tive tempo de terminar os meus estudos.

Podemos falar de quantas pessoas que estão envolvidas na organização do festival?
NH:
Existem 17 pessoas a trabalhar para a ICS, a companhia que gere o WOA, mas ao todo, contabilizando outras companhias, nomeadamente de palco, produção do festival, segurança, produção artística, etc, falamos de mais de 800 pessoas a trabalhar para o festival.

Aproximadamente com que antecedência começam a preparar cada edição do festival?
NH:
O planeamento de cada edição do WOA normalmente arranca com mais de um ano de antecedência. Para preparar toda a área do festival – lembrem-se que não existe nenhuma infra-estrutura fixa no recinto onde durante o resto do ano as vacas pastam – precisamos de duas semanas. O mesmo período é preciso para desimpedir a área e limpar tudo.

Desfrutam de uma área com que dimensão para o festival?
TJ:
De momento, ocupamos uma área de 130 hectares [hectar = 100mx100m]

Wacken é uma pequena e pacata vila. Como é que os seus habitantes encaram a invasão massiva de pessoas neste local por altura do festival?
TJ:
Encaram bem porque o Holger e eu crescemos cá e a Sheree tem vivido em Wacken na casa do meu pai. Por outro lado, as pessoas não se sentem muito "chocadas" porque o festival cresceu muito gradual e naturalmente. Tínhamos montes de discussões, mas no fim de contas as pessoas começaram a gostar do festival ou pelo menos não é nada que os assuste. Para além disso, ao fim destes anos todos o WOA tornou-se parte da identidade deste povo e até, neste momento, muitos deles estão envolvidos nele e contentes por isso.

Imagino que em 1990, quando se deu a primeira edição, vocês estariam longe de pensar que o WOA poderia tornar-se no grande festival que é hoje...
TJ:
Tens toda a razão, nem nos meus melhores sonhos podia imaginar que o festival pudesse atingir a dimensão que tem hoje. Nunca esperei uma coisa dessas. Ás vezes penso que o festival tem “vida” própria. De facto, os grandes problemas foram mesmos os financeiros...

Em 17 anos de festival acredito que existirão muitos momentos marcantes vividos durante este. Queres falar-nos de alguns?
TJ:
Bom, os momentos verdadeiramente marcantes são privados. A nível musical, diria que foi a actuação dos Rose Tatoo, uma vez que sou fã deles desde finais dos anos 70.

Infelizmente, a vida do WOA não se faz só de histórias felizes... Em 2005, deu-se um trágico acidente que vitimou uma pessoa de 37 anos que chocou alcoolizada contra uma ambulância. No entanto, estamos a falar de casos isolados...
TJ:
Nós e toda a equipa sentimo-nos responsáveis pelos nossos convidados/fãs e bandas. Por isso, toda a vez que ocorre um acidente sentimo-nos muito aborrecidos. É por isso que realizamos muitas reuniões com as equipas de segurança muito antes do festival e trabalhamos muito de perto com as autoridades locais, cruz-vermelha, polícia, etc...

Manter a segurança no recinto é uma tarefa muito complicada? Como descreve a atitude do público e o ambiente que envolve o WOA?
TJ:
Os promotores, a segurança e a equipa de produção têm que perceber que trabalhamos para os fãs e que são eles que nos pagam. Logo, é nossa obrigação fazer tudo para proporcionarmo-lhes um ambiente fantástico. É este o espírito que tentamos espalhar pela equipa do WOA. A maior parte das vezes no passado as coisas funcionaram bem mas não pensem que somos anjos. Às vezes existem grandes discussões, “berros” e gente a “passar-se”! [risos]

E relativamente aos pontos mais positivos do festival? Ou seja, o que faz, de facto, as pessoas nutrirem um sentimento tão especial pelo WOA?
TJ:
Terá que perguntar-lhes! [risos] Eu penso que o WOA tem uma relação muito próxima com a liberdade de escolha. Toda a gente interpreta de forma diferente o festival, mas tens sempre uma hipótese. Nós não forçamos ninguém a ver esta ou aquela banda, embora, certamente, por vezes a oferta seja tão grande que as pessoas não conseguem decidir quais as que querem ver. Mas esta é a natureza da “besta”! [risos] O WOA é como que um grande barbecue com a família, uma reunião ou o que quer que um indivíduo queira que ele seja...

Creio que hoje em dia já podemos apelidar o WOA da Meca do Metal! Todo o metaleiro que se preze “deve” ir ao WOA pelo menos uma vez na vida! [risos]
TJ:
Gosto da ideia… [risos]

Sem dúvida que o WOA é já um festival para onde rumam todos os anos milhares de pessoas dos mais recônditos sítios do mundo. Representa já um culto para os metaleiros! Qual foi a origem mais imprevisível de que encontraste pessoas no festival?
TJ:
Da Nova Zelândia, mas ainda continuo à espera de reservas do Pólo Sul! [risos]

Pode não ter consciência disso, mas muitas pessoas dos Açores viajam anualmente para verem o WOA! Vá, peço-lhe um cumprimento para eles! [risos]
TJ:
De facto, fico muito orgulhoso quando as pessoas viajam de tão longe apenas com o intuito de apoiar o festival. Por esta razão, um grande “obrigado” para eles! Já agora, a minha contabilista – mulher mais importante da equipa a seguir à Sheree – quer passar férias nos Açores! [risos]

Por acaso, já teve oportunidade de falar com alguém dos Açores no festival?
TJ:
Não que me lembre... Para isso seria melhor falar com a Sheree, ela tem uma memória de elefante! [risos] Lembra-se de toda a gente e de cada detalhe. Eu sou muito mau nesse aspecto! [risos]

Muitas das histórias interessantes sobre o WOA constam no “WOA History Book”, certo?
TJ:
Nem todas constam do livro e penso que a tradução não é das melhores porque estávamos a ficar sem tempo para concluir o projecto. Mas foi uma boa altura para começarmos a registar muitas coisas sobre o festival...

Para além do festival propriamente dito, existem muitas outras ocupações à sua volta, nomeadamente o WOA Comics, o torneio de futebol, o karaoke, a webcam, etc... Fala-nos desses pontos.
TJ:
Bom, são de facto muitos para mencionar. Ao invés disso, aconselhava todos a darem uma olhada a http://www.wacken.com/.

Este ano decorre mais uma edição do concurso Metal Battle, mais um grande atractivo do festival. Pedia-lhe que explicasse a sua filosofia...
NH:
É um concurso para bandas de Metal sem contracto. O Metal Battle cresceu muito rapidamente nos últimos três anos e neste momento é disputado em 16 países como, por exemplo, a Finlândia, a Jugoslávia, a Polónia, a Áustria, a Suiça, os Países Baixos, a França, o Brasil, entre muitos outros. O Metal Battle é avaliado por um júri e não pelo público como acontece com a maioria dos concursos actualmente. Nós queremos que a melhor banda ganhe e não aquela que levou a família toda e amigos para o concurso. Os vencedores de cada país disputam a final internacional do Metal Battle no WOA Wet Stage. O vencedor internacional do concurso ganha um contracto com a Armageddon Music, mas não é tudo. Oferecemos muitos outros prémios dos nossos parceiros e patrocinadores como, por exemplo, a Marshall, Dean, Mapex, Sabian, Vic Firth, Shure e Genz Benz. Por isso, toda a banda que fizer parte da final internacional vai ganhar um prémio. Para além de que têm a oportunidade de tocar no WOA o que acho que, por si só, é óptimo! É muito importante para nós apoiar a cena underground porque achamos que nela existem muitas bandas talentosas que devem ter a possibilidade de se apresentarem a um público maior! Obtenham mais informações em http://www.metal-battle.com/.

Relativamente ao cartaz desse ano, pedia-lhe que nos fizesse uma breve apresentação.
NH:
Este ano o cartaz é composto por cerca de 80 bandas onde se destacam, entre outras, os Saxon, Rose Tattoo, Iced Earth, Immortal, Sodom, Blind Guardian, In Flames, Type O Negative e Overkill. Também interesso-me sempre bastante pelas bandas do Wet Stage. Este ano, por exemplo, actuam os Drone, vencedores da edição do ano passado do Metal Battle. Podem dar uma vista de olhos no cartaz completo no site do festival. Mas, como em todos os anos, os fãs é que são os “cabeças-de-cartaz” e vamos, com certeza, celebrar mais uma grande e tranquila festa de metal em Wacken!

Será que se torna cada vez mais complicado elaborar um cartaz para o WOA? Hoje em dia a concorrência é muito maior com grandes festivais a decorrerem um pouco por toda a Europa...
TJ:
Hmm, vejamos: para o próximo ano já temos confirmados os Iron Maiden e os Kreator, por isso... Adivinha-se que 2008 seja um ano muito forte.

Prevê-se alguma melhoria no WOA deste ano em relação à passada edição?
TJ:
Eu penso que arranjámos um sítio melhor para o Party Stage. Para além disso, creio que as outras melhorias são apenas a nível logístico.

Esclarece-nos como as pessoas podem comprar bilhetes, quanto custam, etc...
TJ:
Relativamente a 2007 a lotação está esgotada. Para 2008, já podem comprar bilhetes através do site do festival ou http://www.metaltix.com/.

Para terminar pedia-lhe uma última mensagem para o público que escolheu deslocar-se ao WOA este ano.
TJ:
O WOA é simplesmente uma celebração de metal! Se não gostarem deste estilo de música não compareçam, mas se gostarem são bem bem-vindos quer faça sol, quer faça chuva.

www.wacken.com

Nuno Costa

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