Review
COMITY
“...As Everything Is A Tragedy”
[CD – Appease Me/PHD/Recital]
Lançado em meados deste ano, o segundo álbum dos franceses Comity dá mostras de que por terras gaulesas se começam a explorar cada vez mais tipos de sonoridades e a criar uma nata de músicos cada vez mais empenhada em extravasar, sem quaisquer temores, as tendências mais comuns e/ou mainstream da música actual. Se bem que França já nos brindou com nomes importantes da cena europeia, como são exemplo os Scarve ou mesmo os Pleymo, mas ainda assim são em número insuficiente para tornar este num dos países reconhecidamente mais prolíferos a nível de sons pesados. No caso dos Comity as tendências declinam-se e investe-se numa abordagem extrema e muito experimental que, embora não seja a aposta teoricamente ideal para tirar este país de um certo "anonimato", ajuda a vê-lo como um local onde os músicos são ousados e excêntricos.
Os Comity têm já dez anos de existência mas só agora chegam ao seu segundo trabalho, tendo gravado, ao longo de todo este tempo, uma demo, um split CD com os [também] franceses XII intitulado “The Catharsis Syntax Project” e o álbum de estreia – “The Deus Ex-Machina As A Forgotten Genius”. Nome pertinente e complexo, hein? Pois como toda a obra dos Comity a sonoridade da banda é algo quase bizarro, embrulhado num envólucro metalcore, mas que é insuficiente para definir o que realmente fazem. Só referindo o esquizofrenismo de The Dillinger Escape Plan ou Isor para terem uma ideia do que este quarteto, destemidamente, produz. Ainda assim, consegue ser muito mais obscuro, extremo e alternativo do que os nomes atrás mencionados. Aqui tudo corre a uma velocidade vertiginosa, até as 99 faixas do álbum que, no fundo, não são mais do que uma única peça musical interligada. Os riffs matemáticos cruzam-se com investidas que poderiam estar no trabalho mais necro de uma qualquer banda de death ou black metal mais primitivo. Isto acaba por resultar, como já devem ter percebido, num trabalho muito exigente para as nossas mentes e ouvidos.
A vontade de desnortear o ouvinte é, diria, o principal objectivo dos Comity e isto eles conseguem com toda a facilidade. Porém, a forma como todo os temas foram criados não deixam dúvidas acerca da intencionalidade e maneira cerebral como a banda trabalha. Embora isto seja difícil assumir em alguns momentos... O caos [controlado, lá está] é aqui, sem dúvida, a linha orientadora, mas podemos ainda encontrar alguns momentos mais calmos na segunda metade do disco. Alguns bastante melódicos até mas, na maior parte, sempre decadentes e impregnados de dissonância. Quererão os Comity atingir algo mais do que o underground? Provavelmente não, mas é certo que, pela sua valentia, coragem e ousadia ganham aqui o nosso respeito.
[8/10] N.C.
“...As Everything Is A Tragedy”
[CD – Appease Me/PHD/Recital]
Lançado em meados deste ano, o segundo álbum dos franceses Comity dá mostras de que por terras gaulesas se começam a explorar cada vez mais tipos de sonoridades e a criar uma nata de músicos cada vez mais empenhada em extravasar, sem quaisquer temores, as tendências mais comuns e/ou mainstream da música actual. Se bem que França já nos brindou com nomes importantes da cena europeia, como são exemplo os Scarve ou mesmo os Pleymo, mas ainda assim são em número insuficiente para tornar este num dos países reconhecidamente mais prolíferos a nível de sons pesados. No caso dos Comity as tendências declinam-se e investe-se numa abordagem extrema e muito experimental que, embora não seja a aposta teoricamente ideal para tirar este país de um certo "anonimato", ajuda a vê-lo como um local onde os músicos são ousados e excêntricos.
Os Comity têm já dez anos de existência mas só agora chegam ao seu segundo trabalho, tendo gravado, ao longo de todo este tempo, uma demo, um split CD com os [também] franceses XII intitulado “The Catharsis Syntax Project” e o álbum de estreia – “The Deus Ex-Machina As A Forgotten Genius”. Nome pertinente e complexo, hein? Pois como toda a obra dos Comity a sonoridade da banda é algo quase bizarro, embrulhado num envólucro metalcore, mas que é insuficiente para definir o que realmente fazem. Só referindo o esquizofrenismo de The Dillinger Escape Plan ou Isor para terem uma ideia do que este quarteto, destemidamente, produz. Ainda assim, consegue ser muito mais obscuro, extremo e alternativo do que os nomes atrás mencionados. Aqui tudo corre a uma velocidade vertiginosa, até as 99 faixas do álbum que, no fundo, não são mais do que uma única peça musical interligada. Os riffs matemáticos cruzam-se com investidas que poderiam estar no trabalho mais necro de uma qualquer banda de death ou black metal mais primitivo. Isto acaba por resultar, como já devem ter percebido, num trabalho muito exigente para as nossas mentes e ouvidos.
A vontade de desnortear o ouvinte é, diria, o principal objectivo dos Comity e isto eles conseguem com toda a facilidade. Porém, a forma como todo os temas foram criados não deixam dúvidas acerca da intencionalidade e maneira cerebral como a banda trabalha. Embora isto seja difícil assumir em alguns momentos... O caos [controlado, lá está] é aqui, sem dúvida, a linha orientadora, mas podemos ainda encontrar alguns momentos mais calmos na segunda metade do disco. Alguns bastante melódicos até mas, na maior parte, sempre decadentes e impregnados de dissonância. Quererão os Comity atingir algo mais do que o underground? Provavelmente não, mas é certo que, pela sua valentia, coragem e ousadia ganham aqui o nosso respeito.
[8/10] N.C.