photo logopost_zps4920d857.png photo headerteste_zps0e0d15f7.png

Review

DARK TRANQUILITY
“Fiction”

[CD – Century Media]

Há muito que o seu selo se afixou nas entalhas do metal mundial sob influência de uma linhagem orientada pela fusão de elementos melódicos e extremos que originaram o célebre som de Gotemburgo. Da Suécia os génios musicais são mais que respeitados numa panóplia de talentos que nos faz desconfiar da água que bebem e do ar que respiram. Rendidos à imponência escandinava e a uma NWOSDM que intrinsecamente influenciou muito do que se passa actualmente no outro lado do Atlântico, chega-nos o oitavo registo de longa-duração deste colectivo formado em 1989.

Percebermos “Fiction” e a sua música não será tarefa nada complicada, nem inesperada a forma como nos sentiremos, quase de certeza, contagiados pelos seus riffs e batidas. Num contexto de carreira este poderá induzir a algumas indigestões para quem for da opinião de que a fórmula já está mais que gasta. Ainda neste contexto, o oposto [optimista] diz-nos que somos forçosamente levados a lisonjear a capacidade absolutamente invulgar dos Dark Tranquility em manter a coesão e o nível ao longo de tantos anos. Por isso, não se pense que essa suposta indigestão será um manifesto compreensível, pois o poder de composição de Mikael Stanne e Cª sobrepõe-se a tudo isso e é pleno de classe, honestidade e eficácia. Até mesmo para aqueles que já dissecaram e sorveram vezes sem conta o legado desta banda, ainda haverá todo o interesse em ouvir “Fiction”.

Em algumas linhas já conseguimos resumir o que se pode esperar deste trabalho e com que mentalidade o devemos encarar. É, sem dúvida, verdade que não encontrarão nada de novo no novo trabalho deste sexteto. Muito fácil será também apontar que “Fiction” é concebido totalmente a partir de resíduos das inflexões criativas de “Character”. É a referência mais directa e óbvia para descrever este conjunto de dez malhas. Porém, não arriscando quase nada, os Dark Tranquility oferecem ainda pequenas surpresas na forma de “compilações” de algumas das experiências do passado. Refiro-me, por exemplo, às vocalizações limpas de “Misery’s Crown” – directamente forjadas a “Projection” – e pelo recurso às já muito incidentes vozes femininas nos seus discos. Ocorreu em “Skydancer”, “The Gallery” e “Mind’s I” e desta feita foi a vez da faixa final “The Mundane And The Magic” abraçar a participação de Nell Sigland [Theatre Of Tragedy], numa excelente peça de todo envolta num espírito gótico. Pelo meio temos a faixa quase instrumental “Inside The Particle Storm” – onde Stanne intervém apenas por dois breves momentos -, que acaba por funcionar como um ligeiro repouso no disco.

Bem analisado “Fiction”, é ainda possível perceber que, apesar de este ser um disco mais sui generis, ou seja, mais pesado – parece que o experimentalismo de “Projection”, pelo menos por agora, está mesmo arredado do imaginário da banda – os Dark Tranquility obtêm um disco de tempos mais balançados do que propriamente regados daquela fúria rápida e mais técnica dos seus trabalhos iniciais, à excepção do tema “Blind At Heart”. Talvez por isso, em conjunto com a melodia de marca dos Dark Tranquility e seus ganchos infalíveis, este disco flua com normal facilidade, à semelhança do que aconteceu com os seus últimos discos.

“Fiction” é um conjunto de temas coeso, arquitectado com o mais rígido betão armado e que conservam a proeminência de uma aparente inesgotável criatividade . Se ainda assim se pode reclamar a repetição da fórmula, a verdade é que a força dos seus temas fala por si e por aí "Fiction" merece toda a nossa atenção.

[8/10] N.C.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...