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Alta Tensão em S.Miguel - Fim-de-semana inesquecível

Caros leitores,

Primeiramente, sinto-me forçado a pedir desculpas por esta semana de ausência nas actualizações. Tornar-se-á de certa forma previsível encontrar os motivos para tal que, de facto, foram aproveitados para encetar uma pausa para algum descanso. A vontade de vir ao computador, entretanto, relatar a nossa opinião sobre o fim-de-semana histórico de 20 a 22 de Julho foi bastante, mas a falta de discernimento – e também o cansaço - perante um momento tão extasiante criou alguns dramas da “folha em branco”. Após um fim-de-semana tão intenso, primeiro com o festival Alta Tensão e depois com o seminário da prezadíssima Melissa Cross, a SounD(/)ZonE parou para recarregar baterias, mas num estado de alma lavada após um momento tão importante para esta terra, garantimos voltar com as baterias recarregadas e prontos para continuar a dar-vos muita música.

Quanto ao fim-de-semana passado propriamente dito há a realçar, naturalmente, a [boa] música que passou pelo Coliseu Micaelense, mas essencialmente as pessoas! É verdade caros leitores, foi para além de uma experiência ou intercâmbio musical honrosos um momento insigne de confraternização, união e camaradagem pessoal. Com músicos e staff de extrema simpatia, uma Melissa Cross [que não posso deixar de frisar] arrepiante no seu discurso - quase capaz de nos pôr a chorar – e um público completamente de boa fé que nem teve que se esforçar para demonstrar a sua alegria por ter, final e merecidamente, um evento destes a acontecer perto de si, constituíram, certamente, o melhor ambiente já vivido numa “celebração” metálica aqui nos Açores. A simbiose perfeita!

Foi confidenciado em privado e expresso para alguma comunicação social da parte do staff do festival que o público açoriano era dos melhores que já haviam visto... Podia muito bem ser uma daquelas conversas de cortesia pragmáticas ou não houvesse realmente um brilho nos olhos e uma sinceridade indisfarçável na cara de quem exprimia esses testemunhos e não tivesse sido, inequivocamente, o público açoriano do mais dedicado e incansável possível. O público surpreendeu porque a sinceridade estava hasteada no seu ponto mais alto! Quando assim o é a sinergia é arrepiante e assim foi - um momento inesquecível.

Conclusões a tirar de tudo isto: os Açores são um terreno propício a esta sonoridade, tanto no que diz respeito a matéria prima – leia-se músicos/bandas – como também à sua audiência - fervorosa, por sinal!. O nosso principal objectivo quando partimos para a realização deste evento era, de sobremaneira, tirar de uma vez por todas as teimas de que temos público para este género musical e provar junto da comunidade de que não temos que ser para sempre uma zona estigmatizada, insularizada ou o que quer que queiram chamar. É preciso acreditar que não somos “toscos” e que podemos muito bem ter certas coisas bastando para isso que a fé se acenda. Assumimos um papel importante nesta tarefa e creio que valeu a pena. Queremos agora passar este exemplo. É indiscutivelmente importante que os músicos e público açorianos voltem a acreditar que têm direito e podem ter acesso ao que outros também têm e que no seu olhar se volte a reflectir o brilho da "chama eterna"!

É preciso também não esquecer que no dia 22 de Julho foi posta em prática a primeira acção revolucionária da jovem empresa Globalpoint Music que trouxe aos Açores, nada mais nada menos, que a professora de canto extremo mais conhecida do mundo! Sentimo-nos como que acompanhados nesta tarefa e esta foi, de facto, uma lufada de ar fresco para todos, nomeadamente para os vocalistas da região que saíram – segundo testemunhos – de baterias recarregadas do evento e inquietos para experimentar novos exercícios. A moral nunca esteve tão em cima! Este povo precisava disso e aqui agradece-se também ao Pedro Maia e Eduardo Botelho pelo acto tão nobre e consciente de ter trazido esta reconhecida docente a S. Miguel. Aproveito também para dizer que a sua reacção foi de espanto perante a intensidade e qualidade do movimento metaleiro açoriano. Chegou a ser profética quando disse que aqui podia acontecer algo como na Suécia em que de um momento para o outro, quando uma grande banda ficou conhecida fora de portas, todas as atenções se viraram para o país e agora têm o reconhecimento que bem sabemos. A docente confirma existir muito talento no labor dos músicos açorianos.

Caros leitores, particularmente os açorianos, é caso para dizer que quando se acredita o limite é o céu... Deveremos pensar sempre assim! A partir de agora provavelmente as coisas não vão ser as mesmas, foi dado o tónico certo para as bandas se sentirem rejuvenescidas e determinadas a lutar pelos seus objectivos. Sim, porque é possível! Fica aqui o desejo mais sentido de que este seja o arranque para uma nova era na música de peso regional. Há, sem dúvida, muito por fazer ainda, mas neste momento parece ter-se lançado uma semente muito bonita...

Não podia terminar esta escritura sem agradecer à More Agency [principalmente ao Sérgio por todos estes meses de contacto e preparação do evento], aos Mnemic pela humildade, simpatia e sensibilidade em atender a nossa proposta, ao Coliseu Micaelense na pessoa do mui prestável Dr. José Andrade, a todas as bandas do cartaz e pessoas extremamente afáveis de todo o staff do festival até ao mais infímo "ajudante" nessa jornada ["drivers" foi trabalhoso mas valeu a pena!] quer a nível de promoção, quer a nível de execução e financiamento do espectáculo. Um grande bem haja a todos!

Up the horns!
Nuno Costa

PS: Fica aqui, em baixo, um registo fotográfico do final apoteótico do concerto dos Mnemic com "Deathbox" cantada com o público em cima do palco do Coliseu Micaelense...

Fotos: André Frias [www.contratempo.com] / Catarina Priscila
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