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Entrevista Mindlock

QUEBRANDO O GELO
"Demos um salto em termos musicais e intelectuais"

Depois da tempestade vem a bonança. O ditado confirmou-se em pleno no caso dos algarvios Mindlock que ao fim de sete anos voltam aos discos. Pelo meio ficaram alguns momentos difíceis – saída de elementos e até um disco completo que foi literalmente deitado ao lixo – chegando mesmo para abalar um pouco as suas convicções. Porém, o prazer pelo que fazem falou mais alto e foram capazes de meter a máquina novamente em funcionamento… e com outra dinâmica. O resultado está em “Enemy Of Silence”, um exercício thrash/hardcore ao nível do melhor que se produz em Portugal. E um dos grandes responsáveis por esta nova atitude é o guitarrista Francisco Aragão.

Pode dizer-se que os vossos últimos anos foram complicados. Comecemos por partes: o que falhou na relação com o manager que tinham até meados da presente década?
Há dez ou 12 anos atrás éramos muito novos e inexperientes e conforme fomos crescendo e adquirindo experiência as nossas opiniões, maneiras de agir e de pensar foram-se tornando cada vez mais divergentes das do nosso manager. Havia também pouca transparência a nível de contas e isso não nos dava muita confiança. Optámos por nos separar guardando as boas memórias dos tempos em que trabalhámos juntos.

“Enemy of Silence” não seria o vosso novo disco caso não tivessem perdido um baterista mesmo antes de entrarem em estúdio. A decisão de recomeçar tudo do zero foi… dramática?
Dramática não digo, mas difícil e corajosa, sim. Depois de tanto tempo juntos sabíamos que não ia ser tão gratificante continuar e que iríamos entrar pelo desconhecido. Mas pareceu-nos ser era única atitude e a mais sensata a tomar.

A linha musical que acabaram por seguir distancia-se muito da desenvolvida naquela altura crítica?
Em parte, sim. Acho que a música que fazemos reflecte sempre o espírito do grupo numa determinada altura. Aquela foi uma altura um pouco mais melancólica e introspectiva do grupo. A fase actual acabou por ser mais prepotente e arriscada, o que acabou por tornar tudo muito mais interessante e inovador. Demos um salto em termos musicais e intelectuais que penso que não teríamos conseguido dar se tivesse sido forçado.

Arrependem-se de alguma decisão que tenham tomado nesse período?
Não.

Como é que se convence um baterista de jazz a fazer parte de uma banda de metal pesado?
Não tivemos que o convencer e essa foi a parte mais interessante. O Amadis Monteiro, acima de tudo, é músico e enquanto baterista pode executar qualquer tipo de abordagem ao seu instrumento porque tem técnica para tal. Embora a sua principal escola seja a do jazz, sempre se interessou por outros géneros musicais e sabíamos disso antes de o contactarmos, embora ele não conhecesse bem o grupo. Mostrei-lhe uma maquete das músicas que tínhamos preparadas para ensaiar e ele gostou bastante. No mesmo dia já estávamos a ensaiar e pouco tempo depois a tocá-las ao vivo. Intergrou-se perfeitamente entre nós. Tivemos muita sorte e estamos muito satisfeitos.

Então podemos falar de uma adaptação harmoniosa…
Correu bastante bem. Acho que o facto de termos estado a trabalhar em material novo e não nos prendermos à partida ao que já tínhamos ajudou bastante. Foi tudo tão novo para ele como para nós. Entrámos em perfeita sintonia.

Apesar de não terem deixado definitivamente os palcos durante os últimos anos, o número de concertos diminuiu substancialmente. Sentiam alguma angústia por ver o nome da banda a cair no esquecimento?
Obviamente que sim mas já estávamos mentalmente preparados para isso. Sabíamos que compor um álbum novo e procurar um baterista ia demorar algum tempo e que teríamos que estar ausentes dos palcos por um período indeterminado. Mas sabíamos também que não queríamos desistir e que o caminho a seguir seria produzir algo novo.

Por tudo o que passaram ultimamente, “Enemy of Silence” configura-se como um álbum mais pessoal?
Sim, mas tal como já referi, retrata um período da existência dos Mindlock, fechando um ciclo e abrindo outro. Embora tenha sido escrito numa visão mais pessoal que os álbuns anteriores, aborda temas que são comuns a muita gente, deixando em aberto várias interpretações. Tentámos não aprofundar demasiado os temas das letras de forma a que não sejam apenas uma “egotrip” pessoal mas algo em que as pessoas também se possam identificar e rever.

Todavia, é o mais pesado que já compuseram. Sentiram “o grito da revolta” todas as vezes que criavam um ideia nova?
Sim e esse foi o tema central de todo o álbum. A nossa música funde-se bem com temas como a revolta, a ansiedade, a loucura, etc. Juntando-lhe uma boa dose de energia e auto-estima criámos um conjunto de temas a que demos o nome de “Enemy Of Silence”. É, sem dúvida, o nosso trabalho mais pesado mas de uma forma energética e não negativa ou obscura.

Explique-nos porque decidiram gravar na vossa própria sala de ensaio. A ansiedade era tanta que nem puderam esperar por um estúdio disponível?
Na verdade, optámos pela máxima: “Se queres bem feito, faz tu próprio”. Tínhamos um estúdio em vista e algumas opções ainda por explorar mas achámos que com a colaboração do Miguel Carvalho (D´alma Productions) chegaríamos ao resultado que pretendíamos de uma forma mais rápida e autónoma. O ambiente da nossa sala de ensaio é-nos mais familiar do que qualquer estúdio que pudessemos escolher e achámos que reunia todas condições acústicas e de espaço. O resultado final foi o que prevímos e ficámos bastante satisfeitos com a produção do álbum. Repetiríamos o mesmo processo, sem dúvida alguma, pois foi uma experiência bastante gratificante.

É muito comum numa banda haver um compositor principal. No caso dos Mindlock, será você. É apenas a razão de ter mais criatividade, ser guitarrista ou estar na banda desde o início?
Desde muito novo que componho e é algo que me dá um enorme prazer. O metal está muito associado às malhas ou riffs de guitarra e acho que o facto de ser guitarrista também me facilita o trabalho. A partir daí, tudo é desenvolvido na sala de ensaio, entre todos, e é esse toque pessoal que cada um dá que faz com que a nossa música ganhe personalidade.

Essa responsabilidade acrescida causa-lhe “insónias”?
(Risos) Curiosamente, “Enemy Of Silence” foi composto de manhã que era quando tinha mais tempo livre na altura. Foi estranho e algo de novo para mim mas percebo agora de onde vinha tanta energia! Não sofro com isso, ou tento não interpretar isso de forma negativa. O velho cliché de que o artista tem sempre o sofrimento à flor da pele não entra na minha filosofia de vida. A responsabilidade que advém daí é algo que é inerente ao facto de ser guitarrista e simultaneamente compositor mas não me causa qualquer dano pessoal. As insónias já são minhas velhas amigas!

Planearam a edição de um DVD com uma reportagem de estúdio e pelo menos um videoclip. Como está esse assunto?
O DVD é algo que ainda nos está a dar muito trabalho, pois temos toneladas de fita antiga para seleccionar e montar, mas queremos também incluir uma reportagem da gravação de “Enemy Of Silence” e um concerto da “Enemy Tour”. Ainda não tivemos a oportunidade de organizar tudo isso mas temos muito trabalho pela frente. Por enquanto iremos diponibilizar online um video do tema “Sing Like You Were Dead”, gravado também na nossa sala de ensaio.

A mistura e masterização foi feita pelo Miguel Carvalho, mas vocês acabam por ser os verdadeiros produtores deste álbum. Fala-nos dessa opção e da luta que foi ter tudo em ordem.
Não foi luta nenhuma. Já tínhamos em mente exactamente o que queríamos gravar quando contactámos o Miguel. Ele não ofereceu resistência em termos de ideias ou métodos, tinha o material necessário e seguiu-se sempre pelo que era mais confortavel para nós. Acho que captou bem o espírito do grupo e proporcionou-nos um ambiente descontraído e sem stress.

Foram tomadas as devidas medidas para ganharem uma estrutura mais profissional, não só a nível musical como promocional. Convencer Pedro Vindeirinho ou a Algarfest a assumir os vossos destinos foi fácil?
Foi algo que surgiu naturalmente e que acabou por ser o fruto de muito trabalho da nossa parte. O Pedro Vindeirinho (Rastilho Records) gostou bastante do nosso disco e aceitou editá-lo pouco tempo depois de o ter escutado. Preocupámo-nos com tudo e investimos muito neste álbum. Financiámos toda a gravação e artwork, até o próprio merchandise e adereços de palco. Ao contactarmos com a Rastilho mostrámos o produto final, pronto a ser enviado para a fábrica, e acho que isso ajuda bastante a convencer quem quer que seja. A Algarfest é uma empresa sediada no Algarve e penso que já nos tinha em mira mas aguardava um novo trabalho nosso. Foi-nos feita uma proposta e aceitámo-la de bom grado por sabermos que são competentes e com experiência no ramo. Quanto ao nosso destino, esperamos ser nós a comandá-lo sempre.

“Enemy of Silence” roda na “estrada” há um par de meses. Que balanço já vos é possível fazer?
Até agora, bastante positivo. Nos concertos que demos até à data sentimos que, para o público, Mindlock não caiu no esquecimento e que este foi apenas um passo que tínhamos que dar para poder seguir em frente. Os nossos fãs aguardavam ansiosamente pelo novo trabalho e receberam-no de braços abertos. As críticas ao álbum têm sido boas apesar de notarmos mais euforia ao vivo quando tocamos temas mais antigos. Acho que é normal. O que para nós já está assimilado para o público ainda está a ser digerido.

Num futuro álbum quais serão os objectivos a atingir, tanto a nível musical como de trabalho de estúdio?
Esperamos sempre superar aquilo que fizemos até então. Nada mais do que isso.

Nuno Costa

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