Review
“Arcane”
[CD – Ethereal Sound Works]
Reza a “história” que o silêncio prolongado de Barros Onyx foi o impulsionador desta nova aventura. O vocalista saberia melhor do que ninguém o que lhe palpitava na consciência criativa e, mais importante do que isso, que o seu potencial era elevado. E aos primeiros minutos da estreia em disco deste projecto, percebe-se uma competência geral ao nível da composição e dos arranjos.
Não é propriamente fácil definir a sonoridade destes vimaranenses, formados há pouco mais de um ano. Entende-se sim que é alternativa, progressiva e… arrojada. Não por ser um assombro de originalidade, mas porque tenta elevar ao mais alto nível a capacidade de escrever estruturas susceptíveis de projectar inúmeras paisagens nas nossas mentes. Existe uma aura melancólica associada a todos os temas, bem como uma propensão para criar arranjos e ambientes progressivos. Se a tudo isso se conseguir aliar um forte magnetismo ao nível de riffs e linhas vocais, temos um álbum que entra muito facilmente nas nossas… vidas.
Desde as mais distorcidas “Free-Flowing”, “Spiritual Emotions” e “In Hades (Pt. 1)” à profunda “My Silence”, passando pelas experimentais “Unkown Pleasures” (com um acordeão inusitado), “In My Crystal Cage” e “Your Hidden Treasure”, o alinhamento de “Arcane” configura-se muito completo, não se iludindo com malabarismos técnicos, sem nunca ser muito directo, e transmitindo sempre uma inteligência superior ao nível da escrita que o torna verdadeiramente desafiante para os ouvintes. Aliás, experimental acaba por ser um dos adjectivos mais consentâneos com o perfil aqui identificado, dada a quantidade e acutilância dos arranjos e orquestrações.
Por aqui abundam também as colaborações que vão desde as dos nacionais Ernesto Guerra (Heavenwood), Hugo Correia (Fadomorse), Artur Fernandes (Danças Ocultas), Johnny Icon (Icon & The Black Roses) às dos internacionais Davide Tiso (Ephel Duath), Miriam Renvag (SfinX/Ram-Zet), Nera (Darzamat/NeraNatura) e Karolina Vel Death (Skeptical Minds). Todavia, verdade seja dita, “Arcane” nem precisava tanto dessas colaborações para maximizar o seu impacto mediático e musical, mas já que lá estão são bem-vindas e resultam.
Juntando a isso tudo uma produção sólida, ao que terá ajudado a mistura e masterização de David Castillo nos Ghostward Studios na Suécia, e um artwork apelativo, seria difícil pedir mais para uma estreia. E se parece evidente que talento e ideias aqui não faltam, é legítimo que se fique bastante optimista em relação ao presente e futuro desta banda nacional. Banda de classe a juntar, por exemplo, a uns Oblique Rain. [8.9/10] N.C.
Estilo: Metal alternativo/progressivo
Discografia:
- “Arcane” [CD 2010]