Entrevista Seven Stitches
ATITUDE=METAL
“Ficar lúcido é uma grande vitória”
Caso já não tivessem percorrido muitos quilómetros de estrada e lançado três demos, um EP e um split, até poderíamos dizer que estávamos perante uma das maiores surpresas do underground nacional. Assim não acontece, pois só quem não esteve minimamente atento nos últimos oito anos é que não antevia o que este grupo era capaz de fazer. A qualquer momento percebia-se que podiam explodir e “When The Hunter Becomes The Hunted” assinala isso mesmo. A estreia em álbum deste simpático grupo sedeado em Grândola é o entrar na fase pré-adulta. Death/thrash metal destilado com muita atitude e uma competência a nível técnico e de escrita assinaláveis, à mistura com tendências contemporâneas, são o que podem esperar de um álbum que transpira honestidade. Tal como se pode perceber por dois dos seus autores, “Bixo” (guitarrista) e “Pica” (vocalista), na conversa que se segue.
Passam-se alguns meses desde a edição do vosso álbum de estreia. O balanço apurado vai ao encontro das vossas expectativas iniciais?
Bixo: Respondendo rapidamente e frontalmente, nem por isso! (risos) Penso que há duas razões para isso. A primeira deve-se ao facto de estarmos, sinceramente, à espera de um pouco mais por parte da editora, porque apesar de termos tido uma reunião em que se estipulou de uma forma bem abrangente muitos dos contactos importantes e o papel de cada parte envolvida, acabamos por não receber muito feedback. Aliás, nem de 30% do que esperávamos, o que nos leva apensar que ou não foram enviados promos ou CD’s, ou então o álbum é tão mau que nem merece ser ouvido e falado. (risos) A segunda tem que ver com o facto de termos permitido que isto acontecesse e ficámos, como costumo dizer, “encostados à sombra da bananeira”, o que não deveria ter acontecido! Já sabemos que para as coisas terem pernas para andar e para darmos visibilidade à banda, temos que ser nós a controlar e a fazer todo o trabalho de promoção com um contacto mais directo com quem, tal como nós, anda neste “mundo” e quer ajudar o Metal nacional a ter o reconhecimento que merece! Assim, teremos a certeza de que as coisas estão a funcionar e que as pessoas andam a ouvir o álbum ou pelo menos a ouvir com frequência o nome da banda. Depois vem a parte mais importante e a melhor disto tudo: dar concertos e, se possível, bons! (risos) Se assim não acontecer de que serve a banda ser muito falada se na parte mais importante da sua vida não corresponde às expectativas? No entanto, não queria deixar passar a oportunidade de agradecer a quem já ouviu o álbum e fez reviews, entrevistas ou se manifestou, pois dão-nos assim ajuda e motivação para continuar a fazer cada vez mais e melhores malhas de Metal. Agradecia também ao Daniel (Raging Planet), pois, independentemente de tudo, ajudou-nos a meter o CD cá para fora e dentro das “não sei quantas” bandas que tem, quero crer que fez o seu melhor, mesmo estando numa fase não muito fácil. Força companheiro!
O núcleo duro dos Seven Stitches é presumivelmente alentejano, embora a banda até possa estar sedeada ou desenvolver as suas actividades noutro local. Contudo, deduzo ser possível transmitir como é a vida de uma banda de Metal numa área menos densa demograficamente e descentralizada.
Bixo: É boa, mesmo a sério! Temos uma sala de ensaios em condições em que não temos de pagar luz, podemos fazer “barulho” até às horas que quisermos, com um frigorífico grande e fica a 16km da praia… Que mais se pode pedir? Por mim o local é perfeito, mesmo, mas também “confesso” que, por vezes, Grândola torna-se um bocado rotineira devido à falta de coisas diferentes para se fazer e principalmente de pessoal que gosta de ouvir música, tocar, curtir a vida da melhor forma, sem olhar nem dar importância ao que os outros pensam de si e dos aspectos ou maneiras de viver diferentes do padrão normal. E o que resta? É mesmo beber copos sem grandes razões para isso, porque sim, porque faz parte desta cultura de “bêbados” da qual não me posso excluir! Mas a grande culpa é mesmo dos “outros” de Lisboa, pois se vivessem ou viessem cá mais vezes ao menos já nos embebedávamos por um motivo bem melhor e podíamos ter uma “verdadeira vida de banda” em Grândola! (risos) É que neste momento apenas eu e o Nelson estão por cá; o Pica também é grandolense mas está a trabalhar em Lisboa; os “Andrés” conhecemo-los em Lisboa e é lá que têm a sua vida. Daí que a vida da banda em Grândola resume-se a mim e ao Nelson a darem uso e proveito às condições que temos e a trabalharem com afinco para levar os Seven Stitches a “bom porto”! Tal como os outros o fazem, em Lisboa! Ensaios? Temo-los consoante a disponibilidade, ora em Grândola, ora em Lisboa, pois todos temos trabalhos e nem sempre é fácil conciliar horários. Porém, estamos a tentar juntarmo-nos mais vezes e, se possível, em Grândola! Quanto a ser uma terra descentralizada, não me parece que assim seja, pois estamos a 100km de Lisboa e relativamente perto do centro/norte do país. Para além disso, as “novas” auto-estradas aproximaram-nos ainda mais das grandes cidades. Daí que, por aqui, está-se bem!
Como é apanágio, muitos músicos da cena metálica acumulam outras competências que não só a de tocar. Vocês por exemplo têm dois elementos responsáveis por um festival. Qual a grande razão para terem abraçado mais esta actividade que para além do presumível gozo também dará muitas preocupações? Bixo: Tenho a dizer primeiro que a mudança do Pica para Lisboa tirou-lhe muito do tempo que tinha para empregar no Metal GDL, daí que, neste momento, estou um bocado sozinho nesta parte ao nível de integrantes dos Seven Stichtes, pois somos na mesma oito pessoas, sendo que seis estão regularmente e anualmente a trabalhar para que o festival aconteça. O Pica inclui-se nos dois que ajudam quando podem. No entanto, todos os elementos da banda trabalham arduamente nos dias do festival, uns como técnicos de som, outros como stage managers e outros ainda como técnicos de bateria… Resumindo, a história do festival é uma ideia de longa data da minha cabeça e que, felizmente, consegui pôr em prática graças ao grupo de amigos que em Grândola tenho e constituiu uma associação de jovens para organizar o Metal GDL, assim como outros eventos importantes na vila como forma de angariar fundos para investir cada vez mais no festival. Hoje em dia a organizadora de tudo isto chama-se AGE.GDL. A nível de preocupações é claro que as dá e ganha-se rapidamente cabelos brancos com isso, mas quando se “corre por gosto, não cansa”!
Sendo mais pragmático: é compensatório?
Bixo: Sempre! Financeiramente não o é e nunca foi, mas também nunca pensamos que poderia ser! Todavia, o prazer que dá supera sempre todas as coisas menos boas inerentes à organização de um evento desta dimensão. O convívio que se cria entre metaleiros, seja de bandas, público, fotógrafos, ver as pessoas felizes, assistir a grandes concertos, conhecer bandas que já mais imaginarias conhecer num passado recente, ajudar as “nossas” bandas, os dias de preparação, os dias de arrumação… Tudo é feito com uma entrega tão grande que dá uma “pica” do c******! (risos)
Podíamos pegar neste contexto e falar do tal espírito DIY, que lhe perguntava se é apenas uma mera formalidade no plano nacional…
Bixo: Não me parece que seja apenas uma mera formalidade, ele existe e tem de continuar a existir, pois as coisas não nos aparecem em casa de “mão beijada"! Tens de te mexer dentro do meio e ter um espírito de entreajuda, quer entre bandas, promotores, pessoal de sites, etc... Ter boas intenções e querer levar o metal nacional o mais a sério possível, bem como trabalhar para o seu reconhecimento, quer a nível nacional como internacional. Isso só é possível com muitas horas de dedicação e principalmente na net. Isto no que diz respeito a dar a conhecer e dar visibilidade às bandas, festivais ou a outro tipo de projecto. Assim alargamos o número de pessoas que nos conhecem e podem ter novos seguidores que, naturalmente, é o que todos pretendemos. Depois no "terreno" é seres o mais competente possível e dares o teu melhor de forma a que as coisas ganhem consistência e credibilidade para os que se preocuparam em te seguir. Basicamente é dedicar a tua vida aos teus gostos e "sonhos" e viveres embebido deste espírito DIY.
No caso dos Seven Stitches, é também um elemento interno que assume a produção do vosso álbum de estreia. Quais foram as vantagens de trabalhar nestas circunstâncias?
Bixo: Foi muito bom. Talvez todo o processo de gravação e mistura tenha demorado um pouco mais do que se fossemos para um outro estúdio, mas tinha mesmo de ser assim. Caso contrário o resultado não seria tão bom, não só pelo excelente trabalho do André, enquanto técnico, mas também pela sua forma de pensar as músicas e de nos exigir a “perfeição” enquanto executantes. Isso ajudou bastante à nossa evolução enquanto instrumentistas, mesmo ainda estando um bocado longe de onde queremos chegar. Contudo, extraiu-se o melhor de todos nós. Digo isso pois conheço-nos bem e sei das nossas qualidades, mas também sei das nossas “fraquezas”. Por aí conseguimos, pelo menos do meu ponto de vista, fazer músicas que nos dão grande motivação e luta mas que também nos preenchem enquanto ouvintes. Isso é o mais importante, pois não gostamos de fazer coisas que não nos dêem trabalho e que pensar. Curtimos a adrenalina de termos de estar concentrados em certas partes para não darmos “barraca”! (risos) Falando por mim, também curto estar sentado ou em pé, tanto faz, a ouvir uma malha de Metal que me meta a abanar a cabeça, pelo menos, e com as nossas músicas isso acontece… e muito mais! Creio que as vantagens desta experiencia são evidentes e é para repetir no futuro, não sabemos se no próximo álbum mas com quase uma total certeza vamos voltar a ter o “Açoriano” a controlar as operações.
Quanto tempo levou a escrever “When The Hunter…”, sendo que pelo meio houve entradas e saídas de elementos? Bixo: Mais ou menos dois anos. As saídas vieram abalar um pouco o grupo mas nunca me tiraram a vontade nem a do Pica de seguir em frente, pois sempre fui eu que compus a maioria dos riffs e malhas, tendo sempre uma opinião activa do Pica e do Nelson, até certa fase, sendo que por momentos e devido a uma fase da vida menos boa do Nelson foi necessário abrandar e dar mais importância às amizades do que à música. Desta perspectiva a demora foi um pouco maior do que se planeava mas também sei que foi fundamental para as coisas estarem como estão hoje. Chegámos as estas músicas e continuaremos unidos e com um espírito de entreajuda brutal que nos dá força para continuar a querer aprender e a fazer música que nos dê uma real “pica”! As entradas vieram fortalecer o grupo e dar aquele “punch” de que necessitávamos: o “Açoriano” pelo que falei na resposta anterior e pela amizade que já vinha de outros tempos, e o André pela sua maneira “maluca” de ser que não o impede de manter a criatividade e estar disponível para levar a banda o mais longe possível, sendo agora uma das suas prioridades. Ele no início tinha algumas quatro ou cinco bandas! (risos)
Então não foi preciso alterarem substancialmente a forma de compor e trabalhar a partir do momento em que o André guitarrista e o André baixista entraram?
Bixo: Nem por isso, até agora pelo menos. No futuro, com toda a certeza, mudará, pois não estarei sozinho a inventar riffs e isso irá ser mais uma grande experiência para nós enquanto banda: fazer um álbum juntos, como uma banda que somos! Sinceramente, estou bastante curioso, até ansioso, para começar a ouvir os primeiros resultados e começar a escrever… para isso já não falta assim tanto! De certeza que vai ser bom ter mais cabeças a pensar nos riffs, baterias, etc… É sempre bom ouvir outras opiniões e poder discuti-las.
Em suma, quais são os grandes responsáveis pela evidente evolução que a banda apresenta neste primeiro longa-duração?
Bixo: A resposta é só uma, a meu ver: todos! Cada um de uma forma diferente mas todos foram importantes. Neste contexto podemos incluir também o Zé Black (ex-baixista) e o Gingado (ex-guitarrista), pois por muito pequeno que possa ter sido o contributo, ainda conseguimos “rebuscar” pequenas coisas feitas com eles.
Sendo este aquele momento particularmente marcante na vida de uma banda – o lançamento do primeiro álbum – que análise qualitativa lhe compete fazer, tentando salvar todas as distâncias que o liga a ele?
Bixo: Isso é impossível! (risos) De qualquer forma, penso que fui respondendo a esta pergunta ao logo da entrevista. Gosto de o ouvir, de tocar as suas músicas… Relativamente ao seu nível de qualidade, não me cabe, definitivamente, analisar.
Como descreveria a mensagem musical e lírica que transporta?
Pica: Numa palavra: intensa! Este álbum funciona como um todo e a parte lírica completa a intensidade musical. Numa fase inicial a ideia era pegar na luta “Homem vs. Natureza” e fazer um álbum com um só conceito mas com o passar do tempo percebi que o seu título podia levar-nos mais além. E assim foi. Aqui temos uma análise à constante luta do ser humano consigo próprio, à forma como se autodestrói e como consegue ser forte se assim o desejar. Falamos também da forma como a nossa cabeça nos conduz numa alucinante viagem pela vida onde ficar lúcido é uma grande vitória. Claro que a componente “Homem vs. Natureza” também lá está e acreditem que vamos ser derrotados. (risos)
Surpreendentemente tarda em configurar-se uma promoção ao vivo que faça jus às boas reacções que o álbum tem despertado. O que se tem passado?
Bixo: A meu ver isto deve-se ao que referi na primeira resposta. Independentemente das reacções positivas que temos tido, que até não foram assim tantas quanto isso, o facto de a promoção não ter sido tão forte e rápida como devia teve como consequência alguma falta de oportunidades para tocar ao vivo em ocasiões e situações que pudessem ser uma mais-valia para nós. No entanto, temos já algumas datas confirmadas e outras faladas que se devem realizar. Por isso, penso que é uma segunda fase de promoção ou, será mais justo dizer, uma real primeira fase de promoção ao álbum, quer a nível de imprensa quer junto do público em geral. Sinceramente e analisando a frio, acho que o timing de saída do álbum talvez não tenha sido o melhor, pois o Verão estava muito perto e, naturalmente, nessa altura há menos concertos “soltos”, está tudo mais concentrado nos festivais. Esta será mais uma experiência e aprendizagem que tiramos… Porém, bem vistas as coisas, o álbum só saiu há seis meses e ainda estamos muito a tempo. Tudo iremos fazer para fazê-lo chegar o mais longe possível.
Quais são os “sonhos” mais próximos da banda e o que será necessário para os alcançar?
Bixo: O sonho era acordar amanhã, abrir o e-mail e ter uma proposta de milhões de uma editora multinacional que nos metesse a tocar pelo mundo fora, de modo a que pudéssemos fazer vida só disto. Como sonhar ainda não paga impostos, não vejo mal em sonhar tão alto! (risos) Agora mais a sério, era mesmo esse! (risos) Pois o que nos espera nós sabemos, queremos e vamos fazer, mas assim ficava tudo bem mais fácil! Assim o que nos daria trabalho ou que pensar era mesmo só as guitarras, baterias, vozes, músicas, concertos, álcool, viajar… Enfim, tudo aquilo que pessoal como nós sonha! Agora em jeito de despedida e fugindo à pergunta, aproveito a oportunidade para saudar todos os amantes/seguidores do Metal com um grande “Viva o Metal” companheiros de “guerra”!
Nuno Costa
www.myspace.com/sevenstitchespt
“Ficar lúcido é uma grande vitória”
Caso já não tivessem percorrido muitos quilómetros de estrada e lançado três demos, um EP e um split, até poderíamos dizer que estávamos perante uma das maiores surpresas do underground nacional. Assim não acontece, pois só quem não esteve minimamente atento nos últimos oito anos é que não antevia o que este grupo era capaz de fazer. A qualquer momento percebia-se que podiam explodir e “When The Hunter Becomes The Hunted” assinala isso mesmo. A estreia em álbum deste simpático grupo sedeado em Grândola é o entrar na fase pré-adulta. Death/thrash metal destilado com muita atitude e uma competência a nível técnico e de escrita assinaláveis, à mistura com tendências contemporâneas, são o que podem esperar de um álbum que transpira honestidade. Tal como se pode perceber por dois dos seus autores, “Bixo” (guitarrista) e “Pica” (vocalista), na conversa que se segue.
Passam-se alguns meses desde a edição do vosso álbum de estreia. O balanço apurado vai ao encontro das vossas expectativas iniciais?
Bixo: Respondendo rapidamente e frontalmente, nem por isso! (risos) Penso que há duas razões para isso. A primeira deve-se ao facto de estarmos, sinceramente, à espera de um pouco mais por parte da editora, porque apesar de termos tido uma reunião em que se estipulou de uma forma bem abrangente muitos dos contactos importantes e o papel de cada parte envolvida, acabamos por não receber muito feedback. Aliás, nem de 30% do que esperávamos, o que nos leva apensar que ou não foram enviados promos ou CD’s, ou então o álbum é tão mau que nem merece ser ouvido e falado. (risos) A segunda tem que ver com o facto de termos permitido que isto acontecesse e ficámos, como costumo dizer, “encostados à sombra da bananeira”, o que não deveria ter acontecido! Já sabemos que para as coisas terem pernas para andar e para darmos visibilidade à banda, temos que ser nós a controlar e a fazer todo o trabalho de promoção com um contacto mais directo com quem, tal como nós, anda neste “mundo” e quer ajudar o Metal nacional a ter o reconhecimento que merece! Assim, teremos a certeza de que as coisas estão a funcionar e que as pessoas andam a ouvir o álbum ou pelo menos a ouvir com frequência o nome da banda. Depois vem a parte mais importante e a melhor disto tudo: dar concertos e, se possível, bons! (risos) Se assim não acontecer de que serve a banda ser muito falada se na parte mais importante da sua vida não corresponde às expectativas? No entanto, não queria deixar passar a oportunidade de agradecer a quem já ouviu o álbum e fez reviews, entrevistas ou se manifestou, pois dão-nos assim ajuda e motivação para continuar a fazer cada vez mais e melhores malhas de Metal. Agradecia também ao Daniel (Raging Planet), pois, independentemente de tudo, ajudou-nos a meter o CD cá para fora e dentro das “não sei quantas” bandas que tem, quero crer que fez o seu melhor, mesmo estando numa fase não muito fácil. Força companheiro!
O núcleo duro dos Seven Stitches é presumivelmente alentejano, embora a banda até possa estar sedeada ou desenvolver as suas actividades noutro local. Contudo, deduzo ser possível transmitir como é a vida de uma banda de Metal numa área menos densa demograficamente e descentralizada.
Bixo: É boa, mesmo a sério! Temos uma sala de ensaios em condições em que não temos de pagar luz, podemos fazer “barulho” até às horas que quisermos, com um frigorífico grande e fica a 16km da praia… Que mais se pode pedir? Por mim o local é perfeito, mesmo, mas também “confesso” que, por vezes, Grândola torna-se um bocado rotineira devido à falta de coisas diferentes para se fazer e principalmente de pessoal que gosta de ouvir música, tocar, curtir a vida da melhor forma, sem olhar nem dar importância ao que os outros pensam de si e dos aspectos ou maneiras de viver diferentes do padrão normal. E o que resta? É mesmo beber copos sem grandes razões para isso, porque sim, porque faz parte desta cultura de “bêbados” da qual não me posso excluir! Mas a grande culpa é mesmo dos “outros” de Lisboa, pois se vivessem ou viessem cá mais vezes ao menos já nos embebedávamos por um motivo bem melhor e podíamos ter uma “verdadeira vida de banda” em Grândola! (risos) É que neste momento apenas eu e o Nelson estão por cá; o Pica também é grandolense mas está a trabalhar em Lisboa; os “Andrés” conhecemo-los em Lisboa e é lá que têm a sua vida. Daí que a vida da banda em Grândola resume-se a mim e ao Nelson a darem uso e proveito às condições que temos e a trabalharem com afinco para levar os Seven Stitches a “bom porto”! Tal como os outros o fazem, em Lisboa! Ensaios? Temo-los consoante a disponibilidade, ora em Grândola, ora em Lisboa, pois todos temos trabalhos e nem sempre é fácil conciliar horários. Porém, estamos a tentar juntarmo-nos mais vezes e, se possível, em Grândola! Quanto a ser uma terra descentralizada, não me parece que assim seja, pois estamos a 100km de Lisboa e relativamente perto do centro/norte do país. Para além disso, as “novas” auto-estradas aproximaram-nos ainda mais das grandes cidades. Daí que, por aqui, está-se bem!
Como é apanágio, muitos músicos da cena metálica acumulam outras competências que não só a de tocar. Vocês por exemplo têm dois elementos responsáveis por um festival. Qual a grande razão para terem abraçado mais esta actividade que para além do presumível gozo também dará muitas preocupações? Bixo: Tenho a dizer primeiro que a mudança do Pica para Lisboa tirou-lhe muito do tempo que tinha para empregar no Metal GDL, daí que, neste momento, estou um bocado sozinho nesta parte ao nível de integrantes dos Seven Stichtes, pois somos na mesma oito pessoas, sendo que seis estão regularmente e anualmente a trabalhar para que o festival aconteça. O Pica inclui-se nos dois que ajudam quando podem. No entanto, todos os elementos da banda trabalham arduamente nos dias do festival, uns como técnicos de som, outros como stage managers e outros ainda como técnicos de bateria… Resumindo, a história do festival é uma ideia de longa data da minha cabeça e que, felizmente, consegui pôr em prática graças ao grupo de amigos que em Grândola tenho e constituiu uma associação de jovens para organizar o Metal GDL, assim como outros eventos importantes na vila como forma de angariar fundos para investir cada vez mais no festival. Hoje em dia a organizadora de tudo isto chama-se AGE.GDL. A nível de preocupações é claro que as dá e ganha-se rapidamente cabelos brancos com isso, mas quando se “corre por gosto, não cansa”!
Sendo mais pragmático: é compensatório?
Bixo: Sempre! Financeiramente não o é e nunca foi, mas também nunca pensamos que poderia ser! Todavia, o prazer que dá supera sempre todas as coisas menos boas inerentes à organização de um evento desta dimensão. O convívio que se cria entre metaleiros, seja de bandas, público, fotógrafos, ver as pessoas felizes, assistir a grandes concertos, conhecer bandas que já mais imaginarias conhecer num passado recente, ajudar as “nossas” bandas, os dias de preparação, os dias de arrumação… Tudo é feito com uma entrega tão grande que dá uma “pica” do c******! (risos)
Podíamos pegar neste contexto e falar do tal espírito DIY, que lhe perguntava se é apenas uma mera formalidade no plano nacional…
Bixo: Não me parece que seja apenas uma mera formalidade, ele existe e tem de continuar a existir, pois as coisas não nos aparecem em casa de “mão beijada"! Tens de te mexer dentro do meio e ter um espírito de entreajuda, quer entre bandas, promotores, pessoal de sites, etc... Ter boas intenções e querer levar o metal nacional o mais a sério possível, bem como trabalhar para o seu reconhecimento, quer a nível nacional como internacional. Isso só é possível com muitas horas de dedicação e principalmente na net. Isto no que diz respeito a dar a conhecer e dar visibilidade às bandas, festivais ou a outro tipo de projecto. Assim alargamos o número de pessoas que nos conhecem e podem ter novos seguidores que, naturalmente, é o que todos pretendemos. Depois no "terreno" é seres o mais competente possível e dares o teu melhor de forma a que as coisas ganhem consistência e credibilidade para os que se preocuparam em te seguir. Basicamente é dedicar a tua vida aos teus gostos e "sonhos" e viveres embebido deste espírito DIY.
No caso dos Seven Stitches, é também um elemento interno que assume a produção do vosso álbum de estreia. Quais foram as vantagens de trabalhar nestas circunstâncias?
Bixo: Foi muito bom. Talvez todo o processo de gravação e mistura tenha demorado um pouco mais do que se fossemos para um outro estúdio, mas tinha mesmo de ser assim. Caso contrário o resultado não seria tão bom, não só pelo excelente trabalho do André, enquanto técnico, mas também pela sua forma de pensar as músicas e de nos exigir a “perfeição” enquanto executantes. Isso ajudou bastante à nossa evolução enquanto instrumentistas, mesmo ainda estando um bocado longe de onde queremos chegar. Contudo, extraiu-se o melhor de todos nós. Digo isso pois conheço-nos bem e sei das nossas qualidades, mas também sei das nossas “fraquezas”. Por aí conseguimos, pelo menos do meu ponto de vista, fazer músicas que nos dão grande motivação e luta mas que também nos preenchem enquanto ouvintes. Isso é o mais importante, pois não gostamos de fazer coisas que não nos dêem trabalho e que pensar. Curtimos a adrenalina de termos de estar concentrados em certas partes para não darmos “barraca”! (risos) Falando por mim, também curto estar sentado ou em pé, tanto faz, a ouvir uma malha de Metal que me meta a abanar a cabeça, pelo menos, e com as nossas músicas isso acontece… e muito mais! Creio que as vantagens desta experiencia são evidentes e é para repetir no futuro, não sabemos se no próximo álbum mas com quase uma total certeza vamos voltar a ter o “Açoriano” a controlar as operações.
Quanto tempo levou a escrever “When The Hunter…”, sendo que pelo meio houve entradas e saídas de elementos? Bixo: Mais ou menos dois anos. As saídas vieram abalar um pouco o grupo mas nunca me tiraram a vontade nem a do Pica de seguir em frente, pois sempre fui eu que compus a maioria dos riffs e malhas, tendo sempre uma opinião activa do Pica e do Nelson, até certa fase, sendo que por momentos e devido a uma fase da vida menos boa do Nelson foi necessário abrandar e dar mais importância às amizades do que à música. Desta perspectiva a demora foi um pouco maior do que se planeava mas também sei que foi fundamental para as coisas estarem como estão hoje. Chegámos as estas músicas e continuaremos unidos e com um espírito de entreajuda brutal que nos dá força para continuar a querer aprender e a fazer música que nos dê uma real “pica”! As entradas vieram fortalecer o grupo e dar aquele “punch” de que necessitávamos: o “Açoriano” pelo que falei na resposta anterior e pela amizade que já vinha de outros tempos, e o André pela sua maneira “maluca” de ser que não o impede de manter a criatividade e estar disponível para levar a banda o mais longe possível, sendo agora uma das suas prioridades. Ele no início tinha algumas quatro ou cinco bandas! (risos)
Então não foi preciso alterarem substancialmente a forma de compor e trabalhar a partir do momento em que o André guitarrista e o André baixista entraram?
Bixo: Nem por isso, até agora pelo menos. No futuro, com toda a certeza, mudará, pois não estarei sozinho a inventar riffs e isso irá ser mais uma grande experiência para nós enquanto banda: fazer um álbum juntos, como uma banda que somos! Sinceramente, estou bastante curioso, até ansioso, para começar a ouvir os primeiros resultados e começar a escrever… para isso já não falta assim tanto! De certeza que vai ser bom ter mais cabeças a pensar nos riffs, baterias, etc… É sempre bom ouvir outras opiniões e poder discuti-las.
Em suma, quais são os grandes responsáveis pela evidente evolução que a banda apresenta neste primeiro longa-duração?
Bixo: A resposta é só uma, a meu ver: todos! Cada um de uma forma diferente mas todos foram importantes. Neste contexto podemos incluir também o Zé Black (ex-baixista) e o Gingado (ex-guitarrista), pois por muito pequeno que possa ter sido o contributo, ainda conseguimos “rebuscar” pequenas coisas feitas com eles.
Sendo este aquele momento particularmente marcante na vida de uma banda – o lançamento do primeiro álbum – que análise qualitativa lhe compete fazer, tentando salvar todas as distâncias que o liga a ele?
Bixo: Isso é impossível! (risos) De qualquer forma, penso que fui respondendo a esta pergunta ao logo da entrevista. Gosto de o ouvir, de tocar as suas músicas… Relativamente ao seu nível de qualidade, não me cabe, definitivamente, analisar.
Como descreveria a mensagem musical e lírica que transporta?
Pica: Numa palavra: intensa! Este álbum funciona como um todo e a parte lírica completa a intensidade musical. Numa fase inicial a ideia era pegar na luta “Homem vs. Natureza” e fazer um álbum com um só conceito mas com o passar do tempo percebi que o seu título podia levar-nos mais além. E assim foi. Aqui temos uma análise à constante luta do ser humano consigo próprio, à forma como se autodestrói e como consegue ser forte se assim o desejar. Falamos também da forma como a nossa cabeça nos conduz numa alucinante viagem pela vida onde ficar lúcido é uma grande vitória. Claro que a componente “Homem vs. Natureza” também lá está e acreditem que vamos ser derrotados. (risos)
Surpreendentemente tarda em configurar-se uma promoção ao vivo que faça jus às boas reacções que o álbum tem despertado. O que se tem passado?
Bixo: A meu ver isto deve-se ao que referi na primeira resposta. Independentemente das reacções positivas que temos tido, que até não foram assim tantas quanto isso, o facto de a promoção não ter sido tão forte e rápida como devia teve como consequência alguma falta de oportunidades para tocar ao vivo em ocasiões e situações que pudessem ser uma mais-valia para nós. No entanto, temos já algumas datas confirmadas e outras faladas que se devem realizar. Por isso, penso que é uma segunda fase de promoção ou, será mais justo dizer, uma real primeira fase de promoção ao álbum, quer a nível de imprensa quer junto do público em geral. Sinceramente e analisando a frio, acho que o timing de saída do álbum talvez não tenha sido o melhor, pois o Verão estava muito perto e, naturalmente, nessa altura há menos concertos “soltos”, está tudo mais concentrado nos festivais. Esta será mais uma experiência e aprendizagem que tiramos… Porém, bem vistas as coisas, o álbum só saiu há seis meses e ainda estamos muito a tempo. Tudo iremos fazer para fazê-lo chegar o mais longe possível.
Quais são os “sonhos” mais próximos da banda e o que será necessário para os alcançar?
Bixo: O sonho era acordar amanhã, abrir o e-mail e ter uma proposta de milhões de uma editora multinacional que nos metesse a tocar pelo mundo fora, de modo a que pudéssemos fazer vida só disto. Como sonhar ainda não paga impostos, não vejo mal em sonhar tão alto! (risos) Agora mais a sério, era mesmo esse! (risos) Pois o que nos espera nós sabemos, queremos e vamos fazer, mas assim ficava tudo bem mais fácil! Assim o que nos daria trabalho ou que pensar era mesmo só as guitarras, baterias, vozes, músicas, concertos, álcool, viajar… Enfim, tudo aquilo que pessoal como nós sonha! Agora em jeito de despedida e fugindo à pergunta, aproveito a oportunidade para saudar todos os amantes/seguidores do Metal com um grande “Viva o Metal” companheiros de “guerra”!
Nuno Costa
www.myspace.com/sevenstitchespt