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Entrevista Morbid Death

O ELIXIR DA ETERNA JUVENTUDE
“Neste trabalho não há um único tema que não reúna consenso de todos”

Seis anos depois, o maior bastião da música de peso açoriana regressou aos lançamentos. Um percurso invejável, de talento e persistência raros, assinalado por três álbuns e um DVD, resultou agora numa explosiva solução musical intitulada “Metamorphic Reaction”. Sete novas composições num EP em que os Morbid Death, mais do que reacenderem o fogo thrash há muito instinto neles, conseguem trazer o seu som para o novo milénio. Os motivos para esta ousada mas salutar mudança ficam nas linhas seguintes, nas palavras do guitarrista Paulo Bettencourt.

O título deste novo EP não podia estar mais bem enquadrado. Os Morbid Death estão claramente em fase de mudança…
É verdade! Tal como um conjunto de transformações e reacções que sofre uma rocha em estado sólido, quando sujeita a novas condições de pressão e temperatura diferentes das que presidiram a sua génese, os Morbid Death como que desenvolveram uma nova estrutura, ganharam um novo fôlego...

Esta vontade de mudança prende-se com o quê? Simplesmente a procura de satisfação pessoal enquanto músicos ou para diversificar esteticamente no sentido de manter o interesse numa carreira que já vai longa?
Na verdade e acima de tudo, esta foi resultado do nosso percurso e da vontade própria comum a todos os membros. Há já algum tempo que vínhamos demonstrando essa vontade de uma forma muito natural mas só agora nos foi possível enveredar por este caminho. Como pessoas, todos nós mudamos e isso acaba por reflectir-se também naquilo que fazemos. Para nós próprios e para quem nos ouve, isso poderá ser motivo de interesse que, por certo, nos irá dar alento e muita garra para abraçar o presente e perspectivar um futuro próspero!

Ouvi-o algumas vezes dizer que este era como que o “primeiro” álbum dos Morbid Death. Porquê este sentimento de aparente insatisfação perante o que a banda fez no passado?
Não se trata de menosprezar o que fizemos no passado mas creio que, desta vez, tivemos reunidas uma série de condições a vários níveis, para que o produto final nos pudesse deixar muito satisfeitos. Somos humanos e isso leva-nos a procurar fazer sempre mais e melhor. Na verdade, nunca havíamos trabalhado tanto para um disco como o fizemos para este. Desde a composição passando pela mensagem das próprias letras até à procura de novos métodos de trabalho. Para tal, foi essencial também o empenho dos produtores José Miranda e Carlos Rijo que contribuíram para que este disco pudesse soar mais em conformidade com a actual atitude e mensagem da banda.

Creio ser inevitável continuar a falar do que motivou tamanha mudança sonora. Como se percebe, um músico não ouve eternamente as mesmas bandas, mas nem sempre isso passa para a sua música… É como que um grito de revolta?
Estivemos um pouco mais afastados dos palcos, a trabalhar num “casulo”, desde o final do ano passado. Isso foi essencial para que pudéssemos reflectir e pôr em prática novas ideias, tal como recuperar outras que havíamos deixado em stand-by. Eu e o Rui Frias tínhamos muitas malhas “na gaveta” e estes temas acabam por ser o resultado de sentimentos e emoções que nos “atormentavam” há já algum tempo. Por outro lado, a entrada do Gualter para os comandos da bateria e todo o trabalho do Ricardo Santos a nível vocal e mesmo em termos de composição, vieram permitir que a mudança fosse acontecendo espontaneamente. Esta transformação é também resultado, em parte, do nosso percurso e das nossas deslocações ao continente, que nos permitiram ter um contacto mais directo com a realidade nacional e internacional.

Afinal, que bandas têm rodado nos vossos leitores ultimamente?
É curioso pois todos nós temos uma certa heterogeneidade em termos musicais mas, obviamente, temos algumas referências em comum. Sem querer mencionar qualquer banda em particular, de uma forma geral, in thrash we trust!

Isso pode indiciar que num próximo registo os Morbid Death soem novamente muito diferentes?
Como poderei responder a esta pergunta… Creio que (re)encontramos a nossa essência mas quem sabe o que nos poderá reservar o futuro? O que posso garantir é que, neste momento, estamos a fazer algo que nos dá imenso gozo e que nos é muito próprio. Enquanto assim for, este será o nosso caminho!

A presença do Gualter influenciou muito esta transformação sonora?
Sem dúvida que, de alguma forma, teve influência. Sempre tivemos a sorte de poder ter contado com excelentes bateristas tanto a nível musical, como a nível pessoal. O Gualter tem características diferentes dos anteriores membros, o que nos permitiu pôr em prática uma série de novas ideias e mudar um pouco a sonoridade. Trouxe “sangue novo”, muito empenho e dedicação. Tem sido fantástico partilhar com ele o respirar deste novo fôlego.

Ainda assim, “Metamorphic Reaction” é basicamente repartido por uma parte incondicionalmente pesada e outra em que a melodia típica entra em cena. Digamos que ainda assim houve o cuidado de não fragmentar demasiado a sonoridade da banda?
Houve sobretudo o cuidado de sermos sinceros connosco próprios e com aquilo que criámos. Essa melodia estará por certo intrínseca e é parte da nossa natureza, a qual não podemos negar e/ou abandonar.

Pelas reacções que tiveram no concerto de lançamento e por outras eventuais que chegaram depois, sentem já que valeu a pena esta mudança?
Sem dúvida! Até porque não estaríamos a ser sinceros connosco próprios se não estivéssemos a fazer aquilo que estamos a sentir. Obviamente que nem toda a gente poderá interpretar ou aceitar esta mudança da mesma forma mas, é como em tudo na vida. No entanto, temos tido reacções bastante positivas. Procuramos perceber e respeitar o nosso público da mesma forma que esperamos que o façam, em relação ao nosso trabalho.

Agora que há uma nova geração de público, acham que esta metamorfose ajudará especialmente os Morbid Death a afirmarem-se no séc. XXI?
Achamos que o som que estamos a praticar, apesar de assente nas raízes mais thrash da banda, é muito actual. Como tal, creio que reúne todas as condições para que esta nova geração possa partilhar desta nossa visão e isso será algo que nos dará alento para continuar com muita força!

E que relevância poderá ter o passado musical da banda, se for o caso de esta continuar por caminhos muito mais pesados? Aí será mesmo, e pegando no seu raciocínio anterior, como que um “começar de novo”? Isso será positivo ou negativo?
Do passado, o qual considero muito rico, temos a absorver todas as experiências, mesmo as menos boas, pois todas elas poderão certamente, ensinar-nos muita coisa e influenciar o nosso percurso daqui em diante. Será sobretudo por aí, pelas experiências pelas quais passámos, que antevejo como um factor positivo e catalisador dos “novos” Morbid Death.

Apesar de sabermos que a indústria discográfica atravessa uma fase conturbada, foi uma condição ou uma opção lançar este registo como edição de autor?
Foi meramente por opção própria. Não tivemos qualquer tipo de preocupação no que toca a procurar uma editora para este trabalho. Decidimos ser nós mesmos a assumir o comando e qualquer proposta que possa vir a surgir, terá de ser muito bem estudada.

Acham que é mais favorável uma banda sedeada nos Açores, que não tem grandes possibilidades de fazer digressões e, por conseguinte, assumir um compromisso exigente com uma editora, dirigir os seus destinos?
Ora nem mais. Estar ligado a uma editora obriga a uma série de exigências às quais, por diversas razões, não nos seriam possíveis cumprir. De qualquer forma, esta é uma opção nossa, tendo em conta os nossos objectivos. Não quer dizer que se aplique a outras bandas do panorama regional.

Que experiências tiraram das outras vezes em que estiveram associados a um selo discográfico?
Tempos houve em que muitas das experiências foram, de facto, muito positivas. Nomeadamente em termos de distribuição, recordo, por exemplo, que o primeiro álbum “Echoes of Solitude” (1997), sob o selo da Independent Records, esteve presente em 14 países. Na altura reuniram-se esforços também para que fizéssemos uma pequena tour pelo continente português. Já o álbum “Secrets” (2002), pela Recital, teve direito a uma edição especial para os países de Leste numa parceria com a CD-Maximum. Outros tempos houve em que as coisas não correram tão bem mas as circunstâncias eram também outras.

Porquê a opção de lançar neste momento um EP e não um álbum, já que o último data de 2004?
Bem, o que procurámos foi gravar um número de temas que nos fosse aprazível. Neste trabalho não há um único tema que não reúna consenso de todos os membros e, portanto, não existem fillers. Em termos de custos, esta opção acabou por ser também a mais viável. Grande parte foi suportada pela banda, resultando dos cachets e da venda de algum merchandise, aliada à boa vontade por parte de quem acreditou no nosso trabalho e que foram essenciais para que esta reacção metamórfica pudesse ver a luz do dia. Não podemos deixar de agradecer à própria equipa dos estúdios TNT - Total New Trax, bem como ao Rui Anjos e Ana Sofia (Baía dos Anjos), ao Victor Matos (Graficor), ao André Frias (contratempo.com) e a todos os que nos acompanharam nesta aventura. Portanto, foi o condensar de todos estes factores e apostar num trabalho mais curto, em termos de duração, mas bastante mais intenso.

Este é também o ano em que comemoram 20 anos de carreira. É quase inevitável pedir-vos um balanço…
É já um longo caminho… Cada álbum, cada concerto, cada momento em particular, tem sido uma experiência muito enriquecedora para nós enquanto banda e enquanto pessoas. Temos partilhado muitos momentos em comum e como tal, isto extravasa o conceito de banda. São relações pessoais e histórias de vida que farão parte das nossas memórias para todo o sempre. A própria interacção com os públicos, o apoio dos media e todo o feedback que temos obtido, deixa-nos muito satisfeitos e com muita vontade de continuar por longos e largos anos! A todos os que nos apoiaram e nos acompanham, um enorme obrigado pela dedicação e empenho na partilha desta nossa visão mórbida da morte… e também da vida. In Union We Stand!

Nuno Costa

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