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Entrevista In Tha Umbra

SOMBRAS DISSIDENTES
"Não fazemos música para cumprir as expectativas de ninguém"

A completar 15 anos de existência, os algarvios In Tha Umbra não quiseram deixar de celebrar o momento com o lançamento de um disco. As indicações de um rumo mais eclético e experimental, dadas no anterior “Thus Open Thine Eerie Wings Like An Eagle And Soar The Winds Of Chaos, ganham outro ímpeto no novo EP “Noire” e começa a tornar-se evidente a assunção de uma nova fase artística na sua carreira. Tal como no seu início, movidos por uma grande independência criativa, e pela essência death/black metal, o quarteto de Estombar não esconde “os amores e ódios” que desperta, mas é incontornável que são uma referência no underground nacional. Falta apenas a internacionalização, como nos confessa o vocalista/guitarrista Bruno Correia (aka BKD).

Porquê a decisão de lançar neste momento um EP e não um álbum?
Houve vários motivos que nos levaram à gravação deste EP. O nosso último álbum saiu em 2008, já se passaram mais de dois anos, e embora o próximo ainda esteja em composição, o nosso amigo Pedro Gerardo tinha o seu estúdio pronto e já tínhamos falado em trabalharmos juntos. A isso juntou-se o aproximar do 15º aniversário da banda e uma vez que já tínhamos temas prontos, decidimos avançar para a gravação do EP.

Musicalmente, “Thus Open Thine…” revelou uma nova abordagem que se alastra agora a “Noire”. A que se deve essa tendência?
Nós consideramo-nos uma banda “aberta”, com uma base Death Metal. Não andamos à pesca de tudo e mais alguma coisa, mas simplesmente não impomos limites à nossa música. Tocamos tudo aquilo que gostamos. Também como pessoas e músicos, penso que já temos alguma maturidade, o que nos permite, finalmente, estar confortáveis quando nos arriscamos por determinadas sonoridades. Talvez não seja tão confortável como repetir sempre as mesmas fórmulas, mas nós não fazemos música para cumprir as expectativas de ninguém, mas sim o que nos satisfaz. Não somos uma banda profissional, não vivemos dela. Logo, sendo isto um hobby, convém que seja algo de onde tiramos prazer, sem compromissos, onde fazemos o que nos dá na real gana. A aceitação dos outros vem depois e, claro, é uma parte importante do processo, mas é algo que vem já depois de o processo estar terminado.

Mudaram muito os vossos métodos de trabalho ao longo dos anos?
No início da composição, não, continuamos a trabalhar da mesma forma, muito aberta, e posso dizer mesmo que não temos fórmulas ou métodos nessa fase. Temos temas que começaram pela música, outros que começaram pela letra ou de uma ideia apenas, de uma parte; outros que um de nós trouxe já feito de casa ou que evoluíram de jams na sala de ensaio…. O que passou a haver, com as inovações tecnológicas, foi novas ferramentas que nos permitem levar aquilo que fazemos de uma forma mais fiel para os concertos ao vivo e começamos ainda na sala de ensaio a trabalhar aspectos que normalmente só aconteciam nas gravações dos trabalhos.

Considera o input do Pedro Gerardo decisivo na forma como “Noire” soa?
Os temas já estavam muito bem preparados e definidos, mas, por acaso, a visão exterior do Pedro abriu-nos os olhos em relação a alguns aspectos. Isso não põe em causa o discurso anterior de fazermos as coisas para nós, porque muitas vezes as opiniões exteriores ajudam-nos a distanciarmo-nos o suficiente para vê-las com outros olhos, e percebermos alguns erros. Apesar de um ou outro reparo mais localizado, o trabalho do Pedro foi mais numa vertente técnica, de captação e mistura, e não um trabalho de produtor. O método de trabalho em estúdio foi o mesmo de sempre.

Neste trabalho voltam a ter várias participações especiais e uma das que se destaca é a de Célia Ramos, pela sua “reincidência”. Seria uma hipótese acrescentar uma voz feminina a tempo inteiro ou é descabido?
Penso que é descabido, pois as participações da Célia são pontuais. A tecnologia permite-nos ter a sua voz quando tocamos ao vivo sem ela lá estar e as coisas fazem sentido nos contextos em que estão. Não é o nosso caminho ter uma voz feminina a tempo inteiro, e as participações especiais são apenas como que um "tempero" e não uma parte essencial das músicas... Estas seriam as mesmas sem os convidados, simplesmente não teriam o mesmo sabor.

Há pouco dizia que já componham o vosso próximo álbum. Como o antevêem?
Já estamos a compô-lo, sem barreiras, da forma como nos sentimos bem e como todos os elementos entendem que os temas ficam melhor à medida que os vamos escrevendo. Nessa altura, o que podemos dizer, é que algumas coisas vão ser, porventura, mais agressivas, outras mais calmas, mas no fundo tratar-se-á de um trabalho que nos deixará satisfeitos.

Apesar de este ser um trabalho “curto”, traçaram planos para uma promoção intensiva, nomeadamente ao vivo, ou preferem os trabalhos mínimos e dedicarem-se, sobretudo, à concepção do vosso próximo álbum?
A partir do momento em que assumimos o trabalho e o disponibilizámos, também queremos que chegue ao máximo de pessoas possível. É claro que alguns meios não dão a mesma atenção a um EP como dão a um álbum, mas estamos a fazer o nosso trabalho de promoção a "Noire", quer ao vivo, quer através dos Media. O que não exclui que já tenhamos os olhos postos no próximo trabalho.

Como está a vossa situação editorial? O vosso anterior álbum foi lançado pela Agonia Records, mas “Noire” surge em nome próprio…
Neste momento, estamos sem editora, e ou nos aparece uma proposta muito boa ou penso que nos vamos manter assim. Temos contactos e interessados em lançar o próximo trabalho, tal como poderemos fazer tudo sozinhos e ter alguma ajuda na distribuição. Porém, para já, é um pouco cedo para definir essas coisas. A prioridade momentânea é ter um bom conjunto de temas.

Ser uma banda do Algarve dificulta-vos, de alguma forma, os objectivos?
Torna tudo mais complicado, sem dúvida, ainda mais numa época de crise. Quem organiza festivais e concertos, não tem possibilidades de dar boas condições às bandas, e, como tal, dão mais atenção a bandas de perto ou que toquem de borla, o que no fundo quer dizer: paguem para tocar. A realidade da nossa cena é um pouco essa. Nós já não somos miúdos, temos as nossas vidas, famílias e responsabilidades, e pagar para tocar, por muito gozo que nos dê tocar ao vivo, começa a ser algo que temos cada vez menos vontade.

Para além do Ruben, algum de vocês mantém-se ocupado com outro projecto?
O Ruben e Bruno Bernardo têm uma banda de covers, que na época alta toca com alguma regularidade nos bares do Algarve. Além disso o Ruben tem os Deathland e, de momento, são todos os projectos. O outro projecto relacionado com algum dos membros, os Teasanna Satanna, tem estado parado, por isso, em relação a projectos é mesmo tudo.

Em 15 anos de existência guardam mais alegrias que tristezas, certamente. Quer fazer-nos um balanço desse período?
Seria quase como escrever uma história. Agora quando olhamos para trás, é fácil dizer que não faríamos algumas coisas da mesma forma, mas temos o distanciamento do tempo e a maturidade que na altura não tínhamos. Algo que sempre tivemos, foi a vontade de fazer aquilo que queríamos e assumirmos isso. Temos a noção de que sempre andámos num pântano musical, em que para uns éramos Black Metal a mais e para outros a menos, e que não havia meios-termos. Temos quem goste muito de nós e quem nos odeie. Temos a noção de que a nossa música não é fácil, nem é música directa, para poucas audições. Pelo contrário, se pudesse aconselhar alguém em relação à nossa música, diria que tem que ser ouvida muitas vezes. Mas assumimos tudo, e continuamos a fazer aquilo que gostamos, da forma que gostamos, inspirada, motivada e interessante, como um desafio.

Há ainda algum “nó na garganta” em relação a algo que gostariam de concretizar e que ainda não foi possível?
Talvez a internacionalização completa. Tirando algumas datas em Espanha, só tocámos em Portugal e já tivemos ofertas para tours europeias que tivemos que declinar, pois punham em causa as nossas actividades profissionais. Foi algo que gostaríamos de ter feito, mas não nos arrependemos de nada. Olhamos é para a frente.

Os tempos mudaram… Perante as actuais tendências, acha que é fácil a música dos In Tha Umbra notabilizar-se?
Não sei. Acho que hoje em dia nada é fácil de notabilizar-se, a não ser que tenha grandes meios. A quantidade de novos lançamentos é absurda e a qualidade dos mesmos, na maioria, deixa muito a desejar. Sempre foi fácil estar nas modas, muitas bandas aparecem e desaparecem com estas, e as tendências, poucas sobrevivem fora dos contextos em que aparecem. Por outro lado, não há assim tantas bandas que arrisquem, que procurem ser mais do que apenas mais uma, com música pré-formatada e fechada numa caixa. Nesse contexto, o que sabemos é que das pessoas que nos conhecem, sempre nos reconheceram a criatividade e uma sonoridade muito própria, e mesmo muita gente que não gosta da nossa música, respeita-nos, o que é sinal de alguma notabilidade que temos. Talvez nos falte uma maior exposição e visibilidade, mas enquanto tivermos a consciência do trabalho que fazemos e do prazer que nos dá, tudo vale a pena.

Nuno Costa

www.pentagramma.net
www.myspace.com/inthaumbra

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