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Entrevista A Dream Of Poe

O SONHO COMANDA A VIDA
“Tens de ser o primeiro a acreditar em ti”

Jovem projecto formado em 2005 nos Açores, que une a admiração de Bruno Santos pelo doom e pela obra do influente romancista norte-americano Edgar Allan Poe. Contra “ventos e tempestades”, indiferente às contingências do mercado local, editou desde então uma demo, um disco ao vivo e dois EP’s, até chegar ao seu disco de estreia – “The Mirror Of Deliverance” - que tem surpreendido, um pouco por todo o mundo, os adeptos do metal mais soturno e melancólico. O voto de confiança foi-lhe também dado pelo selo ucraniano ARX Prod e até já se avizinha uma tournée europeia. Palavras para quê… “um espírito solitário” muito bem guiado.

Enquanto conduz vários outros projectos, nomeadamente bandas e produções em estúdio, sempre vai conseguindo conciliar o seu trabalho com os ADOP. Tem sido difícil este processo?
Por vezes é complicado mas com vontade, e alguns ajustamentos na agenda, é possível conciliar os ensaios com todo o trabalho que desenvolvo em estúdio.

No entanto, há alguma prioridade no meio disto tudo?
Por vezes há prioridades, depende sempre do momento. Em relação a A Dream of Poe o momento em que dei verdadeira prioridade foi quando o tempo para a entrega de todo o material se começava a aproximar. Mas depende muito das condições envolvidas. Se, por acaso, os In Peccatum têm algum concerto marcado, dou prioridade a eles para poder estar a 100%, da mesma forma que se estiver a gravar alguma banda em que haja datas a cumprir também lhes dou prioridade.

Como decorreu a composição de “The Mirror Of Deliverance”? Foi tudo feito nas calmas, salvaguardando o seu resultado final, ou por vezes sentiu a pressa ou ansiedade de colocar um álbum de estreia cá fora?
O processo de composição foi sempre muito calmo, analisando calmamente todas as opções com que me deparei para construir e embelezar cada música. O meu objectivo foi obter o melhor resultado final possível, atendendo, claro, aos meus conhecimentos e limitações. Naturalmente, com a aproximação dos prazos dados pela editora para entrega do master e de todo o trabalho gráfico, comecei a sentir alguma pressão para terminar tudo a tempo, mas, felizmente, como muito do trabalho foi desenvolvido previamente, esta pressão não influenciou o resultado final. A ansiedade para mostrar ao mundo este trabalho é que esteve sempre presente. Como músico penso que um dos melhores prazeres que se pode ter é receber o feedback de pessoas externas à banda.

Diga-se de passagem que a assiduidade editorial dos ADOP é invejável. Bem sabemos que o facto de ter um estúdio ajuda, mas poderá também isso ser uma estratégia para manter sempre efervescente o nome do projecto?
O facto de ter um estúdio é, de facto, determinante, mas também relembro que me aventurei nestas lides exactamente para poder desenvolver o meu trabalho com A Dream of Poe. Sendo um projecto a solo é sempre muito difícil suportar todos os custos sozinhos, e na música os custos nunca são poucos. É claro que manter esta assiduidade é importante para manter o nome vivo, especialmente nos tempos que correm em que há cada vez mais bandas activas. Todos os anos surge um número inimaginável de bandas novas, todas elas a tentarem promover os seus trabalhos. Há uma quantidade surreal de música a tentar chegar aos ouvintes. Assim, tentando lançar um trabalho por ano, é uma forma de tentar constantemente chegar aos ouvintes e relembrar que a banda continua activa.

A composição nos ADOP continua a ser um exercício solitário ou conta com a orientação de outros executantes?
É, acima de tudo, um processo solitário. É a forma como me sinto mais à vontade para compor em A Dream of Poe.

Admite algum dia formar uma banda ou acha que para isso já tem os In Peccatum, por exemplo?
É uma ideia que já me ocorreu mas que nunca a levei avante e sinceramente não sei se alguma vez levarei. Penso que para já não tenho as condições necessárias para transformar este projecto a solo numa banda a tempo inteiro. Além do mais o actual formato tem funcionado em pleno.

Desta vez não tivemos covers. Porquê?
Um dos objectivos deste trabalho foi o de dar a 100% um passo em frente. Para isso cortei com muito do que fiz no passado, o que naturalmente inclui as covers. Ainda assim, em futuros pequenos trabalhos penso continuar a incluir covers, pois é um processo que me dá grande prazer.

Aos ouvidos do público parece evidente a enorme evolução da música dos ADOP. A que acha que isso se deve principalmente?
Deveu-se essencialmente à evolução natural como músico. Os anos adicionam experiência e isso vai-se notando. Tomando a exemplo o “Sorrow For The Lost Lenore”, apesar de ter sido lançado em 2009 foi escrito em 2007. Houve um período de três anos que separou a composição deste disco do lançamento do EP “Lady of Shalott”, em que não houve qualquer demonstração da evolução sofrida enquanto músico e compositor.

Põe a hipótese de algum dia trabalhar com um produtor externo ao projecto ou acha que assumindo todo o processo há mais possibilidades de as coisas saírem como quer?
Eu sou da opinião de que trabalhar com um produtor é uma mais-valia para o produto final mas tem custos acrescidos. Uma vez mais, sendo este um projecto a solo é extremamente complicado assumir estes custos. Contudo, havendo a possibilidade financeira para tal, não hesitarei em trabalhar com um produtor experiente na área do doom metal.

Parece-me inevitável que esteja entusiasmado com as apreciações muito favoráveis que a imprensa tem feito a este álbum. Antes de mais, esperava algo assim?
De facto, foi algo que não estava à espera. Eu tinha a noção que o trabalho tinha qualidade mas não o suficiente para receber feedback tão favorável. Isto acontece porque quando passas um ano inteiro em estúdio, a ouvir sempre os mesmos temas, acabas por não reconhecer o verdadeiro potencial deles pelo facto dos teus ouvidos e a tua mente se começarem a cansar.

Sente isso como um prémio merecido que o público local não lhe soube dar?
Em parte, sim. Mas ao fim ao cabo é tudo uma questão de gosto e não posso nem devo criticar o público local por não me apoiar tanto quanto desejaria. É também importante realçar que é preciso assumir isso e uma vez que não há grande reconhecimento num determinado local, o melhor é mesmo centrar as atenções noutros mercados. O doom metal nos Açores já não tem a força e o apoio do público que tinha na década de 90. Hoje a comunidade metaleira procura sons mais modernos, o que excluiu, quase por completo, o doom metal. Isto também é possível de ser conferido através da quantidade de bandas de doom existentes na região comparativamente a outros géneros. Estou convicto que se o doom fosse mais apreciado nos Açores não existiria apenas duas bandas de doom metal na região.

Apesar de os ADOP continuarem a ser um projecto essencialmente de estúdio, admite ceder à tentação de actuar nos Açores, sendo que agora, estou em crer, o projecto já é mais popular e respeitado?
Sim, ADOP irá regressar aos palcos nos Açores por respeito e por pedido dos que têm apoiado o projecto e não se fartam de perguntar e insistir para que voltemos aos palcos.

De qualquer forma, o estrangeiro será, sem dúvida, o aliciante principal para actuar ao vivo, até porque, e como já se falou, é um mercado muito mais diversificado. Já pensa como será se isto tiver que acontecer?
Será, sem dúvida, uma grande aventura e penso que levará à confirmação da internacionalização da banda. De facto, já iniciámos os ensaios para nos prepararmos para uma pequena tournée europeia a ter lugar em Setembro. Actualmente, temos um concerto confirmado no estrangeiro num festival de doom metal e que, a seu tempo, serão anunciados datas e cabeças-de-cartaz. De momento, encontro-me em contacto com vários promotores de forma a conseguir confirmar mais datas.

O compromisso que estabelece com a ARX inclui alguma pressão nesse aspecto ou mesmo em termos de vendas?
Não, é um compromisso muito flexível, não há as pressões comuns nas grandes editoras. Mas também no caso de grandes editoras há um fundo monetário muito maior para apostar na promoção e divulgação do trabalho. A ARX Prod acaba por ser uma editora independente em que os fundos disponíveis são limitados.

Como encara o facto de uma banda de um estilo tão particular estar, aparentemente, a exportar com grande sucesso um produto gerado nos Açores?
É com alguma naturalidade que o vejo, especialmente depois de ultrapassada a surpresa com o feedback inicial. Decidi centrar todas as minhas atenções no mercado internacional uma vez que é lá que se vê e vive o doom metal, enquanto que por cá, como é sabido, o mercado é praticamente inexistente. Para mim a escolha era óbvia, assim o fiz e não estou arrependido. Aliás, é com muita satisfação que vejo que foi uma aposta ganha e que o meu trabalho é reconhecido lá fora.

É daqueles que pensa que não há barreiras quando há know-how na matéria?
Barreiras e adversidades existem sempre, independentemente do know-how. Interessa, sim, é a forma como as encaras. Se desistes logo na primeira adversidade acho que o melhor será mesmo arrumares as botas. Tens de ser o primeiro a acreditar em ti, a acreditar no teu trabalho e nunca desistir. Só assim se consegue chegar a algum lado.

A seguir, quais são as grandes prioridades dos ADOP?
Para já a prioridade é continuar a promover o álbum, preparar na sala de ensaios a tournée e também toda a sua logística.

De resto, qual é o ponto de situação dos In Peccatum?
Encontra-se de momento a gravar comigo. As baterias já estão gravadas e já iniciámos a gravação das guitarras ritmo. Este novo trabalho será em formato álbum e terá oito ou nove temas. Para já não há qualquer data definida para o lançamento, mas pensamos que ficará tudo concluído até ao final do ano.

Promove também eventos e o mais emblemático é, sem dúvida, o October Loud. Já há novidades em relação a uma próxima edição?
Já há muitas movimentações neste sentido e estamos para já à espera da confirmação do espaço para a realização do evento. O October Loud 2011 é já uma realidade e marcará o regresso dos A Dream of Poe aos palcos açorianos.

Nuno Costa


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