Líbia: Um milhão armados
Um dia depois dos primeiros bombardeamentos das forças aliadas, que arrasaram duas dezenas de alvos estratégicos do regime, o líder líbio, Muammar Kadhafi, desafiou ontem os "cruzados", referindo assim a coligação dos EUA, França, Reino Unido e outros aliados.
Depois de anunciar a distribuição de armas a um milhão de pessoas, prometeu: "A guerra será muito prolongada." No entanto, horas depois, o Exército líbio ordenou a todas as suas unidades a deposição das armas e o início imediato de um cessar-fogo.
"Vamos armar as mulheres. Vinde lutar contra as nossas mulheres, bando de cobardes", afirmou Kadhafi na TV, no segundo discurso desde o início da operação aliada ‘Odisseia ao Amanhecer'. "Estamos preparados, vamos vencer. Deus está do nosso lado. Do vosso tendes o Diabo", afirmou.
Mas a guerra terá, aparentemente, de ser ganha pela população armada, pois um porta--voz militar anunciou: "Uma ordem foi enviada às unidades militares para que respeitem um cessar-fogo imediato."
Entretanto, caças franceses e dos EUA castigaram Tripoli pelo segundo dia consecutivo, depois de os ataques de sábado destruírem mais de vinte alvos junto à capital e em Benghazi, reduto rebelde, cercado por Kadhafi. Foram ainda destruídas bases militares e antiaéreas em seis outras cidades.
Em resposta, milhares de apoiantes do regime cercaram ontem um quartel de Tripoli e o palácio presidencial, oferecendo-se como escudos humanos. "Deus, Kadhafi e Líbia, nada mais!", gritaram milhares de jovens. Os EUA asseguraram que o líder líbio "não é um alvo". Mas colunas de fumo foram vistas a sair de uma área próxima do palácio.
VIOLÊNCIA ALASTRA NA SÍRIA E NO IÉMEN
Manifestantes em fúria incendiaram ontem a sede do Partido Baas, no poder, em Deraa (Síria), no terceiro dia de protestos contra o que consideram ser um regime opressor e corrupto.
Os manifestantes incendiaram ainda o Palácio da Justiça e instalações de duas companhias telefónicas. Uma delas, a Syriatel, é propriedade de um primo do presidente Bashir al-Assad. Milhares exigiram o fim do estado de emergência, que se mantém há 48 anos. Na sexta-feira, recorde-se, morreram pelo menos quatro pessoas em Deraa.
No Iémen, o massacre de 52 manifestantes na sexta-feira causou divisões no partido do presidente Ali Abdullah Saleh, que reagiu demitindo o governo. Um ministro e o embaixador junto da ONU tinham já resignado. A revolta prosseguiu ainda no Bahrain e em Marrocos.
F. J. Gonçalves com agências
In Correio da Manhã