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Entrevista Cinemuerte

CRESCENDO ATÉ AO CÉU
“Somos a força da simplicidade, da natureza, que a nada obriga”

Não são daqueles talentos dúbios nem vulgares. Não estão para brincadeiras, nem seria possível à luz das suas capacidades. Entraram “a matar” em “Born From Ashes” e logo aí se percebeu que eram predestinados. Contudo, a fasquia foi aumentando e “Aurora Core” cimentou uma caminhada iniciada em 2002 por Sophia Vieira e João Vaz, onde já não havia resfolgadouro para tanta sumptuosidade e elegância. Hoje estão mais rebeldes, provocadores e apostaram no rock mais duro mas igualmente açucarado, para uma desaforada patuscada de sons gulosos. São assim os Cinemuerte neste regresso bravio com “Wild Grown”. Não inventaram a roda, mas põem a rolar um dos melhores discos nacionais dos últimos tempos.


“Wild Grown” marca a primeira vez que os Cinemuerte trabalham como banda. A que se deveu essa decisão?
Foi algo de muito natural, um percurso natural. O Tiago Menaia era nosso músico convidado na fase inicial da banda quando era formada apenas pelo João Vaz e por mim. Naturalmente, a relação que tínhamos com ele fortificou-se e convidámo-lo para se juntar a nós, assim como aconteceu com o Fred Gonçalves e o Sérgio Lopo. O Sérgio já era um amigo próximo da banda, pois pertenceu aos [F.E.V.E.R.], banda residente da nossa editora Raging Planet.

O processo de composição tornou-se mais complexo por esse motivo ou as ideias continuaram a surgir essencialmente da sua mente e da do João Vaz?
Digo que o núcleo de composição mantém-se meu e do João. Mas isso não anula a importância dos restantes elementos, bem pelo contrário. A sonoridade deste álbum veio-se a definir devido à nova formação.

Depois de “Born From Ashes”, os Cinemuerte foram-se desligando da electrónica e assumindo um som mais orgânico. Quais são os objectivos dessa mudança?
Como referi, a nova formação da banda traduziu-se na nova sonoridade da banda e isto aconteceu naturalmente. Não foi um objectivo.

Este álbum parece ter uma coloração mais vívida em relação a “Aurora Core”. A ideologia não difere muito, mas, aparentemente, é mais rockeiro e menos melancólico. Concorda?
Sim, Aurora Core pertence a uma fase mais obscura da banda, uma negritude muito peculiar, que abandonámos naturalmente. É um disco positivo, cheio de energia em que a banda se encontra no novo formato.

Sendo que este é o vosso primeiro disco pela Sony, sentiram-se condicionados no processo de escrita ou o contracto só surge depois?
O contrato surge depois, no seguimento do reconhecimento do nosso trabalho e não apenas em relação a este último disco. Penso que sempre fomos uma banda com um som internacional, não querendo com isto desprestigiar as bandas com raízes nacionais. Respeito-as imenso. É uma questão de escolha.

Os Cinemuerte nunca foram uma banda muito pesada mas sempre surgiram algo conotados com o Metal, quer por terem feito parte de uma editora especializada ou pelas várias participações em festivais e colaborações com músicos do género. Será isso positivo para a banda?
Esta é uma questão pertinente. Como tudo na vida, existe sempre o lado positivo e o negativo. Em relação à conotação, sim, fomos erradamente catalogados por muitos. Em relação à projecção da banda, esse foi um aspecto positivo. Quanto mais tiros ao ar deres, mais hipóteses tens de acertar num fiel seguidor. Com estas investidas, ganhámos mais do que perdemos. Eu confio mais no poder de acção do que na inércia.

O Tiago Menaia é o único “metaleiro” na banda ou há mais? Digo isso pelo seu passado (e/ou presente) com os The Temple…
Não me parece que o Tiago seja metaleiro (risos). Mas só ele poderá responder a esta questão, à qual não me atrevo a responder.

Por estarem agora numa major, como é que perspectivam o vosso futuro?
Nunca nos focámos no futuro mas sim no trabalho presente. Tudo o que vier para além do hoje, é fruto da árvore que são os Cinemuerte.

E perante toda essa conjuntura e uma sonoridade tão consistente, apetece-me perguntar como estão os Cinemuerte lá fora?
Existe esta vontade de chegarmos cada vez mais ao mercado externo, porque a receptividade sempre foi boa, nomeadamente nos Estados Unidos e em Inglaterra. Com o passar dos anos, cada vez mais são os seguidores dos Cinemuerte.

Desta vez deixaram o Waldemar Sorychta, um nome firmado, para requisitar um nome muito jovem mas também talentoso. Porquê?
O Beau Burchell foi a escolha acertada para este disco, pois é um produtor e músico que vive esta sonoridade. Quer a banda da qual ele faz parte (os Saosin), quer os discos que produziu, são apostas dele muito direccionadas para o mesmo som de “Wild Grown”. O Waldemar foi uma aposta acertada para o “Aurora Core” também na medida da sonoridade desse registo, mais pesado com fortes pinceladas de metal.

Recuando a “Wild Grown”, o seu título tem uma conotação meramente pessoal ou colectiva?
Colectiva. Somos neste disco a força da simplicidade, da natureza, que a nada obriga. Simplesmente cresce.

Depois de ter deixado o Crystal Moutain Singers não abraça mais nenhum projecto para além dos Cinemuerte?
Não sinto a necessidade de abraçar uma nova viagem para além desta que iniciei com o João. Enquanto houver uma visão partilhada, sinto-me bem.

Neste momento, prestes a atingir os dez anos de carreira, consegue olhar para trás com o sentimento de total realização ou está ainda muita coisa por concretizar?
Dez anos de carreira com os Cinemuerte e em Setembro próximo faço 18 anos de carreira. A única pena que tenho é que a minha condição financeira não me tenha permitido gravar mais discos. Mas sinto-me muito realizada pelo facto de ter tido a oportunidade de viver “tudo isto”, de ter tocado com os melhores músicos, muitos deles a viver na sombra. Honra-me ter participado nos maiores festivais, mas também a “pequenez”: de ter participado na vida das pessoas mais simples que sempre acompanharam o meu percurso musical. No pequeno e no grande, vivi, e quero sempre estar a cantar.

E para finalizar, o que podem os fãs esperar da apresentação de “Wild Grown” já nos dias 7 e 9 de Julho em Lisboa e no Porto, respectivamente?
Iremos fielmente tocar os dez temas deste disco, revisitando os temas mais fortes dos seus dois antecessores. Os mais antigos levaram novos arranjos.

Nuno Costa

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