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Entrevista Sarah Jezebel Deva

O CANTO DA REBELDIA
"Não estou interessada em usar pessoas conhecidas para alcançar grandes vendas"

De menina do coro “certinha” a menina do coro “diabólica” nos Cradle Of Filth. Foi nestes últimos que se notabilizou ao longo de 14 anos e ficou conhecida no mundo artístico como Sarah Jezebel Deva. Todavia, nunca se conformou com o papel secundário e, em 2008, decidiu deixar a banda de Dani Filth para revelar todo o seu talento vocal a solo. Apesar de tudo, a primeira experiência não foi muito bem sucedida devido a graves problemas com a sua antiga editora, mas a vocalista inglesa empenhou-se em passar uma borracha no passado e revitalizou a sua carreira com “The Corruption Of Mercy”. Mais evoluído em termos de escrita a sonoridade, este novo trabalho promete aos fãs uma interessante mistura de gothic/black metal sinfónico, com um tom mais underground e livre de amarras. Resta frisar que, apesar do estatuto que tem, Sarah preserva uma humildade, carácter e sensibilidade raros, sendo reconhecida por várias campanhas de sensibilização em prol dos animais e das crianças. Mais motivos para a termos em grande consideração e para lermos as linhas que se seguem.

Do Queen’s Theatre com 11 anos para vários palcos pelo mundo fora. Como é que olha para os seus 20 anos de carreira?
Sinto-me sortuda e orgulhosa pela experiência. Conheci algumas pessoas fantásticas mas por vezes é muito esgotante. Porém, ainda há um longo caminho a percorrer. O principal é afirmar-me como vocalista principal, o que se adivinha uma tarefa árdua.

Porque é que acha que demorou tanto tempo a assumir o papel principal numa banda? Tanto quanto sei já está a preparar o seu primeiro álbum a solo há cerca de dez anos, na altura com o título “Torn Between Two Worlds”…
Ainda se lembra disso? (risos) Bom, essa demo acabou por se tornar o primeiro álbum dos Angtoria, “God Has A Plan For Us All”. A banda ficou em stand by porque pus os Cradle Of Filth em primeiro lugar, mas, agora vendo bem as coisas, acho que não o devia ter feito. Por isso, sou parcialmente responsável por não termos feito mais nada. Mas eu costumo resmungar muito com o Chris (Rehn) dizendo-lhe: “Vá, devíamos fazer outro álbum”. (risos) É um facto que foi por ter colocado os Cradle Of Filth, e mesmo os Therion, à frente dos meus projectos que atrasou a assunção do meu papel como vocalista principal.

Para além de cantar, toca algum instrumento? Que contributo deu à composição deste novo trabalho para além de cantar?
Toco um pouco de baixo, mas já há anos que não o faço. Escrevi este álbum em parceria com o Dan Abela (guitarrista), mas assinei todas as letras e melodias. Portanto, fiz muito e, para dizer a verdade, estou muito orgulhosa de mim própria!

E trabalhar com membros tão jovens permite-lhe alcançar objectivos que não conseguia com veteranos?
Não se trata de uma questão de idades, géneros ou ter “nome”, mas sim de trabalhar com pessoas com quem começaste e têm a capacidade de pensar. Não estou interessada em usar pessoas conhecidas para alcançar grandes vendas. O mais importante numa banda é a amizade e a paixão.

Sente que com a esta nova formação começou do zero em termos de química?
Hellyeah! Foi isso mesmo, mas eu gosto de desafios. Nós gostamos de um desafio! Nada disso é fácil. As pessoas pensam que por teres uma banda e lançares um disco, és rico e tens uma bela vida. Nós somos muito pobres (risos), mas vamos trabalhar ao máximo, tem mesmo que ser. A música é a nossa vida!

Em “The Corruption Of Mercy” exploraram territórios mais pesados e a composição soa mais compacta e diversificada. Que planos traçaram, musicalmente, para este disco?
Obrigado, também pensamos assim. Mas não havia outro plano a não ser o de fazer as pessoas esquecerem os temas de “A Sign Of Sublime” e darem-me outra hipótese. Para ser sincera, acho que este álbum arruinou uma parte da minha imagem. Mas é a vida. Levantei-me, limpei o pó e provei às pessoas que estavam enganadas. Eu só ouvi o “A Sign Of Sublime” umas duas vezes - as partes orquestrais, o tema ao piano e o tema-título, que adoro. Mas devido às tretas que se passaram, sinto-me também embaraçada. Sabia que tinha que fazer rapidamente um álbum e certificar-me de que mais nenhum daqueles erros seriam repetidos. Este novo trabalho foi muito mais pensado, gravado com meios profissionais e pessoas de confiança. Adoro-o, todos o adoramos. E não me importo com o que os críticos digam, não foram eles que o escreveram! Uma vez que estamos contentes com o produto final, mais nada interessa. Esperamos que os nossos fãs também o adorem e, claro, até as pessoas que não gostam de mim, por alguma razão. Venham conhecer-nos e ouvir a nossa música. Dêem-nos uma oportunidade.

Pode esclarecer-nos o que realmente se passou com as gravações do “A Sign Of Sublime”. Li que faltaram ficheiros e houve problemas com a edição…
Penso que quanto menos se falar nesse assunto melhor. Apenas aconselho a toda a gente a estar muito atenta com quem assim contractos. Tenham os olhos bem abertos caso seja uma editora de uma pessoa só e ainda mais se ela tiver um estúdio em casa.

O regresso à Listenable Records é uma fonte de motivação extra, após uma, aparente, má experiência com a With Rising Records?
Adoro a Listenable. São como umas pequenas abelhas muito atarefadas, para além de pessoas muito genuínas. Para ser honesta, não podia estar mais contente com outra editora.

Dada a sua longa estada nos Cradle Of Filth, que importância tiveram no seu crescimento como artista? Houve algum colega mais importante para si nesse aspecto?
Quando me juntei aos Cradle Of Filth eles eram muito pequenos. Portanto, eu cresci com o seu nome. Quando saí, era a única pessoa que estava lá há tanto tempo como o Dany. Contudo, os Therion ajudaram-me a explorar a minha voz, por isso, tenho-os em grande consideração. Quanto a colegas de banda, tenho que referir o Dany. Não vou mentir, ele reagiu mal em relação a mim várias vezes, mas também foi uma boa influência. Ele ensinou-me a usar a imaginação e a interiorizar que a escrita e a expressão não têm limites.

O Dani tem um ego difícil?
Próxima questão! (risos)

Consegue apontar alguns momentos inesquecíveis com os Cradle Of Filth?
Diria quando me juntei a eles, quando fizemos a digressão com os Type O Negative e os Gwar, as dez semanas que passámos no Ozzfest e quando saí da banda, 14 anos depois. Pode soar estranho para muitos, mas isso teria que acontecer. Tinha que seguir em frente. Passaram-se tempos muito bons mas também muitos períodos de merda.

Não há nenhum ressentimento por os ter abandonado ou por ter sido despedida?
Deixei os Cradle Of Filth para ir para a Austrália. Todas as amizades que se dissiparam foi por uma razão, porque não eram amizades à partida. Estou feliz por ter seguido em frente, pois agora posso cantar palavras a sério e não apenas “Ohhs” e “Ahhs”. Estou finalmente a receber algum crédito pelo meu trabalho árduo.

Curiosamente, li uma entrevista sua de 2002 em que dizia: “Os Cradle Of Filth são como uma família, mas sei que algum dia vou deixá-los”. Quer comentar?
Éramos como uma família em tournée. Brigávamos, beijávamo-nos e fazíamos as pazes. Mas, no fim de contas, muitas coisas estavam erradas aos olhos de muitas pessoas que já não estão lá. As pessoas mudam, crescem. Continuo próxima do Dave Pybus, ele vai ajudar-me no meu casamento dentro de duas semanas. O James (Mcllroy) também vai lá estar, bem como mais alguns ex-elementos da banda. Contudo, as pessoas têm que perceber que quando se faz parte de uma banda há sempre conflictos. Não se trata propriamente de um passeio, nem tudo é divertido. De facto, não há assim tanto divertimento. Trabalha-se muito mentalmente. Feitas as contas, os Cradle Of Filth não eram uma família. O que são eles hoje em dia? Quem está na banda actualmente? Perdi o rasto. A música é um negócio para alguns, um sustento e uma paixão para outros. Alguns de nós chegavam a deitar-se na cama em pânico por causa de certos traumas de ir em tournée. Não queriam deixar os amigos e a família para tocar uma hora por dia. Muitos músicos têm medo de dizer isso em público para os fãs não pensarem “Então porque o fazem?” ou “Afinal, estão nisso pelas razões erradas”. Criamos música porque é a nossa vida e a nossa paixão, mas as tretas que se lhe agregam…

E entre as dezenas de discos que gravou, há algum especial?
O “Midian”, “Nexus Polaris”, “Vempire”, “God Has A Plan For Us All” e o meu novo álbum. Estou muito orgulhosa de todos esses. Não consigo eleger um favorito, não consigo mesmo!

Qual é a sua opinião sobre os mais recentes álbuns dos Cradle Of Filth?
Tenho ouvido alguns temas, mas não são para mim. Dêem-me o “Midian” e o “Vempire” a qualquer hora! Porém, desejo-lhes boa sorte. Não consigo fazer muitos mais comentários. Eu sei demasiado! (risos)

Do que lhe reconhecemos da personalidade, podemos dizer que a sua frontalidade e sensibilidade para com os animais e as crianças é uma consequência da infância difícil que teve?
Talvez. Tenho uma enorme paixão por aqueles que não têm voz, porque quando eu era criança também não a tinha, ninguém me ouvia. Há medida que vais crescendo, aprendes. Não tenho a mente fechada e fico contente por ser confrontada com a crítica, se construtiva. Sinto-me confortável na minha pele, embora tenha levado vários anos a atingir esse ponto.

Sente-se uma rebelde por natureza, embora humilde e realista?
Bem, eu digo o que penso e faço o que acho que é correcto para promover a mudança. Embora não pretenda ofender ninguém, algumas pessoas não gostam de ouvir a verdade. Não me importo com o que elas pensam de mim se elas não me conhecem. É a minha vida! Mas também sou muito humilde e também sei que sou sortuda em várias coisas. Nunca dou as pessoas como garantidas e ajudo sempre o máximo que posso. Dou muito de mim às pessoas e raramente recebo algo em troca, mas isso é fixe porque gosto de fazer os outros felizes. A família e os amigos que tenho são-me muito queridos. Eu procuro também estranhos e tento levar algum brilho às suas vidas, principalmente aos fãs.

É esta a postura que falta no mundo actualmente?
Sim, a 100%! As pessoas não se importam com a forma como os seus actos afectam os outros. É como os testes que fazem nos animais. As pessoas preferem parecer bem do que preocupar-se com a origem do produto ou com o que os animais sofreram para que elas vestissem determinada peça de roupa. O esfolamento de animais vivos para o comércio de peles e outras coisas do género fazem-me nojo. Como é que posso ligar a televisão e ver uma criança que foi morta por conduzirem embriagados ou uma velhota violada em sua casa? Os humanos são a pior coisas que existe, não se respeitam uns aos outros, a não ser para proveito próprio. Eu adoro flores e até detesto quando alguém as desrespeita. (risos) Mas não sou hippy, apenas não confio em nada do que está à minha volta. A vida é curta.

Voltando aos seus projectos, é possível os Angtoria regressarem?
Sinceramente, não lhe consigo dizer. O tempo o dirá. Entretanto, continuarei a chatear o Chris! (risos) Continuo muito orgulhosa do nosso primeiro álbum.

E em relação aos Sedulus? Não encontro nenhuma informação sobre eles…
(risos) Você sabe de mais! Eles nunca voltaram porque, mais uma vez, coloquei outras bandas à frente. Pus o meu trabalho como vocalista de sessão em primeiro lugar. Por isso, quando as pessoas me perguntam “Porque é que deixaste os Cradle Of Flith?”, aí têm a resposta. Pus sempre os outros à minha frente.

Fiquei surpreso por saber que tinha trabalhado com o Pzy-Clone (The Kovenant) neste novo álbum. Significa que todos os problemas do passado estão sanados?
Os problemas que tive foram com o Pzy-Clone e o Nagash, mas as pessoas precisam de lembrar-se que quando gravámos o “Nexus Polaris” éramos muito novos. Éramos putos com 21 anos ou perto disso. Entretanto, já se passou muito tempo. Eu não vejo o Nagash desde que ensaiámos na Noruega para o Inferno Fest, o que foi fantástico. Estamo-nos a dar muito bem hoje em dia. Eu e o Pzy-Clone resolvemos os nossos problemas há cinco anos e, como disse, o que se passou foi coisa de crianças. Está tudo bem agora e estou muito contente por isso.

Recentemente, gravou um videoclip para “The World Won’t Hold You”. Quer falar-nos um pouco dele?
Tínhamos pouco dinheiro para fazê-lo, mas ao mesmo tempo tivemos sorte porque o tipo que o gravou gosta muito de mim! (risos) Estamos muito satisfeitos com ele. Foi gravado nos Murder Mile Studios, em Londres, durante cerca de cinco horas num dia muito longo. Mas divertimo-nos muito.

Vai haver uma promoção intensa do “The Corruption Of Mercy” na estrada?
Esperamos que sim, mas o dinheiro impede-nos de fazer muita coisa. Temos planeada a primeira digressão para Outubro no Reino Unido e… quem sabe o que virá a seguir?

Nuno Costa

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