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Heavenwood e Mindlock falam da crise

Com o indissimulável impacto da crise na vida dos portugueses, acresce a necessidade de perceber que repercussões esta terá também na, já de si, precária actividade musical que se prevê agravar com o aumento do IVA% aos 23% para todos os espectáculos, segundo o Orçamento de Estado para 2012.

Será que os discos se vão deixar de vender definitivamente? Os promotores continuarão a ter condições para montar eventos sendo que se espera uma diminuição considerável na afluência do público? E como ficam as bandas no meio disto tudo, sem venderem discos e com os promotores a limitarem-lhes as ofertas? São estas apenas algumas das perguntas que se colocam aos músicos nacionais hoje em dia. Por isso, pedimos a opinião a duas pessoas experientes do nosso cenário metaleiro - Ricardo Dias (vocalista/guitarrista dos Heavenwood) e Miguel Santos (baixista dos Mindlock).

"Enquanto uns choram outros vendem lenços de papel" julgo que não haverá melhor frase para podemos resumir os prós e contras desta situação de suposta crise financeira. A respectiva não é fruto do acaso, lamentável sim o facto de sermos vitimas de nós próprios.

Salvos, até á data, da indisposição da mãe natureza, Portugal acaba por ser o reflexo de sí próprio... uma nação que sonha de olhos abertos mas que mesmo assim, e de tanto sonhar, acaba por arranjar soluções dignas do mesmo sonho, neste caso o chamado pesadelo.

Efectivamente que é bom sonhar mas há que ter consicência de que o pesadelo também faz parte da ementa. Reclama-se no final mas acabamos todos por pagar a conta, regressar de estômago vazio e, quem sabe, na próxima semana, voltar ao mesmo restaurante apenas porque somos assim.

A música, e neste caso em especifico o metal em Portugal, deve sonhar mas sinceramente está na hora de acordar para fazermos uma introspecção e porque não fazer questões, por vezes crueis mas importantes, em termos de gestão de carreira, metas a atingir entre outras coisas ?

" Reza a lenda " que o heavy metal tem o seu condão de intervenção perante as dificuldades aos mais variados níveis que a sociedade moderna nos apresenta, mas não devemos esquecer que a sociedade jamais existe por si só. A mesma existe porque somos nós que a fazemos dia-a-dia.

Ricardo Dias
(Heavenwood)

"A crise internacional só veio piorar as condições, que já eram péssimas, das bandas de metal portuguesas. Acaba por ser mais um pretexto para que não se pague ou que se procure pagar o menos possivel, ao ponto de a própria banda ter de suportar custos de viagem, estadia e alimentação do próprio bolso.

De certeza que grande parte das bandas já se apercebeu em determinadas alturas, principalmente no fim de uma noite qualquer de concerto, que toda a gente envolvida nessa noite levou dinheiro para casa... menos aqueles que, por vezes, percorrem centenas de quilómetros e que são, ao fim ao cabo, o suposto centro das atenções - os artistas que levam as pessoas ao concerto.

No fim da noite, o pessoal do som arruma e é pago, o pessoal do bar arruma e conta o que tem em caixa e as bandas fazem contas para ver se o dinheiro chega para o combustivel… sem pensar nas portagens.

A introdução das portagens nas SCUT e o aumento dos combustíveis servem para agravar ainda mais as condições precárias em que dezenas e dezenas de músicos percorrem o país com a finalidade de mostrar o que têm feito nos ensaios.

O merchandise acaba por ser a principal fonte de rendimento para as bandas poderem suportar todos estes custos. Como banda de Faro, os Mindlock têm sempre a barreira dos 300kms se querem chegar a Lisboa... 600kms até ao Porto.

Tentamos, como é óbvio, tocar o maior número de vezes possível na região do Algarve, criando um balão de oxigénio que nos permita arriscar percorrer essa distância sem que tenhamos de nos endividar ou tirar do próprio bolso.

Ninguém tem a fórmula dourada para o sucesso, principalmente nas condições económicas em que se encontra o país. Exige-se às bandas que toquem de borla, quando ninguém quer trabalhar de borla. Se não fosse pelo "amor à camisola", pela paixão de tocar e dedicação aos seus projectos, arriscaríamos a dizer que não havia bandas de metal em Portugal."

Miguel Santos
(Mindlock)
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