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Live Summer Fest 2011
24.09.11 – Coliseu Micaelense, Ponta Delgada

A “mancha negra” voltou ao Coliseu para a derradeira e mais aguardada noite do Live Summer Fest. Em questão, várias bandas que o público local raramente tem a oportunidade de ver. Começando pelos NOMDELLA (recentemente rebaptizados de Code Of Hypocrisy). Repetiram a dose de 2009 e vieram comprovar a tendência positiva das jovens bandas terceirenses para “arrancar” com uma solidez notável.

Não praticando um som propriamente original, denotam, no entanto, bom trabalho a nível das guitarras e vozes (principalmente no registo gutural), e a momentos o grupo conseguiu alvoraçar os presentes com a sua mistura de death metal balançado, algo talvez próximo de uns Disbelief, e passagens mais dissonantes. Entende-se que a banda tem bons argumentos para atingir um nível interessante.

Consagrados no plano regional, e a merecer atenção também fora de portas graças a um convincente álbum de estreia – “Once In Hell…” -, os ANOMALLY só não terão, por ventura, feito a sua melhor actuação em São Miguel pelo reduzido set. Entre temas novos (que aparentemente mantêm o fio condutor da banda), uma versão para “Unequal Rights” (destrutiva, diga-se) dos Morbid Death e a já essencial “I Am God”, ficou o desejo de poder ouvir muitas mais malhas da estreia de 2008. Todo o resto esteve ao nível do que a premiada banda terceirense tem feito nas já várias presenças na capital açoriana.

Num posto de popularidade crescente, os NEUROLAG embalaram-se para uma actuação, como já vem sendo norma, potente e em que o público correspondeu à altura. Os ânimos aqueceram definitivamente ao som do metal moderno, ora mais técnico, ora mais groovy, do quinteto micaelense, embora tivessem disposto do som menos límpido da noite. Por este motivo, não nos foi possível desfrutar em pleno dos temas novos da banda, sendo que os mais antigos, e já bem conhecidos, foram suficientes para incendiar o público. Já dispensam apresentações.

A passos largos para o final, o Live Summer Fest oferecia aquele tipo de banda que assenta como uma luva no perfil do metaleiro açoriano. O death metal moderno dos canadianos THREAT SIGNAL, banda bem rodada e que trouxe grande profissionalismo àquela mítica sala açoriana, foi um enorme foco de energia perante um público que conhecia bem a sua discografia. Aproximadamente uma hora e meia de contusão sonora executada com enorme destreza técnica, muito graças aos “reforços” Alex Rüdinger (baterista) e Chris Feener (guitarrista). Os novos temas revelaram que a banda está mais madura e, sobretudo, pesada – conjugação perfeita para um espectáculo de alto nível e pleno de interacção com o público. Mais um momento marcante para o historial de concertos internacionais nos Açores, que já começa a ser numeroso, e que, espera-se, justifique a continuidade do Live Summer Fest.

NOMDELLA [actuais CODE OF HYPOCRISY]
[Diogo Vilaça – vocalista]

A presença no Live Summer Fest terá sido uma das vossas primeiras participações em festivais com bandas internacionais. Por este motivo, que balanço fazem desta experiência?
Por acaso não foi a primeira vez que actuámos com bandas internacionais. A primeira foi no Angra Rock. Em relação à experiência, já tínhamos actuado duas vezes em São Miguel e sabíamos mais ou menos o que esperar, apesar de nunca termos actuado no Coliseu. À semelhança das outras ocasiões, sentimos um grande acolhimento por parte do público, apesar de este já ter sido mais “interactivo”. De qualquer forma, sentimo-nos bem-vindos e voltaremos a tocar em São Miguel sempre que pudermos.

E acha que foi esta exposição que vos valeu o acordo com a Avantegarde Management?
Sim, sem dúvida. O que se passou foi que, no fim do concerto, o Filipe Marta veio falar connosco. Foi o primeiro contacto que tivemos com ele, ninguém estava à espera de uma coisa daquelas. Foi uma surpresa bastante agradável, deu-nos bastante motivação e isso faz-nos pensar que até temos alguma hipótese de brilhar fora da região.

Acha que isso apressará o lançamento de um registo?
Acho que sim. Já há algum tempo que estamos para gravar uns temas e acho que este episódio deu-nos uma grande motivação para aproveitarmos a oportunidade e gravarmos uma possível demo.

Como classificam a organização do Live Summer Fest traçando, por exemplo, um paralelo com o Angra Rock?
Acho que é impossível comparar! [risos] Acho que a organização do Live Summer Fest foi tão boa – cinco ou dez estrelas. O Angra Rock foi completamente o oposto. Nunca fomos tão “mimados” como fomos em São Miguel e isso é um dos grandes pontos para que queiramos voltar.

Sentem que saíram deste festival com outra experiência por terem partilhado o palco e convivido no backstage com bandas com outra rodagem como os Tarantula e Threat Signal?
Sim, definitivamente. Sempre que tivemos oportunidade de conviver com músicos com mais nome, fez-nos pôr os pés no chão e aperceber, acima de tudo, de que eles são humanos como nós. É verdade que chegaram tão longe, mas são iguais a nós, têm o mesmo amor pela música. Ficamos sempre mais enriquecidos, nem que seja por uma simples conversa em que nos dão um lado que ainda não tínhamos visto.

2010 adivinha-se um ano mais complicado em termos financeiros. Temem pelo metal açoriano ou pela própria banda?
Simplesmente vamos continuar a fazer o que sempre fizemos. Enquanto for dando para comprarmos o nosso material e tocar, avançamos! Claro que a situação está difícil para todos e às vezes temos que fazer sacrifícios. E naturalmente que temos as nossas prioridades. Infelizmente, não é a música que nos dá dinheiro. Não temos ainda propriamente um plano traçado para o próximo ano, mas acho que vamos ser nós próprios e lidaremos com a situação da melhor forma possível. Por fim, queria apenas agradecer a todas as pessoas que estão envolvidas com a divulgação da música açoriana, que organizam festivais e bandas que ainda acreditam e ensaiam diariamente para dar concertos e satisfazer o público. Em suma, um grande abraço para todos os que ainda acreditam no metal açoriano.

ANOMALLY
[Miguel Aguiar – teclista]

Como se tem ocupado a banda nos últimos tempos?
Andamos a trabalhar num próximo registo discográfico. Guardamos mais informações sobre ele para dar em primeira mão através do nosso site oficial, em data oportuna.

Que balanço fazem da vossa participação no Live Summer Fest?
Estamos com a sensação de dever cumprido. Destaco também o público que se mostrou, uma vez mais, bastante receptivo. Nota positiva também para a organização do evento.

2012 prevê-se um ano ainda mais difícil. Preocupa-vos pensar que poderão ser ainda em menor número os espectáculos de metal nos Açores?
Obviamente que sim. Tocar ao vivo é, sem dúvida, o êxtase de uma banda. E se o número de eventos for cada vez mais reduzido, certamente que não podemos ficar indiferentes a esta realidade. Contudo, penso que será um ano importante no que diz respeito a lançamentos.

E no plano interno, o que esperam?
Esperamos ter o retorno de um trabalho que já dura há três anos a nível de composição.

NEUROLAG
[David Melo – baixista]

Que balanço fazem da vossa participação no Live Summer Fest?
Em primeiro lugar, queria dar os parabéns aos técnicos de som do Coliseu Micaelense, pois foi das poucas vezes na carreira em que nos sentimos realmente confortáveis em palco. Em relação ao público, deixou-nos muito surpreendidos. Apareceram muitas pessoas. Gostámos também muito das bandas que actuaram connosco.

O que sentiram por partilharem o palco com uma banda do calibre dos Threat Signal?
Ainda hoje não acredito que partilhei o palco com eles! Trata-se de uma banda super conhecida e, ainda por cima, é uma das grandes inspirações dos Neurolag. Gostámos também muito de conviver com eles. Para dizer a verdade, estamos ainda sem palavras.

Este tipo de convívio será um dos pontos mais positivos da participação neste tipo de eventos?
O convívio foi muito positivo entre todas as bandas. Não se sentiu qualquer tipo de barreiras ou egos elevados.

Como músico sedeado nos Açores e perante o agravamento da crise financeira que se antevê para 2012, os Neurolag já têm as suas armas para tentar evitar com que esta crise vos afecte?
Em termos musicais acho que não afecta ninguém. Porém, em termos de eventos, há que recorrer a entradas pagas e isso poderá gerar maior quebra na participação do público. De qualquer forma, creio que, neste momento, a pressão da crise não tem afectado assim tanto os eventos locais.

Como tem sido os últimos tempos dos Neurolag e quais são as perspectivas para os próximos tempos?
Depois da rotina dos ensaios a preparar os concertos que tivemos nos últimos meses, vamos retomar a gravação do nosso próximo registo. Talvez ainda no presente ano façamos um concerto de lançamento.

E é-lhe possível revelar o formato deste lançamento?
Ainda não, mas uma coisa garanto: vai ser diferente! Apenas posso mencionar que o produtor é o Zé Oliveira, guitarrista da banda.

THREAT SIGNAL
[Jon Howard – vocalista / Pat Kavanagh – baixista]

Como reagiu quando recebeu o convite para tocar nos Açores?
Jon Howard: Fiquei muito entusiasmado. Para dizer a verdade, nunca tinha ouvido falar nos Açores. Pesquisei no Google Maps e descobri que ficava no meio do Atlântico, para meu grande espanto! Comecei a informar-me junto de várias pessoas e fiquei a saber que os Açores eram um bom sítio para passar férias e com uma óptima cidade. A partir daí, comecei a ficar verdadeiramente entusiasmado e a perguntar-me: “Porque raios querem que os Threat Signal vão lá tocar?” Começámos a levar a ideia muito a sério, as coisas começaram a tomar forma e a expectativa era a de um grande espectáculo, porque aparentemente muita gente queria ver a banda actuar.

Já tiveram a oportunidade de conhecer a ilha?
J.H.: Ainda não, aterrámos às 07h00. Parámos um pouco para almoçar e demos uma pequena volta de carro. Amanhã será o dia de passear e conhecer alguns sítios.

Recentemente, trocaram de elementos. Como é que tudo resultou agora com uma nova formação na gravação do vosso novo álbum?
J.H.: É verdade, houve algumas mudanças de line-up… são coisas que acontecem, as pessoas saem pelas suas próprias razões. Acabámos por recrutar um novo guitarrista (Chris Feener) e baterista (Alex Rüdinger). Principalmente este último trouxe imenso para a banda, talvez o que nos faltava até hoje. Agora temos um baterista “doentio” que escreveu todas as suas partes! Normalmente são os guitarristas que contribuem na escrita da bateria, ou eu próprio, mas desta vez o Alex fez tudo sozinho! O Chris trouxe também muitas ideias novas.

Como descreveria o vosso novo álbum que está prestes a sair (7 de Outubro pela Nuclear Blast)?
J.H.: É tremendamente pesado! Quanto nos sentámos para decidir o caminho a seguir, fomos unânimes: “Vamos fazer o disco mais obscuro, maléfico e pesado possível.” Queríamos seguir no sentido oposto do último disco, fazer algo diferente. Passámos a usar guitarras de sete cordas, o que ajudou muito a dar uma vibração diferente à banda.

E parecem mais técnicos também…
Pat Kavanagh: Parece que cada álbum que gravamos é mais técnico do que o anterior! [risos] Na altura também senti que o “Vigilance” era o mais técnico, mas talvez por te habituares a tocá-los ao fim de um tempo, eles começam a soar mais simples. De qualquer forma, penso que o novo álbum é mesmo mais técnico, com mais compassos estranhos e o trabalho de bateria é o mais insano que alguma vez tivemos!

Estamos numa ilha, com todas as suas condicionantes. Pedia-vos, por isso, um último comentário de apoio à comunidade local.
P.K.: Continuem a tocar heavy metal! É espantoso ver que têm um grande movimento num espaço isolado.

Conhecia alguma banda dos Açores?
P.K.: Não, mas fomos sendo apresentados a algumas durante o dia e assistimos a partes dos concertos que estão a abrir o festival. Todas as bandas parecem óptimas, têm grandes músicos. Perante o que vejo da comunidade local só tenho a dizer: “Continuem! Levem o vosso som para fora das ilhas.”

Acha que elas teriam hipóteses fora das ilhas?
J.H.: Do que vi esta noite, todas parecem muito sólidas e profissionais. Estamos muito surpresos.
P.K.: A nossa banda ficou conhecida pela internet. Fazíamos upload dos nossos temas em variadíssimos sites e acho que as bandas locais devem fazer o mesmo. Resultou connosco.

E o que esperar do vosso espectáculo desta noite?
J.H.: Esperamos passar um bom bocado. Tenho visto as bandas e o público; o palco e o som são fantásticos. Tudo é perfeito! Por isso, espero um concerto muito animado.

Texto: Nuno Costa
Fotografia: André Frias (www.contratempo.com)

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