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Entrevista Electric Mary

ROCK SEM ESPINHAS
“Não escrevemos temas para a idade moderna ou para os dispositivos da Apple”

Da terra de sua “majestade” AC/DC, os australianos Electric Mary estão aí a tentar conquistar o seu próprio espaço no amplo universo do rock’n’roll, enaltecendo os valores primogénitos do género e adicionando-lhe uma fumegante atitude stoner. Posto isto, deixam de parte a premeditação e dão asas à natural fluidez do som que lhes corre nas veias. É isto que revela “III”, precisamente o terceiro longa-duração do colectivo formado em 2003 pelo vocalista Rusty Brown, que acedeu a trocar alguns dedos de conversa.

Porque decidiram abraçar esta espécie de revivalismo musical? O processo que lhe é inerente constitui algo natural, no caso de terem crescido a ouvir este tipo de som, ou trata-se de algo novo para vocês?
Eu e o Venom Pete temos o “síndrome do irmão mais velho”. Por isso, temos estado a ouvir este tipo de som muito antes dos nossos tempos. Usamos o génio dos finais dos anos 60 e 70 para tudo o que fazemos musicalmente.

Como se sentem ao escrever temas cujo feeling original remonta há tantos anos atrás?
Acredito que tudo surge naturalmente. Tudo o que se afigure como uma luta no sentido criativo, nunca chega a ver a luz do dia.

Então o processo de composição de “III” terá simplesmente fluído, não houve grande preocupação com detalhes ou em tentar ser perfeito…
Como disse atrás, se as coisas não saírem naturalmente, simplesmente não as aceitamos. Contudo, obviamente que trabalhamos nos temas até ficarmos satisfeitos. Por exemplo, o tema “O.I.C.” teve três refrões diferentes.

E é fácil transportar este tipo de som para a “idade moderna”?
Nós não escrevemos temas para a “idade moderna”, para a radio ou para a nova geração de dispositivos da Apple. Apenas fazemos o que nos dá na gana. Queremos que a nossa música entusiasme os fãs e que isto seja transportado para cima do palco todas as noites.

Ficaram surpresos com o interesse da Listenable Records?
Eu falo com o Laurent [executivo da editora] há três anos por e-mail acerca do estado do rock na Europa, e considero-o um companheiro. Por isso, as coisas acabaram por ser naturais.

Como analisa a onda revivalista que se vive neste momento um pouco por todo o mundo? Será que caminha para se tornar numa moda? 
Nós não nos consideramos revivalistas. Estamos apenas a criar música com base naquilo que ouvimos e adoramos desde que me lembro que existimos. Nunca haverão uns novos Deep Purple ou Led Zeppelin. Espero apenas que possamos colocar um pequeno selo na página das grandes bandas rock de sempre.

Uma vez que são australianos, pode-se considerar que os AC/DC tiveram uma grande influência no vosso surgimento?
Os AC/DC deixaram a Austrália no início da sua carreira, mas não são as únicas referências do nosso país. Desde os anos 60 que estamos repletos de grandes bandas de rock como os Easybeats, Billy Thorpe And The Aztecs e Rose Tattoo. Posso dizer que a nossa maior influência é o Billy Thorpe. Ele era estrondoso, orgulhoso e agressivo. Todas as vezes que ele subia a um palco deixava todos rendidos.

Vê neste momento uma comunidade receptiva ao vosso tipo de som? Ou seja, os mais novos estão abertos aos clássicos ou estão inclinados, sobretudo, para sons pesados propícios ao violento mosh?
Estou certo de que estão abertos aos clássicos. Dissipei qualquer dúvida sobre isso quando fomos banda de abertura dos Deep Purple, Alice Cooper e Whitesnake. Vejo frequentemente pais de 50 anos com filhos de 25 a irem a concertos de bandas que ouviam ao longo do seu crescimento. Os pais provavelmente rodavam esse tipo de discos no carro.

Como é a vossa vida na estrada, como a das típicas bandas rock? Por exemplo, será preciso consumir ilícitos para entrar no seu espírito?
Nunca acreditei neste estilo de vida. Não bebo nem consumo drogas, mas posso ser estúpido na mesma. Contudo, estou certo de que esta forma de estar ainda prevalece, como, por exemplo, se verifica em dois elementos da nossa banda. Apesar de tudo, o mais importante é a nossa motivação para actuar e estar em digressão.

Qual é a vossa grande mensagem para as pessoas?
O que queremos é que as elas deixem os seus egos à porta quando vão aos concertos e abracem aquela hora, hora e meia de espectáculo com ambas as mãos. A partir daí, estão capazes de ir para casa e espalhar o “electric love”! (risos) Não nos esqueçamos que nascemos e morremos. O que se passa pelo meio está nas nossas mãos.

Por onde passam os vossos planos para os próximos tempos?
Em 2012 planeamos regressar à Europa. Consideramo-la a nossa segunda casa. Acho que os europeus amam mesmo o rock. Não o vêem como um jogo ou uma brincadeira de fim-de-semana. O rock é algo real e sério.

Nuno Costa


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