Revista do ano - 2011
Com a habitual fugacidade, chegamos ao término de 2011. Embora se profetize, com o pessimismo português da praxe, as dificuldades castradoras da expansão criativa, a verdade é que, seguindo uma tendência positiva, o ano de que agora nos despedimos revelou mais uma excelente colheita, a todos os níveis estéticos e geográficos. As polémicas, as surpresas, as desilusões retumbantes, também não faltaram.
Mais ao menos a abrir, saudámos o regresso, 11 anos depois, dos hard rockers Ibéria aos discos, com “Revolution”. Antes, já os Head:Stoned tinham arremessado um portentoso exercício de thrash metal com “I Am All” e os ThanatoSchizO mostravam toda a sua versatilidade e progressismo em “Origami”. Contudo, e apesar das alterações importantes no seu line-up registadas no final de 2010, ninguém esperava que a carismática banda de Santa Marta de Penaguião viria a colocar um ponto final na sua carreira, já em Setembro.
Outros dos grandes motivos de orgulho nacionais em 2011 foram os lançamentos de “Switchtense” do colectivo homónimo, “Scooping The Cranial Inside” dos Grog, “Phenakism” dos Concealment, “Luciferian Frequencies” dos Corpus Christii, “Gold” dos Men Eater, “The Road Of Awareness” dos W.A.K.O. e “Dawn Of The Sociopath” dos Echidna. De referir o esforço de editoras como a Rastilho, a Major Label Industries e a Raging Planet que continuam a assumir grande parte do scouting e lançamento das maiores pérolas nacionais. E para fechar com chave de ouro, os Moonspell iniciaram as gravações do sucessor de “Night Eternal”.
No que respeita a eventos, o Barroselas, o Vagos Open Air, o Metal GDL e o Bracara Extreme Fest mostraram a competência dos nossos promotores, mesmo que a crise possa ter contraído as receitas (e ameace contrai-las ainda mais com o IVA da Cultura a subir para 13% em 2012).
Passando agora para o plano internacional. Grande parte do primeiro semestre foi passado de sofá a ver o “reality show” que foi as audições para o sucessor de Mike Portnoy nos Dream Theater. Vitória para Mike Mangini que agarrou firmemente o seu lugar e o respeito dos fãs. E por falar em Mike Portnoy, o galardoado baterista não perdeu tempo e fundou os Adrenaline Mob e envolveu-se numa série de outros projectos que deverão ver a luz do dia em 2012.
Nas edições, a destacar (e a lista é grande, mas necessária): os Decapitated com “Carnival Is Forever” (embora com significativas diferenças musicais), os Anthrax com “Worship Music”, os Megadeth com “Th1rt3en”, os Opeth com “Heritage”, os Mastodon com “The Hunter”, os Nightwish com “Imaginaerum” (acompanhado por uma exemplar campanha de marketing que incluiu filme e jogos), os Dream Theater com “A Dramatic Turn Of Events”, os Saxon com “Call To Arms”, os Venom com “Fallen Angels”, os Sepultura com “Kairos”, os Machine Head com "Unto The Locust", os Trivium com “In Waves”, os Chimaira (marcados por uma autêntica “limpeza de balneário” com a saída de vários elementos de longa data) com “The Age Of Hell”, os Symphony X com “Iconoclast”, os Cynic com “Carbon-Based Anatomy”, os Deicide com “To Hell With God”, os Hate Eternal com "Phoenix Amongst The Ashes", os Textures com "Dualism", os Animals As Leaders com "Weightless", os Fleshgod Apocalypse com "Agony" ou os Primordial com “Redemption At The Puritan’s Hands. Até o nu-metal tentou dar um ar da sua graça. Odiado e espezinhado por muitos, viu, no entanto, os seus dois maiores ícones, os Korn e os Limp Bizkit, a lançarem “Path Of Totality” e “Gold Cobra”. O primeiro pôs os fãs dos Korn com os nervos em franja, pelo acasalamento com o dubstep, e o segundo não desiludiu os indefectíveis de Fred Durst e Cª mas também não surpreendeu.
No que diz respeito a despedidas, para além dos Judas Priest em termos de digressões mundiais, tivemos os seminais Cathedral a dizer que já tinha sido uma sorte chegarem até aqui, prometendo um derradeiro álbum para 2012, e os Skinless e os Dismember a seguirem o mesmo caminho, mas sem álbum. Sem dizer adeus, mas a atirarem-se para o “congelador”, os Disturbed afirmaram precisar de um tempo “indeterminado” para recuperar o alento. Semelhante destino para os Carnal Forge que vêem os seus membros mais empenhados em outros projectos.
Infelizmente, os amantes do rock e do heavy metal também têm lidado com a perda de vários dos seus líderes. 2011 não foi excepção, se bem que menos cruel em termos de números, e viu partir o mestre Gary Moore, guitarrista irlandês que escreveu temas inesquecíveis como "Still Got The Blues" ou "Parisienne Walkways". Também o polémico fundador dos Anal Cunt, Seth Putnam, sucumbiu a um ataque cardíaco e nem mesmo depois de morto se livrou de algum hate mail. A lamentar ainda, os problemas de saúde de Leslie West, lendário guitarrista dos Mountain, que se viu forçado a amputar uma perna.
A elite do metal também decidiu juntar-se nos “super-grupos” Blackgates (compostos por actuais e antigos elementos dos Anthrax, Testament e Whitesnake), nos S.O.S. (com figuras da nata hardcore nova-iorquina) e nos Temple Of The Black Moon (com nada mais nada menos do que Dani Filth, Rob Caggiano, King e John Tempesta). Também John Arch e Jim Matheos, dois velhos conhecidos dos Fates Warning, sentiram as saudades apertar e abraçaram um projecto conjunto.
Contudo, ninguém duvidará que o maior acontecimento do ano é mesmo o regresso dos Black Sabbath com a sua formação original. Um disco e uma digressão mundial prometem ser um sucesso flamejante em 2012.
E se pudéssemos atribuir o “Bidão de Ouro”, conhecido prémio da imprensa desportiva italiana, aos que simplesmente falharam na sua criatividade e/ou atitudes em 2011, escolheríamos os Morbid Angel com “Illud Divinum Insanus”, Lou Reed & Metallica com “Lulu” e Axl Rose com os seus molestantes atrasos.
E a coisa dos prémios podia estender-se, agora na positiva, para os Dream Theater - que estão nomeados pela primeira vez para os Grammy Awards - e para os Guns N’ Roses que, em Abril de 2012, vão passar a fazer parte do museu Rock And Roll Hall Of Fame. O grande reboliço agora na imprensa é saber se vai haver uma actuação com o alinhamento original do grupo.
No que respeita aos assuntos mais “cor-de-rosa”, escolheríamos a afirmação de Keith Caputo como transexual, os despiques entre Tom Angelripper e Tom G. Warrior, a difamação do produtor Rick Rubin pelo sempre frontal Corey Taylor, as insinuações entre Udo e os Accept ou os sempre “linguarudos” Mötley Crüe, numa série infindável de bitaites.
Pelas ilhas, a crise não deixou de se sentir nem a mudança de comportamento por parte dos promotores. Se já haviam poucas oportunidades e espaços para se tocar, a agenda ao vivo resumiu-se quase somente ao 8º aniversário da nossa zine e ao Live Summer Fest. Pequenas iniciativas, mas não menos nobres, ficaram a cargo da claque do Santa Clara, com o seu Red Boys On Fire, e do bar Evolution. Nem por isso as bandas deixaram de produzir e à cabeça estão os A Dream Of Poe que não só lançaram um exemplar “The Mirror Of Deliverance” como se tornaram na primeira banda açoriana a fazer uma digressão europeia. Da “Pérola do Atlântico” veio também “As Long As Darkness Bleeds”, novo trabalho dos experientes e sempre determinados Requiem Laus.
Ainda em termos de edições insulares, o quadro fecha-se com os Fake Society, com uma demo de dois temas, os Spank Lord e o seu álbum de estreia “Bombs Away” (infelizmente, um trabalho que não recebeu a devida promoção), os Deep Coma e “Despair As You Stare” (já o segundo em apenas dois anos), os Trigger Made Solution e o EP “Bound At Birth” (a grande revelação em termos locais) e, a fechar o ano, os Summoned Hell com o álbum “Prison Of Madness”. Incontornável é também a saída de Ricardo Santos dos Morbid Death, vocalista/baixista e fundador daquela que é a mais antiga e emblemática insígnia metálica açoriana. De momento, continua uma incógnita o futuro da banda.
E para terminar este balanço (sempre falível e que sempre peca por escasso), não podíamos deixar de endereçar um enorme agradecimento a todos os nossos leitores e a todas as bandas e editoras que continuam a dar ânimo para que a SoundZone some mais um ano à sua história. Com todas as dificuldades que se acentuam num “mercado” adverso, a crença para continuar é cada vez mais algo de que nos orgulhamos. Apesar de tudo, sentimo-nos agora mais reconfortados com a inclusão de sangue novo à nossa equipa a quem não podemos deixar de enviar um apertado abraço (Mark Martins, Bruno Sousa Villar, Tiago Pereira, Catarina Torres, João Coroa, Filipa Loulé, Julie Sousa, Nuno Carreiro e Juca Tigre) e também aos que já cá estavam (Dico) e aos que tiveram que partir (Miguel Ribeiro, Paula Martins e Pedro Oliveira).
Vão continuar por aí? Esperamos que sim.
Que 2012 seja um ano bombástico para todos!
Que 2012 seja um ano bombástico para todos!
Nuno Costa