14 anos de Corpus Christii: «Devia ter-me vendido para não passar fome»
A comemorar 14 anos de existência, os Corpus Christii, que bem se podem confundir com a entidade misteriosa e carismática de Nocturnus Horrendus (fundador e único membro da banda), foram até ao Hard Club, no Porto, para um concerto muito especial. Dada a importância do seu black metal, tanto aquém como além-fronteiras, e pela exemplar perseverança, a SoundZone não quis perder a oportunidade de dar os parabéns ao seu mentor, mas também solicitar-lhe um olhar para o passado, o presente e o futuro.
Que balanço faz destes 14 anos de existência?
Não há muito a dizer. Tem sido uma batalha constante, mas nada que não esperasse assim que me empenhei a fazer isto a sério. Por vezes, uma pessoa pensa em desistir, mas de que servia? Não há muito mais que me possa dar a satisfação que esta banda me dá. Creio que, de momento, estamos um pouco mais conhecidos. Somos convidados para mais concertos, mas sinceramente as coisas pouco mudam. Não me vejo a mudar muito. Quero sim continuar com a banda como ela é e mantê-la fiel à sua mensagem.
Que positivo e negativo há a extrair da carreira dos Corpus Christii até ao momento?
O positivo é que ainda aqui estamos, mas também é essa a parte negativa, visto muita gente não gostar da nossa existência. Sinceramente, não penso muito nisso. Faço o que tenho a fazer.
Maior orgulho e/ou decepção?
Orgulho em mim por continuar a fazer o que faço; decepção porque devia ter-me vendido para não passar fome! [risos]
Como decorreu o evento da passada sexta-feira? O público correspondeu às expectativas ou mesmo o espectáculo acabou por correr exactamente como planearam?
Não correu como o esperado. Ponderei mesmo cancelar a data, visto estar com imensas dores nas costas e no pescoço. Tive mesmo “brancas” em palco, mas lá demos o concerto. Porém, mais coisas correram mal. O som no palco não estava nada do que fizemos no teste de som, fazendo com que os restantes músicos estivessem pouco confortáveis. Curiosamente, tivemos imenso pessoal a dizer que foi dos nossos melhores concertos. Isso sim, surpreendeu-me.
Como se sentiu a voltar a tocar com o Ignis Nox [teclista nos quatro primeiros álbuns]?
Foi realmente especial. Já nos ensaios foi estranho. Não estava nada habituado às teclas. Custaram-me um pouco a entrar. Mas isso fez todo o sentido. Por mim, será algo a repetir, mas não em breve.
Alguma nota sobre um futuro trabalho dos Corpus Christii?
Estou a ponderar começar a trabalhar num novo álbum ainda este mês. Vai ser um longo processo. Nem sei no que vai dar, mas sei que vou começar agora. Está na altura de fazer algo mais. Estou cansado de simplesmente tocar ao vivo. No entanto, temos mais concertos e festivais confirmados. Por isso, vai ser difícil gerir tudo, mas há sempre forma de dar a volta.
Uma mensagem para o público dos Corpus Christii, do metal em geral e para toda uma sociedade em profunda crise económica e de valores?
Aproveito esta oportunidade para mencionar o seguinte: parem de se preocupar em tirar fotos e filmar nos concertos, em geral, com as vossas câmaras de treta e telemóveis. Comecem sim a apreciar a música e a vibrar mais. Do palco mais parece que estou a olhar para um grupo de turistas japoneses.
Fotografia: www.whispermagazine.pt.vu / www.onewinteronly.net