Entrevista Tiago Veiga [organização SWR Barroselas Metalfest]
GUERREIROS DO MINHO CELEBRAM 15 ANOS
Quinze anos de SWR, a ocasião urge a questão: qual é o sentimento? Orgulho, alguma vaidade (saudável), algum cansaço também?
“Nunca ganhámos dinheiro com o festival”
Ainda na puberdade mas de barba bem rija, o SWR Barroselas Metalfest celebra a partir
da próxima quarta-feira (25 de Abril) uns notáveis 15 anos de existência. Numa
edição muito especial alargada a cinco dias, reservam-se actuações de 60
artistas em três palcos – onde se destacam Immortal, Candlemass, Hypocrisy e
Asphyx -, mega-barbecues, desfiles de guerreiros, conferências, workshops, entre
muitas outras actividades. Nesta data especial, a SoundZone solicitou ao organizador Tiago
Veiga um olhar profundo sobre o passado, presente e
futuro daquele que se pode apelidar da “Meca” do metal extremo ibérico.
Quinze anos de SWR, a ocasião urge a questão: qual é o sentimento? Orgulho, alguma vaidade (saudável), algum cansaço também?
Um pouco de tudo! [risos] Foram, acima de tudo, quinze anos de crescimento
e de reconhecimento. Já trouxemos a Barroselas bandas que nunca esperámos vir a
trazer. Temos já um terceiro palco a funcionar e atingido uma série de coisas
que nunca pensámos atingir quando iniciámos o festival em 1998.
Outra
questão fundamental é perceber como sobrevive o SWR numa altura de crise. Há com
isso uma afectação concreta no budget
e planos do festival?
Durante todo este tempo, nunca baixámos o orçamento. Pelo
contrário, todos os anos gastamos mais dinheiro do que no ano anterior! No
entanto, nem sempre os resultados económicos foram os melhores. Posso dizer
que, no total das 14 edições já realizadas, nunca ganhámos dinheiro com o
festival. Temos apostado num crescimento e desenvolvimento sustentado o que
tem-nos trazido alguns benefícios. A crise não é a resposta para tudo, há
outros factores que também afectam a sobrevivência do festival. Nem sempre as
nossas escolhas são as melhores. Muitas vezes apostamos em bandas mais com o
coração do que com a cabeça! [risos]
Então
o vosso status orçamental e logístico
não vos obriga propriamente a ter que pensar sempre em contractar melhor por
mais barato? Ao mesmo tempo, o SWR tem o condão de revelar valores que mais
tarde se vêm a afirmar.
Como disse anteriormente, muitas vezes o coração sobrepõe-se à
cabeça e cometemos umas loucuras! [risos] Mas sempre dentro de um orçamento
bastante rígido e que fazemos por não ultrapassar. Por isso, não podemos entrar
em muitas loucuras. Ao longo destes anos, o nível das bandas tem sido cada vez
maior implicando não só mais investimento monetário como melhores meios
técnicos e humanos. Em relação à revelação de novas bandas, este sempre foi, e
será, um objectivo - divulgar e trazer a Portugal o que de melhor se vai fazendo
por esse mundo fora. Casos disso são os Aborted, Akercocke, Yattering, Scarve, Textures,
Negura Bunget, entre outros que pouco ou nada eram conhecidos quando actuaram
pela primeira vez em Barroselas.
Há
seis anos numa entrevista realizada pela SoundZone a Ricardo Veiga [membro
organizativo], foi-me confessado que algumas das melhorias que gostavam de
operar estavam relacionadas com as condições do campismo e com a criação de um
“quartel-general” montado perto do recinto, onde pudessem alojar e alimentar as
bandas. Daí para cá, há alguma novidade nesse sentido?
As condições gerais do festival melhoraram bastante nos últimos
seis anos, inclusive, em relação ao campismo e as suas infraestruturas de apoio.
Ainda não temos esse “quartel-general” mas já temos uma zona equipada para
alimentar as bandas e temos feito algumas parcerias com entidades hoteleiras da
região para alojá-las. Estas parcerias, inclusive, fazem com que o próprio
público do festival possa usufruir de preços mais convidativos no seu
alojamento.
Embora
o programa esteja disponível na íntegra, pedia-lhe uma apresentação sucinta desta
15º edição. Parece haver também muitos pontos secundários extremamente curiosos
e a merecer apresentação como a Patuscada dos Brutos, o Steel Warriors Parade,
o SWR Mega Classics, entre outros.
Destacar algo numa programação do SWR é sempre difícil. Posso
destacar o dia 25 de Abril que é o dia do 15º aniversário do festival em que,
para além da cerimónia comemorativa, haverá um concerto especial intitulado SWR
Feel Harmonics. Não é mais do que a Banda dos Escuteiros de Barroselas a tocar
temas bem conhecidos do heavy metal. Nesse mesmo dia, terá lugar um concerto
especial dos Holocausto Canibal, a Patuscada dos Brutos que não é mais do que
um mega churrasco/piquenique em que todos estão convidados. A Steel Warriors
Parade será um cortejo, um pouco à maneira das Zombie Parades mas com
guerreiros. A SWR Mega Classics é uma banda formada por elementos da organização
do SWR para tocar clássicos. Tocarão em dois dias do festival. Para além
dessas, muitas outras actividades irão acontecer: a tradicional peladinha Brutal
Soccer, um concerto no intervalo do jogo de futebol da Associação Desportiva de
Barroselas, o Rally das Tascas, os workshops, as conferências, as sessões de
autógrafos…. Para além dos concertos, vai haver bastante animação!
Segundo
estatística revelada pela própria organização, nota-se um claro crescimento de
afluência estrangeira ao festival e mesmo do número de espectáculos. A que acha
que isso se deve e de que forma tem sido importante para facilitar o vosso
trabalho de promoção/afirmação?
Esse é um facto bastante importante no crescimento do festival. É
verdade que temos, cada vez mais público estrangeiro, e já não falo apenas de
público espanhol mas de toda a Europa, nomeadamente de França, Inglaterra,
Alemanha, Suécia, Finlândia, Holanda, Bélgica. A acompanhar esse crescimento, está
o número de bandas. Esta é uma das razões porque temos agora um terceiro palco
a funcionar.
Embora
estes dados sejam de 2007, é curioso verificar que 22% do público vai ao
festival para conjuntamente visitar a região de turismo do Minho. Como é que a
organização e a própria região encaram isso? Podemos falar em objectivo
cumprido? Afinal de contas será também esse um dos grandes objectivos do
festival e das entidades que vos apoiam.
Demos passos bastante grandes mas ainda não está plenamente
cumprido esse objectivo. Ainda há muita gente que vem ao festival mas que, por
diversas razões, não conhece a região onde estamos inseridos. E, modéstia à
parte, o Alto Minho é, senão a mais bonita, uma das mais bonitas de Portugal, a
par dos Açores. Para tentar melhorar essa percentagem, temos este ano a
parceria do Turismo do Porto e Norte de Portugal.
O
vosso gabinete de marketing continua
a estudar estratégias para atingir novos públicos ou seria isso deturpar a
essência do festival? Lembro-me que raramente fugiram de sonoridades
verdadeiramente extremas, com excepção talvez aos Textures…
Não tens estado atento… [risos] E Textures não são o melhor
exemplo até porque acho que são bastante mais extremos do que muitas bandas que
se intitulam de extremas. Temos apostado bastante em bandas um pouco menos
extremas mas que surpreenderam muita gente, casos de Grayceon, Year Of No Light,
Knut, Celeste, Menace Ruin. O nosso objectivo sempre foi abranger o maior
público e, por isso, temos diversificado cada vez mais as bandas. Para além
disso, temos apostado também, no terceiro palco, em sons mais ambientais,
experimentais, ruidosos e de improvisação.
Actualmente,
o W.O.A. Metal Battle é um dos pontos marcantes do SWR, tendo mesmo substituído
as Warm Up. Que balanço fazem dos três anos desta iniciativa?
O balanço é bastante positivo. Já levámos duas boas bandas
portuguesas a representarem-nos no Wacken, o que acho bastante positivo! Claro
que há sempre críticas, especialmente de bandas que não foram seleccionadas e
que põem, muitas vezes, em causa o nosso trabalho. A verdade é que temos tido
cada vez mais inscrições, mais público nas sessões e torna-se cada vez mais
difícil o trabalho de seleccionar as bandas.
Numa
já tão longa e pródiga história, uma das grandes curiosidades é conhecer alguns
dos principais episódios (bons e maus) que viveram. O que pode relatar de mais
corriqueiro, insólito ou mesmo dramático, quer no seio da organização, quer
mesmo das bandas e do público/população de Barroselas?
Já foram tantos os episódios… Lembro-me da primeira vez em que os Akercocke
tocaram no festival em que deixaram toda a gente de boca aberta. Primeiro
porque entraram no recinto quatro tipos engravatados, acompanhados por duas
tipas de seios proeminentes e porque quando subiram ao palco deixarem toda a
gente de queixo caído! Lembro-me de outro episódio com os Negura Bunget em que,
devido a problemas com a carrinha chegaram mesmo em cima do horário para
tocarem… só tiveram mesmo tempo de subir ao palco e tocarem! Mas o mais curioso
é que ficaram cerca de uma semana na minha casa a arranjar a carrinha, a trocar
de motor e a fazer uma revisão geral. Entretanto íamos todos os dias para os
copos! [risos]
Com
que espírito vêm as bandas estrangeiras para o festival? Há algum tipo de
subestimação ou de vanglória? Pergunto isso, porque muitas delas estarão
habituadas, também mas não só, a festivais de grande dimensão.
A verdade é que muitas das que cá vêm já ouviram falar do festival
e, por isso, já estão um bocado à espera das condições que oferecemos e do
público que vão encontrar. Grande parte das vezes o festival supera as suas expectativas
e dão-nos os parabéns já que, segundo eles, temos um nível de organização e
profissionalismo muito superior ao de outros festivais onde já tocaram! Para
nós, isso é sempre um motivo de orgulho.
E,
já agora, as nacionais? É recorrente quando uma iniciativa ou um projecto
atinge grande dimensão que comecem também a surgir críticas. É o caso?
Reconhece que, por vezes, surgem em alguns sítios na internet músicos a dizer
que acham injustas as condições oferecidas?
Esta questão dava para outra entrevista! [risos] A verdade é que,
às vezes, é mais complicado lidar com as bandas nacionais do que com as internacionais…
Não quer dizer que isso não se passe com bandas internacionais mas, a verdade é
que, a maioria das bandas nacionais são pouco profissionais, não sabem gerir a
sua carreira, não sabem aceitar críticas, têm uma “dor de cotovelo” enorme e,
acima de tudo, não percebem como funciona toda a gestão à volta de um festival.
Essas críticas em relação às condições oferecidas faz-nos rir… As bandas não
entendem que tocar no SWR é tocar com equipas profissionais compostas por
excelentes técnicos, com bom backline,
sistemas de som e luz de qualidade e, acima de tudo, tocar para uma audiência
que é bastante superior à audiência normal dos seus concertos. Para além disso,
têm a possibilidade de contactar com bandas e imprensa de outros países e obter
excelentes contactos para as suas carreiras.
Consegue
apontar o ano mais positivo de sempre para o festival, tanto em termos de
público como de receita?
Isso agora…. esperemos que seja este ano! [risos]
Nesta
altura, já não seria interessante fazer um documentário sobre o festival? Vocês
ou alguém já pensaram nisso?
A ideia já surgiu há alguns anos mas não é muito fácil de
concretizar. Temos muitos registos em vídeo, áudio, fotos, imprensa e seria
interessante compilar tudo isso num DVD e livro. Todavia, os custos envolvidos
num projecto como esses são sempre elevados. Estamos este ano a estudar
novamente a edição de um DVD. Esperemos que seja desta.
O
Ricardo Veiga disse também em 2006, e passo a citar, “Queremos manter um
festival controlado, a nível amador mas com ‘cheirinho’ a profissional.” É
assim que ainda se sentem em relação ao SWR? Como ele também dizia, não faria
sentido aspirar-se a um Wacken ou Dynamo…
É óbvio que sim. Não estamos no centro da Europa para poder
aspirar a ter um festival dessa dimensão. Para além disso, penso que o que
fazemos, fazemo-lo bem e, por isso, queremos continuar assim. Temos melhorado muito
em termos de organização e também por isso temos crescido de uma forma sustentada.
Esperamos continuar assim no futuro!
Nuno Costa