Figuras proeminentes do metal nacional debatem 25 de Abril
Celebram-se hoje 38
anos desde que Portugal se desenvencilhou de um regime opressivo de quase meio
século e abraçou uma democracia muitas vezes dissimulada na raiz dos
seus princípios mais elementares. Não restam dúvidas que o 25 de Abril foi uma
data com influência determinante na vida de todos os portugueses. Mas será que
teve os efeitos práticos esperados? Será que os amantes do metal, também
reconhecidos pela sua mensagem liberalista e muitas vezes anti-sistema,
reconhecem valor à efeméride, interessam-se pelos seus factos históricos ou
entendem mesmo que será preciso um novo golpe político para que haja uma retoma
económica e moral? Saiba o que pensam sobre isso seis personalidades de relevo
no meio metálico nacional.
QUESTÕES:
1. O que representa
para si o 25 de Abril?
2. Conhece e/ou
interessa-se pelos seus detalhes históricos?
3. Acha que a
sociedade soube gozar da liberdade que lhe foi concedida?
4. Precisamos de mais
uma revolução idêntica?
RUI DUARTE [vocalista, Ramp]
1. Acima de tudo, mais um passo no caminho da
liberdade de expressão, seja ela física emocional ou intelectual.
2. Os detalhes históricos são sempre interessantes em qualquer ruptura social.
No caso do 25 de Abril nunca poderemos dissociar o contexto (nacional e
internacional) em que ocorreu. Assim como a própria ditadura ou o regicídio,
existe sempre algo mais lato do que um acto isolado. É importante a meu ver
essa noção global. Aconselho cada um a descobrir.
3. Não, embora não seja concordante com o regime pseudo-democrático em que
vivemos, considero que as pessoas continuam a demitir-se da sua importância num
colectivo social. A taxa de abstenção é reveladora, e caso não se concorde com
as propostas apresentadas pelo “cancro” da nossa democracia (os aparelhos
partidários e o seu financiamento), existe sempre a possibilidade de votar em
branco. Nunca devemos é abdicar do nosso sentido e missão cívica para que
tantos morreram e a possibilidade de manifestarmos a nossa opinião.
4. Sim, idêntica numa contínua progressão para a verdadeira liberdade de
expressão da individualidade e visão de cada um.
RICARDO DIAS [guitarrista/vocalista, Heavenwood]
1. O fim de um sonho para uns e o início de um
sonho para outros.
2. Sim, mas duvido que a realidade dos factos nos tenha sido apresentada de
forma transparente. Uma coisa é liberdade outra é libertinagem, sendo que o
conceito de liberdade é relativo. Ter apenas o direito de nos expressar não nos
leva a lado algum. Sou apologista da mudança desde que estruturada. A
infantaria serve tudo menos para vencer uma batalha. Pensem nisso.
3. Talvez tenha sido uma espécie de Woodstock ou Flower-Power Age para os
portugueses mas algo não correu como o esperado ou planeado em termos de
médio-longo prazo pelos militantes. Por isso, temo ou mesmo receio que um dia
mais tarde descubra-se que não passou tudo de uma manipulação. Assim reza a
instauração da República Portuguesa. E é melhor ficar por aqui.
4. Se se pretender denominar de revolução… sim, uma revolução básica, uma
revolução mental.
NUNO RODRIGUES [vocalista, W.A.K.O.]
1. Acima de tudo, o que me faz pensar e sentir é uma
reminiscência perdida numa atitude que hoje não revejo no povo português.
2. Claro que me interesso por todos os feitos do nosso povo e considero que
possuir esse conhecimento é fundamental para nos situarmos no presente e actual
estado do país. Contudo, em vez de revisitarmos constantemente esses feitos
como mais uma memória inerte da história do nosso pais, deveríamos extrair
conhecimentos válidos que nos motivem a agir e não apenas a comemorar saudosismos.
Pois, a meu ver, é algo que não é motivo de celebração mas sim de revolução e
mudança.
3. Acho que, de certa forma, ficámos tão deliberados da ilusão de possuir
total livre-arbítrio que não soubemos gerir rigorosamente os nossos recursos
internos e potencialidades. De tal forma que agora, com esta verdadeira
ditadura financeira, a necessidade de as explorar é emergente, dentro de
imensos condicionalismos e esforços que cada cidadão faz para tentar criar algo
com as suas próprias mãos. A liberdade é hoje expressa apenas para aqueles que
conseguem ter sucesso financeiro.
4. Não direi idêntica, mas sim uma revolução nas consciências. Temos que
melhorar a nossa consciência colectiva, nomeadamente no que diz respeito à
entreajuda, auto-sustentabilidade, ecologia e cultura.
JOHNNY ICON [vocalista, Icon And The
Black Roses]
1. A queda do regime e o início da democracia em
Portugal.
2. Conheço bem, uma vez que na minha família tem vários activistas que,
inclusive, passaram tempo na prisão durante o Estado Novo.
3. Não. Infelizmente, em Portugal essa liberdade foi durante muito tempo
usada da pior forma possível, criando uma sociedade em que apenas os piores e
menos escrupulosos aspiram a ser políticos. Ou seja, o país é gerido pelo pior
que Portugal tem para oferecer.
4. Na minha opinião não. O que é preciso é incentivar as melhores mentes do
país a serem políticos, a procurarem entrar na vida política pelos valores que
defendem e abanar pelos alicerces a estrutura de poderes instalados e
corruptos.
HUGO ANDRADE [vocalista, Switchtense]
1. Representa a realização de uma sociedade mais
justa com direitos e deveres que se pretendiam iguais para todos. Representa
ainda o fim de um regime repressivo que durante anos e anos fez com que
Portugal se isolasse do mundo e que que
resultou no enorme atraso cultural que temos hoje em dia. Se resultou ou não, é
outra questão.
2. Conheço e interesso-me. Na minha altura - não sei se hoje em dia isso
acontece - da escola primária, o 25 Abril era uma matéria obrigatória. Acho
absurdo que muita gente não saiba nada sobre a sua história, pois, ao fim ao
cabo, é a história do nosso país.
3. Eu já nasci alguns anos depois da liberdade ser devolvida às pessoas,
mas a consciência social e política só veio mais tarde. Considero que a questão
de se gozar ou não a liberdade, não pode ser vista dessa maneira. Não é
uma questão de se "saber gozar " ou não a liberdade, mas sim se essa
mesma é na realidade um facto ou é apenas e só uma mera palavra que nada mais
significa. Sei de muitos casos em que as pessoas tiveram graves consequências
por pura e simplesmente falarem a verdade.
4. Não sei se idêntica, pois os tempos são outros e a questão hoje em dia é
também algo diferente. Penso que a revolução actualmente passaria mais
pelos civis do que pelos militares. São os civis que precisam de fazer esta
revolução e mostrar a toda a classe política que não confiamos neles e que
eles têm que lá estar a defender os nossos direitos e não os seus próprios
interesses e poleiros para onde vão saltar depois do mandato acabar.
MIGUEL FREITAS [vocalista/guitarrista, Requiem Laus]
1. Não representa nada para mim. É apenas uma data com um acontecimento importante. Um bom feriado.
1. Não representa nada para mim. É apenas uma data com um acontecimento importante. Um bom feriado.
2. Conheço e respeito.
3. Sim acho, mas muitos políticos aproveitaram-se demasiado para roubar.
Por isso, o país está como está.
4. Se continuarmos como estamos, acho que sim.