Entrevista Xandria
ENTRE SONHOS E DESTROÇOS
"As editoras e os produtores sugeriam que fossemos mais comerciais"
Em
estreia fora da Alemanha, os Xandria apresentaram o seu mais recente álbum,
“Neverworld’s End”, no Incrível Almadense no passado dia 21 de Abril. Foi aí que encontrámos um Marco Heubaum
(guitarrista, vocalista, teclista) muito satisfeito por ver um projecto já com
15 anos a dar definitivamente o salto e a afirmar-se como uma das referências
dentro do metal sinfónico europeu.
É a nossa primeira tour europeia, visto que nunca tínhamos
tocado fora da Alemanha. Podemos estar agora em digressão com os Epica naquela
que é uma grande oportunidade para visitarmos outros países como Portugal,
claro, Espanha, França… No passado nunca tocámos fora do nosso país, embora
tenhamos fãs também na América do Sul (Brasil). Tem sido óptimo!
Que tal correu o espectáculo esta noite? Gostaram
do público?
Saímos do palco e todos os elementos da banda
estavam a sorrir. É claro que o fazem noutros espectáculos da tour, mas foi fantástico. O público
foi espectacular! Nós temos uns auscultadores “in-ear” e para nós é um
pouco mais silencioso. Contudo, acabou por não ser nada silencioso. O público
foi tão barulhento que parecia que não tínhamos nada nos ouvidos.
O Fabio D’amore teve uma excelente prestação esta
noite, mas tenho que lhe perguntar como está o problema no dedo de Nils
Middelhauve. Quando voltará?
Durante a tour ele apanhou uma infecção no dedo,
quando fizemos três datas de seguida. Ganhou uma bolha no primeiro dia e mesmo
assim continuou a tocar nos dias seguintes. Então o dedo infectou e quando foi
ao hospital disseram “se tivesses vindo umas horas mais tarde, teríamos que
cortar o dedo!”. Mas felizmente conseguiram tratá-lo e ele está a recuperar.
Entretanto, temos que continuar a tour sem ele, mas penso que em Maio estará
de volta.
Nestes últimos anos têm havido algumas mudanças no
vosso line-up. Como está o
ambiente dentro da banda? Sentem-se mais coesos e fortes do que nunca?
Sentimo-nos tão bem… No início também foi bom, pois
era o primeiro álbum e era tudo novidade, mas no álbum seguinte penso que nos
começámos a afastar. Mesmo a Lisa não se sentia bem e chegou à conclusão que
seria melhor sair, pois sentia que não encaixava.
Estão a gostar de trabalhar com a Manuela?
Ela é a verdadeira rapariga do metal. Somos todos
rapazes do metal e ela é a rapariga do metal – é perfeito! E por vezes piadas
de homens… sabes como são. Mas ela entende tudo perfeitamente e fartamo-nos de
rir. A Manuela vem do sul da Alemanha, de uma zona onde são todos bastante
duros de roer. Desde o primeiro dia que a conhecemos houve uma grande empatia.
Tivemos montes de candidatas de todo o mundo e depois escolhemos cerca de nove
para conhecê-las melhor e tocar com elas. Assim que a Manuela entrou connosco
pensámos “é isto, somos uma banda outra vez”! Todas as outras tinham excelentes
vozes, mas a Manuella encaixou perfeitamente. Quando ela entrou, já as letras
estavam feitas e os alinhamentos e ela fez exactamente o que tínhamos previsto.
Este é o vosso primeiro álbum com a Napalm Records.
Sentem que era o apoio que vos faltava?
Estávamos com a Dakkar Records e eles são muito
bons dentro da Alemanha, mas fora não têm grande impacto. A Napalm foram os que
nos disseram “ok, é assim que querem, então ‘bora!” Fizeram um trabalho
excelente.
Uma vez que escolheram uma forma de escrita mais
pesada, não têm receio de quebrar com os fãs antigos? Não eram mais pesados
antes por causa das editoras e produtores?
Claro que tinha a ver com as editoras e os produtores.
Sugeriam que fossemos mais comerciais. Lembro-me que enviámos uma mistura e
nos disseram “não aumentem tanto as guitarras”; nós queríamos que fosse pesado,
mas eles não. Eu, como sou o compositor principal e fã de música mais pesada,
não estava a conseguir o que queria. Eu gosto de fazer tudo, se pudesse colocar
todos os estilos de que gosto numa música, colocava! Sou um pouco como uma
criança, quero tudo. E claro que no passado não consegui fazer isso. Mas agora
sim, e mesmo que não pudesse não teria voltado a fazer outro álbum como foi,
por exemplo, o anterior. Isto foi um desafio!
Como foi o processo de gravação?
Fizemos a bateria e algumas misturas, mas as vozes
foram gravadas perto da casa de Manuella. Já conhecíamos os Principal Studios
de outros álbuns. É muito perto de nossa casa e já várias bandas de renome
alemãs gravaram lá.
Fale-nos um pouco da mensagem deste novo álbum.
Quando descobres que os teus sonhos de criança
desapareceram… não desapareceram por completo, mas quando te apercebes que não
se podem realizar… Quando somos novos pensamos “eu posso ser o que quiser e
tenho todo o tempo do mundo”. Quando eu estava na escola os professores
ensinavam-nos que tínhamos que tratar do ambiente e parar com as guerras e eu
pensava que quando aquela geração crescesse já não iriam haver guerras e o
mundo seria um lugar melhor. Agora, quase 30 anos depois, olho à volta e está
tudo na mesma e é como se fosse um sonho a desmoronar-se. Apercebi-me de que não
posso ser tudo o que quis. Claro que sempre sonhei ser musico e consegui, mas
em relação a sonhos pequenos, pessoais chegas à conclusão de que não são
possíveis de realizar e este álbum fala disso mesmo: dos sonhos, do mundo que
imaginaste, mas fica a mensagem de que mesmo assim não podes deixar de sonhar;
guarda-os sempre dentro de ti, para quando precisares voltares aos locais com
que sonhaste e encontrares paz.
O que se segue para os Xandria?
Vamos continuar a tour com Epica… Espero que enquanto estivermos
fora o nosso agente marque qualquer coisa. Muita gente pergunta “quando vêm
como cabeça de cartaz?” mas não é fácil, há muita logística e é bastante
dispendioso. Estar em tour com os Epica é muito bom, é diferente
das últimas vezes. Tenho a sensação que há uns antigos Xandria e uns novos
Xandria. Este álbum é como se fosse a nossa estreia e agora estamos a dar a
conhecer a banda fora do nosso país. Temos que o fazer passo-a-passo. Talvez
consigamos ser cabeças-de-cartaz antes do próximo álbum, não sabemos…
Uma curiosidade: de onde vem o nome Xandria?
Tinha uma banda de garagem quando era novo e tinha
este nome na minha cabeça, sem saber de onde tinha vindo, mas que me soava
muito bem. Há quem diga que provém da cidade Alexandria ou do nome russo Xandra.
Não sei de onde me surgiu, mas soou-me bem e achei que encaixava. É enigmático.
Há até uma empresa nos E.U.A. que faz brinquedos de plástico que se chama
Xandria. [risos]
Qual é o teu conselho para os jovens que estão a
começar no mundo da música?
As editoras mal assinam bandas hoje em dia e se o
fizerem são maus contratos. Mas esqueçam isso, porque se acreditam na vossa
música devem continuar. Olhando para trás, e isto pode parecer um bocadinho cliché, façam as coisas ao vosso
jeito, não aquilo que as pessoas gostam de ouvir só porque querem ser
“grandes”. As pessoas irão aperceber-se disso e vocês estarão sempre na sombra
de outras bandas. Sigam o vosso sonho, como querem e adorar-vos-ão por isso.
Filipa Loulé