Grande Reportagem - Património distorcido - o rock e o metal na ilha Terceira
R.I.P. |
Ainda que longe do simbolismo das touradas, dos santos populares e
do património mundial de Angra do Heroísmo, a ilha Terceira preserva interessantes
tradições na música alternativa, nomeadamente no rock e heavy metal.
No início e meados da década de 90 bandas como os R.I.P., Gods Sin, Deathfull, Karma, Enuma Elish ou
Manifesto deram o exemplo a um movimento hoje em dia conduzido por nomes como Anomally, Code Of Hypocrisy, Eyes For The Blind ou Somnium. Todavia,
a sua sobrevivência circunscreve-se a uma forte disputa com as vicissitudes de uma
sociedade que os seus intervenientes de traje negro consideram conservadora e demograficamente
limitada, e em que a visão política também não lhes é favorável.
Para tentar compreender este fenómeno musical na antiga ilha de
Jesus Cristo, a SoundZone inquiriu uma considerável porção de músicos e promotores,
bem como o próprio responsável pela Cultura nos Açores, o Director Regional da Cultura, Jorge Bruno.
O CENÁRIO
ACTUAL
Anomally |
Miguel Aguiar (teclista dos Anomally) é uma das vozes contestatárias
do flagelo que representa a fraca calendarização e diversidade de espectáculos. “Esse foi, é e sempre
será o maior problema. Não estamos satisfeitos, pois os lugares disponíveis
para este tipo de bandas actuarem são reduzidos e alguns até são
recusados.”
Os Somnium discernem as causas: “As entidades
preferem recorrer a bandas de covers
por serem uma aposta segura. Preferem-nas às bandas de originais. Ou as bandas
de metal se associam a alguma agência ou têm que assumir o papel de
organizadores e criarem os seus próprios eventos.”
João Direitinho (baterista dos Beyond Confrontation) considera que
“a falta de eventos e apoio é brutal, o que prejudica muito os que estão a
começar”. “O apoio no que diz respeito a salas de ensaio é uma das grandes
falhas, pois sabemos que a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo dispõe de
espaços em grande número que estão fechados e a degradarem-se. Mas Deus nos
livre de os emprestarem ou alugarem a metaleiros de cabelo comprido e vestidos
de preto.”
João Direitinho diz mesmo já ter sentido “frieza e completo
desinteresse pelas necessidades das bandas locais” aquando da solicitação de uma
sala de ensaios à Culturangra (empresa municipal que promove a grande maioria
dos eventos no concelho de Angra do Heroísmo), mesmo estando disposto a pagar.
“Pelo menos por aqui, cultura musical só passa por jazz e música clássica.”
No entender de Diogo Vilaça (vocalista dos Code Of Hypocrisy)
“este tipo de música continua a ser uma ‘ovelha negra’ cultural”, sendo
“extremamente suprimido por grande parte da população e dos media”. Diogo compreende até que “este
não é um género musical para todos” mas não compreende os episódios de “discriminação
e ignorância” que diz já ter vivido.
Ainda mais reprimidos se sentem os músicos de punk/hardcore. Paulo
Lemos (líder dos Resposta Simples) entende que “a Terceira tem um suporte
musical aceitável no que diz respeito às bandas de metal e rock”. “Contudo,
quando falamos no nosso género, as coisas já não são tão agradáveis como
gostaríamos. O facto de não existir uma tradição musical na ilha dentro do punk
rock faz com que a adesão do público não seja tão grande.”
Contudo, há quem acredite no desenvolvimento do estilo. “O
surgimento de bandas de metal tem despoletado o interesse por parte da
juventude terceirense. Felizmente parece haver um crescendo de público que tem
levado a que este género regresse ao nível de popularidade que teve nos anos
90”, diz Miguel Aguiar. Opinião semelhante tem João Direitinho: “Felizmente,
este parece-me ser um dos poucos pontos positivos.”
O
PRECONCEITO
Code Of Hypocrisy |
Carregar o “fardo” de ser “metaleiro” diz-se nunca ter sido fácil
numa sociedade supostamente livre, evoluída e de mentalidade aberta. Apesar de
tudo, este cenário não demove os músicos de “negro” da sua crença. O passado de
drogas (embora não exclusivo deste género musical), sobretudo nos anos 70 e 80,
aliado a toda uma filosofia de inconformismo e rebeldia, continua a ter um peso
significativo no obstinado preconceito que se regista em grande parte da
sociedade, sobretudo nas mais isoladas como na Terceira. “Tentamos fazer
compreender que este estilo é, como outro qualquer, uma demonstração de arte e
que apesar de algo violento as pessoas que o praticam não o são no seu
dia-a-dia, como já nos foi perguntado numa entrevista na rádio”, refere Miguel
Aguiar.
Do outro lado encontramos Ricardo Gil (vocalista dos Eyes For The
Blind – vencedores do Angra Rock 2011) também com um testemunho algo constrangedor.
“É ingrato que nos dediquemos tanto ao que gostamos e o que vemos das outras
pessoas é desprezo, chacota e preconceito. É muito comum ouvirmos algo do tipo
‘isto é música de guedelhas’ ou ‘quem veste de preto ou berra é satânico’. Nem
todas as mensagens no metal são negativas, antes pelo contrário. Muita gente
torce o nariz ao nosso som sem sequer o conhecer ou darem-se ao trabalho
disso.”
No mesmo sentido se expressam os Somnium: “No geral, as pessoas
têm tendência de associar estas bandas ao satanismo, às drogas e aos
distúrbios. Logo, as apostas neste género musical são mínimas.”
Um pouco mais conformado está Paulo Lemos: “Ouvimos sempre as
velhas piadas do pessoal que nada percebe de música. Dizem que só fazemos
barulho. Mas isso acontece com qualquer banda do género. Desde o início que não
esperamos uma grande aceitação por parte do público, daí nunca ficarmos
realmente desapontados com o pouco valor que nos dão nos Açores, em contraponto
com o que acontece no continente português.”
AS
POLÍTICAS DE APOIO
Eyes For The Blind |
Relativamente às apostas culturais do Governo e concretamente ao
incentivo para o lançamento de obras discográficas, Miguel Aguiar acredita que
há falta de critério e uma diminuição nos apoios. “Cada vez mais vem-se a notar
isso, provavelmente pelo estado em que a nossa economia se encontra, mas
outrora já foi possível ver apoios na casa dos milhares de euros a bandas de
São Miguel. Até à data, os Anomally contam apenas com as ‘pancadinhas nas
costas’.”
Ricardo Gil é mais cáustico: “Julgo que a questão tem mais a ver
com a cara do freguês. Os Anomally tiveram quase que se chatear para ter algum
apoio da Câmara para actuar no Centro Cultural de Angra do Heroísmo na
apresentação do seu álbum. A Academia da Juventude também tem uma sala de
gravação. No entanto, uma banda residente pediu uma gravação ao vivo e até hoje
a viram. Não têm o mínimo respeito pelo trabalho das bandas. Que incentivo têm
assim as bandas para procurar apoios?”
Fomos encontrar em Paulo Lemos um dos poucos beneficiados pelo
apoio governamental. Contudo, o vocalista/guitarrista considera que as
políticas culturais são “reduzidas ou mesmo nulas”. “O Governo Regional
ajudou-nos financeiramente na edição do nosso vinil de 7’ – “Gaia” -, mas
sabemos que tal não ocorre de forma sistemática. Tanto é que o ano passado
pedimos apoio para a gravação do segundo álbum e foi-nos recusado. A conversa é
sempre a mesma. Fizemos das tripas coração com os 500€ que nos deram.”
A ÓPTICA
DOS PROMOTORES
Festival Azure |
Miguel Linhares (vocalista dos Manifesto e um dos responsáveis
pelo festival Azure) diz que nota “uma certa discriminação em relação a
projectos levados a cabo por jovens angrenses” por parte da Culturangra. “Isto
já nos criou no passado situações vergonhosas para esta empresa municipal,
embora, na maioria dos casos, tenham sido resolvidas sem que se tornassem
públicas.”
“Como em muitas outras empresas municipais, a Culturangra cobra um
valor de aluguer sobre os seus equipamentos/espaços, o que é compreensível. No
entanto, claramente, os valores praticados – sem distinção pela
dimensão/ambição dos projectos/organizadores – inviabilizam neste momento a
organização de pequenos eventos locais, pelo que o recurso a outros
equipamentos/espaços, por vezes no concelho da Praia da Vitória, se torne uma
realidade.”
Miguel Linhares é ainda mais incisivo nas críticas à referida
empresa: “Dos poucos eventos organizados por esta em prol dos jovens e sem que
envolva nenhuma actividade tradicional ou erudita, como foi o caso do concerto
Fim de Verão, no Porto de Pipas, nota-se uma ausência constante de membros da
organização, uma clara falta de visão estratégica para este tipo de eventos e
uma dinâmica a merecer reparo, sendo esta a entidade em Angra responsável pela
Cultura. No caso concreto deste evento, e a título de exemplo, a pessoa que lá
estava responsável pelo mesmo tinha uma tarefa bem definida e uma autoridade
reduzida e muito limitada. Como aconteceram vários problemas, esta pessoa fez o
melhor possível e agiu o melhor que sabia e podia. Porém, obviamente que não
era a sua tarefa, nem responsabilidade. Pelo que vejo no meio local e pelos
comentários que vou ouvindo, pretende-se maior respeito e consideração pelos
artistas, organizadores e produtores angrenses”, conclui.
Festival A Colheita |
Da fornada mais jovem de promotores locais encontramos Beatriz Reis que há
três anos fundou o festival A Colheita. Porém, inclui-se também no lote de
“candidatas frustradas” a apoio pela Culturangra. “De facto, numa fase inicial
da concretização do festival, a Culturangra foi uma das primeiras entidades que
solicitei para apoio. Convoquei uma reunião, mas, infelizmente, a única maneira
em que me puderam ajudar foi fornecendo um técnico de som – o que se revelou
manifestamente insuficiente. Até me atrevo a dizer que a maior parte das
empresas de som da ilha não gosta muito da ideia de fazer um evento de
rock/metal.”
Beatriz Reis deixa ainda um conselho: “A Culturangra tem um papel bastante
activo na cultura terceirense. No entanto, devia abrir-se aos projectos mais
alternativos. Acho que esta é uma forma de arte que está a ser esquecida.”
N.R.: A
Culturangra entendeu não participar desta reportagem.
O QUE
MUDAR
Festival Angra Rock |
Actualmente, o sustentáculo do rock e do heavy metal na ilha
Terceira ainda é o festival Angra Rock, embora tenha caído em algum descrédito pela
crescente tendência mainstream. Do
outro lado estão o Festival Azure (não especializado mas que aposta esporadicamente
neste tipo de sonoridade) e o festival A Colheita que em apenas quatro edições acabou por se tornar no maior porto-de-abrigo para as bandas mais jovens.
Relativamente ao Angra Rock, Diogo Vilaça está convicto de que “acaba
por ser estéril no que toca à visibilidade das bandas”. “É um excelente palco,
com bom material, mas o que as bandas acabam por ganhar não vai muito além de
uma ou duas fotos no jornal.”
Paulo Lemos entende que o Angra Rock não deve ser visto como “o
apogeu” da carreira das bandas locais e dá algumas dicas: “Os Resposta Simples
seguem uma ideologia DIY (Do It Yourself) e sempre criaram as suas próprias
oportunidades. Editamos os nossos discos, produzimos os nossos concertos e
promovemos a nossa banda. Isto sempre sem grandes agências ou editoras por
trás.”
Pedro Freitas (vocalista/guitarrista dos Truth About The Mind) vê
outro lado “obscuro” da questão: “Já se verifica há imenso tempo que o evento é
constantemente uma desculpa para se começar novos projectos, o que não deixa de
ser excelente. Porém, o facto de muitas bandas locais o verem como o auge da
sua existência é bastante desmotivante.”
“A existência de um maior número de bares, fanzines, editoras e
distribuidoras dedicadas ao género” é para Paulo Lemos uma das saídas para o
problema. “Existindo uma maior divulgação do rock alternativo ir-se-ia traduzir
numa maior afluência de público.”
Também a formação musical, ou a sua falta de diversidade e
adaptação aos tempos modernos, é motivo de preocupação para os músicos. “Há
cinco anos que procuro formação académica para bateria, mas ela não existe.
Tenho feito alguns workshops que é o
que me vai dando mais algum conhecimento”, refere João Direitinho. Também na
óptica de Ricardo Gil, a formação ao dispor “deixa muito a desejar, uma vez que
existem apenas conservatórios e filarmónicas”.
ENTREVISTA
JORGE BRUNO (DIRECTOR REGIONAL DA CULTURA)
“Todas as expressões
culturais estão em pé de igualdade quanto ao acesso aos apoios”
As pessoas da minha geração cresceram e tornaram-se adultos
num período de afirmação da cultura pop e rock, ou seja nos anos 70 do século
passado. Por conseguinte, esta cultura moldou claramente a formação das minhas
opções ao nível do gosto musical.
Numa altura em que
já foram feitas algumas sessões públicas de discussão de um novo diploma para
os apoios culturais, que conclusão lhe é possível tirar e que perspectivas
estão a ser vocacionadas?
O Governo dos Açores, através da Direção Regional da
Cultura, recolheu nos espaços destinados à discussão e formulação de opiniões e
sugestões em torno deste diploma, muitas informações úteis para o seu
aperfeiçoamento, o que, de resto, era o objetivo que pretendia alcançar com a
sua realização.
O reconhecido músico açoriano Luís Alberto Bettencourt classificou estas sessões como "uma desilusão" e onde "faltaram conclusões". Que informações úteis foram recolhidas destes eventos?
A DRaC considera que a consulta pública efectuada tendo em vista a reformulação do decreto legislativo regional n.º 29/2006/A, de 8 de Agosto, foi muito positiva e correspondeu aos objetivos traçados. Das várias sessões resultaram sugestões úteis e pertinentes que deverão contribuir para o aperfeiçoamento do diploma em apreço.
Grande parte dos
músicos dentro do rock/heavy metal considera que “simplesmente não existem
políticas de apoio” a estas formas de expressão artística, sobretudo no sentido
da gravação/edição de obras originais. Que análise faz destas afirmações?
A Direção Regional da Cultura já apoiou alguns projetos
nesta área, nomeadamente a edição do vinil “Gaia”, de Paulo Bettencourt Lemos,
em 2010, bem como os festivais Angra Rock, entre 2004 e 2007 (através da
Associação Cultural Angrense), e Punkada Fest, em 2011.
Num artigo de Luís Gil Bettencourt, também
músico reconhecido da nossa “praça”, é alertado o facto de ser imposto aos
beneficiários de apoios algumas duras contrapartidas. Em concreto, e no caso do
disco "Gaia" dos Resposta Simples, o músico condena que por um apoio
de 500€ a banda tivesse que ceder 40 exemplares à DRaC (num valor comercial de
400€). Citando ainda Luís Gil Bettencourt, "bastava apenas a presença de
um responsável da DRaC no lançamento do disco". Que análise lhe merece
estas afirmações?
Em 2010 os
contratos de financiamento das edições estabeleciam a entrega de 10% da tiragem
como contrapartida. Em 2011 estabeleceu-se a seguinte orientação, relativa à
entrega de exemplares, como contrapartida, de acordo com os subsídios
atribuídos: 500€ – 5 exemplares; 1.000€ – 10 exemplares; 3.000€ – 15 exemplares;
5.000€ – 50 exemplares; 10.000€ – 100 exemplares. Para além disso, a DRaC tem
acolhido solicitações de alguns promotores que se propõem entregar um número de
exemplares diferente de modo a que os respectivos projetos não sejam
inviabilizados.
Esta será uma altura
oportuna para perguntar: as designadas culturas
alternativas/urbanas/contemporâneas passarão a ter outro nível de importância
num presumível novo regime jurídico da política cultural do Governo?
Seja qual for a classificação que se dê, todas as
expressões culturais estão em pé de igualdade quanto ao acesso aos apoios da
Direção Regional da Cultura. A partir do momento
em que é presente uma candidatura ao regime jurídico de apoios a actividades
culturais, qualquer projeto cultural passa exactamente pelos mesmos trâmites e
critérios de apreciação.
Muito
objectivamente: vale a pena uma banda regional de rock/heavy metal concorrer a
apoios, subsídios ou bolsas por parte da DRaC?
Obviamente que vale. No entanto,
isso não significa, necessariamente, que será apoiada, uma vez que isso depende
da análise da comissão de apreciação constituída para o efeito. Como já referi,
foram apoiadas bandas e festivais neste género musical.
Atendendo a que é
prioritário nestas instâncias o conhecimento aprofundado dentro das mais
diversas formas de expressão artística, como classifica a
capacidade/versatilidade da comissão de apreciação das DRaC para discernir o
que é de “Relevante Interesse Cultural” para os Açores?
A comissão de apreciação é constituída por personalidades
de relevante mérito cultural e de áreas culturais distintas, justamente para
que seja possível abarcar um leque o mais abrangente possível de interesse e
conhecimento cultural.
Dos mais de 20 anos
de história deste género musical nos Açores, com mais de 100 bandas criadas e
mais de 300 músicos envolvidos, de onde se destaca o músico internacional Nuno
Bettencourt (Extreme), justifica-se outra atenção por parte do Governo?
Todas as diversas áreas culturais, sem excepção, merecem a
atenção do Governo Regional dos Açores.
Um dos grandes
problemas que se coloca aos músicos regionais é a falta de espaços versáteis, com
dimensão ajustada à realidade do nosso mercado e com qualidade logística e
acústica para o desenvolvimento de espectáculos. Reconhece que têm sido
negligenciados alguns aspectos na planificação e construção de certos edifícios
concebidos apenas para receber teatros, palestras ou concertos de música
clássica e/ou ligeira?
Têm sido colmatadas algumas
lacunas no domínio equipamental a este nível com a construção de novos espaços,
adequados ao efeito, de excepcional qualidade. Considere-se, por exemplo, as
recentes instalações da Academia da Juventude da Praia da Vitória e as obras,
em curso, na antiga fábrica do álcool da Ribeira Grande, onde será instalado o
Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas.
Neste momento, o
orçamento dedicado à Cultura nos Açores ronda que valores?
O orçamento do Governo dos Açores na área da Cultura
situa-se em 26,2 milhões de euros e o reservado para apoiar projetos culturais
é de aproximadamente 1 milhão de euros.
A grande massa de
músicos açorianos envolvidos com o rock/heavy metal queixa-se da falta de
alternativas ao ensino musical tradicional ministrado em conservatórios e
filarmónicas. A DRaC tem em consideração que são precisos incentivos à formação
musical adaptada a outras realidades?
Considero que não deve existir ensino específico nesta
área. Qualquer músico deve ter formação musical de base e depois escolhe o
estilo musical que pretende desenvolver. Eventualmente podem ser realizados workshops direcionados para este estilo
musical.
Como analisa o facto
de as novas gerações açorianas já não sentirem tanto interesse pelas suas
raízes musicais? Será uma realidade a combater ou a fomentar com o implemento
de mecanismos adaptados ao desenvolvimento de artes contemporâneas e/ou
alternativas?
Não partilho desta opinião. Considero, pelo contrário, a
existência, actualmente, de uma saudável revisitação crítica das raízes da
música tradicional açoriana.
Em termos de herança
histórica, o folclore e as filarmónicas são algo inquestionavelmente
importante. No entanto, do ponto de vista meramente artístico, há a ideia de
que se mantêm estanques há muito tempo. Será por não haver uma renovação de
conceitos, uma adaptação ou uma evolução estrutural, que tendem a decrescer de
importância para as novas gerações?
Essa ideia não está de acordo com a realidade no que
concerne às filarmónicas. Estas têm vindo a renovar o seu repertório na área da
música ligeira, o que tem permitido cativar os jovens e a afluência de público
aos concertos. No folclore já é diferente, uma vez que esta área, em termos
artísticos, recolhe e apresenta repertório relacionado com a herança histórica.
A arte nos Açores é
um ramo precário. Como se pode reverter esta situação?
Também não partilho desta opinião. Os Açores têm criadores
culturais no domínio das artes com trabalhos que se situam a um elevado nível.
O que é para si a
verdadeira expressão cultural açoriana?
A excepcional riqueza do nosso património móvel, imóvel e
imaterial e a nossa forte capacidade criadora.
Nuno Costa
Fotografia: direitos reservados
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