Entrevista - Dream Circus
SEM HORA CERTA PARA ROCKAR
"Acredito que temos o nosso caminho e não somos clones de ninguém"
Cerca de três meses após o lançamento de "Land Of Make Believe" que balanço vos é possível fazer em termos de feedback?
Quais são
os vossos principais planos para 2013? Andar na estrada o máximo possível ou já
pensam num próximo registo?
"Acredito que temos o nosso caminho e não somos clones de ninguém"
Quase
em "pezinhos de lã", os Dream Circus emergem do underground luso
depois de terem feito um percurso inverso. Assumindo que eram até há pouco tempo
mais apoiados no estrangeiro, o que se infere da ligação à britânica Casket/Copro
Records, o grupo com raízes no Canadá e Reino Unido, agarra-se com unhas e
dentes a uma herança rock/grunge que estão convictos de que ainda tem alma e chama
a nível global. É com os olhos em Seattle mas com ascendente aceitação em
Portugal que nos apresentam dez faixas enérgicas e bem consistentes no álbum de
estreia "Land Of Make Believe". Contra o superficial e o "faz de
conta", o vocalista James Powell explicou o momento de um projecto que se
assume no tempo e rumo certos.
Cerca de três meses após o lançamento de "Land Of Make Believe" que balanço vos é possível fazer em termos de feedback?
É positivo, no sentido que quem tem
ouvido o álbum, quase universalmente o tem elogiado e curtido. Mas lá está,
sentimos que temos quase uma obrigação de pôr mais pessoal a ouvi-lo, pois
sabemos que existem muitas pessoas que gostam dele mas ainda não sabem, porque
ainda não o ouviram!
Recentemente
editaram o videoclip para "Going
Down". Porque escolheram este tema para representar o vosso primeiro disco
e o que nos podem dizer sobre o seu guião?
Para dizer a verdade, não foi muito
fácil. Muita gente diz isso, mas gostamos mesmo dos dez temas do álbum e, sinceramente,
teria ficado contente utilizando qualquer um deles para single ou videoclip. Entretanto,
"Going Down" é um tema directo a nível de som e letras e, ao
contrário do que se calhar seria de esperar, não queríamos usar um tema mais soft ou acessível, porque queremos dar
uma ideia verdadeira da nossa identidade àqueles que nos vão ver e ouvir pela
primeira vez.
Os Dream
Circus são quase uma banda multinacional, uma vez que os seus elementos têm
raízes no Canadá e Reino Unido. De que forma isso se relaciona com a vossa
forma de trabalhar e de se promoverem?
Acho que não tem grande influência.
Possivelmente, o meu nome ser inglês e o facto de não soar estrangeiro a cantar,
pode ter ajudado aqui ou ali... mas em geral, como todos vemos, as bandas de
qualidade em Portugal saem cada vez mais para fora e têm mais sucesso no
underground europeu e mundial. A nível de como trabalhamos, acho o fazemos como
qualquer outra banda que tem uma paixão grande pelo que faz. Somos sérios e
ambiciosos, mas fazemos a cena por amor e isso penso que se nota em palco e nas
gravações. A ideia é sempre essa: fazer algo sincero... não interessa se és
chinês, dinamarquês, ou indiano, isso rende sempre.
Pode haver
quem ache que estão deslocados no tempo em termos musicais. Acham que a vossa
costela grunge é uma vantagem ou desvantagem nos dias que correm?
É difícil avaliar isso. Se formos
ver, as bandas de Seattle (Alice In Chains, Soundgarden, etc.) estão a lançar álbuns
novos e a fazer digressões com grande sucesso. Será um ressurgimento desse
movimento ou apenas um regresso pontual de algumas dessas bandas? Não sei, mas
também não me interessa assim muito. Nós gostamos do que tocamos e não será por
maior ou menor disponibilidade do mercado que iremos mudar alguma coisa nesse
aspecto. Para além disso, e apesar de reconhecer as nossas influências dessas
bandas que e de outras, acredito que temos o nosso caminho e não somos clones
de ninguém. Apenas temos influências como todos, e quanto ao estarmos
deslocados no tempo, existem muitos movimentos retro onde o pessoal está a
clonar música dos anos 60, 70 e 80... É difícil fazer algo onde não se note
algum tipo de referência desses períodos tão importantes para o desenvolvimento
da musica moderna.
O cenário
rock/metal nacional tem características para vos receber de braços abertos ou o
underground está muito virado para os sons extremos?
Excelente pergunta. Está, sem dúvida,
muito virado para os extremos, mas se avaliarmos o mercado em geral, já não é
bem assim. Por exemplo, quando os Pearl Jam vêm a Portugal, vendem
incrivelmente, e o mesmo com os Alice In Chains. Portanto, estilisticamente
existe abertura do público, de certeza absoluta, e não é pouca.
E os meios
de comunicação diferem dos estrangeiros? Sentem mais apoio dentro ou fora de
portas?
Agora está a mudar um pouco, mas até
há relativamente pouco tempo não haviam dúvidas de que tínhamos mais
apoio/divulgação do exterior. Lançámos os nossos dois registos até agora por
editoras estrangeiras e agora sentimos que o pessoal olha para nós de outra
forma. Mas esse é um filme muitas vezes visto e está longe de ser uma surpresa.
O que eu não quero fazer é cair na mesma coisa que muitos fazem, que é falar
mal de Portugal e do nosso underground. Têm as suas limitações, claro, mas há
muita boa gente por aí a fazer coisas extraordinárias com os meios que têm à
disposição.
O que vos
fez escolher um título como "Land Of Make Believe"? A superficialidade
do ser humano é algo que vos constrange?
É verdade que existe muita
superficialidade, muito materialismo, etc., mas também bondade, amor e
profundidade. Se calhar o problema é mais do que aquele que é empurrado para
cima das pessoas. É o superficial. Pessoalmente, tenho problemas em aceitar a
maneira como somos supostos encarar a vida, porque vivemos numa sociedade em
que o que tu tens define quem tu és. Dá-se mais valor ao superficial do que à
substância.
Como
descreve o período que atravessou toda a concepção deste álbum? Podem afirmar
que conseguiram todos os objectivos a que se propuseram?
Sinceramente, posso dizer que sim. A
ambição de fazer este álbum vem muito de trás e sentimos todos que estamos a
tocar com as pessoas certas e que assim tudo é mais fácil a nível criativo.
Este processo foi brutal! Curtimos toda a fase de composição e sentimos ao
longo do tempo que estávamos a evoluir a cada passo.
Continuam
a olhar para todos os vossos temas da mesma forma da que quando os gravaram ou
já sentem que deviam ter mudado alguma coisa?
Estamos muito contentes pela forma
como saíram, tanto a nível de performance
como de produção e som. Portanto, neste momento ainda não surgiu nada que
quiséssemos alterar ao vivo, nem nada que se pareça. O álbum também não foi
feito à pressa e tivemos tempo para ver bem as coisas, exactamente para que
isso não acontecesse.
Com o
vosso EP conseguiram uma interessante rodagem no Reino Unido, graças ao acordo
com a Copro/Casket. Não foi possível manter essa parceria?
Era possível mas sentimos que era
uma boa altura para mudar. Tivemos o convite da Digital Media Records e não
pensámos duas vezes.
E estão
satisfeitos com o desempenho deles até ao momento?
Sim, posso dizer que as pessoas que
lá estão são sérias e honestas, o que por si só já é quase um milagre nesta
indústria. E apesar de não ser uma editora muito grande, com grandes recursos
financeiros, existe muita disponibilidade para trabalhar, o que pode fazer a
diferença.
Neste momento, o objectivo é mesmo
andar na estrada o máximo possível, apesar de estarmos sempre a trabalhar em
ideias e malhas novas. Aproveito para convidar todos a aparecerem nos concertos
que iremos anunciar em breve. Vai ser a segunda vaga de espectáculos de
apresentação de "Land Of Make Believe". Venham curtir connosco, que
vão curtir mesmo!
Nuno Costa
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