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Entrevista - Intervals

ENTRE CÁLCULOS E SENSAÇÕES
"É importante sermos músicos de mente aberta"

Os últimos anos foram determinantes na definição de uma nova geração de bandas de metal progressivo baseado no groove, na polirritmia e na melodia. Muitos preferem chamá-lo "djent", algo mais alusivo à sonoridade de guitarras popularizada pelos Meshuggah ou Sikth, mas certo é que o género vive hoje de uma dinâmica tão vasta que se torna difícil resumi-lo num ou noutro cliché. O caso dos Intervals é perfeito para demonstrar como se pode soar técnico, grave e pesadão e manter uma musicalidade imediatista... e tudo sem vocalista. Imaginem uns Animals As Leaders menos cerebrais mas com um coração a pingar sentimento a rodos. É por isso que o colectivo de Toronto, ainda a dar os primeiros passos, certamente não precisará de muito tempo para se tornar num caso sério de popularidade.  

Quem é Aaron Marshall?
Um guitarrista de 23 anos oriundo de Toronto, no Canadá. Fiz parte de várias bandas antes dos Intervals, mas o meu trabalho com este projecto foi o que obteve mais visibilidade até hoje.

Tem formação? Afinal de contas, dá aulas, está a tentar lançar um livro de tablaturas, tem feito parte da revista Guitar World... Como estão esses projectos?
Não tenho formação, ou seja não frequentei aulas de música depois do secundário. Sempre gostei de ensinar e sinto que posso aperfeiçoar a minha técnica ao tentar explicá-las. Quanto ao livro de tablaturas, tenho recebido muitos pedidos para lançar as do "In Time", e eu e o Lukas, de alguma maneira, costumamos documentar os seus riffs com o software Guitar Pro. Apenas precisamos de algum tempo para transcrever os meus solos na perfeição e tudo o que foi adicionado durante o processo de gravação.

É daqueles que acredita que para se viver da música não basta ter apenas uma banda? Vemo-lo sempre muito activo e a perseguir vários objectivos na sua carreira. É um sonhador por natureza?
Penso que tocar numa banda é o suficiente em alguns casos, mas na indústria musical actual, especialmente no nosso nicho, acho que não chega. Cada negócio e cenário é diferente, claro, mas pode ser muito complicado encontrar sustento apenas a partir de uma banda. Dar aulas e produzir discos são apenas algumas das coisas que podemos oferecer como músicos modernos para obtermos alguma receita complementar... caso vos interessem.

Como se sente por estar ao lado dos Periphery, Volumes e Structures no catálogo da Outerloop Management? Como surgiu essa oportunidade e de que forma tem sido benéfica para a banda?
Estamos muito gratos por ter uma relação com um management tão trabalhador e fazer parte de uma família de bandas que seguimos há muito tempo. Esta relação tem sido útil no geral para a parte negocial, para agendarmos digressões... tudo o que é possível esperar de uma companhia de management sólida - só coisas positivas.

Tem dito que a música é, acima de tudo, uma forma de expressão que pode ser feita com ou sem vozes. Mas será que nunca pensou em adicionar um vocalista à banda? Até que ponto acha possível conduzir uma carreira a longo-termo apenas com material instrumental?
Acho que é importante sermos músicos de mente aberta. Pessoalmente, oiço tanta música instrumental como vocalizada. Ambas servem o seu propósito e entendo que nenhuma suplanta a outra. No início, ponderámos ter um vocalista mas naquela altura não ficámos totalmente satisfeitos com as opções ao dispor. Por isso, decidimos continuar a fazer aquilo a que nos propusemos no início: sobretudo, música. Acho que as bandas podem ter uma longa carreira só a tocar instrumentais. As letras são importantes para algumas pessoas, entendo isso. Contudo, existem muitas pessoas que se ligam à música de forma diferente e parece que é para esses que a nossa música se dirige. Fixe é que descobrimos que estamos a converter fãs de música vocalizada que dizem "normalmente não oiço música sem vozes, mas vocês são fixes". Isso significa tudo para nós. A música é subjectiva e interpretativa. Absorvam-na e deixem-na significar o que quiserem.  

Uma das virtudes dos Intervals é conseguirem ser muito melódicos e orelhudos enquanto mantêm a técnica. Acham isso fundamental num cenário djent/progressivo/moderno cada vez mais bloqueado por clichés?
Acho que todos devem escrever o que acham que é mais natural e honesto para si. As tendências djent e progressivas vêm das nossas influências. Embora de vez em quando esteja em desacordo com a letra "D", é verdade que inclui um som particular ao metal, mas posso afirmar que o mesmo já existia muito antes do termo. De qualquer forma, todas esses aspectos são fixes. A melodia é o elemento que torna as coisas únicas e interessantes.

É o total responsável pela composição na banda?
Em ambos os nossos EP's tenho assumido as rédeas, mas apenas por restrições de tempo e outras circunstâncias. Contudo, todo o material é apresentado ao Lukas e ao Anup para aprovação e para darem o seu contributo. Estamos a tentar que todos estejam representados com as suas influências no nosso próximo lançamento.  

Pode resumir-nos o conceito ou a mensagem do "In Time"?
Bom, é um título um pouco na brincadeira, mas tem algum significado. O primeiro EP intitula-se "The Space Between" e representa uma brincadeira com o significado de "Interval" (num contexto musical - o espaço entre duas notas). "In Time" é também uma subtil alusão ao facto de o tempo ser a distância entre segundos, minutos, etc.. É também ligeiramente interpretativo e acho isso importante para o tipo de música que tocamos.

Porque não optaram ainda por lançar um longa-duração? Será que a estratégia é dar pequenos passos para cativarem a atenção de alguma editora?
A ideia com os dois EP's foi simplesmente lançar música para aqueles que nos queriam ouvir. Os seus temas estavam prontos a gravar e lançar, por isso, em vez de demorarmos mais tempo a compor (o que acaba sempre por demorar), quisemos avançar e lançar mais um EP. Do ponto de vista do marketing, acho que foi benéfico - chamámos a atenção com o primeiro EP e no segundo já tínhamos público. Um álbum é suposto ser lançado para muitas pessoas ouvirem, mas esse nunca foi o nosso objectivo. Queríamos apenas lançar música.

É possível verificar que mantêm uma próxima relação com o público através das redes sociais. O quão isso tem sido importante para a disseminação da vossa música?
Acho que somos músicos muito sortudos por termos todos esses recursos à disposição. A ligação com os fãs nunca foi tão fácil e a música tem tudo a ver com ligação entre pessoas. Porque nos havemos de esconder? Não vejo razão em sermos aquele tipo de rock star misterioso. Não há necessidade disso no nosso mundo. A ligação com os fãs pode ajudar-nos a tornar virais na Internet mas esse é apenas o produto de uma harmonia estabelecida com as pessoas através da música.

O Canadá é um forte foco de emigração portuguesa. Já se cruzou com algum português? 
Isso é verdade. Trabalhei numa loja de música na baixa de Toronto durante três anos e, durante esse período, conheci muitas pessoas simpáticas e algumas das mais talentosas e humildes eram músicos portugueses! Têm uma cultura muito interessante.

E conhece a cena de peso portuguesa?
Não tanto como gostaria.

Já têm planos para actuarem na Europa?
Sim, mas só mais tarde poderei revelar detalhes. Adoramos os nossos fãs europeus e chegámos à conclusão que alguns dos nossos fãs mais dedicados são daí. Eles continuam a comprar o nosso merchandise e a nossa música em formato digital. Estamos muito ansiosos por tocar na Europa.

Como serão os próximos meses para a banda?
Partimos em digressão dentro de três semanas. Durante 25 dias vamos estar pelo Canadá com os Northlane, Texas In July e com os nossos "vizinhos" Structures. Depois disso, vamos reunir-nos para compor e logo partir para estúdio. Quero também agradecer o vosso tempo e espero encontrar-vos no outro lado do planeta num futuro próximo. Obrigado por lerem esta entrevista e mantenham o contacto connosco através do Facebook e do Youtube. 



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