Entrevista - Zymosis (Especial Roquefest)
O QUE NÃO ME MATA, TORNA-ME MAIS FORTE
"Esta é uma nova etapa no nosso percurso"
São
outro dos maiores casos de perseverança musical por terras açorianas. Nem mesmo
o extremismo da sua imagem e sonoridade os fez abrandar num território menos
propício ao black metal. Tão pouco as mudanças de formação os fez definhar, e
aí estão os Zymosis de novo a todo o gás e muito próximos da sua formação
original. Com isto, e sobretudo a abolição das teclas, o grupo promete entrar
num trilho sonoro mais árido e agressivo. Rui Arruda, guitarrista e fundador, não esconde
que estão a tentar escrever um novo capítulo na sua carreira e no dia 17 de
Maio, no Roquefest, terão oportunidade de provar isso mesmo.
De há
sensivelmente um ano para cá, os Zymosis têm vivido uma espécie de
restruturação que os fez regressar quase à formação original. Para além disso,
excluíram os teclados. Este é, portanto, um capítulo novo na carreira da banda
ou apenas um regresso ao passado?
Esta é uma nova etapa no percurso dos Zymosis e que
veio reforçar a formação da banda, procurando explorar outras vertentes e
estilos musicais. Tal fez também com que regressássemos um pouco às origens do
black metal, mas adicionando o nosso próprio gosto.
Em 2012 estava
agendado o lançamento de um single, o
que acabou por não se verificar. Porquê?
Infelizmente, acabou por não acontecer devido a
grande falta de verbas.
Igualmente
sublinharam que a sonoridade da banda estaria doravante "mais
extrema". Porquê a opção e mais detalhadamente o que mudou?
Uma das razões principais foi termos perdido o teclas, optando assim por
não utilizá-las mais. Assim, seguimos outras influências. Também a perda do vocalista
foi uma das principais razões para termos optado por um rumo musical mais
extremo.
Uma banda
com onze anos de carreira nos Açores já a torna quase veterana e uma autêntica
sobrevivente. Entretanto, também já viram muitas bandas aparecerem e
desaparecerem e o cenário de peso a mudar significativamente. Em que pontos
principais acha que hoje em dia é diferente de 2001?
A experiência dos próprios músicos faz com que trabalhemos
de forma diferente de há onze anos atrás. Talvez seja esta a principal razão da
longevidade da banda. Hoje é mais fácil construir um projecto mas também muito
mais difícil agradar o público. Actualmente, quando uma banda dá um concerto
nota-se que há mais público apenas a ver e a ouvir do que a curtir o concerto
em si.
É inevitável
não pedir um comentário sobre a difícil fase que atravessa o metal açoriano. A
crise agravou a sua expansão, mas a verdade é que para um estilo tão específico
num mercado ínfimo, tal pode ter consequências irreversíveis. Como se sentem
neste momento em relação ao presente e ao futuro do género no arquipélago?
Todos sabemos que o metal nos Açores nunca foi um
meio de sobrevivência e achamos que nunca vai ser. Apenas tocamos por amor à
camisola.
O que acham
que provocou este distanciamento entre bandas, promotores e público ligados ao
metal? De notar que a maioria dos músicos deste género começou a procurar
refúgio nas covers, os promotores
acomodaram-se a esse tipo de oferta e uma nova geração de público poderá estar
simplesmente a habituar-se a viver sem ele. Quem são, no fundo, os responsáveis
por esta situação e como acha que é possível revertê-la?
Um dos principais causadores do distanciamento é a
falta de eventos ligados ao metal. Quanto ao reverter esta situação, talvez
havendo mais promoção fora dos Açores. Iriam surgir oportunidades e
haver muitas bandas a vingar no metal.
Inclusive,
os Zymosis sempre tiveram uma relação muito estreita com o Roquefest, até
porque são naturais de São Roque e têm membros envolvidos na organização. Como
é erguer um festival deste género em pleno momento de crise financeira e
depressão de valores?
É muito difícil montar um evento deste calibre, mas
com a boa vontade e dedicação vimos demostrar que tudo é possível, mesmo nos
dias que correm.
Jogando em "casa"
e sendo que os concertos não abundam nos Açores, o que podemos esperar dos
Zymosis no dia 17 de Maio?
Em primeiro, gostaríamos que a casa estivesse cheia
e que todos apoiassem as bandas açorianas. Quanto aos Zymosis, daremos o nosso
melhor em prol do metal.
Gostaríamos que isto se concretizasse o mais brevemente
possível, mas tudo dependerá da situação financeira da banda.
Lembro-me de
há largos anos mencionarem que um dos vossos sonhos era actuar na Noruega,
terra de forte expressão no black metal? Hoje em dia ainda pensam nisso ou
sequer em tocar no estrangeiro?
Nunca nos desligamos dos nossos sonhos, mas, como
sabem, para isso é preciso muito trabalho, dedicação e dinheiro.
Nuno Costa