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Entrevista Gates Of Hell

ÀS PORTAS DA LIBERTAÇÃO
"Para sermos grandes lá fora temos de ser grandes cá dentro"


Rola no mercado tuga desde Abril mais um disco de consistência indiscutível e ímpetos ambiciosos. "Critical Obsession" é o retrato de alguém que tenta superar uma série de fantasmas pessoais mas que encontra o seu antídoto no thrash/death metal de tendência moderna. O desafio era exigente, mas o jovem quinteto do Porto não vacilou na hora de se estrear. Segundo o guitarrista Pedro Afonso o palco foi a maior escola para a solidez que apresentam hoje, mas há também uma convicção inabalável nos seus ideais... e assim Portugal ganha mais uma banda promissora.

Passados cinco anos de actividade, um EP, um álbum, muitos concertos e um contrato com uma editora conceituada, sentem que tudo se está a passar depressa de mais? Onde é que a banda está a agir com particular eficiência para que haja já tantos resultados positivos? 
Antes de mais obrigado pelo vosso convite para esta entrevista, é um prazer! De facto, desde de 2008, altura em que fundámos a banda, temos tido bastante que fazer. A verdade é que se há quatro ou cinco anos me dissessem que nesta altura estaríamos a trabalhar com uma editora como a Rastilho no nosso primeiro álbum, provavelmente não acreditava. Claro que no início do projecto tínhamos consciência de que havia muito a fazer. Depois de termos algumas músicas para começar a dar concertos era necessário trabalhar para crescermos enquanto banda. No fundo, achámos benéfico nessa altura e antes de pensar em algo mais concreto, sermos testados ao vivo, usando um termo popular “atirados aos leões” para que nos pusessem à prova. A verdade é que apostámos nos concertos em grande escala para que a banda conseguisse alguma maturidade e acertámos em cheio. Desde que tudo isto começou que tínhamos vontade de chegar mais longe, vontade essa que estará sempre presente nos Gates Of Hell. As experiências positivas e negativas foram-se acumulando e deram lugar ao desejo de gravar um álbum. Resolvemos começar a acalmar os concertos, trabalhámos em equipa o conceito e a parte instrumental e passado uns tempos o resultado do trabalho foi surgindo. Quando chegámos a estúdio já tínhamos tudo orientado mentalmente para que ficasse como ficou, o que foi fundamental, pois apenas tivemos de trabalhar os pormenores. Se tiver de escolher um ponto-chave, talvez a maturidade seja o mais adequado. Foi esse ponto que nos conduziu da melhor forma para atingirmos o objetivo “Critical Obsession”.

Este é também o primeiro trabalho com o "Raça" e o Miguel Pinto. Até que ponto foram importantes para o resultado final e de que modo a estabilidade em termos de formação contribuiu para que os objectivos estabelecidos fossem alcançados?
Foi, de facto, o primeiro trabalho enquanto banda que tivemos juntamente com o Miguel e o "Raça". E, sem dúvida que, tanto um como outro contribuíram para o factor que referido atrás - a maturidade. Numa banda com objectivos definidos somos obrigados a trabalhar em equipa e a exigir que todos os elementos trabalhem ao mesmo ritmo. Quando nos vimos na necessidade de ocupar os lugares deixados vagos pelos elementos que saíram, por não partilharem da mesma vontade que nós, procurámos alguém que conhecesse o projecto e, sobretudo, que nos compreendesse enquanto banda. Tanto o "Raça" como o Miguel são músicos experientes e sabem perfeitamente o que é ter uma banda com os objectivos definidos. Basta ver os outros projetos em que estiveram ou estão inseridos. Foi, por isso, uma escolha fácil assim que soubemos do interesse deles em fazer parte da banda. A integração foi imediata e face à altura em que estávamos foi bastante positivo, pois ajudaram a construir o álbum. Tivemos também a sorte de nos identificarmos com eles musicalmente logo de imediato. Assim, a entrada deles foi tão fácil que nos primeiros ensaios parecia que já estávamos juntos desde sempre. Estou ciente de que sem eles não teríamos alcançado este objectivo.

Por outro lado, mantêm estabilidade em termos de produtor e estúdio. Foi muito diferente trabalhar com o Paulo Lopes neste disco comparativamente a "Shadows Of The Dark Ages"? Sentiu-se muito o incremento de maturidade e entrosamento entre ambas as partes?
O Paulo Lopes e os estúdios Soundvision acompanham-nos desde sempre. Lembro-me que a primeira vez que visitei o local a banda tinha ainda poucos dias. Fui lá conhecer o estúdio para gravar uns temas com o meu irmão (Filipe). Na altura, marcámos uma gravação de ensaio para captar alguns temas e, sem sabermos, aí começou uma parceria que dura até aos dias de hoje. Logicamente que na altura em que gravámos o EP éramos ainda inexperientes nestas lides, por isso, quando chegámos ao estúdio, quase sem saber ao que íamos, foi um pouco complicado. Sabíamos que iriam surgir dificuldades e foi essencial o apoio de um produtor experiente para conseguirmos sair do estúdio com aquilo que queríamos. O Paulo foi, sem dúvida, essencial nesse período para nos guiar em direção ao objectivo. Provou mais uma vez a sua qualidade e mesmo com músicos inexperientes teve um resultado fantástico e conseguiu um excelente trabalho de produção com o "Shadows Of The Dark Ages". Pelo menos com as críticas que tivemos todos valorizaram esse ponto. Assim sendo, mal pensámos em gravar o álbum não tivemos dúvidas nenhumas acerca do local a escolher. Desta vez aproveitámos o que aprendemos da primeira experiência e isso ajudou-nos a fazer um plano de preparação. E confesso que fiquei satisfeito com a mesma. Desta vez chegámos preparadíssimos a estúdio e com as ideias vincadas sobre o que queríamos e para onde queríamos seguir. A maturidade enquanto banda e o entrosamento ainda maior com o Paulo fizeram o cocktail perfeito para que tudo resultasse e as gravações correram sobre rodas. É muito fácil trabalhar com o Paulo. Com ele tudo fica simples e isso ajuda a descomplicar o que parece difícil. A verdade é que para além de nosso produtor, o Paulo é um grande amigo nosso, o que, por si só, ajuda, uma vez que todos sabemos que os amigos querem o melhor para nós. Sou capaz de assumir com toda a certeza que o nosso próximo álbum vai ser gravado lá.

Este disco já foi levado ao palco várias vezes depois do seu lançamento. Como tem sido a reacção do público?
A reacção tem sido brutal! De facto, quando compusemos o álbum pensámos em fazer música que fizesse o público mexer, principalmente nos concertos. É-nos difícil estar a tocar para uma plateia parada e sem acção porque gostamos de sentir o público a fazer parte do concerto. Não há, de facto, nada melhor do que estar em cima de um palco e sentir na cara o "vento" do circle pit mesmo à nossa frente. Resolvemos, portanto, no sentido desse “egoísmo”, optar por fazer músicas que induzissem ao movimento mas também que não fossem monótonas. Para isso, juntámos uma pitada de groove para condimentar melhor o produto final. Em resultado, os concertos que tivemos com a “Obsession Tour” têm confirmado essa nossa vontade de pôr tudo a mexer. Temos tido, felizmente, reacções mesmo muito boas. A festa de lançamento no Hard Club foi brutal. Tivemos casa cheia a ajudar à festa e certamente que não vai sair da memória tão cedo. Foi uma noite importante para nós, pois era o lançamento do nosso álbum de estreia... o Hardclub cheio com circle pits, invasões de palco, mosh e ouvir o apoio de todo o público durante quase uma hora de concerto foi algo inesquecível. Nos restantes concertos a energia tem sido imensa e estamos confiantes de que nos próximos possamos fazer o mesmo. O público é que nos faz vibrar com a nossa música e, por isso, gostamos sempre de proporcionar um bom espectáculo e aproveitá-lo para nos divertirmos também. Estamos desejosos que chegue o próximo concerto. Quando isso acontece é que percebemos o quanto gostamos de estar em palco.

Construir um álbum conceptual foi excepcionalmente trabalhoso? Houve alguma preocupação especial na estruturação dos temas tendo em conta a narrativa? De onde partiu a ideia e porquê?
A ideia de trabalhar um conceito foi unânime, todos acreditámos que era a escolha certa. Quando decidimos pensar no álbum achámos que seria engraçado incluir uma pequena história que nos pudesse até encaminhar depois para o processo gráfico. No fundo, achámos que poderíamos embelezar o álbum proporcionando ao ouvinte uma viagem pelo mundo de uma personagem. O conceito escolhido foi apresentado pelo Afonso Ribeiro, nosso baterista. Conta a história de uma personagem com problemas relacionados com o foro psiquiátrico. A personagem passa por delírios, fobias, medos, obsessões, entre outras patologias graves. No entanto, e como queríamos uma história com um final feliz, trabalhámo-la com a finalidade de mostrar uma superação interior, ou seja, quando a dita personagem está perdida encontra algo que a faz ultrapassar tudo. Na nossa óptica, através da terapia musical, chega ao final do álbum com uma percepção da realidade mais positiva e animadora, libertando-se. Quando o Afonso nos contou essa ideia achámos que era a ideal e encaixava perfeitamente no estilo que pretendíamos. Quanto à dificuldade acrescida, é verdade. Foi mais complicado, pois tínhamos de ter sempre em atenção ao que poderia ou não ir de acordo com o que pretendíamos contar. A partir da escolha do conceito tudo tem de estar interligado, desde as letras ao trabalho gráfico e até mesmo os pequenos trechos falados e instrumentais. Tudo isso foi pensado segundo o conceito geral. Foram esses pormenores que tornaram tudo mais trabalhoso. Tivemos de ter em atenção as coisas mínimas como a ordem das músicas, as letras que teriam de falar de determinados pormenores durante o álbum para que a história fizesse sentido... No fundo, a dificuldade acrescida faz com que o trabalho final fique mais apelativo aos nossos olhos e aos de um público que gosta de álbuns com um conteúdo. Creio que conseguimos elaborar um álbum que para além de trazer música também traz um extra narrativo.

O metal será uma óptima terapia para quem sofre de distúrbios relacionados com factores sociais (precariedade, solidão, injustiça, etc.) que muitas vezes levam as pessoas ao desespero? Depois de "Critical Obsession" as pessoas sentir-se-ão mais aliviadas? É um disco purificador?
O metal enquanto música é, de facto, uma terapia que consumimos através dos nossos ouvidos e que nos faz chegar mais energia ao cérebro. Pode ser considerado uma droga saudável! Basta experimentarmos fazer uma corrida a ouvir metal e percebemos que o nosso corpo absorve um doping natural que o faz ter mais força e determinação para terminar a corrida. Já experimentei várias vezes e resulta! [risos] Mas mais sério, pessoalmente encaro o metal como a música que me dá aquele extra de energia e me melhora o estado de espírito quando necessito. É um estilo musical pujante e determinado. Desta forma acredito que é uma excelente terapia desde que seja encarado de forma positiva, como qualquer ferramenta é boa desde que bem aplicada. Como expliquei atrás, a narrativa do nosso albúm é exactamente virada para a destruição de barreiras, sejam elas psicológicas ou físicas. No fundo, o que pretendemos com o conceito é desmistificar o negativismo ligado ao metal e tirar aquele conceito violento e destruidor que todas as pessoas têm deste estilo musical. No fundo queremos mostrar que a pessoa se pode libertar das obsessões mesmo ouvindo um estilo musical mais agressivo desde que acredite que é capaz e que consegue aproveitar essa ferramenta de forma positiva. Quero acreditar que "Critical Obsession" é realmente um álbum que proporciona uma libertação psicológica no sentido em que quem o ouve consegue captar a mensagem de esperança e superação interior que quisemos passar.

Outra forma de entender este disco poderá ser através do "tratamento de choque" que tenta ministrar. É assim que cada vez mais será necessário tratar os problemas pessoais e sociais - através do "choque"?
Há alguns casos que resultava bastante bem! [risos] Falando mais sério, de facto, apesar de termos pessoas ligadas à saúde na nossa banda, não quisemos deixar uma receita de superação. A lírica do "Critical Obsession" não passa de uma visão que a banda quis passar de um possível caso de sucesso e superação de determinados problemas agressivos para a mente humana. Acreditamos que os problemas pessoais e sociais devem ser encarados sempre com seriedade, até porque cada caso é um caso e nem sempre as pessoas reagem da mesma forma a esta ou aquela terapia. Sabemos, até mesmo através de notícias e relatos, que, por vezes, doenças do foro psiquiátrico são consequências de actos grotescos causados por pessoas que estão a sofrer e muitas vezes não o mostram. Temos de ter consciência e dar valor a sintomas como a depressão, as fobias e os delírios que fazem com que a pessoa ocasionalmente perca o sentido do que é correcto ou não. Pessoalmente, acredito que devemos sempre valorizar os aspectos positivos da vida ao invés de acreditarmos que tudo está mal e nos focarmos no menos bom. Só assim podemos superar o “problema” e aprender com ele. Por esse motivo, apesar de não ter propriamente formação académica que me permita definir o “tratamento de choque” como a terapêutica que melhores resultados tenha no tratamento, acho que faz sentido a pessoa não se deixar abater pelos problemas ou retrocessos na vida e, acima de tudo, procurar ajuda nos seus familiares ou amigos. Sobretudo, e tal com aconteceu no nosso álbum, aprender a encarar a realidade de forma mais positiva é um caminho interessante para pudermos ser melhores a cada dia.

Aparentemente este disco mostra uma face menos death metal old school se comparativamente ao anterior trabalho. Como referiu, há mais groove, thrash e hardcore com uma tendência moderna. Para onde tentaram direccionar os Gates Of Hell enquanto compunham o álbum?
De facto, este álbum distancia-se do anterior trabalho. Temos também de compreender que a banda passou por um processo de aprendizagem e de entrada de novos elementos que traz sempre (e ainda bem) influências novas. No grupo actual todos gostamos de ouvir música parecida e variada ao mesmo tempo. Posso afirmar, contudo, que esse distanciamento em relação ao “Shadows Of The Dark Ages” foi propositado. Quisemos modificar um pouco o ar dos Gates Of Hell, a imagem (logotipo incluído), o estilo e também o nível de exigência quanto a toda a informação que chega às páginas oficiais. O panorama musical está em constante evolução e o grau de exigência é cada vez maior face à quantidade de bandas que estão a emergir. Apesar de sermos fãs de variadas bandas old school acreditamos que num primeiro álbum e para conseguirmos chegar a novos públicos seria importante fazer algo mais recente e com uma cara mais actual. Queríamos fazer um trabalho remodelado e direccionado ao que actualmente gostamos. Claro que tivemos influências de bandas tradicionais. O metal é um estilo muito antigo e penso que as bandas do “antigamente” fizeram coisas verdadeiramente fabulosas. Sou ouvinte assíduo de bandas como Entombed, Evile, entre outras, logo, vamos sempre buscar algo a esses pilares. Quando compusemos o álbum achámos que tendo em conta a vontade em andarmos por aqui muitos mais anos, seria benéfico fazer algo mais actual. Bandas como os HateSphere, Soilwork, Dew-Scented e The Kandidate inspiraram-nos para este álbum, entre outras influências menos marcadas e que nos ajudaram a chegar a determinadas ideias. Penso que todas as bandas ouvem muita música e pegam nessas mesmas influências e modificam-nas no sentido de proporcionar aquele toque pessoal que muitas vezes não podem evitar. Foi no fundo o que nos aconteceu.

Portugal começa-se a evidenciar pelo vosso tipo de sonoridade. Existe já um leque de bandas que se pode congregar em termos estilísticos, como Switchtense, Echidna, Revolution Within ou Urban War. Sentem isso como algo positivo ou um indício de que o género pode entrar em saturação dentro de pouco tempo? Com isso sentem também que ainda têm espaço para se expandirem entre portas?
Encaramos isso como um aspecto positivo. Existe, de facto, uma sonoridade que pode ser encarada como comum entre as bandas mencionadas, mas sou da opinião de que existem determinados aspectos que distanciam as bandas também. A música é mesmo assim, faz-nos sonhar e lembra-nos determinadas bandas ouvindo outras. Esse estilo “comum” que foi referido, por vezes, pode ser numa determinada altura um estilo que é mais falado e comentado porque movimenta o público e a procura e, por isso, o torna mais evidente. Aliás, foram referidas bandas que mexem com o público por todo o país, daí termos de acreditar que o fazem por terem qualidade. Acho que o facto de haver bandas que partilham do mesmo tipo de som não faz com que sejam iguais… Tem até o facto positivo que faz com que o público-alvo seja comum e nos eventos nacionais tal acabe por funcionar como vantagem, sendo que aglomera mais gente. Se olharmos mais além, no panorama mundial acontece exactamente o mesmo e, por vezes, de forma mais vincada ainda. Quanto à possibilidade de saturação, pessoalmente não acredito que aconteça. Tenho confiança nas bandas nacionais, pois existe bastante qualidade e acho que essas podem muito bem surpreender-nos a cada nova música ou álbum. Há sempre boas músicas e novas ideias com excelentes pormenores. Acho que nunca nos vamos saturar... falo por mim que também sou ouvinte dessas bandas. A expansão entre portas é sempre possível. As bandas nacionais têm sempre que acreditar e lutar pelo sucesso. Não podemos esperar que o público apareça sem nos conhecer. Sendo assim, tenho a plena consciência de que se fizermos chegar o nosso trabalho cada vez mais longe podemos um dia debruçar-nos em expandir os Gates Of Hell ao exterior. Contudo, sou daqueles que acredita que para sermos grandes lá fora temos de ser grandes cá dentro. Somos portugueses e orgulhamo-nos disso. Se conseguirmos aqui fazer algum sucesso e com todas as dificuldades adjacentes, lá fora será muito mais fácil.

Que sinais já existem de poderem conquistar mercados internacionais? Aparentemente já existe a possibilidade de actuarem em Espanha e Inglaterra, correcto? Que novidades existem nesse aspecto?
É verdade. Como disse anteriormente, o nosso objectivo primordial é encontrar novos públicos, tanto nacionais como estrangeiros. Aos poucos temos conseguido fazê-lo e com o "Critical Obsession" a possibilidade é maior, pois temos uma divulgação massiva com a ajuda da Rastilho e outros parceiros. O público é o motor de todo o resto, uma vez que são eles que nos levam aos concertos e que pagam para nos ver. Por isso, focamo-nos em fazer chegar o nosso trabalho ao público. Queremos, acima de tudo, tocar um pouco por todo o país. É nos concertos que temos um maior contacto com quem nos ouve e onde podemos obter um feedback mais directo. Claro que surgindo a oportunidade de promover a nossa música lá fora e, acima de tudo, mostrar do que o metal nacional é capaz, será um prazer e vamos certamente aproveitar com todas as forças. Temos já alguns contactos em Espanha e Inglaterra com quem estamos a planear concertos. Mais para o final do ano teremos novidades acerca disso, pois já estamos a trabalhar nesse sentido. A Alemanha também é um destino a médio prazo. Temos já casos de bandas nacionais que fizeram o favor de "abrir portas" para nós e para outros que vieram. Com isso, temos de aproveitar e agradecer a essas bandas a boa imagem que os restantes países vizinhos têm do nosso metal.

Será a banda a principal responsável por tratar do seu agenciamento? Que papel tem a Rastilho em concreto nesta nova fase da vossa carreira? Já agora, o Esben Hansen poderá ser também um factor importante num possível roteiro europeu ou pelo menos dinamarquês, certo? Como surge também ele no contexto deste disco?
Para já, somos nós que agendamos os concertos. Costuma ser um de nós a tratar disso, geralmente o meu irmão (Filipe Afonso) por ser o que está mais habituado a gerir os aspectos logísticos de cada concerto. Foi ele que desde o início tratou do assunto e assim foi ficando. Estamos, contudo, a avaliar a possibilidade de arranjar um acordo com uma agência de marcação de eventos para que não tenhamos de ser nós a tratar dessa parte mais burocrática. De momento, somos quem gere essa parte e acaba por ser bom numa primeira fase, pois temos um maior controle de datas e de pormenores acerca dos eventos. A Rastilho Records teve e tem um papel fundamental nesta nova fase. É uma editora que trabalha lado a lado com as bandas e que nos ajudou e continua a ajudar em quase todos os pormenores relativos à imagem do álbum, promoção do mesmo e objectivos com este trabalho. Estamos extremamente contentes por termos feito esta parceria. Estamos a ser bem encaminhados e sentimo-nos apoiados, o que é importante sendo este o nosso primeiro álbum a chegar às lojas e a ter divulgação na imprensa. Quanto ao "Esse", de facto, ao contrário do que se possa pensar, foi tudo muito directo e rápido. Como somos apreciadores dos HateSphere resolvemos mandar um e-mail para o endereço oficial da banda a apresentar-nos e explicando que iríamos entrar em estúdio para gravar o nosso primeiro álbum. Enviámos também um exemplo do que seria a música “Abusive Resolution”, ainda em formato provisório, juntamente com a letra. Passado uns dias o Esben respondeu-nos a dizer que teria todo o gosto em cantar numa música e que até se tinha identificado com ela. Fomos trocando algumas mensagens e passado umas semanas enviou-nos uma ideia do que pretendia com a música. Como gostámos de imediato da forma como ele colocou a voz, demos o ok e ao fim de alguns dias ele mandou-nos as gravações feitas no estúdio onde ele costuma gravar. Ficou tal e qual imaginávamos. Acredito que deu aquele toque à HateSphere que ouvimos nas músicas da banda. Quanto a datas, logicamente que a partir dessa altura temos estado em contacto com os HateSphere e apesar de ser complicado uma deslocação à Dinamarca por toda a logística das deslocações, já foi uma coisa conversada. Num futuro próximo será uma possibilidade a explorar. Seria excelente pudermos constar numa pequena tour com eles para promoção dos álbuns das duas bandas.

Do ponto de vista pessoal, como acha que o metal está a resistir à crise nacional? Sentem claras diferenças em relação à altura em que se formaram?
Claro que não podemos ignorar que a crise nacional e mundial dificulta a arte em geral e no metal, pertencendo a uma sector da música que é geralmente menos rentável, ainda se nota mais. O que é um facto é que as pessoas têm cada vez menos recursos financeiros para gastar com o que gostam de fazer e com o seu lazer. Há muito desemprego e as pessoas encaminham o valor que têm disponível para bens e serviços de primeira necessidade o que faz com que a música em geral e o metal em particular fiquem afectados. Contudo, e apesar de o momento não ser próspero, notamos que ainda há muita gente a fazer esforços e a poupar algum dinheiro para estar em eventos das bandas que gostam, o que é bastante positivo e de valorizar. O que é um facto é que no presente nota-se menor adesão aos eventos, numa fase em que as bandas e os eventos são cada vez mais. Porém, há sempre público. Sem dúvida que na altura em que começámos a dar concertos havia uma maior adesão e talvez até menor exigência quanto à qualidade dos eventos e das bandas integrantes. Havia, sem dúvida, um menor número de eventos, o que facilitava a aglomeração do público, talvez devido à capacidade financeira mas também muito pelo menor número de eventos em determinadas zonas do país. Espero que num futuro próximo isto se modifique e voltemos a ter locais com cada vez mais público e qualidade para que as bandas possam mostrar o bom trabalho que se faz por Portugal. 

Nuno Costa



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