Review - Kneel - «Interstice»
KNEEL
"Interstice"
[CD - Edição de autor]
Perdemos de vista Pedro Mau desde 2008, altura em que os Kneeldown
deram por finda a sua actividade. Porém, aos poucos se percebeu do seu inconformismo e não demorou até começar a canalizar a sua
criatividade para um novo projecto. Kneel - percebe-se perfeitamente a associação
ao seu antigo grupo - é uma entidade autónoma e fidedigna para com aquilo
que é a actual visão técnica e criativa do músico nascido na pacata cidade
alentejana de Ponte de Sor.
Pedro Mau interpreta todos os instrumentos - excepto as
vozes, cortesia do convidado Filipe Correia [Concealment, Wells Valley]. A captação, mistura e masterização e até mesmo o artwork estiveram a seu cargo - estará numa fase implacável de expressão e
dinamismo. Sem corrermos muitos riscos de falhar o palpite, digamos que Kneel é
a versão mais negra, dissonante, psicadélica e, no fundo, aperfeiçoada dos Kneeldown,
embora esses últimos só a espaços muito comedidos demonstrassem os elementos
aqui referidos - numa clara distinção (só agora mais perceptível) do que era o
papel de Pedro Mau na extinta banda. Salvaguardadas as devidas distâncias, este
é, para todos os efeitos, um novo mundo para o músico.
Logo na abertura "Murmurs" surpreende-nos pela abordagem rítmica
sincopada, fazendo facilmente perceber que Mau está cada vez mais imerso e
apaixonado por aquilo que é o universo experimentalista e inóspito dos Meshuggah
ou The Dillinger Escape Plan. Com o passar dos temas, fica também claro que a intenção
do autor não é encetar qualquer homenagem "parasítica" aos nomes citados, até porque
nunca chega a ser tão intrínseco, como comprova temas como "Thrall"
ou "Amend" - face da predilecção de Mau pelo thrash/hardcore de uns A
Life Once Lost ou Trap Them.
A verdade é que ao longo de nove temas, Kneel acaba por mostrar uma
notável mestria na arte de dominar ritmos inteligentemente balançados e
mecânicos, o que conjugado com umas guitarras bem graves e directas, mais preocupadas
em criar ambientes tensos e sombrios do que qualquer docilidade harmónica, e
uma bateria com tendência para se desviar do óbvio, resulta num disco pouco
apelativo para as massas, mas bastante sugestivo para quem procura mais do que
um conjunto de temas arrumadinhos e formatados para servir hypes. A atitude independentista faz-se aqui sentir, sobretudo para
aquilo que é comum no plano nacional. Dir-se-á que podem ir perfeitamente para
o pote onde reinam os Concealment - já de si únicos nestas e noutras paragens.
Acreditando que a obstinação e perseverança de Pedro Mau vão fazê-lo crescer ainda
mais, podemos considerar que este é "apenas" um excelente ensaio para o
que pode ser um dos projectos mais interessantes e letais a emergir de Portugal
nos últimos tempos. [8/10] N.C.
Data de lançamento: 29 de
Junho de 2013
Nota de estúdio: produzido, gravado,
misturado e masterizado por Pedro Mau em estúdio caseiro, em Ponte de Sor
(Portugal); masterização em colaboração com Daniel Cardoso; vozes captadas nos
Malware Studios, em Sintra.
Estilo:
groove/experimental/math/hardcore metal
Origem: Ponte de Sor
(Portugal)
Formação: 2010
Alinhamento:
1. "Murmurs" (04:10)
2. "Amend" (03:37)
3. "Occlusion" (04:15)
4.
"Lessening" (03:54)
5. "Absence"
(02.05)
6. "Cloak"
(05:42)
7. "Debris"
(03:38)
8. "Thrall" (03:26) (vozes de apoio por Pedro Mau)
9. "Sovereignty" (04:56) (vozes de apoio por Pedro Mau, Pedro
Lopes e David Jerónimo)
Duração: 36:11 minutos
Elementos:
- Filipe Correia (voz - convidado)
- Pedro Mau (guitarra, baixo, bateria)
Discografia:
- "Interstice" (CD - 2013)