Vagos Open Air 2013 - Dia 2
10.08.13 - Quinta do Ega, Vagos
O segundo dia não foi tão diversificado, apostando no thrash e no power metal – ainda que o thrash dos nortenhos WEB não seja do mais puro e as suas variações sejam precisamente o que os torna únicos. Têm vindo a ganhar muitos fãs ao longo dos seus mais de 25 anos de carreira, especialmente na última meia dúzia, em que aumentaram o número de actuações ao vivo e lançaram o tão esperado – e excelente – segundo álbum “Deviance” (2011). O convite para o Vagos Open Air deste ano foi mais do que merecido, e a prestação que deram certamente que convenceu os mais cépticos. A introdução foi feita com parte do tema “The Journey”, que abriu caminho para “Life Aggression”. Não tardou para que os seguranças estivessem alerta para os moshers e de mãos ocupadas com os crowdsurfers. Fernando Martins pediu ao público que cantasse com ele “Mortal Soul”, o que parecia que ia acontecer mesmo sem pedir. Algures entre “Awake”, “(In)Sanity” e “Beautiful Obsession”, o vocalista/baixista agradeceu à organização e a todos os que tinham ido vê-los, e a banda despediu-se com o habitual “If Only There Was Light”, com uma parte instrumental de “As We Crawl” a servir de outro. Muito bom mesmo.
De tal modo que o power/heavy mais tradicional dos TARANTULA custou um bocadinho a entrar
no ouvido, soando fraco em comparação. Ainda assim, já todos erguiam os punhos
no ar por volta da segunda música (“Afterlife”) e faziam vozes de fundo. Por
mais do que uma vez, Jorge Marques disse ser uma honra estar ali, naquele
festival e com aquele público “fantásticos”,
e que o Vagos Open Air não poderia morrer. A sua insistência no assunto até
levou a que se levantasse a questão se o futuro do festival estaria em risco...
O início de “The Nature Of Sin” foi o momento escolhido para os “oooooohhhhh”
do “repitam a seguir a mim”, e logo depois também a participação do público em
“You Can Always Touch The Sky” marcou um momento alto deste concerto, embora
tenha estado a anos luz do melhor dos Tarantula.
Tinham passado cinco anos desde o último concerto de ROTTING CHRIST em Portugal e editados
dois álbuns, mas os gregos continuaram a apostar no seu passado, apresentando
um alinhamento maioritariamente old
school. Logo o tema de abertura, “The Forest Of N’Gai”, remeteu-nos para o
início dos anos 90, quando lançaram o seu primeiro EP “Passage To Arcturo”. Com
um novo álbum cá fora (“Kata Ton Daimona Eaytoy”), também tocaram duas músicas
nele incluídas – o tema-título e “In Yumen – Xibalba” – e o fecho foi feito com
“Noctis Era”, do álbum anterior (“Aealo”). Mas à excepção de “Societas
Satanas”, uma cover de Thou Art Lord
que começaram a tocar ao vivo este ano, tudo o resto datava de seis anos antes
– sem faltar de “Athanati Este”. Metal extremo que nos referidos primórdios nem
soa lá grande coisa em estúdio, mas que ao vivo transforma-se em algo digno de
ver-se – Vagos não foi excepção, surpreendendo quem pensava que Rotting Christ
era “só mais uma banda de black”.
“Dystopia” é o álbum mais recente dos ICED EARTH, mas bem que poderia ser o “The Dark Saga” (1996) visto
terem tocado tantas músicas de um como de outro. E isto é apenas a constatação
de um facto, pois ouvir “Dark Saga”, “I Died For You”, “A Question Of Heaven” e
“The Hunter” (esta que aparentemente foi algo de última hora, uma vez que havia
ainda tempo para mais uma) dificilmente pode ser uma queixa. Principalmente
quando o novo vocalista Stu Block tem o mesmo timbre de voz de quem
originalmente gravou aquele álbum, Matt Barlow. Block tem também uma presença
em palco estrondosa, criando uma vivaz empatia com o público desde o primeiro
minuto. Depois de “Anthem”, saíram do palco por alguns minutos e
regressaram ao som da gravação instrumental “In Sacred Flames”, que engatou em
“Boiling Point”. O encore foi ainda
preenchido pela música que Jon Schaffer escreveu há muitos anos para o seu
falecido melhor amigo, “Watching Over Me”, e “Iced Earth” deveria ter fechado o
alinhamento, como é costume. Mas como referido, foi “The Hunter” que fez as
honras. Block informou que este era o último festival em que tocavam, uma vez
que agora iriam concentrar-se no novo álbum que deveria sair no início do
próximo ano. E que esperavam voltar cá – a um dos “mais lindos sítios na Terra”, segundo as suas palavras – em breve,
não deixando passar tanto tempo como tinham deixado até ali. Quem não se
lembra, ou simplesmente não sabe, a última vez que tinham estado em Portugal
foi num mítico concerto de quase três horas, no antigo Hard Club, na tour do “Horror Show” em 2002.
Definitivamente, há muito tempo atrás.
Devido a uma grave lesão do vocalista Biff Byford, os Saxon foram forçados a cancelar a sua presença em Vagos. Mas como há que estar prevenido para este tipo de contratempo, a Prime Artists substituiu a banda de imediato por outra de renome semelhante – os alemães GAMMA RAY. E como Kai Hansen disse, apesar de inicialmente não ser suposto estarem ali, “let’s make the best of the night”. E se fizeram! O facto de, também eles, não porem os pés em palco nacional há imenso tempo (quase oito anos) ajudou ao ambiente festivo, mas foi a garra e performance da banda que teve o maior mérito. Nem mesmo os agudos que Hansen substituiu por graves, provavelmente por saber que não iria conseguir atingi-los, fez qualquer mossa na impressão de “senhores” que deixaram no público em geral, desde “Rebellion In Dreamland” ao recente “Master Of Confusion”. E, claro, às já esperadas covers de Helloween (antiga banda de Hansen), “Future World” e “I Want Out”. Na primeira, para incitar a que gritassem o refrão com mais força, Hansen disse que algumas pessoas de facto viviam no “future world”, mas outras viviam “in Smurfland or somewhere over the rainbow”. E lá conseguiu arrancar o volume que desejava ouvir dos presentes. “To The Metal” e “Send Me A Sign” foram os últimos temas, e tal como outras bandas neste festival, prometeram voltar em breve.
E por fim, sem precisar apresentações, TESTAMENT. Chuck Billy estava rouco – ou por alguma gripe ou por
cansaço – mas curiosamente era a falar que se notava mais, a rouquidão não
afectando significativamente as músicas. O concerto pode dividir-se em duas
partes: a primeira meia hora foi constituída por músicas do último trabalho –
entre as quais o tema-título (“Dark Roots Of Earth”) e “Native Blood” (“dedicated to all of you, brothers and
sisters”, disse Billy, enquanto apartava o colete e exibia a caveira de
índio que ilustra a t-shirt alusiva àquela música) – e ainda “More Than Meets
The Eye”, do álbum anterior. E com “Into The Pit” começa o desfile de clássicos
que pode então chamar-se de segunda parte. “Practice What You Preach”, “The Preacher”, “Alone In The Dark”... Sim,
faltaram muitos, mas é impossível condensá-los em hora e meia, e os ali tocados
valeram bem a pena. Depois de “Over The Wall” as luzes não apagaram logo,
ficando-se na expectativa de um encore.
Mas a noite ficou mesmo a cargo dos DJs a partir dali.
Texto e fotografia:
Renata Lino