Entrevista Primal Attack
ATAQUE FURTIVO
"Quem ouve 'Humans' percebe que é um conceito genuinamente
diferente"
Repentismo, determinação e garra.
Os Primal Attack mal ultrapassaram um ano de existência e já causam vibrações
nos alicerces do underground nacional. O culpado é Miguel Tereso que, com o
sangue da juventude ainda a fervilhar, atirou bem para o alto a fasquia do seu
projecto com a colaboração de Pica [Seven Stitches], Tiago [Spoiled Fiction],
Miranda e Mike. Ainda assim, é uma visão egocêntrica, mas não egoísta, e é dele
que brota a contundência do thrash old school e o groove ensopado que o
género trouxe nos anos 90, e que se ouve na estreia "Humans". Um
ataque, no mínimo, inesperado.
Com 21 anos, o Miguel acaba por ser parte de uma nova geração de
músicos nacionais. Os Primal Attack são a sua primeira incursão pelo mundo do
metal?
Estive envolvido em
algumas bandas de covers e originais
durante o meu percurso musical mas foram sempre projectos que nunca chegaram a
crescer devido, especialmente, à localização onde me encontrava e dificuldade
de arranjar concertos numa zona onde não há “tradição” para tal e onde o
público é apenas constituído por um pequeno círculo de amigos.
Quais são as suas principais influências? Vê-se mais como solista ou o
seu sonho é criar riffs tão memoráveis como os de... Dimebag Darrell, por
exemplo?
As minhas influências
são muito variadas. Tento manter a mente aberta a tudo, pois qualquer coisa pode
inspirar-me para um riff, melodia, solo, etc.. Vejo-me mais como songwriter e produtor do que um virtuoso da guitarra, embora seja, obviamente,
o meu instrumento de eleição e ao qual me dedico mais.
Como surge a ideia de criar os Primal Attack? Foi um esforço solitário
ou o Pica entra no processo inicial? A pergunta leva-nos também para a questão:
que contributo puderam dar os restantes elementos?
Os Primal Attack
surgiram destes temas que fui escrevendo e gravando ao longo do tempo. Após ter
as malhas solidificadas coloquei um anúncio na Internet ao qual o Pica
respondeu. Depois de umas trocas de demos
percebemos que queríamos avançar com o projecto. Nessa altura, comecei a produzir
e a gravar o álbum no meu home studio
e o Pica a escrever as letras criando também a linha vocal base. À medida que
íamos avançando começámos a recrutar os restantes membros - o Tiago [Câmara] na
segunda guitarra, o Miranda [Miguel] no baixo e, mais tarde, o Mike [Ferreira] na
bateria. O contributo destes membros foi mais à base de ideias e pequenas
modificações que fizemos aos temas durante os ensaios.
Dado o peso que tem na composição, a tendência é para os Primal Attack
serem fruto de uma só mente, como um projecto a solo? Que benefícios e malefícios
podem essa situação causar?
Naturalmente. No
entanto, o Tiago e o Miranda têm mostrado interesse em contribuir também com
malhas, às quais estou receptivo desde que se enquadre no conceito da banda.
"Humans" é um disco composto em pouco tempo, atendendo à data
de formação da banda. É também um disco curto (34 minutos). Foi a vontade de
ter rapidamente um trabalho no mercado ou as coisas seguiram a filosofia de que
quantidade não é necessariamente qualidade?
O facto de já ter os
temas prontos antes de formar a banda possibilitou uma maior rapidez no
processo e o nosso objectivo era também ter algo para mostrar o mais rápido
possível. Quantidade não é necessariamente qualidade e o álbum seguiu
instintivamente essa filosofia.
Quando pensamos em thrash metal com groove
e resquícios de hardcore pensamos também numa vaga enorme de bandas nacionais
que tem surgido ultimamente. Isso é bom ou mau para os Primal Attack? De que
forma se demarcam dos demais?
Penso que o nosso som
é muito diferente da onda nacional que tem surgido nesse estilo. Apesar de nos
identificarmos como thrash/groove não somos nem uma coisa nem outra e, como têm
dito em várias reviews que temos
recebido, quem ouve o álbum percebe imediatamente que é um conceito genuinamente
diferente da recente e moderna trend
do thrash, metalcore e NWOAHM. Não desliga totalmente destes estilos mas possui
influências mais old school que se
reflectem também a nível sónico e na produção.
Qual é o objectivo quando compõe para Primal Attack? Fazer música para
causar alvoroço ao vivo ou há algo mais profundo na vossa mensagem musical e
lírica?
Não penso dessa
maneira. Quando componho vou tocando e improvisando até ter um riff, ideia ou conceito
que me transmita algo e posteriormente desenvolvo o tema a partir daí. O groove é uma parte muito importante e
que está sempre presente.
Por falar em mensagem, o que nos comunica "Humans"? Há uma
necessidade particular de olharmos para o nosso ser nos tempos que correm, até
porque o thrash sempre teve um lado interventivo?
Exacto. A mensagem foi
maioritariamente concebida pela mente do nosso vocalista Pica. Tem um lado
muito interventivo e explora profundamente o tema do ser humano nas suas
diversas facetas e crenças, remetendo-nos para uma análise de nós mesmos e dos
nossos actos nas mais variadas situações e estilos de vida.
A boa aceitação ao vosso disco e o contrato com a Hellxis Records
faz-vos sonhar mais alto?
Acabou por acontecer tudo muito depressa, não acha? Qual é o estado de
espírito que se vive dentro da banda?
Estamos muito
confiantes no nosso trabalho, temos crescido incrivelmente rápido sempre com
bom feedback, tanto nos concertos
como acerca do álbum e ter a Hellxis do nosso lado eleva-nos despretensiosamente
as expectativas.
Para uma banda jovem como a vossa, é importante neste momento vender
discos ou propagar em abundância a vossa música pela Internet? A questão tem,
obviamente, a ver com a pirataria. O que pensa do assunto?
Todos nós temos a
perfeita noção de que não é isto que nos colocará o pão na mesa. Como tal, vender
discos não é, de todo, uma grande prioridade. O principal objectivo é que a
música chegue ao maior número de pessoas, tanto a nível nacional como
internacional. A pirataria é algo que já não me aborrece de modo nenhum. Tornou-se
algo inevitável para qualquer banda e só contribui para que a música chegue a
mais sítios. Felizmente, há pessoas que fazem questão de apoiar a banda ao
máximo e quando têm meios para isso compram o álbum, merch, etc..
As bandas nacionais acabam por enfrentar um duro teste de resistência
atendendo ao mercado em que se inserem. Vêem-se a editar muitos discos? Muitas
vezes as bandas ficam-se pelo entusiasmo inicial...
É verdade, não é nada
fácil, especialmente para quem trabalha, estuda e/ou tem filhos. Acabam por não
ter tempo para tudo e deixam inevitavelmente algo para trás. Dedicação e uma
assombrosa força de vontade são talvez os termos-chave para aguentar o duro
teste da realidade em que nos encontramos. Não penso muito nisso, concentro-me
mais em fazer música sempre que posso, dar o maior número de concertos e assim levar
a nossa música ao maior número de pessoas.
Tanto quanto se sabe, apenas o Pica mantém outro projecto. Mesmo assim,
os Primal Attack passam a ser a prioridade de todos os seus elementos? Já
conversaram sobre isso?
O Pica mantém outro
projecto e o Mike também se inseriu recentemente num novo projecto. Até agora
nunca tivemos problemas com os projectos paralelos e penso que não será um
obstáculo no nosso percurso.
Do que lhe é possível confidenciar, como está o status dos Seven Stitches?
Os Seven Stitches,
pelo que sei, encontram-se num estado adormecido. O Pica está a dedicar-se a Primal
Attack e o "Bicho" e o Nelson criaram recentemente um projecto de
grande qualidade que esteve presente na nossa festa de lançamento do álbum, os
Kapitalistas Podridão [death metal] - check
them out.
Em termos de agenda, já planeiam alguma incursão pelo estrangeiro? Sentem
que já há condições para isso e, sobretudo, a possibilidade de acontecer?
Já tivemos algumas
oportunidades de ir ao estrangeiro mas as condições ainda não se
proporcionaram. Muito em breve poderá existir essa possibilidade. Por enquanto,
planeamos abranger as várias zonas de norte a sul do país em concertos de
apresentação do álbum.
Nuno Costa