Miguel Linhares e o metal nos Açores: «A grande maioria vai atrás de modas»
Miguel
Linhares, músico e promotor de eventos na ilha Terceira, considerou em entrevista ao Grito Insular que o cenário musical local é hoje menos interessante do que na
década de 90. "O cenário musical entre 1994 e 1998 era muitíssimo interessante,
muito mais do que agora", começou por afirmar o vocalista dos Manifesto e Beyond Confrontation.
Reportando
ainda a esse período, o açoriano de 35 anos sublinha a forte adesão de público que se
registava na altura e que acabou por mitigar. "Centenas de pessoas. Raramente os concertos
eram só para os amigos. Cheguei a tocar para mais de um milhar... Sim, aqui na
ilha e com o tempo a chuviscar um pouco."
Como
razões para o distanciamento entre público e este género musical, Miguel Linhares alega a mudança dos tempos,
hábitos e tendências. "A minha geração envelheceu. A sério, julgo que as
coisas são de modas e a verdade é que a grande maioria das pessoas vai atrás de
modas." Diz ainda que as pessoas que abandonaram a sua relação com o
estilo fizeram-no "quase sempre por motivos pessoais e profissionais".
Apesar
da situação desfavorável, Miguel Linhares acredita que o rock e o metal nunca
morrem mas que há um ciclo decorrente que é próprio do género. "Isto é de
épocas e nestes últimos 50 anos de rock houve altos e baixos. É um género muito
mutável, mas, por vezes, desactualiza-se. Os media fazem isso."
O
criador da página musical Musicofilia não se priva ainda de descriminar as
possíveis soluções para os músicos locais que pretendem a internacionalização.
"Não basta ter talento ou um CD espectacularmente bem gravado. É preciso
muito mais. É preciso todos estarem determinados a passar por provações
pessoais, muito sacrifício, ter algum dinheiro e espírito aventureiro."
Enquanto
promotor, concretamente do festival Azure, Miguel Linhares explica que a fraca aposta em artistas do género se prende com preconceito e falta de rentabilidade. "Julgo que há uns quinze anos havia menos preconceito, lá está, era moda. (...) Enquanto o público não aceitar este som - que não é sua obrigação, diga-se - nenhum promotor privado pode arriscar
neste género de música. Não é rentável. Nem sequer consegue-se o break-even na maioria dos casos. No
entanto, no caso de promotores públicos, julgo ser dever desses disponibilizar
as oportunidades equitativamente."