R.A.M.P.: Rui Duarte explica como passaram ao lado de uma carreira internacional
Em
plena fase de promoção de "XXV 1988 - 2013", os seixalenses R.A.M.P.
fizeram uma restrospectiva dos seus 25 anos de carreira na mais recente edição
da Versus Magazine. Na pessoa do vocalista Rui Duarte, ficaram expressas as
razões por que o grupo não terá alcançado maior projecção internacional, a
demora em relação a um novo álbum de originais ou mesmo as características que
marcam o meio underground actual.
"Portugal
é um país muito pequeno. Como tal, viver da música com um género tão específico
é algo que apenas fica ao alcance de quem tem uma família abastada e que
garante um suporte financeiro de sobrevivência", começa por argumentar Rui
Duarte, distanciando-se desse quadro. "Nenhum de nós preenche esses
parâmetros. Temos origens humildes e sabemos que temos de trabalhar para
sobreviver. O facto de termos famílias e filhos obrigou-nos a abrandar a
actividade dos R.A.M.P.", encerra a questão sem deixar perspectivas sobre
um sucessor de "Visions", de 2009.
No
período que antecedeu o lançamento de um dos grandes clássicos da banda, "Evolution, Devolution, Revolution" (1998), o vocalista confidencia que
estiveram às portas de um contrato discográfico auspicioso e deixa as razões
para que tal não se tivesse concretizado.
"Indiscutivelmente,
os R.A.M.P. sofreram um grande embalo na altura que antecedeu a saída do
'E.D.R.'. A Music For Nations [Cradle Of Filth, Paradise Lost, Anathema] estava interessada nos R.A.M.P., tudo apontava
para uma mudança profunda na nossa carreira e eis que... o A&R da nossa
editora resolveu encher o peito e começar a fazer exigências", relata Rui
Duarte sem esconder a sua indignação. "Quem sabe como funciona a indústria
musical deveria ter a noção... mas não... à boa maneira portuguesa passa-se de
besta a bestial e novamente a besta com uma facilidade atroz. Perdemos a
oportunidade das nossas vidas graças a um 'clueless'."
Com
um quarto de século cumprido e cruzando a fase em que o
underground funcionava sem o auxílio das novas tecnologias, Rui Duarte é
peremptório em afirmar que estas destituíram alguns dos valores que faziam do
movimento algo mágico.
"Hoje
existem coisas muito boas e com elas novas realidades negativas. (...) Os
suportes informáticos vieram possibilitar inúmeras soluções em termos de
contacto e de plataformas de trabalho artístico. (...) Mas tudo se banalizou...
as coisas tornaram-se efémeras, o consumo desenfreado fez com que as pessoas se
desinteressassem em aprofundar o que quer que seja, os valores afundaram-se no
objectivo do 'ser famoso' e em fazer contra-informação cobarde na internet
através do anonimato."
O músico termina afirmando, em tom preocupante, que "perdeu-se muito do culto e da magia, da paixão e honestidade para
algo que necessita de ser, acima de tudo, muito hype".
"XXV
1988 - 2013" está disponível desde 18 de Novembro pela
Metropolitana/Metrodiscos.
Leia a entrevista na íntegra aqui.