PALHA D'AÇO - «Desconcertante» [review]
Quase se podia falar da antologia de uma vida de aço cheia
de conturbadas e rocambolescas peripécias no topo de um belíssimo
"calhau" basáltico no meio do Atlântico. «Desconcertante» é o resultado
de dezassete anos de uma existência intermitente mas cuja chama nunca se
extinguiu. Uma das primeiras bandas de punk dos Açores, formada em 1997, teve
uma fugaz existência de dois anos que serviram para salpicar o cenário local de
muita garra, energia, galhofa e uma vontade dissimuladamente vincada de
conquista. Durante uma década estiveram confinados ao silêncio (dada a ausência
do seu compositor-mor, Freddy Duarte), mas aparentemente os astros alinharam-se
novamente e os dados parecem lançados para recuperarem aquilo que lhes foi
retirado pelas circunstâncias.
Neste disco de estreia, encontramos uma compilação das
melhores malhas que a banda terceirense escreveu ao longo da sua existência, com
as mais recentes - «Luta Sem Fim» e «Revolução» - a figurarem como destaque
dada a sua consistência e factores que afastam a banda do punk rock mais
clássico. Aliás, é nesse aspecto que os PALHA D'AÇO se tornam bastardos de uma
sonoridade que, no entanto, lhes abre
mais portas.
Hoje o rock, o metal e o alternativo são os seus principais
identificativos, com a língua materna (e a própria realidade actual portuguesa)
a emprestar uma alma acrescida a este trabalho. Sem dúvida que, neste caso, o poder da mensagem é fundamental. O sarcasmo, a boa disposição e a frontalidade são marcantes
e... desconcertantes, claro está. Quem se lembraria de dedicar tão
"comovente" trecho musical à «Miúda Feia» que provavelmente os
perseguiu nos tempos do liceu (a letra é absolutamente obrigatória com os
versos memoráveis "miúda, o teu bafo cheira a meia" ou "miúda, tu
és um bezerro")?
Este disco desenrola-se ao ritmo de flutuantes dinâmicas
que vão da poderosa «Luta Sem Fim» (com riff encorpado mas um refrão altamente
pegajoso) e os arranjos orquestrais e acústicos de «Miúda Feia», até à
nostálgica «Abril 97» ou «Há Dias» que honram as raízes da banda.
Até pela produção moderna, este disco não reúne uma única
ambiência, invocando o peso do metal, a aridez do stoner rock e a simplicidade do punk. Claramente a banda não se cinge a um universo, o que só lhe confere outro andamento, vivacidade e até alguma imprevisibilidade. Suficientemente
experientes para montarem estruturas muito coesas, os PALHA D'AÇO só podem
daqui em diante continuar a desfiar o seu novelo de música energética,
divertida, mas séria e sentida. Tardou a chegar, mas valeu a pena.
Classificação: 7.8/10 [N.C.]
Data de lançamento: 24 de
Abril de 2014
Edição: Anoise Records
Nota de estúdio: gravado
por Tiago Alves nos Waveyard Studios, ilha Terceira.
Estilo: metal/rock/stoner/punk
Origem: Angra do Heroísmo
(Portugal)
Formação: 1997
Alinhamento:
1. «Luta Sem Fim» (03:28)
2. «Revolução» (02:46)
3. «O Legado» (06:12)
4. «Sempre Por Ti» (04:32)
5. «Abril 97» (02:13)
6. «Desconcertante» (04:07)
7. «Há Dias» (01:32)
8. «Miúda Feia» (03:53)
9. «Noite Chata» (02:41)
10. «No Liver» (01:34)
11. «Em Honra de um Homem»
(03:32)
12. «Vodka Police»
(00:50)
13. «Black Beer» (01:25)
14. «Joaquim» (02:20)
Duração: 41 minutos
Elementos:
- Sílvio Avelar
"Vially" (voz)
- Freddy Duarte (guitarra)
- Vítor Hugo (baixo)
- Bruno (bateria)
Discografia:
- «Palha d'Aço» (EP - 1998)
- «Desconcertante» (CD - 2014)