COLOSSO: entrevista com Max Tomé
Uma mente, um projecto, um som tentacular. Em
três anos de existência era difícil exigir mais quantidade e qualidade ao
colectivo formado e liderado por Max Tomé. «Foregone Semblances» é já o
terceiro registo do grupo do Porto e demonstra que, apesar da sua curta
duração, o requinte não depende de formatos e a criatividade pode surgir a
qualquer momento. Neste caso, há que expulsá-la e a música dos COLOSSO é cada
vez mais reflexo de uma expressão espontânea de pensamentos e sentidos.
Diferente de «Abrasive Peace» e «Thallium», mas necessariamente ligados por um
cordão umbilical. Metal moderno no geral, pesado e corrosivo no particular. O
talento é o denominador comum.
Aparentemente estão a reduzir drasticamente
no alinhamento dos vossos discos - de álbum para EP e vinil de 7'' com dois
temas. Razões para os fãs se preocuparem?
Não, não de todo. Já estamos a trabalhar no segundo
álbum de originais, que, em princípio, não será álbum duplo, porque hoje a
música gravada já não se consome da mesma forma que antigamente. Mas nunca se
sabe...
Apesar disso, em dois anos lançam quase duas
dezenas de temas e com tendência para se distanciarem criativamente uns dos
outros Os COLOSSO são uma banda algo "esquizofrénica" em termos
artísticos?
Enquanto eu for o principal compositor (ou
co-compositor) quero ter a total liberdade artística para me expressar, daí que
aquilo a que eu chamo de liberdade possa soar a esquizofrenia. Mas posso dar a
certeza de que o próximo álbum será mais contido a nível de experimentalismo
sonoro e que vamos voltar ao death metal mais vincado do «Abrasive Peace».
Demos um passo em frente em termos técnicos dado que estes dois temas são mais difíceis de executar que os restantes.
Para além da utilização de guitarras de oito
cordas em «Foregone Semblances» que aspectos mais vos satisfazem neste novo
lançamento? Criativamente, sentem que deram um passo importante ou, como já
disseram algures, este é um virar de página?
O facto de ser lançado em vinil é um grande
objectivo alcançado! Sempre tivemos o sonho de lançar um registo em vinil e
este permitiu-nos isso. Ao mesmo tempo, demos um passo em frente em termos
técnicos dado que estes dois temas são mais difíceis de executar que os
restantes. É também um virar de página porque queremos voltar aos álbuns e ao
nosso som mais catchy e menos técnico
no futuro.
Olhando para o death metal de «Abrasive
Peace» poucos esperariam algo tão djenty
como «Foregone Semblances». Acham que tanta mudança em tão pouco tempo pode
baralhar os fãs?
Sinceramente, não sei se poderá baralhar... Eu gosto
de algum djent e isso pode ter influenciado, mas acho que este novo trabalho se
encaixa mais no death ou thrash metal moderno do que no djent. De qualquer
forma, e falando do ponto de vista de quem criou os temas, tento escrever
aquilo que me soa bem, independentemente do estilo musical. Pode-se, por
exemplo, verificar isso no tema «Prime» do EP «Thallium», que pouco ou nada tem
de death metal ou de djent.
Terá essa mudança de sonoridade que ver com o
facto de trabalhar hoje como banda em vez do formato one-man-project?
Não, de todo. Até agora, todos os temas lançados
foram integralmente compostos por mim, com alguns arranjos do colectivo, o que
significa que se há algum culpado pela sonoridade de COLOSSO se ter alterado
sou eu. Isto irá mudar nos próximos lançamentos, porque quero envolver mais o
resto da banda na composição dos temas e, como já disse, vamos voltar ao death
metal mais vincado.
Até que ponto pode ir um dia o
experimentalismo dos COLOSSO? Se a ideia é não controlar o que pode vir a
seguir, isso significa que podem estar a tocar... gothic metal num futuro
álbum? Vamos aqui fazer um pequeno exercício de futurologia...
[risos] É bem possível! Não, agora a sério, vamos tocar death metal à nossa maneira.
Em dois temas é possível consolidar uma
mensagem? Para além da música, «Foregone Semblances» quer dizer algo mais?
Não tentamos passar nenhuma mensagem neste
registo... é mesmo música pela música. Aquilo que tentámos fazer foi voltar ao
analógico (naquilo que nos foi possível financeiramente, claro) e creio que é
aqui que reside o valor deste material. Pela primeira vez, utilizámos
amplificadores reais, tanto no baixo como nas guitarras, e captámos tudo a 96 kHz
e 24 bits para termos a melhor qualidade possível para o vinil.
Entre outros aspectos, o facto de terem
trabalhado nestes curtos anos de carreira sozinhos e ao mesmo tempo conseguido
projectar o vosso nome junto do público, significa mesmo que o futuro passa por
serem artistas independentes? Se vos aparecesse amanhã um grande contrato
discográfico, hesitariam? Até que ponto zelam pelo vosso material e qual é o
nível de descrédito/desconfiança em relação aos agentes ligados à indústria discográfica?
Não estamos de costas viradas à indústria discográfica,
bem pelo contrário, teríamos todo o gosto em trabalhar com editoras nesse meio.
Já fomos contactados por algumas, mas nunca nos fizeram a proposta certa. A
verdade é que com o nosso método e ética de trabalho exigimos o mesmo a quem
quiser trabalhar connosco, mas, infelizmente, ainda não encontrámos esse
parceiro.
No seguimento da pergunta anterior, pode
vaticinar-se também uma profunda desvalorização dos meios de comunicação
especializados a curto prazo? Ou seja, com o advento das redes sociais, as
bandas comandam cada vez mais a sua comunicação e imagem perante os fãs. Até
que ponto os músicos poderão gerir isso? Não correm o risco, numa situação
extrema, de ficarem até com pouco tempo para se concentrarem na música ou até
de comprometerem um trabalho profissional em termos de comunicação e gestão de carreira?
Sim, é verdade que podemos ficar sem tempo para nos
dedicarmos ao que gostamos mais - que é fazer e tocar música -, o que até agora
não aconteceu connosco. Mas acho que, actualmente e principalmente neste estilo
de música, o real valor do artista está em ser genuíno e não em construir personas como se faz na música pop.
O real valor do artista está em ser genuíno e não em construir personas como se faz na música pop.
Como analisa o mercado musical em Portugal?
No caso do metal tem havido um acréscimo de bandas de metal progressivo - ou
djent/math, como quisermos. É aí que os COLOSSO se pretendem inserir? Acha que
a propagação desta tendência (que até já tem muitos anos no estrangeiro) pode
ajudar na vossa expansão?
Acho que não nos enquadramos em nenhum desses
movimentos... somos demasiado death/thrash metal comparativamente com as bandas
de djent/math, embora tenhamos bastantes influências desses estilos.
E em termos internacionais, que balanço fazem
do vosso reconhecimento?
Tem sido muito bom! Conseguimos esgotar os digipacks do «Thallium» em mais ou menos
seis meses e continuamos a ter muito boas reacções aos nossos lançamentos.
Os COLOSSO começaram o ano passado a fazer
parte do circuito de concertos nacional, algo que nem estava nos planos da
banda quando esta se formou. Agora que começaram, certamente não quererão
parar. Como está a vossa agenda para os próximos tempos e do que dependerá uma
estreia no estrangeiro?
Sim, é muito bom tocar ao vivo e estar com as
pessoas que nos apoiam, ao mesmo tempo que vemos bandas excelentes e fazemos
novos amigos! Não queremos parar, mas o nosso objectivo principal será sempre o
trabalho de estúdio. Os próximos concertos são: dia 26 de Julho no Hard Bar
(Bustos, Aveiro) com REVOLUTION WITHIN, TERROR EMPIRE e DESTROYERS OF ALL; dia 31 de Julho
no Hard Club (Porto) com os grandes OBITUARY
e DEMENTIA 13; dia 1 de Agosto no RCA Club (Lisboa) com OBITUARY, DEMENTIA 13, BLEEDING DISPLAY e WE ARE
THE DAMNED. Estamos a planear tocar no estrangeiro para breve, mas,
para já, não posso adiantar nada...
Nuno Costa